domingo, 13 de dezembro de 2009

O povo de 136 cores

Nos anos 30, Gilberto Freire deu inicio a um mito que carregamos até hoje: o da democracia racial. Era a ideia de que o povo brasileiro é um povo misto, colorido e sem preconceitos, vivendo como se nao houvesse amanhã. Eu fazia coro com os otimistas: não, no Brasil não existe racismo. Achava que minha melhor amiga que não gostava de negros era uma exceção, assim como boa parte das pessoas que eu conhecia. Ex-ce-ções.

E é uma pena que num pais tão multicolorido como o nosso ainda exista racismo. Ou é apenas coicidência que a maior parte dos pobres é negra? Uma das perguntas do censo demografico de 1980 era "Qual a sua cor" e não tinha opções para escolher, tinha que escrever mesmo. O resultado foram as incriveis 136 cores diferentes. Estava numa biblioteca quando li sobre o assunto e tive que me segurar para não rir alto da criatividade desse pessoal. Escaneei a lista, clique nela ai ao lado para aumentar. O que seria "cor-de-cuia", "enxofrada" ou "melada"? Tem também os coloridos: "verde", "lilas", "azul", "roxa" e "laranja". Tem os indecisos: "branca-morena", "meio-amarela", "puxa-para-branca" e "quase-negra". Tem os exibidos: "morenão", "bronzeada", "trigueira", "queimada-de-praia". Tem até burro-quando-foge, pode conferir!
Ja disse que aqui na França não se fala de raças. Para eles so existe uma, a humana. E nem adianta vir com papo de etnia que eles também não engolem. Simplesmente não existe classificação para as cores das pessoas. No senso demografico não tem essa pergunta, o que às vezes dificulta a compreensão de alguns aspectos da vida em sociedade. Mas apesar de detalhes cientificos, acho muito positiva essa premissa de que não existe diferenças etnicas.
Talvez o problema esteja exatamente em nos orgulharmos de sermos raças diferentes convivendo "harmoniosamente no pais mais tolerante do mundo", quando deveriamos ser simplesmente uma raça so.

12 comentários:

caso.me.esqueçam disse...

o que eu acho um barato, amanda, eh quando se fala "tu conhece fulano? é um negro, alto" as pessoas arregalam os olhos na palavra "negro" como se fosse um palavrao. elas AINDA fazem isso. mas o que eu gosto mesmo eh de ver a classificacao dos meus amigos no orkut quanto a origem: quem eh negro nao coloca nada (porque se voce se sente (cor-de-jambo,fica dificil dizer que voce eh AFRO. palavra pesada, neh... demais) e quem eh amarelo ja eh caucasiano (na verdade, eu nunca entendi essa coisa de caucasiano. tentei ler sobre o assunto, mas soh tive mais duvidas).

mas os que eu mais gostei: palida, pouco-clara, branca-suja! hahahaha, cor-firme, burro-quando-foge (nao sabia que voce conhecia essa expressao. achei que ela fosse nordestina).

e fico imaginando pessoas dessa cor: vermelha, verde, azul, rosa, branca, amarela, roxa... queria conhecer alguem azul :)

mas quanto a minha cor, nao ha mais duvidas: paraiba!

Unknown disse...

Ótimo texto menina!
Aqui no Brasil, tinha que ser assim tb!! Sem perguntas raciais e sem cotas pra isso. Melhorm anter cotas pra pobres, e melhorar o ensino público. detesto aquela camiseta 100% negro!!!
Alem disso, detesto falar "está vendo aquele negro", pq isso soa racista. Com branco nao seria assim!
Apenas uma correção. Sei que isso é chato mas... Mas o correto é "exceção". Talvez vc esteja confundindo a grafia dessa palavra com outra que é "excesso".

Unknown disse...

azul= pessoa muito negra!
burro quando foge= roxo, vinho
caucasiano= grego (branco queimadinho de sol. Sabe? aquelas morenas que pintam o cabelo de loiro e usam cameras de bronzeamento artificial.)

Amanda disse...

Valeu, Asnalfa, corrigi!

Mari disse...

Sempre bufei no Brasil para esta historia de "raça"... quem tem raça é cachorro minha gente! Mas em relação à etnia, ae ja não sei... do meu ponto de vista, é muita vontade de apagar todas as diferenças, inclusive as culturais, o que eu acho bem complicado! Pois se por um lado devemos sim, ser todos iguais, perante as leis e ao acesso à educação, saude, etc, por outro, temos sim as nossas diferenças, que são alimentadas pelas nossas incontaveis culturas... acho que não é fingindo ser 100% igual que vamos construir relações sociais mais igualitarias mas sim investindo no respeito e na aceitação da diversidade...

bjuus!

Mari disse...

correção: iguais, não igual...
dã!

Anônimo disse...

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Cris Chagas disse...

Eu já conhecia a pesquisa, mas adorei o título kkk

No Brasil, existe esse mito da ausência de racismo, da democracia racial, como vc mesma diz. Mas, qd a gente convive mais intimamente com negros (escurinhos, de cor, moreninhos, etc, como preferir), a gente começa a saber o q eles realmente passam.

A verdade é que a maioria dos brasileiros adora os negros - na cozinha, no futebol e no samba. Mas na sala de jantar ou como namorado da filha, nem pensar!Já imaginou, um netinho preto? E a desculpa é "a criança vai ser discriminada por ter família branca, diferente dela..." Hein!?!

Olha, eu tenho amigos e parentes negros e sei de cada história... Por isso fico indignada, qd as pessoas vêm com esse papo "mas no Brasil não existe preconceito", tem sim e só quem passa por isso sabe o quanto!

Lud disse...

Amanda,
eu também era uma dessas pessoas otimistas. Aí comecei a prestar atenção e caí na real. Foi um choque. Tem racismo no Brasil, sim, e não é pouco. Mas é aquela coisa: a gente tem de aceitar uma realidade para lutar contra ela.
Hoje sou 100% a favor das cotas universitárias e dos programas afirmativos para negros. Engraçado, depois que me descobri minoria (mulher), fiquei muito mais sensível às outras minorias.
Abraços,
Lud

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Se orgulhar de ser um pais multietnico...seria melhor se orgulhar de ser um pais onde o racismo, o racialismo não existam. é compreensível esse lance de não haver discussão sobre raças ou etnias na França, o contexto da construção do Brasil foi bem distinto. As tentativas para branquear um povo que ja chegou sem ser branco foram várias. A postura do invasor europeu em não se assumir como um não-branco desde o início ajudou o título de negro ou afrodescendente, ou ameríndio ser considerado inferior, preterido, perdedor. Visto que nem os mouros portugueses assumiam não serem caucasianos. É só dar uma volta no orkut...outro dia entrei no perfil de minha irmã mais nova (por parte de pai) e ví um "caucasiano-branco"...Detalhe: meu pai é descendente de Incas, chileno e ela é filha dele com uma nordestina e nasceu no nordeste, onde reside meu pai. Branco no Brasil...só o dos olhos.
O asqueroso do Euclides da Cunha continua endeusado nesta terra, aparece na mídia direto. Já o Freyre, o Florestan e o Buarque...esses são mantidos dentro de salas de aula, saindo de bocas de professores de esquerda e libertários. A globo ainda tem a posse de uma "mulata", não é chamada de afrodescendente, mas de mula. Os jornais ainda usam a palavra "denegrir" entre tantas outras. O país tem poucas cotas e poucos serviços que busquem a integração do negro na sociedade. Falta corrigir muita injustiça, faltam muitos pingos nos ís. Falta acabar com o lobby branco na mídia! Chegamos ao ponto de Dilma fazer plásticas para ficar mais padrão globo de brancura européia. A sociedade reproduz Casa Grande e Senzala em todas as camadas, é triste demais.

Anônimo disse...

Muito bom material.

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