sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Primeiro dia de aula

Estava nervosa, frio na barriga. Sentei na ultima fileira, bem do lado da porta - saida de emergência, nunca se sabe... A professora atrasou 20 minutos e durante todo esse tempo a turma ficou sentada e muda, como se estivéssemos fazendo prova. Se um dos 80 alunos ousasse falar com seu vizinho, cochichava pra não quebrar o silêncio. Eu não quis ser diferente e fiquei quietinha esperando a prof chegar. Pois ela chegou e depois de 5 minutos de apresentações soltou: "A primeira fileira esta vazia. Esse pessoal que senta atras tem que perder essa mentalidade de colégio e amadurecer um pouco! Vocês estão no mestrado e escolheram estar aqui por conta propria, ninguém obrigou". Ai ai ai, levei uma bronca logo de cara. Todos os alunos olharam pra tras pra ver bem os relaxados.

Chamada. Ela disse que não fazia, mas como era o primeiro dia ia fazer. Sabia que a ordem alfabética era pelo sobrenome, e não pelo nome como no Brasil. Pensei "O meu é L então vai ser na metade". Estava concluindo esse pensamento quando ouvi chamarem meu outro sobrenome, aquele que começa com A e que eu nunca uso. Opa! Mas é pra responder o que? Presente? Aqui? Eu? "Moi! Moi! C'est moi!" , disse sacudindo os braços. E fiz questão de dizer bem alto antes que ela reclamasse que eu sentei no fundo e ainda queria falar baixo. Não queria levar minha segunda bronca. Todo mundo olhou pra mim e eu não entendi porquê. Depois eu fui percebendo que ninguém responde nada durante a chamada, so levantam educadamente a mão.

Quando a aula começou de verdade fiquei super feliz porque me dei conta de que aquilo era exatamente o que eu queria fazer. Isso é o que eu amo, geopolitica. Parecia que ela lia meus pensamentos: "O motivo principal de vocês estarem aqui é terem vontade de entender um pouco mais o mundo". Tudo é muito mais complexo do que pensamos e isso que é interessante.

Cheguei la às 8h da manhã e sai as 18h. No fim do dia, ja não aguentava mais! Tivemos aula de 13 às 18h SEM PAUSA! Oh-là-là! No Rio eu estudava 4h por dia, mas todo dia. Aqui eles tentaram concentrar tudo num dia so pra facilitar a vida de quem mora longe (eu). Mas não sei se foi uma boa idéia não, no fim parecia que o professor tava falando em chinês. E graças ao primeiro bebê que cuidei na França que quase fez com que eu quebrasse a coluna, não aguentava mais de dor por ficar sentada o dia todo. Peguei metro lotado e 1:15h depois cheguei em casa e dormi cedo como ha muito tempo não fazia.

amigos 0 broncas 1

sábado, 4 de outubro de 2008

Abaixo às domésticas!

A maior diferença entre Brasil e França, para mim, com certeza é a grande igualdade social so segundo (claro que não é perfeito, as periferias de Paris estão cheias de excluidos, mas comparado com o Brasil ta muito bom). Aqui, o pedreiro da obra ganha quase o mesmo que o engenheiro. Eu, por exemplo, conseguiria sobreviver no Rio com um salario de baba, pagando apartamento e todas as outras contas? Um reflexo imediato dessa igualdade é um fato que deixaria as madames brasileiras de cabelo em pé: na França não existe empregada doméstica. Existe sim, faxineira, paga 13 euros por hora, mas empregada que dorme na casa, faz comida, limpa a casa, cuida das crianças, ha-ha!

Abra os classificados imobiliarios de algum jornal brasileiro. Todos os apartamentos têm dependências de empregadas. E a prova maior da desigualdade social no pais. Honestamente, eu sinto vergonha dessas coisas. O pior é que ninguém quer ver essa situação, pois até quem defende a igualdade, os direitos humanos, um discurso todo de esquerda, muito bem decorado, tem la, a sua empregadinha pra recolher suas meias do chão. Na França isso tem um nome: escravidão.

Eu como baba trabalho 10 horas por dia na casa dos outros, mas chega 7h da noite fico feliz de poder voltar pra minha casinha e fazer o que quiser. As empregadas do Brasil que moram com seus patrões não têm nenhuma liberdade 24h por dia! Mas ai ouço os patrões se defenderem dizendo que quando chega o fim de semana, elas preferem nem ir pra casa. Mas isso é mais triste ainda! Imagina o estado da casa delas, se elas preferem nem voltar la! Se elas vivessem em condições dignas, com certeza gostariam de ir. "São praticamente da familia", dizem eles. Não, não são.

Não estou dizendo que a culpa é dos patrões. A culpa é do sistema em que vivemos. So estou querendo mostrar o que ninguém quer ver. To um pouco revoltada hoje. ;)

Empregada é um mal necessario? Ouvi dizer que o minimo que devemos como seres humanos é sermos capazes de limpar nossa propria sujeira.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...