Ontem à noite estava vendo um filme sobre a segunda guerra mundial e torci o nariz quando a câmera deu close em dois corpos mutilados jogados num canto. Eu sempre achei que mostrar cenas morbidas, de cadaveres dilacerados e tal era de extremo mal gosto e servia apenas para o prazer bizarro que certas pessoas têm de ver essas coisas. Tipo aquele video Faces da Morte, sabe? Que mostra gente morrendo na frente das câmeras. Sempre fugi dessas coisas e não entendo como ha publico para esse tipo de espetaculo. Eu sentia o mesmo em relação ao jornalismo. Trabalhei no jornal da TV Brasil (quando ainda era TVE) e parte do meu trabalho era olhar as imagens que recebiamos da Reuters. Ficava irritada com a quantidade de corpos em estado inimaginaveis, mesmo de crianças, que apareciam na minha frente. Achava que os jornalistas não deveriam nunca expôr essas imagens.
Mas...
Ha uns três anos li o livro do jornalista inglês Robert Fisk, A Grande Guerra pela Civilização. Para mim, Fisk é a referência sobre cobertura de guerra, o cara é brilhante. Ele trabalha no The Independent (que ja respeito pela sua posição independente), mora no Libano e cobriu diversos conflitos no Oriente Médio. Dai que ele defende a publicação de fotos e videos barbaros, com corpos dilacerados, com crianças mortas, com braços espalhados pelo chão. Justamente para mostrar que a guerra não se resume aos numeros, às estatisticas, às estratégias. Ele viu coisas tão terriveis que acha que se todos vissem o que ele viu, o mundo seria pacifista. A verdade é que ouvir "treze pessoas morreram e trinta ficaram feridas" entra por um ouvido e sai pelo outro, mas ver as treze pessoas mortas e as trinta feridas nos jogaria na cara a barbarie que esta acontecendo logo ali, enquanto estamos sentados confortavelmente em nossos sofas. Porque a guerra é muito diferente do que acontece nos filmes. Quando um cara é atingido, raramente acontece como na TV que a bala entra no peito, mancha um pouco a camisa e tchum, ele morre. A realidade é bem mais feia que isso e a guerra de verdade é inimaginavel pra mim ou pra você.
Quem sabe se formos confrontados com a realidade, não nos comovemos mais, não vemos mais claramente o absurdo da coisa e fazemos uma maior pressão para o fim dessas guerras. Se o Bush fosse obrigado a ver cada um dos corpos dos inocentes que ele matou, quem sabe ele não tomaria decisões mais sabias no Iraque? Porque é muito facil continuar quando se tira toda a humanidade do conflito, quando a morte de crianças se torna "efeito colateral", quando a dor se converte em estatisticas e quando o sofrimento se transforma em numeros.
Continuo dividida. Ao mesmo tempo que acho os argumentos dele muito validos, não gostaria de dar de cara com fotos chocantes cada vez que abrisse os jornais. Sera que precisamos mesmo de um estimulo visual para termos mais empatia com os povos que sofrem?
13 comentários:
pois eh, pensei tbem em marcar algo com vc, mas acho q vai ter q ser da proxima (vou em janeiro para uma feira, q tal???)
Nossa, Amanda, eu acho como vc: será que precisa mostrar a barbarie? Mas os argumentos dele sao super validos, me fizeram pensar mesmo.
Agora, exibicao banalizada de violencia e multilacao tipo nos filmes Jogos Mortais e o Premonicao, eu nao entendo como atrai tanto público!
Seu blog é tao super! Ainda nao consegui le os arquivos, mas todo dia visito aqui, daq a pouco termino.
Bjos
As vezes acho que existe uma predilecao humana - quase inconsciente - em ver a desgraca alheia.
Alguns concluiram que podemos sentir medo e felicidade ao mesmo tempo... http://www.sciencedaily.com/releases/2007/07/070725152040.htm
Algo que se ve, por exemplo, quando diminuimos a velocidade do carro para ver um acidente, ou em ver de videocassetadas a filmes de terror. Sentimentos talvez ligados a uma bizarra sensacao de alivio por nao ser vc naquela desgraca especifica.
E ainda, se a barbarie fosse mostrada sempre, sera que ficariamos ainda chocados com as imagens? ou calejados a ponto delas nao fazerem mais diferenca.
Já vim aqui três vezes comentar e continuo sem saber o que dizer. Continuarei lendo e tentando colocar ordem nas idéias. Isto é uma das coisas que mais aprecio neste blog (fora a oportunidade de ver casacos estranhos: dá matéria pra reflexão e nos permite sair da superficialidade dos achismos. Beijos
Amanda, eu acho (superficialidade do achismo o/) que depende da forma como a matéria é construída: odeio jornalismo sensacionalista que tenta prender audiência mostrando sangue. Por outro lado, o Fisk has a point: sempre pensei como o contato direto com os conflitos por parte dos senhores das guerras mudaria o rumo da história. Tipo assim, vai lá você, Bush. Ingênuo, I knoooow, mas faz todo sentido quando pensamos em casos concretos. No Fahrenheit 9/11 Moore mostra uma mãe cobrando a vida do filho diante do congresso dos EUA. É chocante, mas o argumento dela é por aí: por que não vão vocês lá dar a vida por essa coisa. Tudo bem, sempre se pode argumentar que o filho dela aceitaria de bom grado morrer pelo país e tal, mas o Moore não encontrou um parlamentar disposto a enviar o filho pro Iraque. Quer dizer.
Ai, mudei de assunto, né? Deixa assim. (Anyway, sim, acho que ver a coisa faz toda a diferença para muita gente; há quem não consiga se colocar no lugar do outro - e é difícil mesmo - então a imagem pode dar um choque necessário).
Bj
Rita
Rita, nem vem que não tem (como canta o Simonal). Um argumento construído assim, pensado, certinho, ultrapassa o superficial e muito (claro, ainda é opinião, mas né, tamos aqui pra isso, ser cidadão é ter posição \o/)
Bjs às duas de quem ainda não tem nada pra dizer
Olha, Manda, eu sou à favor sim de mostrar a verdade nua e crua= imagens bárbaras, chocantes. Claro que sem esse sensacionalismo que foi citado pelo comentário da Rita. De todo modo, continuo aqui no meu achismo de que é preciso choques de realidade até a humanidade aprender a, de fato, ser humana como um todo.
Amanda seu blog é sensacional, adorei!
Ai Amanda, vc vai acreditar se eu falar que nao sei?sério, por um lado acho que sim e por outro nao. Nossa que comentario inutil né? Concordo bastante com o que a Rita falou...
bjao
Nos vemos em janeiro, Helô! Boa viagem!
Ana, pois é, o problema é se mostrarmos as fotos e o povo gostar! Credo!
Marcel, mt bom seu comentario. Esse lado sombrio das pessoas me assusta um pouco. Era a mesma coisa com as aberrações de circo de antigamente, né? Ou o programa do Ratinho. E eh verdade que corriamos o risco de não ligarmos mais para a barbarie, caso ela fosse mostrada diariamente. Mas sei la, tem coisas que a gente não devia se acostumar nunca.
Borboleta, vc é uma fofa mesmo! Mas não sei pq somos obrigadas a sempre ter uma opinião, né? Po, às vezes a gente não sabe e pronto. Aqui nesse blog não tem pressão! :)
Rita, tbm acho que depende muito da entonação do jornal. Eh muito facil passar da seriedade pra apelaçao. Os filhos dos grandes raramente vão à guerra, uma grande hipocrisia. Até o proprio Bush fugiu do serviço militar quando era teen, como alguém desse naipe pode ter moral pra iniciar uma guerra. Parece brincadeira, né? Em francês tem um ditado "plus c'est gros, plus ça passe" que significa "quanto maior (o absurdo), mais facil é de passar".
Glorinha, tbm acho que ta faltando mais humanidade nos humanos, sabe...
Obrigada Tatiane! Volte sempre!
Ana, como disse pra borboleta, não deviamos ser obrigadas a ter opinião sobre tudo. Alias, eu tbm não sei de que lado estou, hehehe!
eu tenho minha opinião sobre isso: sou completamente contra fotos de pessoas mortas. Por respeito às pessoas e à quem goste delas. Ou melhor, sou a favor no casdo de ela ou sua família aprovarem.
Tenho pânico em pensar em ver alguém querido (ou eu mesma!!) exposto assim... mesmo que não seja reconhecível, é muito triste!
Enfim, não acho que a possível conscientisação de alguns (ou alegria mórbida de outros) valha o sofrimento de outros...
Bjss!
Oi Amanda
Também acho que às vezes é preciso mostrar a verdade nua e crua para ver se o mundo olha um pouco para a cueldade da vida. Mas confesso que na hora, fecho os olhos!
Beijocas,
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com
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