domingo, 12 de dezembro de 2010

A justiça policial e um ministro sem noção

Tenho impressão que a policia é a instituição mais corrompida da França. Não é à toa que é uma das profissões mais detestadas pelos franceses. Todo mundo sabe que existe bons e maus policiais, mas a ideia geral é que eles são brutos, arrogantes, violentos e se aproveitam da posição de superioridade em relação ao cidadão comum. Por aqui, ter um policial na familia esta longe de ser um orgulho para os parentes. Enfim, não é uma profissão respeitada e o senso comum tem uma péssima impressão dessa classe profissional. A policia francesa ja foi condenada pela Anistia Internacional por maus-tratos, racismo, uso excessivo da força e pela impunidade para os policiais infratores.

Dai que a justiça francesa resolveu mostrar um pouco de dignidade e condenou sete policiais por falsas acusações contra um homem. Em setembro, um policial foi ferido na perna, atropelado depois de uma perseguição. Ele e seus colegas fizeram um pacto verbal para acusar o homem que perseguiam, mas a verdade é que foi uma viatura policial que causou o acidente. O homem em questão foi acusado de tentativa de homicidio de um policial, crime passivel à perpetuidade. Ao longo do processo, contradições entre os envolvidos começaram a aparecer e eles acabaram confessando a farsa. Na ultima sexta-feira, foram condenados de seis meses à um ano de prisão. Três deles foram condenados ainda por violência policial durante o interrogatorio do suspeito, que teve que ficar sete dias em casa por causa das agressões sofridas. Como os policiais precisam ter ficha limpa para exercerem sua profissão, os sete serão expulsos da policia.

Até que enfim uma boa noticia, não? Justiça sendo feita, dando o exemplo para outros policiais e limpando a corrupção de dentro da policia. Mas parece que nem todo mundo pensa assim. Primeiro foi uma manifestação de cerca de 200 policiais contra a decisão da justiça, revoltados com a condenação. Depois foi o ministro do interior, Brice Hortefeux (famoso por suas posições reacionarias e racistas) que declarou que "nossa sociedade não deve confundir o alvo: é contra os delinquentes e os criminosos que temos que lutar". Sim, monsieur Hortefeux, que tal começarmos pelos policiais corruptos?

Achei que eu estava perdendo alguma coisa, que não estava entendendo a historia inteira, tamanho o absurdo de suas declarações. Como condenar a justiça por ter feito enfim seu trabalho? Acho que essa historia ainda vai dar o que falar, mas espero que a justiça siga firme. A policia finalmente esta se sentindo vulneravel face à justiça e uma reviravolta daria aos policiais a certeza absoluta que estão acima da lei. Ja esta mais do que na hora de acabar com a tirania policial na França.

7 comentários:

caso.me.esqueçam disse...

ai, como eu detesto a policia. a francesa, a brasileira etc. eles andam com um ar de superioridade tao grande! e te olham como se voce TIVESSE que ter medo deles.

na festa das luzes que teve aqui (vou ver se faço um post hoje, iêi!), tinha um monte, por todos os lados. aih eles andam com aquela cara de cu pra cima e pra baixo. aarrrgghhhh!

sao sempre tao grossos na prefeitura! "MADAME, MADAME! CEST PAS PAR ICI! IL FAUT FAIRE LA QUEUE" - detalhe, você JA esta na fila, mas eh gritado mesmo assim.

humpf.

quanto à resoluçao da justiça, soh tenho uma coisa a declarar: acho-é-pouco. quero ver se nego nao vai pensar duas vezes agora antes de fazer merda com o cidadao.

Luciana Nepomuceno disse...

Eu ia fazer um belo comentário, reflexivo, sobre a justiça, os limites do convívio social,a necessidade da força do direito e não do direito da força, talvez rolasse até um superego pro negócio ficar bonito...aí leio o comentário que vai ter post novo da xará e me desconcentro toda. Pode?

Helena disse...

Tem um programa na France Inter que se chama "Là-bas si j'y suis". Uma vez eles fizeram um programa sobre a violência e corrupção da polícia francesa. Fiquei chocada. Do tipo, colocam o cara em "garde à vue" porque tava andando na rua de noite. Começam a fazer um monte de ameaças, humilhá-lo e o cara não tinha feito nada!! Esse é só um pequeno exemplo, mas mostra que a polícia abusa desse poder de prender as pessoas por nada, porque "não foi com a cara da pessoa".

Cássio R. M. disse...

Imagina se os brasileiros fossem tão "putos" com os abusos da polícia como os franceses...

Isso é fichinha perto do que acontece aqui. E quem está falando é um cara que lida direto com isso. Sou advogado criminalista e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/ES.

Grande abraço!

ps: acompanho seu blog faz tempo, mas acho que nunca comentei... ;)

Amanda disse...

Luci, tbm detesto a policia. Mas tinha que ver a australiana, menina! Todo mundo tão educado, gentil, sorridente! Também, não deve ter nada pra fazer por la como policia. Mas nesse caso eu não entendi pq os policiais não pegaram a mesma pena que o carinha, que era perpetuidade. Pombas, els fizeram a mesma coisa e pior ainda pq mentiram, jogando a culpa pra outro.


Borboleta, essa Luci é fogo mesmo! Deixa a gente esperando! Vamos ver quando sai esse post!

Helena, a policia daqui da muita raiva mesmo. Parece que é pre-requisito ter um pouco de crueldade pra entrar, não é possivel! E vc disse bem, aqui não existe habeas corpus, ou seja, eles podem manter em garde a vue qualquer pessoa, sem o menor motivo, por 24h se não me engano.

Cassio, é que os brasileiros têm tanto pra reclamar (saude, politicos, educaçao, saneamento, etc etc etc) que a policia fica sendo apenas mais um da lista. Aqui como as outras coisas funcionam melhor, a policia se sobressai pela mediocridade. Imagino as coisas que vc não deve ver no seu trabalho... Não desanima não?

Iara disse...

Nunca vou esquecer de uma situação que testemunhei em um trem em Paris. 3 ou 4 policiais faziam uma ronda no último trem da noite pra banlieu, porque uns meses antes tinha havido um caso sério de violência que tinha repercutido nacionalmente (não lembro exatamente em qual cidade, foi no reveillon de 2005-2006, no sul, uma gang tinha roubado/agredido/estuprado vários passageiros).
Daí que um rapaz, com cara de árabe, estava com os pés no banco da frente. E os policias mandaram ele tirar os pés dali de uma maneira muito bruto, como se fosse um crime, e não um indelicadeza. Só que o cara era muito orgulhoso, e falou que o policial, como funcionário público, deveria se dirigir a ele usando "Bonsoir, Monsieur". Claro que se fosse um branco eles tratariam assim e pediriam, por favor, que tirasse os pés. Mas eles resolveram intimidar o cara verbalmente, chamaram mais 6 colegas, e a situação foi ficando muito tensa. Não rolou violência física, mas nunca vou esquecer desta sensação dos policias encarnarem o Estado opressor. Desci do trem e não sei como acaba a história, mas como as testemunhas eram muitas, acho que não aconteceu nada mais grave, mas foi algo marcante pra mim.

Unknown disse...

Oi, Amanda. Se eu lesse as cinco primeiras linhas do post sem saber que você falava da França, poderia jurar que estava falando do Brasil. Fiquei surpreendido. Morando há um ano no sul da França, não presenciei nem ouvi falar de comportamento algum de policiais que se aproxime do que você ou outros acima relataram. Não sei se o fato de morar numa cidade menor interfere nisso...
Parabéns pelo texto =)

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