quarta-feira, 11 de maio de 2011

Livro - Apocalypse Bébé


Virginie Despentes é uma figura que me intriga muito. Eh verdade que comecei com o maior tapa na cara que uma autora pode dar, que é Baise-moi, mas logo depois li Apocalypse Bébé, seu ultimo livro, e minha perplexidade em relação a ela continua. AB é de longe bem menos punk que Baise-moi, mas ainda assim me incomoda. O livro conta a historia de uma adolescente que desaparece e uma detetive particular (não muito motivada) que é contratada pra encontrar a menina.

Pra mim com certeza o ponto alto é a construção dos personagens. Eles são tão bem-feitos, tão logicos, tão redondinhos, que parece que a autora tem um pos-doc em psicologia. As historias são contadas pelo ponto de vista deles, e como quase todos os personagens têm voz, muitas vezes temos duas versões da mesma historia. Conseguimos simpatizar e solidarizar com ambas e vamos vendo como tudo se encaixa. Da gosto de ler paginas tão bem escritas.

Alguns elementos de Baise-moi estão presentes em AB, principalmente no que diz respeito ao sexo (nao na mesma intensidade). O mundo da Despentes é totalmente depravado e ela nos faz acreditar que tudo aquilo que ela relata é a vida real, nos é que somos conservadores demais. Seu estilo rapido e sem rodeios de escrever também esta presente, o que faz com que a gente leia o livro inteiro sem perceber que ja chegou ao fim. Como em Baise-moi, AB também traz um pedacinho do universo muçulmano, mas sem maior destaque. E as girias sao regra na escrita de Despentes, tive que parar a leitura muitas vezes pra procurar o significado de algumas delas.

Tenho algumas criticas também. Pra começar, não gostei do final. Achei facil demais, apesar de tirar o fôlego (longe de ser previsivel, alias). Mas é so minha opinião, a Dé, por exemplo, gostou. Outra coisa que me incomodou muito foram as passagens machistas, o que é muito curioso, ja que a Despentes é assumidamente feminista. E é interessante ler o livro tendo essa informação porque nossa reação muda completamente. Se o autor fosse um homem, eu bufaria na hora e acharia um absurdo ler tais coisas. Mas como é a Despentes, a feminista, eu lia e pensava que aquilo na verdade era uma critica à sociedade machista, que ela estava apenas denunciando o tratamento dado às mulheres e tal. Mas cara, ela fala coisas tão, mas tão sexistas, tão chocantes e toda hora, que cansa, sabe. Eu não quero ouvir pérolas machistas, nem que elas venham de uma feminista. Isso so serve pra manter as coisas como elas são.

Apocalypse Bébé era um dos favoritos para o ultimo Goncourt, maior prêmio da literatura francesa. O outro favorito era La carte et le territoire, que acabou levando. Li os dois e sinceramente acho que a Despentes merecia mais. Em todo caso, ela é uma promessa das letras por aqui e se continuar escrevendo com certeza leva o prêmio em breve.

8 comentários:

Anônimo disse...

Manda! Por falar em questões feministas, eu quero discutir uma coisa contigo depois. Aliás, contigo e as meninas pra saber se minha visão em relação a uma propaganda ali é, ou não correta. /enquanto a sua indicação do poste de hoje, super quero ler também! \o/

Rita disse...

Amanda, eu tô com você: também me incomodo com esse recurso que usa o próprio veneno para criticá-lo. Acho que mais reproduz do que combate. Se você tiver equivocada, pelo menos não ta´ sozinha. o/

Bjs
Rita

Fernanda disse...

Ainda não li nenhum livro desta autora, mas ja' esta' na minha lista ha' tempos e acho que vou subi-lo na "fila" depois do seu comentario e do da Dé. Fiquei curiosa. (Fora que acabei de ler um Guillaume Musso, estou precisando ler algo mais consistente!)

disse...

Amanda, nao concordo com o que vc diz sobre as passagens machistas... acho que é obvio, que partindo da autora, uma feminista assumida, é uma critica à sociedade e esta' longe de refletir a sua opiniao pessoal. E justamente por ela ser tão polêmica e seu objetivo de querer "chocar" o leitor que as passagens parecem ser ainda mais duras.

E tem mais: esse foi um dos livros mais feministas que ja' li, pelo simples fato dos personagens principais serem mulheres. E mulheres interessantes: sejam elas loucas, bandidas, submissas, complexas, fortes ou fracas. Mas sao mulheres! O unico personagem masculino digfno de nota, até onde lembro, é o pai da menina, que é um grande babaca.

Ja' o La carte et le territoire, talvez eu dê mais uma chance pra ele, quem sabe, talvez em algum dia que eu esteja de bom humor... Acho o autor tao, mas tao idiota... que ao invés de ter prazer na leitura eu so' sinto raiva!

Bjs e otimo dia ensoleilée pra vc!

caso.me.esqueçam disse...

legal, gostei de tudo o que tu dissesse em relacao ao livro, deu vontade de ler! mas antes eu teria que... acabar essas provas idiotas e finalizar um livro que eu deixei... porra, deixei o livro quando faltava umas 50paginas pra acabar! tenho que retomar antes que eu esqueça o titulo dele! ah, o chato eh que pra mim final eh suuuuper importante. o livro pode ser todo bom, se o final eh uma merda, eu desmereço logo o livro todo :D

Helena disse...

Tô ficando curiosa em relação a essa escritora. Vou colocar na minha listinha de próximas aquisições. Se bem que ando fugindo de livros tensos ou muito bons, porque eles me dão insônia! Outro dia não conseguia largar o livro e já era 3h da matina (sendo que eu tinha que acordar às 6h). E eu fico no trabalho pensando no livro o tempo todo, louca para ir embora pra poder ler no trem, hehehe.

Ana Flavia disse...

Eu quero le-la também. Tem versao em ingles ou portugues desses dois livros?
Bjo

Helena disse...

Eu acho que tinha feito um comentário aqui, mas ele sumiu. Sumiram meus comentários também no "Caso me esqueçam" e no "Pedalando em Paris". Será que foi esse bug do blogger?

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