quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A nova pequena

E eu, que fingi todo o tempo ser o grande da relação, reconheci meu lugar, me arrependi, pedi desculpas e disse que queria voltar atras. Paris me disse que era tarde demais.

- Por favor!
- Non.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Nunca subestime um coração partido

Deixar Paris está sendo o fim de relacionamento mais difícil que já tive na vida. Eu estou bem, já me conformei, já tenho uma outra cidade na minha vida, estou fazendo novos planos e aproveitando minha liberdade. O problema é ela: Paris está se revelando muito mais rancorosa do que eu imaginava.

Paris está me sabotando desde que eu voltei de férias apaixonada por outras cidades do sul da França. Espedaillac foi um golpe muito forte, eu sinto. Quando disse que os vilarejos são muito mais lindos do que a capital, eu sei que de alguma forma ela ouviu e se ofendeu. Quando eu me maravilhei com a Corse, tenho certeza que Paris pensou: "ela nunca olhou pra mim com essa admiração". E desde então ela anda fazendo da minha vida um inferno.

Depois de cinco anos de convivência, ela conhece muito bem meus pontos fracos e não hesita um segundo em utilizá-los contra mim. Ela me ataca na alma com toda a falta de gentileza que seus piores habitantes podem ter. Ela me mostra toda sua grosseria, sua ambição cega, sua mesquinharia. Ela aponta o dedo na minha cara, ri e me faz chorar em público. Ela me atinge no bolso através de sistemas complexos sobre o qual não tenho o menor controle. Ela me mostra o que há de pior na humanidade, ela me faz ter pensamentos furiosos e cheios de ódio, mostrando também o que há de pior em mim.

Sequer a reconheço mais. No início do nosso relacionamento ela me deu tudo. Ela me deu um lar, um emprego. Ela me ensinou muitas coisas, aprendi tanto! Ela me deu até um diploma, mas as coisas mais importantes que aprendi não foram em sala de aula. Paris me ensinou uma língua nova. Paris me ensinou a sempre olhar os dois lados da história. Ela me ofereceu tudo o que havia de melhor nela e eu peguei. Realmente me senti acolhida. Se no início não tinha muitos amigos, eu não me importava. Quando uma tristezinha ou uma solidão batia, eu saia de casa, ia admirar a beleza lá fora e tudo ficava bem novamente. Quem precisa de amigos quando se tem Paris?, eu pensava. E ela adorava ouvir esse tipo de coisa. Foi nossa melhor época juntas.

Com o tempo fui fazendo amigos e deixei de olhar tanto para cima para olhar mais para baixo, tomando cuidado com o caminho na volta pra casa de madrugada. Ela não estava totalmente satisfeita, mas acabou se conformando porque via que eu estava mais feliz. Mas nos sabíamos que nosso relacionamento já não era o mesmo. Eu já não podia mais suportar o metrô lotado que ela me oferecia. Passei a pegar ônibus. Eu comecei a reclamar da multidão, dos turistas, dos preços. Ela se ofendeu. O ganha-pão que ela oferecia passou a ser insuficiente para meu crescimento. Minha existência na cidade começou a parecer sem sentido e então eu decidir por um ponto final na nossa relação e ir embora.

Foi aí que Paris se decidiu a me prejudicar como podia. Ela me deu os golpes mais baixos que uma cidade pode dar numa pessoa. O que ela não percebe, é que isso tudo que ela está fazendo só me dá mais vontade de ir embora e a cada dia que passa eu tenho mais certeza de que tomei a boa decisão. Sim, amei Paris e vou continuar a amá-la pra sempre, mas de uma forma diferente. Ela sempre terá um espaço no meu coração - o que vivemos juntas não se esquece jamais. Mas ela precisa entender que esse joguinho sujo não serve pra nada. Não é melhor dizermos adeus sem mágoas, sem rancores, apenas lembrando os bons momentos?

Não me leve a mal, Paris. Sou nômade demais pra ficar numa cidade só. Mas nunca vou esquecer tudo o que você fez por mim, nem das vezes que você piscou quando me viu passar. So peço por favor, me deixe ir em paz.

Depois da tempestade...

domingo, 4 de setembro de 2011

Leitura de férias: La vie devant soi, Romain Gary

Não, minhas férias ainda não acabaram. Mas depois de rodar todos os campings imagináveis do sul da França (algo entre 10 e 15) voltamos pra Argelès pra poder passar uma semaninha tranquila antes de voltar à babilônia.

Desisti de postar durante a viagem por vários motivos. Primeiro porque nem sempre tinha uma conexão boa, depois porque postar fotos era algo muito, muito complicado. Carregar a tablete nos campings também nem sempre era possível. E eu não queria perder meu precioso tempo de férias lutando contra todos esses empecilhos e provavelmente me irritando muito. Sem contar o cheri que reclama que eu passo tempo demais na internet. Não faço ideia de onde ele tira tamanha calúnia. :D

Mas tenho tanta coisa pra contar que nem sei como vou fazer pra organizar. Provavelmente vou virar blog monotemático por um tempinho. Mas antes de começar a maratona, aproveito para indicar um livro maravilhoso que li esses dias, presente de despedida das mães das crianças que tomei conta até julho - La vie devant soi, de Romain Gary.

Ja tinha ouvido falar do autor, pois ele conseguiu um fato inédito: ganhou o prêmio Goncourt, o mais importante da língua francesa, duas vezes. Normalmente, um escritor só pode ganhar uma vez na vida, mas Gary driblou as regras do jogo com um artifício simples - um pseudônimo. Na verdade, La vie devant soi, de 1975, é assinado por Émile Ajar, personagem que seu sobrinho aceitou encarnar por oito anos (alias, o falso escritor morava em Caniac, aquela cidadezinha do avô do cheri que falei no post do Lot). O primeiro Goncourt, Gary ganhou com Racines du ciel, de 1956. Quer prova maior de que o cara é bom?

Fui procurar o título do livro em português e vocês podem imaginar o tamanho da minha surpresa ao descobrir que a primeira tradução saiu em... 2011! A má notícia é que acho que é em português de Portugal. Mas não tenho certeza, não dá pra pesquisar muito aqui. Então procurem aí: Uma vida a sua frente, Romain Gary (Émile Ajar). Se não me engano tem um filme também. Hoje eu tô que tô pra dar informações, heim? Quando voltar pra Paris procuro tudo direitinho.

O livro conta a história de Momo, um orfão de mãe que mora na pensão da madame Rosa, uma judia idosa, mas do ponto de vista do próprio Momo. Como ele é uma criança não-escolarizada, a linguagem é limitada, assim como seu entendimento do mundo. A gente entra na cabeça de Momo e é capaz de entender toda a confusão mental dele. Por exemplo, mais pro fim do livro tem um diálogo incrível dele com um médico, e se eu copiar as falas de Momo aqui ninguém vai entender uma palavra dos absurdos non-senses que ele está falando. Mas depois de acompanhar toda sua vida, aquelas frases têm um sentido, a gente entende! E entendemos também o médico, que fica ali parado com cara de ué, sem entender nada. Genial.

Parece que Momo é uma pessoa em seu estado mais puro, uma criança que ainda não aprendeu a domar seus instintos. Inocência misturada com uma maturidade forçada. O livro é de um humor trágico, uma amargura necessária, mas sobretudo uma linda história de um amor atípico. Uma verdadeira obra de arte, não sei porque ele não é mais famoso fora da França. Virou um dos meus preferidos de todos os tempos junto com Cem anos de solidão e Metaphisyque des tubes, da Nothomb.

O primeiro parágrafo mal traduzido por mim:
"A primeira coisa que posso dizer é que a gente morava no sexto andar a pé e que para madame Rosa, com todos aqueles quilos que ela tinha e apenas duas pernas, era uma verdadeira fonte de vida cotidiana, com todas as suas penas e preocupações. (...) Sua saúde também não era boa e eu posso afirmar desde o começo que ela era uma mulher que merecia um elevador".

domingo, 21 de agosto de 2011

Calanques, o caminho até as águas cristalinas

Tínhamos nosso dia bem programado: acordar às 6h30, sair do camping às 7h, chegar na cidade de Cassis às 7h50, pegar o ônibus municipal que nos leva até o centro às 8h, chegar no centro às 8h15 e começar a trilha para os calanques imediatamente. O guia dizia que a trilha até onde queríamos ir demorava 2h, então pensamos que daria pra fazer mais rápido e chegar lá antes das 10h. Ficaríamos uma horinha na praia (calanque é praia, já explico), depois estaríamos de volta no máximo uma da tarde. Mas existe o imprevisto, esse lindo.

Pra dizer a verdade não sei se existe uma palavra em português pra dizer "calanque", e nem posso procurar agora porque estou sem internet (estou no barco rumo à Corse!). Mas calanque é um braço de mar num terreno montanhoso, tipo uma fissura nas falésias que formam uma praia. Isso na teoria. Na prática é mais simples de explicar: putaquepariuquecoisamaislinda! O negócio é que é meio difícil de chegar, tem que ir de trilha, ou de barco. Decidimos ir no En-Vau, que é o terceiro saindo de Cassis. O primeiro era um calanque-porto, cheio de barco e impróprio pra banho. O segundo era bonitinho, mas as falésias não eram completas. O terceiro que era "o" lugar. Era lá que queríamos chegar, de preferência antes de todo mundo.

Mas em vez de sair às 7h, saimos 7h45. Chegamos em Cassis 8h30 e descobrimos que o primeiro ônibus era só 9h. Saiu atrasado. Começamos a trilha já bem tarde, subimos uma montanha enorme, fiquei exausta já na primeira meia hora. A boa notícia é que não cruzamos com ninguém no caminho e fiquei toda feliz pensando que como o caminho era difícil, pelo menos não teria muita gente no calanque. Aliás, se fôssemos nos basear pela quantidade de pessoas que víamos na trilha, não teria ninguém. Subimos uma montanha e fomos parar em cima das falésias. Estava cheio de plaquinhas avisando do perigo de quedas, pois as pontas eram cobertas de vegetação seca, que escondia as beiradas. Então se a gente pegasse a trilha errada, corria o risco de cair no vazio. Pra completar o drama, dois dias antes, quando ainda nem sabia que meu percurso incluia andar sobre falésias perigosas, sonhei que caia de uma! Eu caminhava até a ponta, escorregava numa pedrinha e caia lá embaixo espatifada. Pelo menos meu sonho serviu pra eu ser mais prudente.

Subimos e descemos duas montanhas até chegar no segundo calanque. Levei um choque quando vi, que coisa maravilhosa!



Depois estranhei a quantidade de pessoas naquela praia se não tinha ninguém na trilha. Várias crianças, elas não iriam encarar as falésias mortais! Será que todos tinham ido de barco? Ansiosos pra chegar no terceiro calanque, fomos logo retomando nosso rumo. Dessa vez tinham algumas pessoas andando com a gente. Meldels do céu, o que era aquela trilha? Nunca fiz uma tão complicada, coberta de pedrinhas que deslizavam à medida que íamos pisando nelas. Sem falar do sol, que já estava a pino e queimando sem piedade. Eu, que não suo, estava pingando. Se subir era difícil, descer era ainda pior, porque escorregava muito. E era muito perigoso, se caisse num lugar mais íngreme, já era. Mas estávamos no meio de uma das paisagens mais lindas que já vi na vida.


tem duas pessoas ali embaixo, achou?

Chegamos finalmente no terceiro calanque. Duas horas de trilha pra chegar no nosso paraíso selvagem. Hã, selvagem?


A época do ano não é a melhor pra quem procura exclusividade. Até que não tinha muita gente, se considerarmos como a cidade de Cassis estava cheia. Mas valeu a pena, a paisagem era grandiosa e a água do mar translúcida (fria demais pro meu gosto, mas a gente releva).


eu ali no meio!

No caminho de volta até o segundo calanque, encontramos um cara magrinho com uma expressão de choro que disse "eu só tô pensando na volta, não vou aguentar". O chato dessa trilha é isso mesmo, a gente tá na praia, naquele paraíso, preocupado com a dificuldade da volta. No segundo calanque, vimos que a galera estava tomando uma trilha diferente da que viemos. Pombas, não acredito que tinha outra, mais fácil! Seguimos todo mundo e mal pude acreditar. Se por um lado eu estava frustrada de ter andado à toa na ida, por outro eu estava feliz de saber que a volta seria bem mais curta e que não incluia falésias mortais. E cá pra nós, o caminho de ida foi bem mais lindo e eu nunca teria feito se soubesse que tinha outro. Fiz o cheri jurar que ele não sabia.

Achamos que a trilha original era facil demais e decidimos dificultar andando ali por cima, ó!

Chegamos em Cassis depois das 3h da tarde, famintos porque não previmos levar almoço. Dispensamos os sandubas a 10 euros que a cidade de rico oferecia e compramos os nosso no supermercado mesmo.

No caminho de volta, cheri passou numa estrada entre as montanhas e eu fiquei dividida entre fechar os olhos de medo ou olhar a paisagem. Maldito sonho, viu.


Foi um dos melhores dias da viagem. Principalmente agora que lembro dele no aconchego da minha cadeirinha.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Provence, a perfumada




Se eu tivesse que escolher um adjetivo pra descrever minha primeira impressão da Provence, eu com certeza diria perfumada. Não passamos por nenhum campo de lavanda que faz a fama da região, não sei se não é a época ou se eles ficam mais acima das montanhas, passamos apenas por algumas que brotavam no mato mesmo, assim como diversas outras flores. E o cheiro, que coisa mais incrível. Não quero nem imaginar como é na primavera. Parece que jogaram perfume no mato, e perfumes diferentes, pois os cheiros mudavam. Eu abria a janela do carro, fechava os olhos e respirava aquele perfume do campo.

Mas antes de chegar na Provence, passamos pra ver a Pont du Gart, que fica entre Nimes e Avignon. É o maior arqueoduto construído pelos romanos há alguns milhares de anos e ainda de pé. O Lonely Planet dizia que a entrada era gratuita, mas tínhamos que pagar 5 euros de estacionamento. Porra, LP! Era 15 euros! (lembrei de você, Dé). Ficamos um pouquinho decepcionados com a ponte. Ela é impressionante e tal, bonitona mesmo, mas a ponte faz tanto parte da paisagem que achei meio desonesto ter que pagar para vê-la. Era tudo organizado demais, mas não era um parque de atrações, poxa. Parecia até desrespeito com a ponte.

Depois passamos na primeira cidadezinha da Provence e confesso que também fiquei um pouquinho decepcionada. Não achei muito bonito e só ficava repetindo "prefiro o Lot, prefiro o Lot". Nem saimos do carro. No dia seguinte fomos fazer uma trilha na montanha de Sainte-Victoire. Achei o percurso complicado, mal sabia o que me esperava no dia seguinte. Na volta passamos por dois meninos pedindo carona e paramos. Eles iam pra Aix-en-Provence a 12km e nosso camping ficava a 4km. Subiram mesmo assim pra fazer parte do caminho. Nós já tínhamos programado de ir à Aix à tarde, então tomamos banho, trocamos de roupa. E 1h mais tarde saímos de carro novamente. 500m mais à frente, quem a gente cruza? Os meninos andando pela estrada. Eles disseram que ninguém parou, então decidiram voltar andando! Sorte que nós os reconhecemos. Daí eles nos contaram que estavam sem dormir, pois subiram a montanha às 3h da manhã para ver o nascer do sol. Eram estudantes de antropologia.

Minha primeira impressão de Aix também não foi das melhores, mas a essa altura eu já estava de implicância com a Provence. Acontece que estávamos passeando pelo lado errado e quando fomos pro certo, fui sendo conquistada aos pouquinhos. Lá tem várias ruazinhas e praças fofas, um convite à um sorvete ou uma cerveja com o calor que estava fazendo. Encontrei a primeira brasileira desde que comecei a viajar.

Depois passamos por outras cidadezinhas mais bonitas pra tirar a impressão da primeira. As casas são quase sempre amarelas e é tudo muito bem cuidado. Era tudo lindo, mas continuo preferindo o Lot. O Lot é mais rústico, autêntico, é a França profunda; enquanto a Provence é mais delicada, com florezinhas em todos os lugares e grama bem aparada. Se fossem esportes, o Lot seria rugby e a Provence patinação no gelo. Putz, viajei, né?

Na terça fizemos um dos passeios mais legais até agora (se não o mais legal): os calanques. Mas eles merecem um post só pra eles. Já vale uma procurada no google, vai.







quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Curtinhas de férias

Curtinhas do camping

* estamos funcionando no "modo galinhas": quando anoitece a gente dorme, quando amanhece a gente acorda.
* nossos vizinhos não apreciam nossa matutinidade e ficam resmungando do barulho. Pombas, não quer ouvir barulho vai pro hotel! No camping tem gente legal e gente chata. Os indícios apontam que somos os chatos. Aceite.
* ter dor de barriga às 3h da manhã é a pior coisa que pode te acontecer num camping.

Curtinha da estrada

* fiquei pasma com um motorista que decidiu brincar no trânsito indo de uma ponta à outra da auto-estrada, passando por todas as pistas, várias vezes. Em alta velocidade, brincando com a vida dos outros. Choquei, nunca vi isso no Brasil, cheri disse que já viu várias vezes aqui.

Curtinhas do Sul da França

* sei que cheri se sente em casa quando vai na padaria e pede um chocolatin ao invés de pain au chocolat e vai ao supermercado e pede uma poche, em vez de um sac plastique.

* ser parisiense no sul é uma coisa muito constrangedora pra você.

Curtinha da máquina fotográfica

* cheri mostra toda sua crueldade no fim do dia quando diz "vamos fazer a seleção das fotos?"

Curtinha da praia

* ainda não entendi a lógica das francesas: na praia é topless, na rua a blusa é obrigatória. Continuo pagando de piriguete com minha parte de cima do biquíni na cidade. Quero nem saber.

domingo, 14 de agosto de 2011

Argelès, a nossa praia


Na nossa primeira semana de viagem, nós dormimos em vários lugares diferentes (Lyon, Lot, casa de um amigo perto de Albi e Toulouse). Tive a impressão de não parar um minuto, de fazer o dia render 30h, de pegar a estrada dia sim e outro também. Mas então domingo passado nós fomos pra Argelès, cidade onde os pais do cheri têm uma casa de praia. Passamos uma semana lá e tive a sensação de parar no tempo. Os dias passavam devagar, a gente não tinha pressa pra nada, a preguiça reinava, e o melhor: estava muito calor e muito sol.

Rapidamente entramos numa rotininha que consistia em café da manhã, praia, almoço, praia, banho, janta, sorvete. Comíamos super bem, já que comprávamos as frutas e legumes direto com o produtor e putz, que diferença! Em Paris os tomates têm gosto de água, em Argelès eles mal tinham sementes! E o melhor, tudo baratinho. O sorvete, ah o sorvete! Gente, o que era aquilo? Eu tomei um de caramel salé no primeiro dia e não troquei mais, porque nada poderia ser mais gostoso do que aquilo, por que arriscar, né?

A praia também era ótima, pertinho de casa. O único problema era a água, gelada demais. Eu parecia uma bocó pra entrar no mar, sofrendo aos pouquinhos, enquanto todo mundo entrava de uma vez. Mas estava tão calor, que depois que eu entrava, ficava me perguntando por quê não havia entrado antes. Comprei um biquíni francês e, desculpe às fieis aos modelos brasileiros, adorei! É tão mais confortável! Posso me movimentar à vontade sem me preocupar se tudo continua no lugar. Joguei frescobol sem medo de ser feliz. Mas uma coisa que notei é que ninguém anda de biquíni na rua, mesmo que seja a rua da praia. Saiu da praia, tá todo mundo tapado de novo, eu me sentia uma ET. Em compensação, as tiazonas tudo no topless na areia! Quer dizer, não era só tiazona não, tinha muita garotinha também. Acho ótimo, mas numa praia tão lotada nunca que eu faria.

Outra coisa chata era o vento. Sorte que a areia não era fininha, senão seria impossível. Mas cada vez que o vento ficava mais forte eu me preparava pra ser atingida por um guarda sol voador a qualquer instante. Tenso.

E sim, a cidade estava lotada! Argelès é uma das cidades praianas com mais campings, contamos uns 40 no mapa. Mas o mais impressionantes não era a quantidade de pessoas, mas sim a quantidade de crianças! Era muita criança, vou te falar. Acho que pelo menos 30% da galera tinha até 10 anos. E por causa disso, milhares de brinquedos, de parques de diversões, de atividades. E lógico, crianças correndo, chorando, gritando, fazendo manha, jogando areia em você e algumas bem fofinhas pra gente dizer olha que cuticuticuti. Mas poxa, estou de férias, chega de crianças!

Mas parece que eu não fiquei satisfeita com esse tanto de pitico e fui atrás da minha própria. A menina de 4 anos que eu tomava conta estava passando férias na casa da avó, que mora perto de Argelès. Sua mãe nos chamou pra ir almoçar lá e nós fomos. Ela disse que a pequena nem dormiu direito no dia anterior de tão ansiosa que estava com minha chegada, a fofa. Tudo o que uma babá quer ouvir. Os avós dela moram num lugar incrível, isolados de tudo, um paraíso. Fiquei encantada. Eles construíram um lago e tudo. O avô era naturista, felizmente fomos embora do lago antes dele entrar.

Outro passeio que fizemos foi ir pra uma praia selvagem mais distante. Bom, selvagem entre aspas, né? Porque nessa época do ano você nunca está sozinho. Fizemos snorkel e vimos vários peixinhos lindos. Mas eu nunca me acostumo com essa máscara! Passei 16 anos cotidianamente na piscina sem respirar debaixo d'água, não vai ser em um dia que vou mudar meus hábitos. Eu esquecia que dava pra respirar e ficava segurando o fôlego. Ridículo quando eu dava umas braçadas e depois virava a cabeça pra respirar. Não espalhem.

Como estou postando da minha tablete, não sei se vou conseguir postar fotos e nem onde elas vão parar, então relevem. Muito menos tive tempo de revisar. E também não sei se terei energia pra carregar o aparelho nos próximos campings. Até a próxima parada! :)



sábado, 13 de agosto de 2011

Lot, amor à primeira vista - parte 2

No Lot, a gente vê em todos os lugares muretinhas feitas de pedra construidas na idade média. Elas parecem meio frageis, equilibradas meio por acaso, temos a impressão que cairão no primeiro vento. Mas, pombas, estão la ha milhares de anos! E estão por toda parte, nas cidades, nas estradas, no meio do nada.



Outra maravilha são as falésias da região, que ha centenas de anos foram usadas como parede de casas (e é logico que as casas estão la até hoje - e habitadas), o que da a impressão de que os imoveis estão dentro da pedra, um espetaculo.



Num dia de passeio, na hora do almoço, decidimos parar em algum lugar charmosinho pra poder comer nossos sandubas e acabamos caindo por acaso em St-Martin-des-Vers. O legal é que em qualquer lugar que a gente para, se deslumbra.



As videiras estão por toda parte

Fomos também em St-Cirq-Lapopie, que é a preferida da região por sua estética montanhosa e por causa disso cheia de turistas. Eu continuo preferindo as outras, perdidas, com vida cotidiana de verdade. Mas isso não me impediu de babar um pouco.





Reparem no teto de uvinhas


Realmente conhecer o Lot foi uma feliz surpresa. Fiquei encantada com cada cantinho que descobri e moraria la facil, facil. Sinceramente, acho a região bem mais bonita que Paris e seus arredores. Tudo bem que são duas coisas incomparaveis (uma é campo e outra é cidade), mas eu gostei bem mais de conhecer o primeiro. Não sou uma pessoa de museus e multidões, prefiro a calma das cidadezinhas e paisagens naturais. So que normalmente minha preferência vai sempre para as regiões praianas e dessa vez cheguei ao extremo de colocar o Lot acima das minhas cidades litorâneas favoritas. So não fiquei triste em ir embora porque sabia que minha viagem estava apenas começando...

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Lot, amor à primeira vista - parte 1

Confesso que não gosto muito de posts de viagens. Nos blogs que leio, esses textos são o que menos me interessam. Então eu também evito escrevê-los, porque acho que nunca vou conseguir explicar todas as sensações de uma viagem, todos os sentimentos e as fotos tampouco fazem jus à beleza do lugar. Mas dessa vez eu quero deixar registrado um pedacinho da viagem que ando fazendo, nem que seja pra eu ler mais tarde depois e lembrar das sensações. Aviso logo que é um post longo e cheio de fotos (obrigada Luci por me ajudar a carrega-las!)

:)

Depois da casa da Luci, pegamos o trem rumo à Toulouse (onde moram os pais do cheri) para pegar o carro e começar nossa road trip. Primeira vez que acampo de carro, minhas viagens até aqui sempre foram no perrengue de levar apenas o que você pode carregar, então dessa vez enchemos a mini-caminhonete de tralha. Levamos até mesa, minha gente! Nunca na historia desse pais pensei um dia em levar cadeiras pra acampar. Engraçado que todo mundo no camping tinha não apenas mesa e cadeiras, mas rede, churrasqueira, todos os utensilios de cozinha e até microondas. Sem contar os campings que têm tudo que você pode imaginar: de quadra de tênis e mini-golfe até piscinas imensas e varios brinquedos pras crianças. Acampamento na França é uma instituição, tem toda uma infra-estrutura por tras.


Então fomos no departamento do Lot, no sul do pais. Cheri conhece bem a região, suas raizes estão ali. Sempre ouvia ele falar dessas cidadezinhas e ficava imaginando como era e so agora pude constatar com meus proprios olhos. E olha, minha imaginação estava longe da realidade: era impossivel eu imaginar algo tão, mas tão lindo! Porque ele até dizia que era bonito e tal, mas sabe como é né, somos suspeitos pra falar da nossa região de origem. E dei graças aos céus que ele me levou até ali, pois eu nunca tinha ouvido falar em Lot e com certeza não teria ido se não fosse por ele. Alias, não cruzei nenhum brasileiro (nem latino, nem americano, nem asiatico, nem africano, nem europeu do leste) durantes os cinco dias que ficamos la. Os poucos turistas eram 80% franceses e o resto era alemão, belga, inglês e holandês. Engraçado como essas nacionalidades descobriram a região e fizeram uma corrida pelas ruinas para depois reforma-las e transforma-las em casas de campo. Tem muito proprietario inglês por ali.

Ficamos na cidadezinha de Marcilhac-sur-Céné e dali iamos passear pelo arredores. A primeira cidade que paramos, Espédaillac foi a que eu mais gostei, não sei se pela novidade, ou simplesmente porque ela era bonita mesmo. E o melhor, sem nenhum turista! Eu disse nenhum. Os moradores são muito simpaticos e depois de 4 anos em Paris, estranhei quando todos eles me cumprimentavam quando me cruzavam. Espédaillac é uma daquelas cidades que a gente acha que não existe mais, que vimos apenas nos filmes antigos de guerra. Pois sim, elas existem e estão ali no Lot. E eu mal pude crer nos meus olhos, tamanha era a beleza.

As casas são sempre de pedra

Aquela argolinha servia pra prender os cavalos

Casa dos hobbits?

Posso morar aqui?

 Depois passamos por duas outras cidadezinhas, Quissac e Caniac. O bisavô do cheri era de Quissac e andava todo dia 8km pra ir e voltar da escola, que ficava em Caniac.


Achei as cadeiras um charme e parece que o chão foi feito com pedras de uma antiga via romana

Achamos dois antepassados do cheri na listinha da 2a GM


Primeira vez que vejo uma mulher guerreira numa igreja. Imagino que seja Joana D'Arc


Paramos numa floresta no caminho e eu aproveitei pra experimentar a culinaria local. Pas mal!
Continua...

sábado, 6 de agosto de 2011

Lyon, um detalhe geografico

Andei meio desiludida com o blog, acho que vocês ja perceberam. Ao mesmo tempo que tenho achado inutil fazer posts sérios sobre assuntos relevantes, também não queria mais expor minha vida pessoal de cabo a rabo por aqui. Então não via muita lógica. Estava sem vontade de escrever e pronto, não me forçava. Mas a verdade é que a blogsfera me trouxe tanta coisa boa, que me sinto em dívida permanente com ela. As amizades virtuais se tornaram reais e eu acabei conhecendo muita gente bacana, gente que virou amiga pra vida toda. Poderia parar por aqui, já que essas amizades já independem da internet, mas é tão legal essa interação virtual, que sinto que estaria perdendo algo se parasse de escrever.

Um dos maiores presentes que o blog me trouxe foi a Luci. Temos tanta coisa em comum, mesmas opiniões sobre praticamente todos os assuntos, tantas afinidades, que já até cansei de dizer "ah, você também?". Apesar de morarmos em cidades diferentes, sempre conseguimos nos ver com certa regularidade. Dessa vez eu e cheri que fomos visitar. Colocamos Lyon como primeira parada do mês e meio de viagem pelo sul da França que estamos fazendo, e assim, domingo passado desembarcamos em Lyon.

Quer dizer, Lyon é maneira de dizer. Fui pra casa da Luci e calhou dela ser em Lyon. Estava tão ocupada tagarelando que nem tive tempo de pôr o pezinho pra fora de casa. Cheri ainda deu uma voltinha com Camilo, sairam durante 4h e quando voltaram nos encontraram praticamente na mesma posição. Nem prestei atenção no que estava acontecendo ao meu redor, acho que fui super anti social com os colocataires da casa, não sei nem dizer ao certo quem estava por lá. Acho que tinha uma inglesa, mas não tenho certeza. Sabe aquela brincadeira que a gente dá a mão e roda tão rapido que a única pessoa que fica no foco é a que está na sua frente? Então.

O que mais gosto na casa da Luci é que me sinto em casa. Não sei explicar direito, mas parece que lá é tudo tão autêntico e verdadeiro que não há espaço para joguinhos sociais. Eu posso ser eu mesma, sem me preocupar o que vão pensar de mim. A gente se sente tão à vontade, que 5 minutos depois de chegar, o cheri já estava esparramado no sofá.

Claro que conheci as amigas Bernadette, Juliette e Jeanette. Estupidas como o esperado e barulhentas pra quem pegou o quarto mais proximo delas (mas juro que não me incomodei). Comi uvas e tomates do jardim e me balancei na rede como ha muito tempo não fazia. Teve até churrasco, luxo total! Falamos sem parar durante dois dias, dormi 3h na ultima noite, mas o tempo nunca é suficiente pra dizer tudo o que gostaria, nem se eu passasse um ano la com eles.

Com toda certeza, o melhor da vida virtual é quando ela se torna real. E então minha vontade de escrever no blog voltou, o problema é que não vou ter muito tempo pra isso. De qualquer forma vou tentar atualizar minhas andanças pelo sul da França por aqui.

Adivinha quem bebeu?

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sintomas graves de parisienses

Eu ia até fazer um Top 10, mas logo vi que a lista é infinita. Se você mora em Paris ha algum tempo, esta na hora de fazer um check up e descobrir se ainda conserva seu espirito brasileiro ou se ja apresenta perigosos sinais de metamorfose em um tipico parisiense.


Sintomas mais comuns:

- saber a temperatura que vai fazer nos proximos dias
- achar as sobremesas do brasil doces demais
- não comer mais queijo e presunto no café da manhã
- achar que um apartamento de dois quartos é luxo
- não puxar mais assunto quando ouve alguém falar português na rua, como fazia antigamente
- passar cinco minutos procurando um equivalente em portugues para uma palavra em francês que representa exatamente aquilo que vc quer dizer (e que geralmente não existe em português)
- saber nomear mais ministros franceses que ministros brasileiros
- não entender como os brasileiros podem trabalhar tanto e ter tão poucas férias
- ser mais pontual
- ficar irritado quando o turistão fica parado do lado esquerdo da escada rolante no metrô
- aprender a se virar: fazer faxina, cozinhar (bem!), consertar eletrodomesticos, montar moveis, muitas vezes até cortar o proprio cabelo
- descobrir qual é a melhor padaria do bairro e implicar com as outras
- esperar os soldes pra fazer compras
- no inverno, não sair mais com cinco casacos, três calças, sete meias, luvas, gorro de lã e cachecol, como fazia antigamente
- programar as férias para o mês de agosto
- se for mulher achar os biquinis brasileiros pequenos demais e se for homem jurar que nunca mais veste uma sunga na vida
- chamar Mc Donalds de McDo
- dizer os numeros de telefones em dezenas
- achar que o rosé é um vinho subjulgado no Brasil

Se você sentir algum sintoma não listado, por favor deixe na caixa de comentarios para podermos prevenir os recém-chegados dessa terrivel ameaça.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A criança n°1

A criança n°1 foi a forma que Paris encontrou de dizer "Ei, Amanda, você é bem-vinda aqui!". Todo mundo dizia que era super dificil de encontrar trabalho na cidade, sem falar francês então - era impossivel. E eu, menos de uma semana depois de ter chegado, ja estava cuidando dela. Ja falei da criança n°1 aqui, quando era mais descuidada.

Na verdade, foi a criança n°1 que me ensinou a ser baba. Não a trocar fraldas (ela ja não precisava mais delas), nem a por pra dormir (ela era uma das duas unicas crianças que tomei conta que precisava de companhia pra dormir. As duas eram.... hã.... brasileiras), muito menos a brincar (isso ja eu sabia muito bem). Mas foi com ela que aconteceu a experiência mais aterrorizante que tive com os pequenos e com certeza foi isso que me tornou uma boa baba.

Nos iamos sempre numa piscininha de areia que ficava lotada de piticos. Eram mães, pais, babas e bebês pra todo canto. Dai um dia, depois de fazer mil castelinhos, decidi sentar no banco pra descansar enquanto a criança n°1 brincava com seus amigos do dia. Abri a bolsa pra pegar um jornal e nem cheguei a abri-lo, foi quando uma mãe louca levantou e começou a falar alto e rapido. Eu, que tinha acabado de chegar e não falava nem bonjour, tentei prestar atenção e ouvi:

- Rnkfvrrrrrrrrrrkjfbvk! lkefvnrrrrrrrrrrrrjenvje! Njen ejffklern oegrrrrrrrrjen lenvef ejnn!!!!!!

E a moça ia ficando cada vez mais histérica e ninguém respondia pra ela. E eu olhando, intrigada, querendo saber o que ia acontecer naquela cena sem legendas. Todas as mães/babas/pais começaram a olhar entre si. Dai eu vi a mulher apontando pra fora do cercadinho e gritando mais alto, esperando alguma reação. Então passou pela minha cabeça que alguma criança devia ter fugido e seu responsavel incompetente ainda não tinha se dado conta. A mulher se deu por vencida e saiu correndo ela mesma. Como pode, minha gente, uma criança sair e a pessoa não notar? Ainda bem que a minha criança n°1 esta aqui quietinha e....

CADÊ A CRIANCA NUMERO 1?

Pânico.

Levantei e sai correndo com todos os olhos das mães/pais/babas mirados na minha nuca. Eu pude sentir cada um deles, juro. E ainda pude ler seus pensamentos, o que é ainda pior. Mas o pior mesmo, minha gente, era que a criança n°1 estava correndo em direção à rua e se não fosse a mãe louca, sabe la onde ela teria ido. Quando as alcancei, a mãe começou a brigar comigo e dizer um monte de coisa que eu não entendia num tom bem agressivo. E eu so pude ficar murmurando "je suis desolée", na falta de argumentos melhores. A melhor parte foi que eu ainda tive que voltar na piscininha de areia buscar os brinquedos da criança n°1. Foi a marcha da vergonha, parecia que aquele parquinho tinha uns 5km.

Juro que não tirei os olhos da criança n°1 por mais de 20 segundos. Eu pisquei e ela simplesmente se teletransportou de um lugar pro outro! Como era possivel? Foi a mãe dela mesmo que havia me dito que eu podia ler enquanto ela brincava (e eu sequer tive tempo de ler)! O pior foi eu não entender francês e não poder ter tomado uma atitude a tempo. Fiquei me sentindo a pior das criaturas. Fiquei tão mal, mas tão mal, que pensei que aquele trabalho não era pra mim, que eu devia procurar outra coisa. Contei pra mãe dela o ocorrido e ela disse que ah, essas coisas acontecem mesmo, criança é fogo. Fiquei mais tranquila. Mas a partir desse dia eu fiquei neurotica em ter os pequenos sempre à vista. Passei a triplicar, quadruplicar a segurança deles e escolher passear em lugares que não sejam tão cheios.

Hoje acho que foi um aprendizado. Tudo bem que eu podia ter aprendido de uma maneira menos humilhante, mas ta valendo. Por causa disso eu atingi a incrivel marca de zero crianças perdidas em 4 anos de baba! Sou muito boa mesmo, podem falar.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Meus pequenos emprestados

Pois é. Acho que minha vida de baba esta acabando. Foram mais de quatro anos tomando conta de criancinhas de 3 meses à 6 anos, a maioria bem calminha, alguns pestinhas e todos fofos. Ainda cuido de um bebê às quartas, mas so até o fim do mês. O meu contrato dos outros dias das semanas acabou na sexta e estou de férias por tempo indeterminado. Quer dizer, férias, mas sempre cheia de coisa pra fazer. Acho que cuidar dos meus bebês da menos trabalho do que todas as coisas que tenho que resolver em breve, todos os projetos que teimam em nao sair do papel (ou da minha cabeça). Mas estou muito empolgada, parece que foi um ciclo que se fechou e com um outro que esta prestes a se abrir.

Vou sentir saudades das minhas criancinhas. Quer dizer, ja sinto. Os primeiros bebês que cuidei ja estao indo pra escola de mochilinha, todos serelepes e faladeiro. Fico boba so de olhar quando encontro na rua. Como aquela coisinha que nao conseguia nem sentar ja fala francês melhor que eu?! 

Uma pena que eu nunca pude falar sobre meu trabalho de baba, ja que nao posso invadir a privacidade das familias. O que eu queria mesmo era colocar um milhao de fotos dos pequenos e contar todas as intrigas, as manias, as esquisitices que envolve o trabalho de baba. E olha, nao sao poucas! Mas né, tenho que me conter. Mas isso nao impede que eu faça uma pequena homenagem aos meus 12 guris e gurias em forma de recapitulaçao, principalmente para eu poder ler mais tarde e lembrar deles. Em breve.

sábado, 2 de julho de 2011

A caça ao tesouro

Eu ja tinha falado na caça ao tesouro que as subprefeituras de Paris organizam na cidade, mas nunca tinha participado de uma delas. Aqui no 12éme arrondissement, além da caça ao tesouro estavam programados também varios esportes gratuitos no Jardin de Reuilly, de tiro ao alvo à dança, de tênis à equitação. Até o muro de escalada que eu faço ia abrir as portas para curiosos. Tudo no mesmo dia e no mesmo lugar. Convoquei logo a Maite (que conheci no piquenique e virou minha amiga de infância), mas não conseguimos arrastar mais ninguém, so o cheri que apareceu algumas vezes para nos ajudar. Como não sabiamos direito como era o esquema da caça ao tesouro, estavamos preparadas pra abandonar a corrida se fosse chata e ficar ali nos esportes. Mas nossa previsão não podia estar mais errada.


No inicio da caça, eles nos dão um jornalzinho com um mapa, as instruções e um texto enorme de duas paginas que são as pistas. Custamos a entender como funcionava a coisa, mas depois pegamos o jeito. Demoramos uns 15 minutos so pra entender a primeira pista e logo depois desviamos muito do caminho por causa de um problema de linguistica e perdemos quase uma hora indo para a direção errada. Engraçado que as pistas eram tão subjetivas que a gente interpretava do jeito que queria dependendo do que estava no caminho. Pra gente, vermes de metal e monstros metropolitamos eram os prédios, ja que estavamos na rua, mas a Maite descobriu que, olha so, era o metrô! (na hora não parece tão obvio, juro!). Depois que voltamos pro caminho certo pegamos o jeito de vez. O percurso é super detalhado, a cada passo que davamos tinha dicas. E se a primeira vista as pistas não tinham sentido nenhum, a gente entendia quando dava de cara com elas (do lado do coração, no "rappel", vire entre duas cerejas que iluminam a passagem, que significava: à esquerda, onde tem uma placa de trânsito que esta escrito 'rappel", passe entre duas luminarias presas na parede). Uma das dicas era um muro alto de um prédio, meio artistico, com uma pintura e uma poesia. Dai cruzamos uma mulher que disse: "Moro por aqui ha anos e nunca vi ninguém prestar atenção nesse muro. Fico feliz de que pelo menos hoje as pessoas dêem uma olhadinha".

Por três vezes tivemos que entrar em lojas para pegar as dicas. Dai tinhamos que responder algumas perguntas - a primeira foi numa petshop, dai tinhamos que nomear cinco filmes da Disney que tinham cães e gatos. Que bom que o cheri estava la, pois não iamos adivinhar que 101 Dalmatas era 101 Dalmaciens e a Dama e o Vagabundo era La belle et le clochard. A segunda vez foi num cavista, tinhamos que acertar o cheiro de pelo menos dois dos quatro potinhos que ele nos apresentava. Palmas pra Maite, pois se dependesse de mim, estariamos até agora no cavista. A ultima era uma loja de decoração e tinhamos que dizer de qual animal pertenciam as plumas de um abajour. De novo, sorte nossa que o cheri estava la, pois não sabiamos como era ganso em francês.

Era engraçado ver grupinhos parados na calçada, olhando para todos os lados, apontando em todos os sentidos, tentando entender o jornalzinho. Nem adiantava muito colar e seguir ou outros, pois dava a impressão que estava todo mundo perdido (e depois descobrimos que existiam percursos diferentes também). Tinha muita gente participando, adolescentes, adultos, familias, velhinhos, todos concentrados em desvendar o caminho. Foram quase 6km (isso apenas o caminho oficial, sem contar as vezes que rodamos perdidas) e nossa caça ao tesouro durou 5h! O tempo passou tão voando que nem vimos, acabamos nem almoçando.


Mas no fim eu ja estava tão cansada que não aguentava andar. Acabamos passando novamente pelo jardim onde estavam tendo os esportes e olha, que decepção, ainda bem que não ficamos la! Descobri que o tênis se resumia a uma rede mal-amarrada na altura do joelho onde crianças de 3 anos praticavam. O boxe era um saco de bater e a equitação, pasmem, eram pôneis que as crianças davam voltinhas na pelouse! Imagina o mico se eu tivesse ficado la pra isso. Ainda bem que estavamos curtindo bem a caça ao tesouro. O objetivo do jogo era conseguir descobrir onde era o fim do percurso e se inscrever para o sorteio dos prêmios, que incluia viagem de fim de semana e jantar em restaurante. Não tinha prêmio para quem chegasse primeiro, era tudo sorteio.

Eu e Maite decidimos ficar para ver o sorteio na prefeitura. Foi muito engraçado, pois estavam rolando varios casamentos por la, então tinham duas galeras diferentes: a dos bem-arrumados e a dos mulambos suados e cansados, todo mundo fazendo fila (modo de dizer) pra entrar. Dava a impressão que éramos um bando de penetras. A boa surpresa foi um shozinho instrumental excelente de um grupo chamado Omega Fanfare. Que coisa animada! Depois tiveram os sorteios e obvio que não ganhamos nada. Mas talvez tenha sido melhor assim, pois sabe qual foi um dos prêmios oferecidos? Um queijo! Juro pra vocês. Tem que ser muito francês pra dar um premio desses, né não?


No fim das contas valeu muito a pena. Nos divertimos muito, o tempo voou e conhecemos alguns cantinhos charmosos de Paris que não conheciamos. Quem estiver por aqui no ano que vem não pense duas vezes, vai. Mas aviso logo que o francês tem que estar afiadinho, pois decifrar as pistas não é tarefa muito facil não.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O dia que Paris virou Rio

Esta semana é uma semana atípica. Minha vida de sempre foi atropelada por vários acontecimentos importantes: visita da mãe em Paris, última semana de trabalho, decisão definitiva sobre quando voltar para o Brasil baseada em uma resposta que teremos na sexta, organização das primeiras férias de verdade depois de 4 anos e calor, muito calor.


Os parisienses compartilham pelo menos dois desses eventos: o calor e o planejamento das férias (em julho/agosto todos eles migram para o sul). Então pude perceber nitidamente nas ruas uma felicidade geral - os parisienses estão ainda mais eufóricos do que na primavera! Como passei o fim de semana inteiro turistando com minha mãe, aproveitei bem todo esse momento de bom-humor coletivo, coisa rara em Paris. Nas lojas os vendedores vinham sorridentes e prestativos, nem faziam cara feia quando eu experimentava metade da loja e saia sem levar nada. Um deles, inclusive, me pediu em casamento ajoelhado e tudo. Na rua não precisávamos sequer pedir informações, era só abrir um mapa que automaticamente chegava alguém perguntando se precisavámos de ajuda, às vezes até arranhando um português simpático. Para pedir que tirassem uma foto era a mesma coisa: bastava tirar a câmera de dentro da bolsa que alguém se materializava do nosso lado oferecendo pra bater. Nunca vi isso, juro pra vocês.


O mais engraçado é que em todos esses contatos o calor entrava na conversa. O grande acontecimento era a previsão da temperatura de segunda-feira, incríveis 37°, então a expectativa era enorme. Parecia até que todo mundo estava só procurando uma desculpa pra falar "Ei, viu só? Amanhã teremos 37°! High five!" Inevitavelmente, todos os diálogos chegavam aqui. Parecia até copa do mundo, sabe? Como se todos nós estivéssemos nessa juntos, para o melhor e para o pior. Só faltava um tapinha nas costas - vamulá, vamulá, rumo aos 37! Daí tinha gente que descrevia os preparativos para o dia seguinte: "sempre deixo a janela da sala fechada, mas amanhã vou ter que abrir tudo!", outros me davam conselhos: "não esquece de beber muito líquido, vai fazer 37°".

Pois os 37º chegaram ontem e olha, quase morri. Tô muito parisiense? Minha mãe disse que não sobrevivo mais ao calor do Rio, acho que ela está certa. As crianças que tomei conta botaram o pé pra fora de casa e pediram pra voltar. Eu não tava a fim de perder a oportunidade de curtir o calor, então as obriguei a ir no parquinho, coitadas. Elas não aguentaram brincar nem na sombra e ficaram resmungando sentadas no banco. Minha mãe viu uma ambulância tirar um velhinho de casa. Pegar ônibus nesse calor não foi brincadeira, os ônibus daqui não têm janelas nem ar-condicionado! Porque como o Brasil não está preparado para o frio, a França definitivamente não está preparada para o calor.

Vou tratar de aproveitar bem da simpatia e do calor em Paris, porque certamente ambos duram muito pouco!

sábado, 4 de junho de 2011

O mundo dos livros na França

Sou daquele tipo de pessoa que desde pequena ja saia lendo tudo o que vinha pela frente. Mas minha paixão sempre esbarrou em um problema técnico: livros bons e que me interessavam não eram faceis de ser achados. Primeiro que comprar livros era muito caro - e no Brasil continua sendo -, segundo que não existia nenhuma biblioteca decente. Minha mãe até me levou algumas vezes na biblioteca municipal do bairro, mas la tinha apenas Agathas Christies de paginas amareladas e quadrinhos tão antigos que os personagens da Turma da Mônica ainda eram meio tortos. Otimo incentivo de leitura pras crianças.

A primeira vez que dei de cara com uma biblioteca de verdade foi em Brisbane, na Australia. Parecia um shopping center de livros, com a vantagem de tudo estar completamente disponivel pra você. Era um sonho: um mar de livros, CDs, DVDs, HQs, jornais e revistas, muitas publicações. O mais surpreendente pra mim é que ali não era apenas um lugar de estudos, mas também de lazer, onde as pessoas iam pra pegar filmes emprestados, um CD legal, livros de viagem do Lonely Planet, livros de receitas, livros infantis - a biblioteca tinha tudo o que a gente podia imaginar. Então a cada cidadezinha da Australia que eu ficava algumas semanas, ja procurava pela biblioteca.

Na França é a mesma coisa. Além das universidades que têm um acervo gigantesco, Paris conta com dezenas de bibliotecas de bairro, que são muito uteis no cotidiano. Quem mora por aqui, recomendo fazer a carteirinha, é de graça! Com a carteirinha a gente pode pegar até 20 obras de qualquer biblioteca de Paris por 3 semanas renovaveis. Cada biblioteca também organiza programações diferentes, como encontros com autores e leitura de historias infantis para crianças.

Como frequentadora assidua da biblioteca Saint-Eloi, fui la hoje de manhã devolver uns quinhentos livros e pegar outros mil e dei de cara com uma ideia tão genial que fiquei embasbacada. Com a proximidade das férias, o pessoal teve a ideia de fazer o pacote surpresa: embrulharam conjutos de quatro ou cinco livros (e CDs) em papel-pardo e o leitor escolhe um embrulho sem saber quais livros tem ali dentro. Assim ele tem as férias inteiras pra ler aquela pequena seleção de leitura que fizeram pra ele. Não é o maximo?

Praticamente um natal fora de época
 
Eu fico boba com essas coisas! Uma ideia tão simples, que não custa nada, atrai a curiosidade de todos e ainda incentiva leitores a lerem obras que provavelmente eles não escolheriam por vontade propria. Tudo bem que você corre o risco de pegar coisas que não te interessam (se eu caisse com biografias ou classicos, ficaria irritada!), mas é so pegar uns livrinhos extras pra garantir.
 
E se as bibliotecas municipais ja garantem boas leituras, as pessoas com forte sentimento de posse também estão bem servidas. As livrarias francesas oferecem livros muito mais baratos que no Brasil. Tipo, coisa de 3 euros para um livro de bolso. Os lançamentos estão na faixa dos 20 euros. A diferença é que enquanto no Brasil livro parece ser artigo de luxo - capa dura, design artistico, folhas de 90g -, na França eles são mais modestos, raramente têm capa dura, muitas vezes nem têm desenho: é so o titulo, o nome do autor e pronto, fundo bege ou amarelo, nada de fotos ou ilustrações mirabolantes.
 
Comprar livros na França é um programa super gostoso. Além do preço totalmente viavel, as livrarias também atraem os leitores com um ambiente aconchegante e familiar. Poltronas fofas, espaço pras crianças, vendedores simpaticos, tudo isso faz parte. Mas o que realmente me conquista é a maneira que elas indicam os livros, dêem uma olhada:
 
 Notinhas escritas à mão com opiniões pessoais


Esses bilhetinhos passam uma impressão de que a livraria tem um interesse autêntico pelos livros, e não deseja apenas vender qualquer porcaria. Da pra perceber o carinho pelas letras, o habito permanente da leitura. Eh como se a propria livraria dissesse: "seu livro ideal esta aqui e nos vamos te ajudar a encontra-lo".

I ♥ livrarias francesas. E bibliotecas também!
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