terça-feira, 28 de junho de 2011

O dia que Paris virou Rio

Esta semana é uma semana atípica. Minha vida de sempre foi atropelada por vários acontecimentos importantes: visita da mãe em Paris, última semana de trabalho, decisão definitiva sobre quando voltar para o Brasil baseada em uma resposta que teremos na sexta, organização das primeiras férias de verdade depois de 4 anos e calor, muito calor.


Os parisienses compartilham pelo menos dois desses eventos: o calor e o planejamento das férias (em julho/agosto todos eles migram para o sul). Então pude perceber nitidamente nas ruas uma felicidade geral - os parisienses estão ainda mais eufóricos do que na primavera! Como passei o fim de semana inteiro turistando com minha mãe, aproveitei bem todo esse momento de bom-humor coletivo, coisa rara em Paris. Nas lojas os vendedores vinham sorridentes e prestativos, nem faziam cara feia quando eu experimentava metade da loja e saia sem levar nada. Um deles, inclusive, me pediu em casamento ajoelhado e tudo. Na rua não precisávamos sequer pedir informações, era só abrir um mapa que automaticamente chegava alguém perguntando se precisavámos de ajuda, às vezes até arranhando um português simpático. Para pedir que tirassem uma foto era a mesma coisa: bastava tirar a câmera de dentro da bolsa que alguém se materializava do nosso lado oferecendo pra bater. Nunca vi isso, juro pra vocês.


O mais engraçado é que em todos esses contatos o calor entrava na conversa. O grande acontecimento era a previsão da temperatura de segunda-feira, incríveis 37°, então a expectativa era enorme. Parecia até que todo mundo estava só procurando uma desculpa pra falar "Ei, viu só? Amanhã teremos 37°! High five!" Inevitavelmente, todos os diálogos chegavam aqui. Parecia até copa do mundo, sabe? Como se todos nós estivéssemos nessa juntos, para o melhor e para o pior. Só faltava um tapinha nas costas - vamulá, vamulá, rumo aos 37! Daí tinha gente que descrevia os preparativos para o dia seguinte: "sempre deixo a janela da sala fechada, mas amanhã vou ter que abrir tudo!", outros me davam conselhos: "não esquece de beber muito líquido, vai fazer 37°".

Pois os 37º chegaram ontem e olha, quase morri. Tô muito parisiense? Minha mãe disse que não sobrevivo mais ao calor do Rio, acho que ela está certa. As crianças que tomei conta botaram o pé pra fora de casa e pediram pra voltar. Eu não tava a fim de perder a oportunidade de curtir o calor, então as obriguei a ir no parquinho, coitadas. Elas não aguentaram brincar nem na sombra e ficaram resmungando sentadas no banco. Minha mãe viu uma ambulância tirar um velhinho de casa. Pegar ônibus nesse calor não foi brincadeira, os ônibus daqui não têm janelas nem ar-condicionado! Porque como o Brasil não está preparado para o frio, a França definitivamente não está preparada para o calor.

Vou tratar de aproveitar bem da simpatia e do calor em Paris, porque certamente ambos duram muito pouco!

sábado, 4 de junho de 2011

O mundo dos livros na França

Sou daquele tipo de pessoa que desde pequena ja saia lendo tudo o que vinha pela frente. Mas minha paixão sempre esbarrou em um problema técnico: livros bons e que me interessavam não eram faceis de ser achados. Primeiro que comprar livros era muito caro - e no Brasil continua sendo -, segundo que não existia nenhuma biblioteca decente. Minha mãe até me levou algumas vezes na biblioteca municipal do bairro, mas la tinha apenas Agathas Christies de paginas amareladas e quadrinhos tão antigos que os personagens da Turma da Mônica ainda eram meio tortos. Otimo incentivo de leitura pras crianças.

A primeira vez que dei de cara com uma biblioteca de verdade foi em Brisbane, na Australia. Parecia um shopping center de livros, com a vantagem de tudo estar completamente disponivel pra você. Era um sonho: um mar de livros, CDs, DVDs, HQs, jornais e revistas, muitas publicações. O mais surpreendente pra mim é que ali não era apenas um lugar de estudos, mas também de lazer, onde as pessoas iam pra pegar filmes emprestados, um CD legal, livros de viagem do Lonely Planet, livros de receitas, livros infantis - a biblioteca tinha tudo o que a gente podia imaginar. Então a cada cidadezinha da Australia que eu ficava algumas semanas, ja procurava pela biblioteca.

Na França é a mesma coisa. Além das universidades que têm um acervo gigantesco, Paris conta com dezenas de bibliotecas de bairro, que são muito uteis no cotidiano. Quem mora por aqui, recomendo fazer a carteirinha, é de graça! Com a carteirinha a gente pode pegar até 20 obras de qualquer biblioteca de Paris por 3 semanas renovaveis. Cada biblioteca também organiza programações diferentes, como encontros com autores e leitura de historias infantis para crianças.

Como frequentadora assidua da biblioteca Saint-Eloi, fui la hoje de manhã devolver uns quinhentos livros e pegar outros mil e dei de cara com uma ideia tão genial que fiquei embasbacada. Com a proximidade das férias, o pessoal teve a ideia de fazer o pacote surpresa: embrulharam conjutos de quatro ou cinco livros (e CDs) em papel-pardo e o leitor escolhe um embrulho sem saber quais livros tem ali dentro. Assim ele tem as férias inteiras pra ler aquela pequena seleção de leitura que fizeram pra ele. Não é o maximo?

Praticamente um natal fora de época
 
Eu fico boba com essas coisas! Uma ideia tão simples, que não custa nada, atrai a curiosidade de todos e ainda incentiva leitores a lerem obras que provavelmente eles não escolheriam por vontade propria. Tudo bem que você corre o risco de pegar coisas que não te interessam (se eu caisse com biografias ou classicos, ficaria irritada!), mas é so pegar uns livrinhos extras pra garantir.
 
E se as bibliotecas municipais ja garantem boas leituras, as pessoas com forte sentimento de posse também estão bem servidas. As livrarias francesas oferecem livros muito mais baratos que no Brasil. Tipo, coisa de 3 euros para um livro de bolso. Os lançamentos estão na faixa dos 20 euros. A diferença é que enquanto no Brasil livro parece ser artigo de luxo - capa dura, design artistico, folhas de 90g -, na França eles são mais modestos, raramente têm capa dura, muitas vezes nem têm desenho: é so o titulo, o nome do autor e pronto, fundo bege ou amarelo, nada de fotos ou ilustrações mirabolantes.
 
Comprar livros na França é um programa super gostoso. Além do preço totalmente viavel, as livrarias também atraem os leitores com um ambiente aconchegante e familiar. Poltronas fofas, espaço pras crianças, vendedores simpaticos, tudo isso faz parte. Mas o que realmente me conquista é a maneira que elas indicam os livros, dêem uma olhada:
 
 Notinhas escritas à mão com opiniões pessoais


Esses bilhetinhos passam uma impressão de que a livraria tem um interesse autêntico pelos livros, e não deseja apenas vender qualquer porcaria. Da pra perceber o carinho pelas letras, o habito permanente da leitura. Eh como se a propria livraria dissesse: "seu livro ideal esta aqui e nos vamos te ajudar a encontra-lo".

I ♥ livrarias francesas. E bibliotecas também!
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