domingo, 29 de novembro de 2009

Top 10 - Frases que provavelmente você não vai ouvir de um francês

10- "Esse ano vamos passar as férias em Paris"
Nas férias, a maior prioridade dos franceses é se afastar o maximo possivel de Paris, sempre em direçao ao sul. Nem que isso custe dezenas de horas em engarrafamentos interminaveis e que uma vez que cheguem no eldorado da Côte d'Azur, tenha-se que disputar um espacinho de areia da praia. Tudo menos Paris. A unica possibilidade de um francês desperdiçar suas férias na capital é se ele mora la e um impedimento extremamente grave nao o deixa seguir o fluxo migratorio em direçao ao sul, como a crise econômica, por exemplo.

9- "Ops, acho que coloquei muita manteiga"
Aprenda: na França, manteiga nunca é demais. Nunca vi povo pra gostar tanto de manteiga, e atençao, nao estou falando que margarina, praticamente em extinçao por aqui. Eles nao passam uma fina camada no pao, ele colocam um pedaço mesmo. E pra cozinhar, usam mais manteiga do que oléo, em porçoes bem generosas. Pra se ter uma idéia, os franceses sao os maiores consumidores de manteiga do mundo, com 8kg consumidos por ano, por cada habitante.

8- "Adoro o sotaque de Quebec"
Se um francês disser isso, ou tem algum canadense por perto, ou ele é muito exotico. Os franceses tiram o maior sarro do sotaque dos seus primos do Quebec, mas sempre quando nao tem nenhum deles à proximidade. Quando passa algum programa canadense na televisao, eles até colocam uma legenda, pois às vezes é dificil entender. Acho que é mais ou menos a mesma relaçao que temos com o português de Portugal.

7- "Hum, como os ingleses cozinham bem!"
O climax supremo da rivalidade entre os franceses e os ingleses é a critica à cozinha britânica. O fish and chips é tao ridicularizado por aqui, que da até peninha dos ingleses. Poxa, ele nao têm terras férteis, nunca tiveram uma tradiçao gastronomica por causa disso. Os franceses dizem que seus vizinhos so sabem comer batata e os ingleses se vingam os chamando de froggy (comedores de ra).

6- "Vão desrespeitar nossos direitos trabalhistas, vamos ter que nos conformar"
Ponham uma coisa na cabeça: os franceses nunca se conformam quando o assunto sao direitos trabalhistas e sociais. Jamé. Eles sempre encontram um jeito de mostrar sua indignaçao e tentar reverter o caso. O método mais mais usado, é a greve. Simples e eficaz. Mas às vezes, quando a situaçao pede, eles encontram formas inovadoras de contestaçao. Uma das mais extremas é o sequestro dos donos e presidentes das empresas. Eles mantêm o cara preso até conseguirem o que querem e o mais incrivel é que os "reféns" nunca querem dar continuidade à acusaçao do crime de sequestro, com medo de arranjarem mais confusao.

5- "Meu sonho é morar no norte da França"
A nao ser que o francês tenha nascido no norte da França, ele jamais vai querer viver la por toda sua vida. A razao principal é o clima, que é terrivel por essas bandas, um frio permanente quase sempre acompanhado de chuva, o que da uma atmosfera bem triste. No filme Bienvenu chez les ch'tis o chefe diz pro funcionario que tem uma péssima noticia: ele vai ser transferido para um lugar horrivel. O cara diz "Naaaao! Paris?" e o chefe responde "Pior, o norte".

4- "Detesto os imigrantes"
Certamente nao sao todos os franceses que amam os imigrantes e lutam pelos seus direitos na França, mas duvido que você encontre alguém que diga abertamente que nao gosta de imigrantes, a nao ser que a pessoa esteja certa de estar entre iguais. Ser taxado de preconceituoso e racista na França é o pior xingamento que alguém pode sofrer. Entao mesmo os reacionarios fazem esforço para manter a boca fechada, ao contrario de muitos brasileiros que cegos à sua propria incoerência, criticam a presença de imigrantes sem perceber que, ops, eles fazem parte desse grupo.

3- "Bebi vinho até cair!"
Para os franceses, vinho nada mais é que uma bebida para acompanhar a comida. A nao ser que a pessoa seja um adolescente ou um alcoolatra, ela nao vai encher a cara de vinho. Existem outras bebidas que cumprem esse papel, como a cerveja, a vodka, a tequila... Vinho nao. Meu sogro achou super engraçado uma turista que pediu uma taça de vinho num bar, assim, como se pede uma cerveja.


2- "Nao me interesso por politica"
Nao importa se você esta na igreja, numa festa, num enterro: é inevitavel que o rumo da conversa pegue um atalho para a politica. Todo mundo tem uma opiniao sobre o cenario politico do pais, é impressionante. O problema é que às vezes as conversas civilizadas descambam para um inicio de discursao, mas a polidez francesa logo se impoe e rapidamente as pessoas procuram algo para concordar, como a cozinha inglesa, por exemplo.


1- "Meu avô foi um colaboracionista"
E dai que as estatisticas dizem que cerca de 20% dos franceses colaboravam com a Alemanha nazista? Você simplesmente nao vai encontrar ninguém. Todas as historias familiares sobre a segunda guerra que ouvi até hoje estao repletas de atos heroicos como esconder judeus em casa, lutar frente a frente com os nazistas, traficar informaçoes pelas costas dos alemaes, mas nunca uma em que se assumia uma simpatia com os invasores. Dizem que 20% dos franceses eram colaboracionistas, 20% eram resistentes e 60% nao queriam se meter na historia. Acho que a guerra ainda é um passado doloroso demais para se assumir os erros. Ninguém quer ser o vilao da historia, mesmo se na época significou sua propria sobrevivência.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Amigos imaginarios?

Ao contrario do que pareceu no ultimo post, eu nao sou contra as religioes. Respeito a opiniao religiosa de todas as pessoas e acho que enquanto nao tivermos respostas concretas para nossas perguntas existenciais, as religioes vao existir.

O que eu nao gosto é a mania que as pessoas tem de usar a religiao para justificar seus preconceitos e impor às outras pessoas papéis menos importantes na existência. Assuma que nao é deus que pensa assim, cara-palida, é você. Nao foi deus quem disse que os negros nao tem alma, foram os homens brancos. Nao é Ala quem desumaniza a mulher através da burca, sao os homens. Nao venha tentar justificar a fome dos pobres pelo que eles fizeram em vidas passadas, porque eu vou negar e dizer que a fome deles é culpa nossa.

Fui batizada e fiz catecismo, minha familia toda é religiosa. Alias, eles simpatizam com todas as religioes, como boa parte dos brasileiros. Minha avo é catolica, mas às vezes vai em cultos evangélicos, ja foi muito em sessoes espiritas e de vez em quando poe até uma macumbinha na esquina. O negocio é acreditar em deus. Parte da minha familia é crente e quando eu era criança, adorava passar as férias na casa deles e assim ia pra igreja também. Achava divertido, bem mais que as missas catolicas, pois eles separavam as crianças e contavam historias. Sempre lembrei de uma historia na qual deus queria destruir uma cidade inteira, mas tinha uma familia muito boa e ele resolveu salva-la. Disse que era pra eles irem embora sem levar nada e sem olhar pra tras. No momento da fuga, a mae deu uma espiadinha pra tras e pimba!, virou uma estatua de sal. O pai e as duas filhas conseguiram escapar. Adorava a historia, principalmente com a musiquinha que a gente cantava sobre ela, imitando a estatua.

Foi entao que semana passada descobri que a historia nao foi me contada inteira. Estava lendo o livro "Tirs Croisés" e descobri que a tal cidade era Sodoma (que deu origem à palavra sodomia, imagino). Dois anjos foram ver se as suspeitas de homossexualidade eram verdadeiras e um homem os acolheu em sua casa. Logo uma multidao de homens excitados bateu na porta da casa para estuprar os visitantes. O dono da casa, bom anfitriao que era, respondeu: "Nao! Tenho aqui duas filhas que nunca conheceram homem e as ofereço. Vocês podem fazer o que quiser com elas, mas deixem os visitantes em paz". Que grandeza de espirito! A multidao, porém, nao aceitou a oferta, eles queriam mesmo era os homenzinhos. Estuprar as meninas, tudo bem, mas os homens?! Pior, anjos do sexo masculino! A ira de deus nao aguentou tamanha blasfêmia e resolveu reduzir a cidade inteira a po, com uma terrivel chuva de fogo e enxofre. Antes salvou a familia tao hospitaleira.

A mae, como vocês ja sabem, foi transformada em estatua de sal e o pai e as duas meninas se refugiaram numa caverna. Na primeira noite, surprise!, o pai transa com uma delas. O livro sagrado diz que ele estava confuso, nao sabia que era sua propria filha, apesar de so haver os três na caverna. Na segunda noite, ele transa com a outra. Coitado, ainda tava meio perdido. Engravida as duas. Incesto, estupro e pedofilia? Cadê a chuva de fogo e enxofre? Ah, nao tem. Nao é à toa que eles nao contam a historia verdadeira para as crianças.

Eu tenho um pouco de raiva sim das religioes, principalmente da minha, porque tenho a impressao de que elas querem me fazer de boba, sabe? Elas querem me oprimir e querem que eu aceite isso. Elas querem que eu seja submissa ao homem sem contestar. No casamento da minha prima eu devia ter uns 13 anos, fiquei chocada ao ouvir o pastor falar com todas as letras que o homem é o provedor da familia e a mulher é a encarregada do lar; que ele manda e ela obedece, que ele é o chefe. Fiquei me remoendo na cadeira, olhando de um lado pro outro e ninguém parecia discordar.

Passei uma parte da minha adolescência com um "vazio existencial", fazia muitas perguntas e nao tinha respostas. Passei a invejar aqueles que conseguiam crer, que conseguiam ter certezas absolutas. Acho que o processo em virar atéia é mais doloroso pra quem foi criado com uma religiao. Mas agora que o tempo passou, acho que existem coisas bem mais importantes do que respostas nao dadas e consigo muito bem viver sem deus. Nao sinto mais um vazio, nao sinto que me falta nada para ser feliz.

Quando disse pra minha mae que nao sabia se acreditava em deus, ela perguntou: "Mas se você nao acredita em deus, vai acreditar em quê?". Hoje eu sei a resposta: nas pessoas. E digo isso sem a menor crise existencial.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Quando deus é o chefe do homem e o homem é o chefe da mulher

O livro "Tirs Croisés", de Caroline Fourest e Fiammetta Venner fala sobre como os principios do integrismo e do extremismo é praticamente o mesmo nas religioes catolica, judia e muçulmana. O primeiro capitulo aborda a situaçao das mulheres nessas três religioes (na sua forma mais fundamentalista) e como todas elas sao usadas para oprimir o sexo feminino.

Os judeus ultra-ortodoxos começam o dia com a oraçao: "louvado seja deus que nao me criou mulher". Ele acreditam que por causa do pecado original de Eva, todas as mulheres foram condenadas a sofrer. No livro sagrado esta escrito que as mulheres sao castigadas de nove formas: o sangue da mestruaçao e da virgindade; o fardo da gravidez; o sofrimento do parto; a responsabilidade de criar os filhos; sua cabeça coberta; os furos nas orelhas como escravas por toda a vida, que serve seu mestre; e finalmente, nao ser credivel como testemunha. O interessante é que a maior parte desses "castigos" sao inflingidos pelos homens, nao pelos céus. Até mesmo por nao permitir a mulher a escolha do aborto e de outros métodos para nao passar pelo fardo da gravidez se ela nao quiser. A judia ultra-ortodoxa so serve para ser mae e se nao consegue cumprir a tarefa é excluida da comunidade. O homem pode facilmente se separar, mas a mulher precisa da autorizaçao do marido para conseguir.

No catolicismo radical a situaçao das mulheres é a mesma. Sao Paulo era um dos que mais pregava a dominaçao masculina. Ele disse: "O chefe de todo homem, é deus; o chefe da mulher, é o homem". Os militantes integristas cristaos dizem que a funçao da mulher é ser portadora de homens (a Maria Mariana aprendeu bem a liçao e saiu repetindo isso por ai). O interessante é que eles descobriram que era muito mais eficaz quando as proprias mulheres pregavam isso, nao os homens. O que aconteceu foi uma situaçao curiosa: as mulheres ultra-conservadoras deixaram seus lares para militar pelo dever das mulheres de ficar em casa. Ah ta.

Os militantes cristao prolife (nome altamente contestavel) lutam essencialmente contra o aborto. Um caso que me chocou no livro foi o de uma menina americana de treze anos que foi morta pelo pai porque ia fazer um aborto. Ela tinha sido vitima de estupro. Quem estuprou foi o pai dela.

O islamismo com certeza é o mais famoso pelas atrocidades que faz com suas mulheres. Poligamia, burcas, mutilaçao genital, apedrejamento, a lista é longa e violenta. Mas o que as autoras argumentam é que a maior parte dessas coisas todas simplesmente nao estao no Corao. Maomé era muito menos sexista do que os profetas das duas religioes precedentes, até porque muito tempo ja tinha se passado. Mas os integristas muçulmanos, nao satisfeitos com o status que o Corao da a mulher, que ja nao é nada bom, inventa, reinterpreta, pega idéias emprestadas de outras religioes para oprir as mulheres bem do jeitinho que eles querem. Em nenhum momento o livro sagrado diz que as mulheres devem usar véu, por exemplo. Existem algumas passagens onde ele descreve que algumas mulheres usam, mas é so uma descriçao, nao uma recomendaçao.

O livro fala muito da Arabia Saudita e eu fiquei surpresa de saber que um pais tao rico é tao reacionario, juro que pensei que eles fossem mais democraticos. Elas contam que em 2002 houve um incêndio na escola das meninas e que as alunas se precipitaram para a unica porta entre os muros altos (para protegê-las, claro) que o colégio tinha. A diretora so podia ligar para os bombeiros depois de pedir autorizaçao à presidência da educaçao feminina. A porta era trancada por fora e o guardiao nao abriu porque as meninas nao tinham autorizaçao para sair. Quando os bombeiros chegaram, a policia religiosa nao as deixou sair porque elas estavam sem véu. Resultado, quinze meninas morreram. E nao deixaram os transeuntes ajudar as sobreviventes para evitar o contato misto.

A diferença entre essas três religioes é que o judaismo e o catolicismo sao restritos à esfera pessoal, enquanto o islamismo é legitimado por muitos Estados. Uma adultera pode se defender da ira do marido judeu ultra-ortodoxo pedindo ajuda ao governo, mas o que fazer quando a barbarie é justificada pelo Estado? O pai assassino e estuprador esta preso, mas onde guardar a raiva quando, na Arabia Saudita, um estuprador sai livre enquanto sua vitima é apedrejada até a morte por adultério?

Parece surreal no mundo em que vivemos, com toda a ciência que temos, que tem gente que ainda acredite em religiao. Mas tudo bem, cada um pode acreditar no que quiser, mas o Estado tem a obrigaçao de saber separar as coisas. A laicidade é um passo fundamental no avanço da humanidade. O governo tem a obrigaçao de dar os mesmos direitos para todos os individuos, sejam eles homens ou mulheres e nao justificar a dominaçao masculina por livros escritos ha milhares de anos. Enquanto a violência contra a mulher for apoiada oficialmente, é metade da força intelectual e fisica de um pais que esta sendo prejudicada. Como evoluir assim?

sábado, 21 de novembro de 2009

A mao da discordia

Os irlandeses têm estado um pouco rabugentos esses dias e imagino que vocês saibam o motivo. No jogo decisivo da qualificaçao para a Copa do Mundo do ano que vem, a França ganhou da Irlanda injustamente. Atençao, injustamente, nao ilegalmente como estao dizendo por ai. Segundo o cheri, que estava quase tendo um ataque cardiaco diante da tv, a Irlanda dominou o jogo inteiro e fez um gol. Como a França ganhou o ultimo jogo, eles foram pra prorrogaçao e foi entao que o Thierry Henry se serviu de uma ajudinha extra da sua mao pra marcar um gol e o juiz, ao contrario de todo mundo, nao viu.

A Irlanda ficou super frustrada e logo pediu a anulaçao do jogo. O surpreendente foi que a proposta foi considerada justa para muitos franceses, inclusive para alguns politicos e para o proprio Henry. Houve pressao para um pedido de desculpas oficial por parte do tecnico da França e ele respondeu que nao tem que pedir desculpas por nada, ora bolas, isso é futebol. Erros acontecem, às vezes a nosso favor, às vezes contra. Eu estou completamente de acordo com ele. Sempre me lembro do que um antigo chefe disse sobre a polêmica de utilizar as câmeras de tv como instrumento de apoio para o juiz. Ele disse que a beleza do futebol esta justamente ai, na imperfeiçao. Se tirar esse lado humanista do julgamento do esporte, falivel, vamos perder muito. Essas coisas acontecem, faz parte do jogo. A sorte conta muito dependendo do ângulo do juiz.

A FIFA negou o pedido para refazer o jogo, claro. Se essa porta fosse aberta, sabe-se la quantos outros jogos teriam que ser repetidos a partir de agora. Qualquer penalti nao dado, qualquer falso impedimento, qualquer nao-falta seria contestada. Apoio a idéia de que o juiz é a autoridade suprema do jogo, é ele quem manda e pronto. Afinal de contas, o que seria de um jogo de futebol se a gente nao tiver mais razao para xingar o juiz?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A revolta da vacina

Enquanto a populaçao de alguns paises se desespera pela falta de vacina contra a gripe A, os franceses esnobam e declaram que nao vao toma-la. Parece que a culpa é sempre do governo: ou ele é incompetente porque nao se preocupa com a saude do povo e nao compra vacina ou ele é tirano e quer obrigar todo mundo a se vacinar sem necessidade.

A vacinaçao na França começou na ultima quinta-feira, sem grande sucesso. A campanha se faz progressivamente e nessa primeira etapa so as pessoas mais suscetiveis sao convocadas, como diabéticos, asmaticos, aidéticos, pais de recém nascidos. Na segunda etapa serao convidadas as gravidas e os bebês. E assim por diante. As pessoas recebem em casa a convocaçao para apresentar no posto. No primeiro dia um telejornal mandou um reporter em um local de vacinaçao e quando ele apareceu ao vivo nao tinha ninguém por la. Ele explicou que os médicos estavam esperando cerca de 700 pessoas naquele dia e até às 13h tinha aparecido..... 1.

A hesitaçao da populaçao nao é sem razao. Somente 10% dos profissionais de saude pretendem se vacinar, o que nao é exatamente estimulante. Além do mais, existe duas vacinas diferentes, uma feita para as pessoas importantes e indispensaveis e outra para a plebe, com mais riscos de efeitos colaterais. Como eles acham que uma ideia dessas pode funcionar? A Angela Merkel declarou que vai tomar a vacina do povao, duvido que o Petit Nicolas faça o mesmo.

Apesar dos esforços da ministra da saude, Roselyne Bachelot, em alarmar a populaçao para os enormes perigos fatais  dessa terrivel gripe assassina (tentando causar panico? Imagina), os franceses nao se convenceram e acham que ela nao passa de outro resfriadinho qualquer. Cerca de 76% da populaçao afirma que nao vai tomar a tal da vacina.

Ca pra nos, acho que essa campanha esta sendo feita um pouco tarde, ja que esta fazendo frio ha uns dois meses e muita gente ja ficou doente. Pelo menos eu nao vou precisar decidir de tomar ou nao a vacina, pois desconfio que o grupo dos imigrantes vai ser o ultimo a ser convocado e até la o inverno ja acabou.

sábado, 14 de novembro de 2009

Quem quer dinheeeeeiro?

Adoro pegadinhas na televisao. Nao aquelas de susto, mas as que colocam a pessoa numa situaçao estranha que pede uma reaçao. Eu gosto de ver como respondem a uma situaçao que normalmente nao aconteceria. Por exemplo, o que você faria se um desconhecido desse um gole no seu café? Uma das minhas preferidas foi quando colocaram cinco atores e uma vitima um do lado da outro e fizeram perguntas do tipo: qual a velocidade do som? Os cinco atores davam respostas iguais e precisas, tipo "quatrocentos e cinquenta e três km/h" e quando chegava na vitima, que era a ultima, repetia bestamente "quatrocentos e cinquenta e três km/h". Como o ser humano é bobo! Uma outra que eu adoro é quando um cara mal vestido parava alguém na rua e dizia "Por favor, posso te dar um dolar?", e a pessoa dizia "desculpe, nao tenho um dolar" e ele insistia, "nao, eu nao quero um dolar, eu quero te dar um dolar". A cara de interrogaçao que as pessoas faziam eram impagaveis!

Mas o que eu quero falar é que esse sonho de alguém te dar dinheiro na rua foi a noticia da semana em Paris. Uma empresa decidiu distribuir hoje sacolinhas com uma nota dentro de cada uma, de cinco à quinhentos euros, embaixo da torre Eiffel. A açao faz parte de uma campanha de marketing, que em vez de pagar publicidade, acha que distribuindo o dinheiro pra populaçao vai atrair mais publicidade ainda por causa do interesse da midia. Ja fizeram isso em NY, mas a pessoa tinha que explicar porque queria o dinheiro, dai o cara decidia quanto o candidato merecia.

Eu até queria ir ver como seria (e tentar minha sorte, é claro), mas o cheri disse que era melhor nao, que com certeza ia dar confusao. Nao deu outra: a distribuiçao foi cancelada. Tinham mais de cinco mil pessoas esperando sua sacolinha, mas pelo que pude entender, na paz. Mas os organizadores e a policia acharam que tinha gente demais e que talvez viraria bagunça, entao preferiram nao arriscar. O povo, que até ali estava contido, se revoltou (com razao) e quebrou vitrines, fez baderna e até virou uma viatura policial. Po, que ideia! Se assumiram o risco a semana toda, mesmo contra a pressao da prefeitura, desistir na hora, quando todos ja estavam reunidos depois de vir de longe, com certeza nao foi uma boa ideia.

Distribuir dinheiro na rua é proibido na França. Mas o que é uma multa de 150 euros para quem quer distribuir 100 mil? Parece que agora o dinheiro sera doado para instituiçoes de caridade. E a empresa teve sua tao desejada propaganda. Todo mundo ficou feliz, menos o povo que ficou esperando o dinheiro que nao veio.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Top 10 - comidas francesas

10- Patisserie
Patisserie é o nome francês para doces. Olha, isso os franceses sabem fazer bem. Tartelettes, macarons, éclairs, fondants au chocolat e mesmo os biscoitos que a gente compra no supermercado (que nao sao patisserie, mas sao quase) sao excelentes! Tudo bem que no Brasil temos sobremesas muito boas também, mas a diferença é que aqui elas nao sao tao doces como as nossas. Acho que da pra sentir mais o gosto das coisas assim, com menos açucar. As padaria sao repletas de docinhos sofisticados como esses e so de olhar a vitrine ja da agua na boca.

9- Ostras
Se o nosso natal é marcado por um grande peru em cima da mesa, para muitas familias francesas, natal é sinomino de ostras. Estranho, né? Eu nunca provei, nem quando fui passar o natal com a familia do cheri. Juro que tentei, mas achei meio nojento ver a ostra se mexendo (temos que dar uma cutucada nela antes de comer pra ver se ela esta viva, pois se as comermos mortas corremos um grande risco de intoxicaçao alimentar). Tenho até uma foto fingindo comer uma ostra, foi o mais perto que consegui chegar.

8- Charcuterie
Charcuterie é o nosso equivalente a frios. Aqui na França existem varios tipos, de varias regioes diferentes. Ela foi criada quando nao existia refrigeraçao e a carne era conservada no sal. Geralmente é feita de porco, mas pode variar. Os franceses geralmente adoram charcuterie, mas de boa qualidade. Os saucissons podem ser bem caros!

7- Raclete
Esse é um prato sinômino de inverno. Hipercalorico e gorduroso, é uma delicia! Existe um aparelho especial para fazer a raclete, com varios mini-recipientes para derreter o queijo e uma chapa em cima para esquentar a charcuterie. Eh assim: a gente assa varias batatas com casca e tudo e depois joga queijo (do tipo raclete) e charcuterie por cima. O legal é que é uma refeiçao social, tipo o fondue, pois vamos colocando as coisas pra esquentar devagarinho. No final, quando a gente se da conta, percebemos que ja comemos a mesma quantidade de queijo que comeriamos em uma semana!

6- Tartine
Tartine é uma coisa bem simples e bem francesa, que eu adotei e amo de paixao. Consiste apenas em passar manteiga salgada no pao e depois jogar geléia por cima. Hummm! Ta certo que geralmente sao as crianças que comem para o café da manha ou lanche, mas eu nem ligo e como também. A tartine é tipo uma entidade francesa. Estou lendo um livro do século 19 e eles ja falavam delas naquela época.

5- Couscous
Tudo bem que o cuscus nao é exatamente francês, é marroquino. Mas tem tanto por aqui que para mim faz parte da culinaria local. Ao contrario do que os brasileiros podem pensar, o cuscus nao é aquele bolinho de côco branquinho, mas é um prato salgado. Tem a sêmola de trigo, que parece um arroz bege e redondinho, os legumes (grao-de-bico, abobrinha, cenoura, entre outros) e as carnes (pode ser frango, ou carneiro, ou linguiça, ou provavelmente tudo isso junto). Existem varios restaurante especializados em cuscus e nao sao muito caros.

4- Carnes
Obvio que nao tem como comparar a carne de boi brasileira com a que a gente come na França. A nossa, além de muito mais barata, é mais gostosa. Mas em compensaçao os franceses têm o habito de variar bem mais nos tipos de carne. Enquanto a gente so come boi, frango e porco, eles comem também pato, carneiro, codorna, pombo, vitela, coelho e até cavalo. A carne de pato acho a mais saborosa, apesar de ser bem gordurosa. Gosto bastante da de cavalo também, essa sim quase nao tem gordura e parece ser bem saudavel. Mesmo que pareça um pouco estranho de inicio, vale a pena provar essa variedade de carnes.

3- Pao com queijo
Acho que eu poderia sobreviver em Paris so comendo pao com queijo. Pra começar, o pao é delicioso! Nas padarias tem muita variedade, da pra provar um em cada dia. So nao vale pedir pao francês, pois ele nao existe! Adoro apertar a baguete e escutar o barulhinho dela quebrando. E bom, os queijos, ah os queijos! Dizem que existe mais tipos de queijo francês do que dias do ano. Eu adoro! Quanto mais forte, melhor. Tudo bem que ainda nao provei uns com pelos que existem por ai, mas um dia ainda chego la! Acho que so nao fiz ainda porque eles sao carinhos. Normalmente os franceses terminam todas as refeiçoes com um pedacinho de pao com queijo.

2- Fois gras
Aproveite para criticar esse polêmico patê enquanto você ainda nao provou, porque depois a tarefa vai ficar muito mais dificil. Para quem nao sabe, o fois gras é feito com o figado doente do pato. Os criadores empurram comida guela abaixo para supercarregar o figado até ele nao aguentar mais. Sim, é uma crueldade, mas todo pedaço de carne que colocamos na boca também é uma crueldade. Qual a diferença entre um fois gras e um frango que viveu em um espaço minimo, dentro de uma "fabrica" de carnes? Pra mim é a mesma coisa. Entao, ou eu nao como carne nenhuma ou eu como todas. Como eu ainda nao sou um ser evoluido que nao precisa de carne para ser feliz, sim, eu como fois gras.

1- Cassoulet
Cassoulet é a feijoada francesa, mais especificamente, de Toulouse, no sul da França. Eh feita com feijao branco e carnes, e é deliciosa. Tem um gosto mais amanteigado do que o nosso e é comido sozinho, tipo, sem arroz ou qualquer acompanhamento. Eu quando como faço no estilo brasileiro e acrescento arroz, legumes e até uma farofinha, mas que fique claro que nao é o french style. Agora, o que vocês nao sabem, é que depois da eleiçao do Obama, o cassoulet é mundialmente conhecido! O que tem a ver? Um programa humoristico francês fez a façanha de segurar em plena NY comemorando a vitoria do presidente uma faixa gigante escrita cassoulet e ela passou na televisao. De uma hora pra outra, os americanos foram procurar que diabos era "cassoulet", uma organizaçao terrorista? Um xingamento em espanhol? Uma mensagem subliminar? A palavra foi até incluida no wikipedia naquela semana.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Zzzzzzzzzz

Tenho estado um tanto carrancuda no blog. Mas poxa, é perfeitamente compreensivel! O inverno se instalou de vez e sabemos que vai demorar muito pra ele ir embora. Acho essa época a pior do ano, pois é somente o inicio do que esta por vir. Os dias vao ficando menores e a luz começa a faltar. Janeiro, apesar de ser o mês mais frio do ano, para mim ja nao é tao ruim assim, pois é quando o pôr-do-sol (hifem?) faz o caminho inverso e acontece cada dia mais tarde. Eh uma dose diaria de esperança de que o verao nao sumiu para sempre e que sim, um dia ele volta. Mas o que fazer nesse periodo critico de fim de ano? Dormir.

Me dei conta de uma coisa: nunca dormi tanto na vida como durmo na França. Primeiro por causa desse frio, que faz a gente se deitar cedo e nao querer sair da cama de manha. Mas também porque tenho a impressao que os franceses dormem mais. Lembro que minhas aulas no Brasil sempre começavam as 7h, do maternal à faculdade. Aqui as crianças so têm que estar na escola às 9h, o mesmo para meu mestrado. Quando eu trabalhava de baba, também começava às 9h e isso quer dizer que os pais so saiam de casa para trabalhar às 9h30. Isso da uma média de 2h a mais de sono por noite! (Nao vou nem falar da Australia, quando durante seis meses eu tive que acordar às 3h30 pra ir trabalhar nas fazendas).

Dormir é uma coisa que faço muito bem em Paris, especialmente no frio, quando me embrulho debaixo do cobertor. Acho que a gente deveria hibernar durante o inverno, pelo menos os europeus.

domingo, 8 de novembro de 2009

Piada sem graça

"O arquipelago da Palestina Oriental", segundo o atlas do Le Monde Diplomatique (clique para aumentar)

A excelente publicaçao francesa Le Monde Diplomatique cometeu uma gafe das grandes. Nao sei se foi um golpe de marketing (o que nao é muito o estilo do jornal) ou uma tentativa legitima e ingênua de fazer humor com coisas que nao devem ser engraçadas, mas o fato é que esse mapa ai de cima saiu nao so no atlas do LMD, mas em pôster. O mapa representa o territorio palestino como ilhas e Israel desaparece, dando lugar ao mar. Seria até interessante para mostrar como o territorio palestino é injustamente recortado por causa da ocupaçao israelense, mas o primeiro erro essencial esta justamente ai: se o territorio fosse realmente um arquipelago, a circulaçao seria possivel atraves de barcos, o que nao é acontece na realidade, pois o transito é controlado por Israel e o direito de ir e vir nao é um direito dos palestinos.

Mas tudo bem, se fosse so esse o problema seria compreensivel. So que o mapa vai mais longe na sua piada e a legenda mostra o itinerario dos barcos, as praias, os portos, as estaçoes balnearias, as areas de camping (?), assim, como se fosse um lugar que as pessoas vao para passar as férias. As cores usadas sao frias, bem diferentes das cores quentes normalmente usadas em mapas para mostrar zonas de conflitos. Tem ainda algumas areas designadas como colonias israelenses, destacadas com um azul bem claro, quase divino, em vez de um vermelho para mostrar a gravidade do problema. Tem até uma "Ilha do Mel" ali no meio. Que maravilha de lugar, heim? Nem sombra de Jerusalém.

Muita gente adorou a "sacada", mas outras ficaram realmente decepcionadas. Se eu fosse um palestino ficaria revoltadissima por retratarem o cenario de um conflito onde meus compatriotas morrem todos os dias, como uma colônia de férias. O humor é muito eficaz para desdramatizar uma situaçao em crise, até mesmo para ridiculariza-la. Fiquei espantada que o LMD, que é uma publicaçao séria e comprometida tenha pisado na bola tao feio assim.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A nossa velha França


Lembro quando minha mãe estava planejando sua primeira viagem à França em 2003 e perguntou se eu queria ir com ela. Eu respondi que não, eu que não queria ir pra aquele pais velho! Preferi ir pra Australia, nação novinha em folha, bem moderna. Hoje sei que a minha impressão estava completamente errada, mas acho que ainda tem muita gente que pensa que o velho continente parou no tempo e é um museu gigantesco.

Essa impressão não é à toa. Todas as nossas referências da França estão ultrapassadas. Quando o cheri estava morando no Brasil, alguém pediu pra ele, com um olhar romântico no rosto, colocar uma musica francesa pra tocar. Tinha que ver o tamanho do desgosto da pessoa ao ouvir uma musica popular e, pasmem, com guitarra! "Isso não é musica francesa". Porque o que a gente espera de uma musica francesa é ela ter mais de 50 anos e ter gemidos. Se perguntarmos pra um brasileiro quem é a francesa mais bonita, aposto que ele vai responder Brigitte Bardot. Alguém avisa pra ele, que esta é a Brigitte Bardot. Aqui na França, ela é considerada uma pessoa super desagradavel, que ja deu declarações racistas e hoje milita pelo direito dos animais. Mas nos, brasileiros, so lembramos dos seus dias de gloria na praia de Buzios.

Mesma coisa com as outras personalidades. Filosofos, escritores, artistas, poetas, todos que conhecemos são antigos. E alguns deles, que foram revolucionarios na sua época, hoje ja estão ultrapassados. O cheri é geografo e estava pesquisando o curso de doutorado da USP e quando ele viu o programa ficou na duvida se queria estudar la, porque todos os geografos de referência, muitos franceses, estão em desuso ha anos na França e suas ideias ja foram recicladas.

Quando os turistas chegam em Paris e que dão de cara com tantos imigrantes, tantos arabes, tanta gente diferente da França ariana que eles tinham imaginado, ficam surpresos. Mas poxa, não é porque estamos mais ocupados hoje em dia acompanhando a tendência americana, que a França deixou de evoluir. As coisas mudam, mesmo se a gente não esta olhando. Se os prédios parecem velhos por fora, por dentro é a mais pura tecnologia. E essa França tradicional que a gente conhece bem, aqui não passa de uma boa lembrança do passado, que não volta mais.
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