quinta-feira, 29 de abril de 2010

Ultimo recurso

Então, como alguns perceberam, eu apaguei sem querer meu ultimo post. Dai entrei num dilema pensando se reescrevia ou não. Acontece que tenho apenas um mês pra entregar minha dissertação e não tenho nada pronto ainda! Quer dizer, tenho os dois primeiros capitulos sem todos os 50 mapas que devo fazer e varias correções necessarias. O terceiro e ultimo capitulo eu não tinha nenhuma linha até ontem.

Vou contar um segredo: eu não gosto de dissertações. Adoro pesquisar, aprender, apurar, fazer questionarios pra saber a opinião das pessoas, mas acho que poderia explicar tudo em uma reportagem de cinco paginas! Escrever 100 paginas sobre o mesmissimo assunto é uma coisa que não entra muito na minha cabeça, principalmente porque quase ninguém vai ter paciência de ler. Dai eu não fico com muita vontade de escrever, mas sempre tenho aquela pressão de terminar. Eh uma coisa horrivel que se transforma quase em dor fisica! Sério: doi. Dai eu enrolo, vou limpar as gavetas, vou limpar a cozinha, vou regar a plantinha e não sai nada. E pimba!, quando me dou conta ja é maio.

Então tive que tomar uma decisão. Ou eu adio o prazo e entrego em setembro (que é o que 90% da minha turma vai fazer) e passo o verão todo sofrendo como aconteceu no ano passado; ou eu me sacrifico durante um mês, estudando sério todos os dias e termino esse trabalho logo. Por mais inclinada à primeira opção que eu estava, optei pela segunda. Ontem, ja no espirito da nova Amanda, consegui escrever 5 paginas das 30 previstas para o terceiro capitulo. Mas essa dedicação significa que vou abandonar o bloguinho durante esse mês. Pode até ser que eu apareça por aqui pra escrever alguma coisa, mas não quero ter a obrigação de vir atualizar o espaço. Tenho certeza que minhas leitoras compreenderão!

Logico que tem a possibilidade de eu escrever como uma louca e minha professora achar que não esta assim tão bom e que eu deveria passar meu verão refazendo todo o trabalho que ja fiz. E olha que não é muito impossivel não! Mas bom, pelo menos eu tenho que tentar, né?

domingo, 25 de abril de 2010

Strip Tease

Calma, ninguém vai tirar a roupa aqui no bloguinho não! Strip Tease é o nome de um excelente programa de televisão do canal France 3. O principio é bem basico: uma câmera acompanha o cotidiano de uma pessoa e mostra como é a vida dela. Simples assim. São pessoas de todo tipo, de todas as classes sociais, de diversas profissões e idades variadas. Não existe narrador, nem qualquer tentativa de manipular a opinião dos telespectadores, é você encarando de frente o Outro. Por isso, pode ser que cada um tenha uma leitura completamente diferente do que é mostrado.

Os personagens não são necessariamente extraordinarios. Muitas vezes são pessoas comuns, como seu vizinho ou você mesmo, mas às vezes a simplicidade do outro nos passa tão despercebida que é preciso que um programa de TV nos mostre a singularidade do ser humano. Talvez a situação de vermos sem ser vistos nos permite estudar melhor o outro, prestar atenção nos detalhes, sem a constante preocupação de passar uma imagem positiva, o que dificulta muito a nossa tarefa de observar.

Cada episodio tem entre 12 e 15 minutos e alguns tem continuações. Eu vi um sobre três meninas de uns 10 anos coversando sobre assuntos importantissimos como os meninos da escola "Je n'aime pas les garçons!", futuro profissional "Vou ser manequim", homossexualidade "claro que viado e homossexual não é a mesma coisa!". Dai ele fizeram outro, 8 anos depois com uma delas e seu namorado. Foi bem interessante ver a menina crescida, mas muito frustrante ver que ela esta com um cara chato, feio, sem educação, machista e que ela esta completamente apaixonada por ele, toda bobinha. Bom, quem ja não esteve nessa posição que atire a primeira pedra. Acho que tinham que fazer um terceiro, pra mostrar como ela se livrou daquele palhaço.

Tem outro num convento, onde uma freira nova e simpatica dizia que às vezes ela tinha vontade de se casar e ter uma familia, mas ai ela se dava conta de que era apenas o diabo tentando ela. Tem outro que é sobre uma prostituta-pintora, que pinta de janela aberta para atrair os clientes. Os quadros que ela fez são mais bonitos do que muitos artistas famosos por ai. Assisti um onde um grupo de umas cinco velhinhas e um velhinho conversavam. O velhinho disse que sexo era bom na época dele, que esse pessoal de hoje em dia não sabe de nada. Dai as velhinhas responderam: "Fale por você mesmo, que é homem! Essa moçada de hoje que aproveita bem! Ah se na nossa época tivesse pilula!".

Aqui em baixo é o video das meninas conversando. Eh em francês e infelizmente não tem legendas. Quem quiser assistir outros aqui tem uma boa lista pra começar.


Strip - Les Petites Filles Modèles
envoyé par PeNeLAS.

domingo, 18 de abril de 2010

Recarregando as baterias

Ulala! Férias!

Quando decidimos vir morar na França, eu e o cheri encaramos essa fatalidade como um sacrificio a ser feito em nome dos diplomas, do bolso e do curriculo e levamos essa premissa tão à sério que esquecemos de tirar férias. Nunca temos tempo para férias, é impressionante! Quando não se tem uma vida regrada, com um emprego estavel e férias a serem determinadas com antecedência e planejamento, cada um arranja uns dias de folga que, logico, nunca caem no mesmo periodo. O resultado é que a gente não viaja muito pela Europa, nem pela França, o que é um desperdicio.

Mas dessa vez conseguimos planejar incriveis 8 dias de viagem e nossa vida mudou. Impressionante como uma semana de prazer pode nos lembrar das nossas prioridades e nos mostrar o tanto de coisas que ha por fazer. Durante esses dias tive varias ideias novas que a rotina de Paris me impedia de pensar. Abriram-se mil possibilidades, mil novas escolhas para o futuro, mil lampadinhas que se acenderam sobre minha cabeça e que depois eu so conseguia dizer "como não pensei nisso antes?".

(pena que nenhuma dessas lampadinhas foi pra minha dissertação, que alias, abstrai completamente nessa semana)

Bom, fomos para o sul da França, onde normalmente é bem mais quente que Paris. Enchi a mala com meu estoque de shorts, camisetas, chinelos e protetor solar e perguntei pro cheri quantos biquinis ele achava que eu deveria levar. Ah, ingenuidade a minha. Foi ai que aprendi um importante ditado popular francês: "En avril ne te découvre pas d'un fil" ou "Em abril nao se descubra de nenhum fio", isso porque com a chegada da primavera, tolinhos como eu tendem a achar que o inverno acabou, saem de shortinho por ai e acabam gripados, os tontos. Eu não acabei gripada porque além de ter um time de primeira pra me alertar contra os perigos de abril, que era a familia do cheri, eu não conseguiria vestir uma camiseta nem se eu me enchesse de todo meu otimismo! Estava frio!

Mas nada capaz de estragar nossas tão esperadas férias. Foi um pouco frustrante ver um mar tão lindo e não poder entrar, mas em vez de passar horas inuteis dentro d'agua (olha o recalque), pudemos passear bastante pelas cidadezinhas vizinhas e ir até a Espanha, vejam so! Além de voltarmos com um estoque de comidas espanholas, garrafas de alcool (que são mais baratas do outro lado da fronteira) e muitos torrones, ainda fomos no museu de Dali, que fica na cidade de Figueiras.

Todo dia a gente olhava a previsão do tempo pra ter certeza de que o sul da França estava mais quente que Paris e comemoravamos aliviados o solzinho em cima da gente: iei, bate aqui, kich! Mas Paris ficou morta de ciumes com meu amor pelo sul da França e na nossa volta fez questão de se mostrar, exibida que é, com um domingo de extrema beleza e com um sol de amolecer qualquer tristezinha de fim de férias.

E tudo recomeça amanhã. Mas sob outra perspectiva.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Casabianda, uma "falsa boa ideia"

Continuando o post meio sem noção de ontem, que tomou um rumo completamente diferente do que eu tinha imaginado, nem cheguei perto do assunto que eu realmente queria falar: uma prisão sem grades na França. Ela se chama Casabianda e fica na ilha de Corsega. Parece que ja existe ha mais de 60 anos, mas so agora os franceses foram dar atenção a ela.

Casabianda é uma prisão a céu aberto, onde os prisioneiros andam com as chaves de suas celas (ou quartos) penduradas no pescoço. Eles trabalham em plantações orgânicas, pescam, dirigem tratores e ganham entre 9 e 25 euros por dia. Não ha fugas, os presos acham que eles têm tanta sorte de estar la, que ninguém pensa em fugir. A ultima fuga foi ha 25 anos e o fugitivo decidiu voltar pra cadeia por conta propria. Em suma, Casabianda é uma prisão humanizada.

Eu acharia a ideia excelente, mas tem um porém que me indigna muito: 81% dos detendos de Casabianda são delinquentes sexuais, incluindo ai pedofilia e estupro. Se ontem eu me empolguei um pouco e acabei saindo totalmente do assunto, foi pra mostrar que eu acredito na reabilitação dos criminosos se dermos a eles uma oportunidade de mudar de vida. Acho mesmo que grande parte dos ladrões, traficantes e drogados são vitimas do sistema e merecem uma ajuda pra sair do buraco. Mas os estupradores? Os pedofilos? Eles não são vitimas do sistema! Alguns deles são doentes mentais, principalmente entre os pedofilos, e outros acham simplesmente que têm o direito de estuprar mulheres, que com um pouco de sorte sairão impunes. Casabianda é a prova de que eles saem impunes!

Por que os crimes contra as mulheres são sempre tratados como crimes menores? Por que eles têm direito a uma vida boa (eles têm praia particular e fazem churrascos regularmente) enquanto suas vitimas estão traumatizadas pra vida toda? Eles não estão nem aprendendo uma profissão ou coisa que o valha, pois a maior parte deles tem uma boa formação acadêmica e tinha bons empregos antes de ser preso. Alguns são médicos, outros engenheiros. Eles estão la apenas para curtir a vida, como se estivessem de férias. Jogam tênis e golfe. Isso não é uma segunda chance, é impunidade.

Os prisioneiros tem o direito de andar com canivetes enquanto os guardas da prisão andam desarmados. Os outros 19% dos presos, aqueles que não são delinquentes sexuais, sofrem um tipo de "preconceito". Existe uma hieraquia entre os presos em Casabianda e os pedofilos e estupradores estão no topo dela. No refeitorio, por exemplo, os criminosos comuns so sentam pra comer depois que os criminosos sexuais entregam seus pratos.

Essa prisão é so o reflexo da sociedade, que minimiza os crimes contra mulheres (e às vezes até exalta) e faz as vitimas sofrerem duas vezes: a primeira com o crime em si e a segunda em ver que seu algoz ainda se da bem. Como diriam os franceses, essa prisão é uma fausse bonne idée. Para saber mais sobre Casabianda, aqui tem uma matéria da revista Le Point, em francês.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Um pouco de Brasil

Lembro que uma vez, no inicio da faculdade, tive que fazer uma redação sobre criminosos e direitos humanos. A gente tinha que comentar uma declaração de uma ong que pedia um tratamento mais digno para os presos. Mais especificamente, a gente tinha que escolher um lado e argumentar. Quem lê o blog ha um tempinho deve estar adivinhando qual lado eu escolhi. No entanto, meus caros leitores, vocês estão errados: eu escolhi o discurso mediocre de "direitos humanos para humanos direitos".

Não foi uma coisa consciente, sabe? O problema é que esse tipo de assunto simplesmente não me interessava, nunca tinha pensado realmente sobre isso e então não tinha uma opinião. Dai pensei pelo lado pratico da coisa. Se eu escolhesse defender os direitos humanos para os presos ia acabar ficando aquela coisa chata, monotona, aquele discurso de politicamente correto. Tinha certeza que todos os alunos iam escolher essa opção (hoje não tenho tenta certeza assim). Se eu escolhesse a outra, meus argumentos iam ficar mais interessantes, mais ousados, mais corajosos: uma transgressão, na minha cabecinha oca de adolescente.

Pois parece que funcionou. Como era uma prova de transferência de universidades, era o proprio reitor quem ia corrigir. Quando fui buscar os resultados, a pessoa me anunciou com um ar de cumplicidade que minha redação tinha sido a preferida do cara, so faltou me dar uma piscadela. Bom, fiquei feliz, legal, passei, mas nunca esqueci que eu escolhi o lado errado so porque era mais facil pra mim. De la pra ca aprendi que trangredir tem um significado muito maior do que rebeldia de adolescente e a gente tem que tomar muito cuidado para não lutarmos pela nossa propria submissão.

Mas isso tudo pra dizer que sim, eu sou do "grupinho dos direitos humanos" e descobri que às vezes a gente deve ser politicamente correto por mais careta que seja. Acho que tem coisas que simplesmente não são negociaveis. A maioria dos presos no Brasil são vitimas da nossa propria sociedade, dessa sociedade onde o chefe ganha 20 mil reais, e diz que é um salario correto, mas paga seu empregado 500 reais por mês. Tipo, como uma pessoa pode dizer que 20 mil reais é um salario razoavel e pagar 40 vezes menos a alguém? So tem uma explicação: ele se acha superior, ele merece ganhar bem, ele trabalha duro. A empregada que rala o joelho limpando sua sujeira não merece. São diferentes niveis de pessoas. Depois vão ver a novela das oito e se indignam com as castas indianas.

E querem o que? Que os pobres se contentem com seus papeis de pobres? Que ele limpem seus carros, varram suas casas, limpem as bundas dos seus filhos e sigam calados? Ah, a coisa não funciona bem assim não! A gente tem que escolher: vamos mandar parte dessa grana la pro norte, ou vamos esperar a miséria trazer mais desempregados pra ca? Vamos dividir essa riqueza toda ou vamos assistir nossos filhos serem assassinados por um tênis? Ninguém tem poder o tempo todo. Um dia seu vidro blindado vai quebrar.

Meter os rebeldes na cadeia não adianta nada. Depois deles, outros virão. E depois deles, outros. Vamos ver quem resiste mais. Tem que mudar a estrutura e uma parte dessa mudança, mesmo que pequena, deve ser feita na prisão. O sistema carcerario deve ser humanizado.

Continuo amanhã.

sábado, 3 de abril de 2010

Le poisson d'avril ou o dia da mentira

Sabe que na França o dia 1° de abril também é comemorado o dia da mentira? Eu fiquei surpresa quando descobri, achei que fosse uma coisa brasileira, não sei porquê. So que aqui o nome é outro, eles chamam de dia do "poisson d'avril", ou seja, dia do peixe de abril. Dai quando alguém cai na mentira, o outro grita orgulhoso de sua sagacidade: "Poisson d'avril!". A origem desse nome não é muito clara, mas a ideia original é pendurar nas costas da vitima um peixe de papel sem que a pessoa perceba. Ja ouvi dizer que era porquê antigamente o ano novo era comemorado no dia 1° de abril, ja ouvi que tem algo a ver com a Pascoa e com o fato de so podermos comer peixe nessa época (que atualmente nenhum francês respeita mais, diga-se de passagem). Procurei, mas não encontrei uma resposta satisfatoria, se alguém aprendeu na aula de francês, por favor me fale.

Mas tem um detalhe interessante: os franceses vão bem mais longe nas mentiras do que os brasileiros! Aqui não são so mentirinhas bobas do dia-a-dia como eu fazia la no Rio (tentando desesperadamente segurar a risada, sem muito sucesso). Na França as mentiras são levadas à sério! O interessante aqui é que toda a midia entra na brincadeira. Cada jornal publica uma matéria falsa e totalmente absurda e cabe aos leitores descobrir quais são os poissons. Tem um pessoal que até fica de guarda, procurando em todos os lugares as mentiras escondidas, pra depois fazer uma lista.

O jornal Le Point anunciou em primeira mão que Obama confia a Sarkozy provas de existência de extra-terrestres. O meu site de informação preferido, o Rue 89, publicou uma reportagem explicando como o governo francês utiliza um programa de informatica para tomar as decisões mais dificeis da presidência. O Journal du net anunciou que a Google vai deixar a França depois da implantação da Lei Hadopi, contra a pirataria na internet. Até o Ministério do Trabalho entrou no jogo e disse que seu site iria ser substituido pela sua conta no Twitter. Teve até o incrivel anuncio do lançamento de um hamburger feito especialmente para os canhotos! Esse blog aqui (em francês) reune alguns dos poissons de abril de 2010 daqui da terra do croissant.

Depois dizem que os franceses são mal-humorados!


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