sábado, 26 de dezembro de 2009

Boas festas!

Espero que todos tenham passado um maravilhoso natal! Eu passei otimos momentos: boa comida, boas companhias, bons vinhos, bons chocolates! Até o frio deu uma melhorada e saiu da temperatura negativa para tropicais 3 graus! Uau! Mas eu tenho trabalhado bastante esse fim de ano, entao nao tive muito tempo de escrever aqui no bloguinho. Mas daqui a pouco tudo volta ao normal.

Enquanto isso, convido vocês a ouvirem a reportagem que fiz sobre os circos em Paris. Todo fim de ano a cidade se enche de espetaculos circenses, um mais legal que o outro. No fim do texto tem a reportagem em audio, com entrevistas e musicas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Papo de elevador

Corajosas correndo debaixo de tempestade de neve


O que fazer quando um assunto que sempre foi totalmente secundario, pra nao dizer sem a menor importância, se torna o centro da sua vida, com todas as outras coisas girando em volta dele? Pois foi isso o que aconteceu com a meteorologia para mim. A conversa sobre o tempo foi promovida de quebra-gelo de elevador à discursao de suma importância. So fui perceber a minha obcessao quando me dei conta de que quando algum amigo do Brasil me perguntava como estava indo a vida na França, eu sempre respondia: "Nossa, muito frio" ou mais raramente "Até que agora o tempo esta melhorando". Pô, desde quando eles estao interessados em quantos graus esta fazendo na França?

A Mariana ja falou da mania dos franceses com a previsao do tempo na TV e eu posso dizer que compartilho desse interesse. Virei uma especialista de temperatura e nao devo ter passado um dia sem saber qual foi a maxima. Aqui sempre tem a previsao da manha e a previsao da tarde, que variam muito. No Brasil eu nunca tinha pensado nisso, e no inicio eu estranhava quando as pessoas perguntavam "Mas 10 graus de manha ou à tarde?".

A primeira vez que tive contato com estrangeiros, na Australia, a gente sempre conversava sobre os critérios mais importantes na hora de decidir qual o melhor pais pra morar e esse pessoal do norte do planeta sempre priorizava o clima do lugar. Eu achava curioso todos eles falarem a mesma coisa e dizia que pra mim, o clima nao era importante. Depois de quase três anos na França mudei minhas preferências e coloquei a temperatura como fator essencial na escolha. Nao sei onde li que conhecer o frio é indispensavel para se valorizar ao calor e nao poderia estar mais de acordo. Antes de vir pra França, a temperatura era um mero detalhe, eu nunca dei valor ao calor brasileiro, nunca tinha parado pra pensar de verdade sobre isso. Quer dizer, eu sabia que na Europa era frio e tal, mas nao dava importância. Acho que so sentindo na pele a gente se da conta de certas coisas.

Pois é, tudo isso pra dizer que aqui esta frio pra caramba! E que hoje nevou como nunca tinha visto. A neve é a unica coisa positiva abaixo de zero. Eu e cheri fomos para o parque e brincamos como crianças, fazendo batalha de bola de neve. Boneco nao deu pra fazer, segundo o cheri, o tipo de neve dificultava o trabalho. (sera que ele se aproveitou da minha ingenuidade de iniciante pra me enrolar que nao dava pra fazer quando na verdade ele nao queria ter trabalho?). As fotinhos que ilustram esse post sao da nossa aventura de hoje. Viram o pobre do patinho no lago congelado?

domingo, 13 de dezembro de 2009

O povo de 136 cores

Nos anos 30, Gilberto Freire deu inicio a um mito que carregamos até hoje: o da democracia racial. Era a ideia de que o povo brasileiro é um povo misto, colorido e sem preconceitos, vivendo como se nao houvesse amanhã. Eu fazia coro com os otimistas: não, no Brasil não existe racismo. Achava que minha melhor amiga que não gostava de negros era uma exceção, assim como boa parte das pessoas que eu conhecia. Ex-ce-ções.

E é uma pena que num pais tão multicolorido como o nosso ainda exista racismo. Ou é apenas coicidência que a maior parte dos pobres é negra? Uma das perguntas do censo demografico de 1980 era "Qual a sua cor" e não tinha opções para escolher, tinha que escrever mesmo. O resultado foram as incriveis 136 cores diferentes. Estava numa biblioteca quando li sobre o assunto e tive que me segurar para não rir alto da criatividade desse pessoal. Escaneei a lista, clique nela ai ao lado para aumentar. O que seria "cor-de-cuia", "enxofrada" ou "melada"? Tem também os coloridos: "verde", "lilas", "azul", "roxa" e "laranja". Tem os indecisos: "branca-morena", "meio-amarela", "puxa-para-branca" e "quase-negra". Tem os exibidos: "morenão", "bronzeada", "trigueira", "queimada-de-praia". Tem até burro-quando-foge, pode conferir!
Ja disse que aqui na França não se fala de raças. Para eles so existe uma, a humana. E nem adianta vir com papo de etnia que eles também não engolem. Simplesmente não existe classificação para as cores das pessoas. No senso demografico não tem essa pergunta, o que às vezes dificulta a compreensão de alguns aspectos da vida em sociedade. Mas apesar de detalhes cientificos, acho muito positiva essa premissa de que não existe diferenças etnicas.
Talvez o problema esteja exatamente em nos orgulharmos de sermos raças diferentes convivendo "harmoniosamente no pais mais tolerante do mundo", quando deveriamos ser simplesmente uma raça so.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Post final do amigo-oculto dos blogs

Lembram do pique-nique dos blogs e do amigo-oculto? Então, na reta final a corrente foi quebrada e como eu ja tinha o texto da Bel, que me tirou, resolvi pegar um atalho e publicar o relato dela aqui. A Bel escreve o blog C'est pas vrai e faz mestrado em Paris. Ta aqui o que ela tem pra dizer sobre a cidade-luz:

"E lá se foram dois anos. Dois anos de Paris. Não, não quero parecer rabugenta. Foram dois anos inesquecíveis. Dois anos diferentes. Ruptura mesmo. Fim dos hábitos cariocas, fim do mesmo trabalho levado por sete anos e meio. Fim do mate com biscoito globo, fim dos fins de semana entre amigos numa boa mesa, rindo entre uma garfada e outra. Fim do vento-gosto-de-mar. Fim do Pizza Park salvador das noites sem nada na geladeira.

Ok, fim é definitivamente um exagero. Digamos que é uma pausa, como dizem os franceses.

Pause para Paris me invadir.

Paris é o início de novas tradições.

Paris é 180 graus. Paris é frio, vento e chuva. Paris é cinema, outono-inverno, primavera-verão. Paris é –13. Paris é +32. É verão seco, é praia artificial. Paris é educação. É merci-bonne journée-au revoir. Paris é lavanderia fora de casa. É sair com carrinho e sacola da Ikea à procura da lavanderia menos cara. Paris é solde, é hôtel de ville, é Marais. Paris são gays, judeus e turistas. Paris é turista ! Paris é pressa, corre-corre, empurra-empurra. Paris é navigo. Não, Paris não é mais carte orange. Paris é Pasteur, mãos dadas. Paris é liberdade, sorriso. Paris é tranqüilidade. Paris é mestrado. É sofrimento. Paris é jogo de tabuleiro, é ludoteca, Paris é arte digital, mesmo tendo parado no surrealismo. Paris é préfecture de police, é papelada, carte séjour. Paris é burocracia. Paris é tensão, é alívio. E mais burocracia. É dedicação. É ser estrangeira. Sempre. Paris é Argélia, Tunísia, Marrocos, Estados Unidos. Paris é, Cuiabá, Rio, Sampa. Paris é BH, Recife, Porto Velho. Paris é conhecer o Brasil. Paris é entrar numa farmácia e não pagar pelo remédio. Paris é Assurance Maladie. Paris é língua estranha. Paris é faux-amis. Paris é Saint Denis. É linha 13, metrô lotado, gente fedida. É não tirar o casaco mesmo fazendo 40 graus. Paris é leitura no metrô. É headphone nos ouvidos. Ou na conversa alheia. É descobrir a cada esquina uma nova livraria. Paris não é necessariamente Fnac ou Gilbert Joseph. Paris é piquenique, é queijo, é vinho. É torre Eiffel. Paris é andar. Paris é vélib. Paris é beagle, é buldog francês, é fox. Paris é cocô de cachorro par tout! Paris é gola levantada, é écharpe em homens elegantes, Paris é prêt-à-porter. Paris é Nouvelle Vague, Paris é Carmen Maria Vega. Paris é platéia fria, Paris é platéia participativa. Paris são malas e malas. É a casa cheia com duas pessoas. Paris é aprender a viver em pequenos espaços. É teto de madeira, é parede úmida. É chão de cerâmica de 1900 e lá vai tempo. É chão se decompondo, se desfazendo. Paris são janelas grandes, Paris é pátio interno. Paris é 3ème. Paris é parar e pensar. Pensar no futuro, sobretudo. É rodar e rodar e voltar ao início. Paris é o que eu quero ser quando crescer. É se perguntar onde estarei daqui a um ano. Paris são dúvidas. Muitas dúvidas. Paris é saudade. Paris é novidade. Sempre. Paris é muito mais.

Paris é incrível."

Aproveito para divulgar o terceiro concurso de blogueiras do Escreva Lola Escreva. São 25 textos sobre maternidade. A iniciativa é otima para se conhecer novos blogs. Depois é so ir no blog da Lola e votar no seu texto preferido.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Queridos (ou detestados) mestres

Eu so fui aprender francês depois que cheguei em Paris, e pra ser sincera nem sei como isso aconteceu. Não fiz curso de francês, so falava (ok, falo ainda) português com o cheri e passava 10h por dia com dois bebês que, bom, não sabiam nem dizer maman ainda. Acho que foi por osmose, so pode ser. As vezes me pegava falando alguma coisa e pensava "como diabos eu sei isso?". Mas o método da osmose se mostrou ineficaz para conjugação de verbos, então quando entrei no mestrado e tive um tempinho livre, decidi consertar meus erros de gramatica. E foi assim que cruzei o caminho de criaturas nem sempre amavéis: os professores de francês.

A bipolar
Professora de Francês Lingua Estrangeira na universidade, ela passava a aula inteira sentada e so se levantava por uma razao muito grave. O que nao é nada pratico na hora de corrigir os exercicios, pois ela fazia tudo oralmente e quem ja estudou francês sabe que um som pode ser escrito de mil formas diferentes. Quando alguém pedia pra ela escrever, ela bufava, olhava pra cima e ia pro quadro com uma vontade que ninguém mais se atrevia a pedir que ela fizesse tamanho esforço novamente. Normalmente ela era super grossa e dava patada em todo mundo, mas era so dar um gancho pra ela falar de doença, tipo "Estou com dor de cabeça", que ela se animava toda pra contar como que semana passada ela também teve uma dor de cabeça horrivel, que so passou com blablabla... Uma vez fui no escritorio de linguas pedir uma informaçao e ela falou pro cara, bufando como sempre: "Elle est une emerdeuse". Eu nao respondi nada porque o cara estava sendo super simpatico e na verdade eu nao tinha certeza se ela tinha dito isso mesmo ou se eu tinha entendido errado. Mas depois, a conhecendo melhor, sei que foi isso mesmo o que ela disse. Na aula seguinte a esse incidente, ela abriu o maior sorriso pra mim e perguntou se eu podia pegar um café pra ela. Pode? Claro que nao fui né.

O machista
Visto o fracasso das minhas aulas com a bipolar, fui tentar um intensivo de verao na universidade mesmo, checando bem para nao cair com a madame de novo. Antes tivesse caido com ela. Peguei um primata que nao fui com a cara desde o começo. Depois de 15 minutos de aula ele começou com a historia de como o conceito de familia estava se desintegrando, que as maes estavam trabalhando fora e esquecendo de educar os filhos e cuidar da casa. O homem estava perdido sem saber mais qual era seu papel de macho dominante no ambiente domestico, ja que a mulher passou a competir com ele. Juro que uma universidade francesa era o ultimo lugar que eu pensei que ouviria isso. Dai comecei a discutir com o cara e meu sangue começou a ferver. O que me dava mais raiva era nao conseguir dizer tudo o que eu queria em francês. Uma outra garota decidiu ficar do meu lado, mas timidamente. Quando vi, estava no meio de uma briga contra meu professor, gritando feito uma doida no meio da sala de aula e ele também. Cheguei a mandar ele calar a boca porque ele estava ali para me ensinar francês e suas opinioes pessoais nao me interessavam. Nunca mais voltei no curso.

A francesa tipica
Desisti de vez da universidade e me inscrevi no curso de francês da prefeitura, onde estou até hoje. Quando vi minha professora pensei "caramba, sera que eles escolhem de proposito alguém beeeeem francês pra nos mostrar como é a cultura do pais?". Sabe aquela imagem de professora francesa que temos na cabeça: magra, alta, esbelta, educada, voz calma, etc. Era ela. Minha grande surpresa foi quando ela se apresentou e disse "Sou tunisiana". Seu nome tem até Bin no meio, como o Bin Laden, prova de arabianidade. Bom, nao deixa de ser uma francesa tipica, ja que por aqui a mistura ja é regra. Adoro minhas aulas e o pessoal do curso, a gente ri e se diverte bastante!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Casamentos coloridos não valem um visto

Da ultima vez que fomos na imigraçao renovar meu visto, o cheri teve uma revelaçao: "Sera que o motivo deles sempre implicarem com a gente é por nao usarmos alianças?". Nunca tinha pensado nisso, mas faz todo sentido! Se eu soubesse que umas argolinhas evitariam tanto desgaste fisico e mental, tinha até arranjado umas pra usar durante o dia. Mas sera que eles nao pensam que quem casa pela nacionalidade vai obrigatoriamente usar alianças e saber direitinho a data do casamento? Acho até que eu desconfiaria mais daqueles que parecem um casal perfeito demais... Acho muito engraçado que o governo te obrigue a casar e depois ainda quer exigir que você aja como se o dia do seu casamento tenha sido o melhor da sua vida. Eles querem o que? Que eu me emocione cada vez que perguntarem quando eu me casei e mostre orgulhosa minha sagrada aliança?

Ontem fiquei sabendo de um brasileiro que esta sendo ameaçado de expulsao porque a imigraçao nao acreditou no casamento dele com uma francesa. Parece que separaram os dois para fazer perguntas e ambos disseram que cada um saia com seus amigos e nao saiam muito juntos. Pronto, a imigracao decidiu que eles nao eram um casal de verdade. Na realidade eu nem sei se eles eram ou nao casados de verdade, nao deu pra perguntar os detalhes no meio da aula, mas acho um absurdo o governo decidir se a sua relaçao vale ou não um visto para a França. Sera que se me separassem do cheri para fazer perguntas a gente também seria considerado como um "casamento branco"? Suspeito que nossas respostas seriam todas diferentes. Quando vocês se conheceram? Eu: Acho que ha uns três anos... Ele: Hum... Talvez ha uns seis anos. Quem tomou a iniciativa? Eu: ele. Ele: ela. Vocês pretendem ficar em Paris quanto tempo? Eu: pretendemos ir embora o mais rapido possivel. Ele: Depende do trabalho que a gente conseguir, o doutorado, etc. Expulsao na certa.

Mas o atual ministro da imigraçao francês, Eric Besson, disse que a nova ameaça não são os casamentos brancos, mas os cinza, que é quando os malvados estrangeiros se aproveitam da ingenuidade romantica dos franceses para ingressar na terra prometida da França. Sim, os estrangeiro fingem amar os franceses so para conseguir um visto, minha gente. Coitados desse pobres gauleses, que sao usados sem do nem piedade e sequer percebem que sao alvo de uma grande fraude sentimental. So que agora o senhor ministro esta pensando em processar um radialista que ousou sugerir que sua namorada tunisiana de 22 anos não esteja com ele pelo seu charme irresistivel de senhor de meia idade e nem pelo seu fisico invejavel de politico barrigudo.

Assim como eu acho que politica e religião devem andar separados, acredito que a politica não tem o direito de se meter na vida sentimental dos outros. Como julgar se um casal é de verdade ou não? Se seguirem ao pé da letra tudo o que um casal "normal" faz, como usar aliança, sair juntos o tempo todo, ter conta conjunta no banco, ter filho? Po, tem um monte de casais que prefere morar em casas separadas, o que é a prova maior de um casamento branco. Para mim, ditar o que devo ou não fazer na minha vida a dois é tão ruim quanto me obrigar a ir na missa todo domingo.
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