Eu so fui aprender francês depois que cheguei em Paris, e pra ser sincera nem sei como isso aconteceu. Não fiz curso de francês, so falava (ok, falo ainda) português com o cheri e passava 10h por dia com dois bebês que, bom, não sabiam nem dizer
maman ainda. Acho que foi por osmose, so pode ser. As vezes me pegava falando alguma coisa e pensava "como diabos eu sei isso?". Mas o método da osmose se mostrou ineficaz para conjugação de verbos, então quando entrei no mestrado e tive um tempinho livre, decidi consertar meus erros de gramatica. E foi assim que cruzei o caminho de criaturas nem sempre amavéis: os professores de francês.
A bipolar Professora de Francês Lingua Estrangeira na universidade, ela passava a aula inteira sentada e so se levantava por uma razao muito grave. O que nao é nada pratico na hora de corrigir os exercicios, pois ela fazia tudo oralmente e quem ja estudou francês sabe que um som pode ser escrito de mil formas diferentes. Quando alguém pedia pra ela escrever, ela bufava, olhava pra cima e ia pro quadro com uma vontade que ninguém mais se atrevia a pedir que ela fizesse tamanho esforço novamente. Normalmente ela era super grossa e dava patada em todo mundo, mas era so dar um gancho pra ela falar de doença, tipo "Estou com dor de cabeça", que ela se animava toda pra contar como que semana passada ela também teve uma dor de cabeça horrivel, que so passou com blablabla... Uma vez fui no escritorio de linguas pedir uma informaçao e ela falou pro cara, bufando como sempre: "Elle est une emerdeuse". Eu nao respondi nada porque o cara estava sendo super simpatico e na verdade eu nao tinha certeza se ela tinha dito isso mesmo ou se eu tinha entendido errado. Mas depois, a conhecendo melhor, sei que foi isso mesmo o que ela disse. Na aula seguinte a esse incidente, ela abriu o maior sorriso pra mim e perguntou se eu podia pegar um café pra ela. Pode? Claro que nao fui né.
O machista Visto o fracasso das minhas aulas com a bipolar, fui tentar um intensivo de verao na universidade mesmo, checando bem para nao cair com a madame de novo. Antes tivesse caido com ela. Peguei um primata que nao fui com a cara desde o começo. Depois de 15 minutos de aula ele começou com a historia de como o conceito de familia estava se desintegrando, que as maes estavam trabalhando fora e esquecendo de educar os filhos e cuidar da casa. O homem estava perdido sem saber mais qual era seu papel de macho dominante no ambiente domestico, ja que a mulher passou a competir com ele. Juro que uma universidade francesa era o ultimo lugar que eu pensei que ouviria isso. Dai comecei a discutir com o cara e meu sangue começou a ferver. O que me dava mais raiva era nao conseguir dizer tudo o que eu queria em francês. Uma outra garota decidiu ficar do meu lado, mas timidamente. Quando vi, estava no meio de uma briga contra meu professor, gritando feito uma doida no meio da sala de aula e ele também. Cheguei a mandar ele calar a boca porque ele estava ali para me ensinar francês e suas opinioes pessoais nao me interessavam. Nunca mais voltei no curso.
A francesa tipica Desisti de vez da universidade e me inscrevi no curso de francês da prefeitura, onde estou até hoje. Quando vi minha professora pensei "caramba, sera que eles escolhem de proposito alguém beeeeem francês pra nos mostrar como é a cultura do pais?". Sabe aquela imagem de professora francesa que temos na cabeça: magra, alta, esbelta, educada, voz calma, etc. Era ela. Minha grande surpresa foi quando ela se apresentou e disse "Sou tunisiana". Seu nome tem até Bin no meio, como o Bin Laden, prova de arabianidade. Bom, nao deixa de ser uma francesa tipica, ja que por aqui a mistura ja é regra. Adoro minhas aulas e o pessoal do curso, a gente ri e se diverte bastante!