quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sintomas graves de parisienses

Eu ia até fazer um Top 10, mas logo vi que a lista é infinita. Se você mora em Paris ha algum tempo, esta na hora de fazer um check up e descobrir se ainda conserva seu espirito brasileiro ou se ja apresenta perigosos sinais de metamorfose em um tipico parisiense.


Sintomas mais comuns:

- saber a temperatura que vai fazer nos proximos dias
- achar as sobremesas do brasil doces demais
- não comer mais queijo e presunto no café da manhã
- achar que um apartamento de dois quartos é luxo
- não puxar mais assunto quando ouve alguém falar português na rua, como fazia antigamente
- passar cinco minutos procurando um equivalente em portugues para uma palavra em francês que representa exatamente aquilo que vc quer dizer (e que geralmente não existe em português)
- saber nomear mais ministros franceses que ministros brasileiros
- não entender como os brasileiros podem trabalhar tanto e ter tão poucas férias
- ser mais pontual
- ficar irritado quando o turistão fica parado do lado esquerdo da escada rolante no metrô
- aprender a se virar: fazer faxina, cozinhar (bem!), consertar eletrodomesticos, montar moveis, muitas vezes até cortar o proprio cabelo
- descobrir qual é a melhor padaria do bairro e implicar com as outras
- esperar os soldes pra fazer compras
- no inverno, não sair mais com cinco casacos, três calças, sete meias, luvas, gorro de lã e cachecol, como fazia antigamente
- programar as férias para o mês de agosto
- se for mulher achar os biquinis brasileiros pequenos demais e se for homem jurar que nunca mais veste uma sunga na vida
- chamar Mc Donalds de McDo
- dizer os numeros de telefones em dezenas
- achar que o rosé é um vinho subjulgado no Brasil

Se você sentir algum sintoma não listado, por favor deixe na caixa de comentarios para podermos prevenir os recém-chegados dessa terrivel ameaça.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A criança n°1

A criança n°1 foi a forma que Paris encontrou de dizer "Ei, Amanda, você é bem-vinda aqui!". Todo mundo dizia que era super dificil de encontrar trabalho na cidade, sem falar francês então - era impossivel. E eu, menos de uma semana depois de ter chegado, ja estava cuidando dela. Ja falei da criança n°1 aqui, quando era mais descuidada.

Na verdade, foi a criança n°1 que me ensinou a ser baba. Não a trocar fraldas (ela ja não precisava mais delas), nem a por pra dormir (ela era uma das duas unicas crianças que tomei conta que precisava de companhia pra dormir. As duas eram.... hã.... brasileiras), muito menos a brincar (isso ja eu sabia muito bem). Mas foi com ela que aconteceu a experiência mais aterrorizante que tive com os pequenos e com certeza foi isso que me tornou uma boa baba.

Nos iamos sempre numa piscininha de areia que ficava lotada de piticos. Eram mães, pais, babas e bebês pra todo canto. Dai um dia, depois de fazer mil castelinhos, decidi sentar no banco pra descansar enquanto a criança n°1 brincava com seus amigos do dia. Abri a bolsa pra pegar um jornal e nem cheguei a abri-lo, foi quando uma mãe louca levantou e começou a falar alto e rapido. Eu, que tinha acabado de chegar e não falava nem bonjour, tentei prestar atenção e ouvi:

- Rnkfvrrrrrrrrrrkjfbvk! lkefvnrrrrrrrrrrrrjenvje! Njen ejffklern oegrrrrrrrrjen lenvef ejnn!!!!!!

E a moça ia ficando cada vez mais histérica e ninguém respondia pra ela. E eu olhando, intrigada, querendo saber o que ia acontecer naquela cena sem legendas. Todas as mães/babas/pais começaram a olhar entre si. Dai eu vi a mulher apontando pra fora do cercadinho e gritando mais alto, esperando alguma reação. Então passou pela minha cabeça que alguma criança devia ter fugido e seu responsavel incompetente ainda não tinha se dado conta. A mulher se deu por vencida e saiu correndo ela mesma. Como pode, minha gente, uma criança sair e a pessoa não notar? Ainda bem que a minha criança n°1 esta aqui quietinha e....

CADÊ A CRIANCA NUMERO 1?

Pânico.

Levantei e sai correndo com todos os olhos das mães/pais/babas mirados na minha nuca. Eu pude sentir cada um deles, juro. E ainda pude ler seus pensamentos, o que é ainda pior. Mas o pior mesmo, minha gente, era que a criança n°1 estava correndo em direção à rua e se não fosse a mãe louca, sabe la onde ela teria ido. Quando as alcancei, a mãe começou a brigar comigo e dizer um monte de coisa que eu não entendia num tom bem agressivo. E eu so pude ficar murmurando "je suis desolée", na falta de argumentos melhores. A melhor parte foi que eu ainda tive que voltar na piscininha de areia buscar os brinquedos da criança n°1. Foi a marcha da vergonha, parecia que aquele parquinho tinha uns 5km.

Juro que não tirei os olhos da criança n°1 por mais de 20 segundos. Eu pisquei e ela simplesmente se teletransportou de um lugar pro outro! Como era possivel? Foi a mãe dela mesmo que havia me dito que eu podia ler enquanto ela brincava (e eu sequer tive tempo de ler)! O pior foi eu não entender francês e não poder ter tomado uma atitude a tempo. Fiquei me sentindo a pior das criaturas. Fiquei tão mal, mas tão mal, que pensei que aquele trabalho não era pra mim, que eu devia procurar outra coisa. Contei pra mãe dela o ocorrido e ela disse que ah, essas coisas acontecem mesmo, criança é fogo. Fiquei mais tranquila. Mas a partir desse dia eu fiquei neurotica em ter os pequenos sempre à vista. Passei a triplicar, quadruplicar a segurança deles e escolher passear em lugares que não sejam tão cheios.

Hoje acho que foi um aprendizado. Tudo bem que eu podia ter aprendido de uma maneira menos humilhante, mas ta valendo. Por causa disso eu atingi a incrivel marca de zero crianças perdidas em 4 anos de baba! Sou muito boa mesmo, podem falar.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Meus pequenos emprestados

Pois é. Acho que minha vida de baba esta acabando. Foram mais de quatro anos tomando conta de criancinhas de 3 meses à 6 anos, a maioria bem calminha, alguns pestinhas e todos fofos. Ainda cuido de um bebê às quartas, mas so até o fim do mês. O meu contrato dos outros dias das semanas acabou na sexta e estou de férias por tempo indeterminado. Quer dizer, férias, mas sempre cheia de coisa pra fazer. Acho que cuidar dos meus bebês da menos trabalho do que todas as coisas que tenho que resolver em breve, todos os projetos que teimam em nao sair do papel (ou da minha cabeça). Mas estou muito empolgada, parece que foi um ciclo que se fechou e com um outro que esta prestes a se abrir.

Vou sentir saudades das minhas criancinhas. Quer dizer, ja sinto. Os primeiros bebês que cuidei ja estao indo pra escola de mochilinha, todos serelepes e faladeiro. Fico boba so de olhar quando encontro na rua. Como aquela coisinha que nao conseguia nem sentar ja fala francês melhor que eu?! 

Uma pena que eu nunca pude falar sobre meu trabalho de baba, ja que nao posso invadir a privacidade das familias. O que eu queria mesmo era colocar um milhao de fotos dos pequenos e contar todas as intrigas, as manias, as esquisitices que envolve o trabalho de baba. E olha, nao sao poucas! Mas né, tenho que me conter. Mas isso nao impede que eu faça uma pequena homenagem aos meus 12 guris e gurias em forma de recapitulaçao, principalmente para eu poder ler mais tarde e lembrar deles. Em breve.

sábado, 2 de julho de 2011

A caça ao tesouro

Eu ja tinha falado na caça ao tesouro que as subprefeituras de Paris organizam na cidade, mas nunca tinha participado de uma delas. Aqui no 12éme arrondissement, além da caça ao tesouro estavam programados também varios esportes gratuitos no Jardin de Reuilly, de tiro ao alvo à dança, de tênis à equitação. Até o muro de escalada que eu faço ia abrir as portas para curiosos. Tudo no mesmo dia e no mesmo lugar. Convoquei logo a Maite (que conheci no piquenique e virou minha amiga de infância), mas não conseguimos arrastar mais ninguém, so o cheri que apareceu algumas vezes para nos ajudar. Como não sabiamos direito como era o esquema da caça ao tesouro, estavamos preparadas pra abandonar a corrida se fosse chata e ficar ali nos esportes. Mas nossa previsão não podia estar mais errada.


No inicio da caça, eles nos dão um jornalzinho com um mapa, as instruções e um texto enorme de duas paginas que são as pistas. Custamos a entender como funcionava a coisa, mas depois pegamos o jeito. Demoramos uns 15 minutos so pra entender a primeira pista e logo depois desviamos muito do caminho por causa de um problema de linguistica e perdemos quase uma hora indo para a direção errada. Engraçado que as pistas eram tão subjetivas que a gente interpretava do jeito que queria dependendo do que estava no caminho. Pra gente, vermes de metal e monstros metropolitamos eram os prédios, ja que estavamos na rua, mas a Maite descobriu que, olha so, era o metrô! (na hora não parece tão obvio, juro!). Depois que voltamos pro caminho certo pegamos o jeito de vez. O percurso é super detalhado, a cada passo que davamos tinha dicas. E se a primeira vista as pistas não tinham sentido nenhum, a gente entendia quando dava de cara com elas (do lado do coração, no "rappel", vire entre duas cerejas que iluminam a passagem, que significava: à esquerda, onde tem uma placa de trânsito que esta escrito 'rappel", passe entre duas luminarias presas na parede). Uma das dicas era um muro alto de um prédio, meio artistico, com uma pintura e uma poesia. Dai cruzamos uma mulher que disse: "Moro por aqui ha anos e nunca vi ninguém prestar atenção nesse muro. Fico feliz de que pelo menos hoje as pessoas dêem uma olhadinha".

Por três vezes tivemos que entrar em lojas para pegar as dicas. Dai tinhamos que responder algumas perguntas - a primeira foi numa petshop, dai tinhamos que nomear cinco filmes da Disney que tinham cães e gatos. Que bom que o cheri estava la, pois não iamos adivinhar que 101 Dalmatas era 101 Dalmaciens e a Dama e o Vagabundo era La belle et le clochard. A segunda vez foi num cavista, tinhamos que acertar o cheiro de pelo menos dois dos quatro potinhos que ele nos apresentava. Palmas pra Maite, pois se dependesse de mim, estariamos até agora no cavista. A ultima era uma loja de decoração e tinhamos que dizer de qual animal pertenciam as plumas de um abajour. De novo, sorte nossa que o cheri estava la, pois não sabiamos como era ganso em francês.

Era engraçado ver grupinhos parados na calçada, olhando para todos os lados, apontando em todos os sentidos, tentando entender o jornalzinho. Nem adiantava muito colar e seguir ou outros, pois dava a impressão que estava todo mundo perdido (e depois descobrimos que existiam percursos diferentes também). Tinha muita gente participando, adolescentes, adultos, familias, velhinhos, todos concentrados em desvendar o caminho. Foram quase 6km (isso apenas o caminho oficial, sem contar as vezes que rodamos perdidas) e nossa caça ao tesouro durou 5h! O tempo passou tão voando que nem vimos, acabamos nem almoçando.


Mas no fim eu ja estava tão cansada que não aguentava andar. Acabamos passando novamente pelo jardim onde estavam tendo os esportes e olha, que decepção, ainda bem que não ficamos la! Descobri que o tênis se resumia a uma rede mal-amarrada na altura do joelho onde crianças de 3 anos praticavam. O boxe era um saco de bater e a equitação, pasmem, eram pôneis que as crianças davam voltinhas na pelouse! Imagina o mico se eu tivesse ficado la pra isso. Ainda bem que estavamos curtindo bem a caça ao tesouro. O objetivo do jogo era conseguir descobrir onde era o fim do percurso e se inscrever para o sorteio dos prêmios, que incluia viagem de fim de semana e jantar em restaurante. Não tinha prêmio para quem chegasse primeiro, era tudo sorteio.

Eu e Maite decidimos ficar para ver o sorteio na prefeitura. Foi muito engraçado, pois estavam rolando varios casamentos por la, então tinham duas galeras diferentes: a dos bem-arrumados e a dos mulambos suados e cansados, todo mundo fazendo fila (modo de dizer) pra entrar. Dava a impressão que éramos um bando de penetras. A boa surpresa foi um shozinho instrumental excelente de um grupo chamado Omega Fanfare. Que coisa animada! Depois tiveram os sorteios e obvio que não ganhamos nada. Mas talvez tenha sido melhor assim, pois sabe qual foi um dos prêmios oferecidos? Um queijo! Juro pra vocês. Tem que ser muito francês pra dar um premio desses, né não?


No fim das contas valeu muito a pena. Nos divertimos muito, o tempo voou e conhecemos alguns cantinhos charmosos de Paris que não conheciamos. Quem estiver por aqui no ano que vem não pense duas vezes, vai. Mas aviso logo que o francês tem que estar afiadinho, pois decifrar as pistas não é tarefa muito facil não.
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