terça-feira, 26 de outubro de 2010

Curtinhas

* Estou de férias. Nessa cidade fria e sem praia, o que se faz nas férias? Gasta-se tempo na internet. Oh, céus, que desperdicio de vida! Alguém me sacode!

* Estou dando um tempo nas figurinhas que ilustram os posts desse blog. Percebi que elas dão muito trabalho pra achar, copiar e encaixar no blog e sem elas tenho mais disposição para escrever.

* Fui lavar roupa na lavanderia, um carinha sem-noção ocupou todas as oito maquinas pequenas lavando panos de chão. Em vez dele pegar as duas grandes (dobro da capacidade, dobro do preço) e quatro pequenas, não, ele achou mais engraçado ocupar todas as pequenas, é claro. Assim, gente como eu pode carregar bolsa pesada de roupa suja pra cima e pra baixo à toa, assim, por esporte. Nota zero para vida em comunidade e empatia pelo proximo!

* Pra equilibrar, um velhinho desconhecido que manobrava um dos tratores das interminaveis obras aqui da rua, passou por mim e me mandou um enorme sorriso, meio sem dente, junto com um aceno de cabeça. Eu respondi com outro sorriso e a gente se deu de presente um pedacinho de gentileza, pra continuar bem o dia e esquecer pessoas que monopolizam maquinas de lavar roupa.

* Um site com as melhores fotos das manifestações francesas, indicado pela Isabela, la em Londres. Vale muito a pena conferir, uma mais simbolica que a outra!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Violência nas manifestações *Com update

Prometo que mudo de assunto em breve! Mas teve um ponto que eu não comentei, que é a violência nas manifs e o CRS - Companhies Républicaines de Sécurité, a policia responsavel em manter a ordem publica, ou seja, aquela que esta presente nas manifestações populares.

Acho que não preciso nem falar que todos os manifestantes conscientes, que são a esmagadora maioria, são absolutamente contra qualquer tipo de violência nas ruas. Por varios motivos. Primeiro pelo obvio: ninguém gosta de violência. Quebrar o patrimônio publico é totalmente contraproducente. Depois porque inibe as pessoas a se unirem à manifestação, afinal de contas, ninguém quer correr riscos, muito menos levar seus filhos para um lugar perigoso. Não é pela violência que os manifestantes vão atrair outros manifestantes: quanto mais pacifico, mais chances de simpatia geral. Outra razão importante é que os atos de vandalismo tiram o foco do que é importante de verdade, que é a manifestação em si. Como ja disse nos comentarios, a midia deixa de falar sobre os milhões de manifestantes para falar das dezenas de casseurs ("quebradores").

Então quem são os casseurs? São jovens a fim de brigar e de chamar atenção. Eles não têm nada a ver com as manifestações e se aproveitam pra tocar o terror. Eles têm raiva da policia, mas são tão ingênuos que não percebem que vandalizando, estão do lado dela. O xis da questão é que os vândalos são tão uteis para a policia, que na falta deles, frequentemente ela assume o lugar dos vândalos. Como sempre, o buraco é mais embaixo e a situação é bem mais complicada do que a gente pensa. Quem frequenta passeatas sabe bem que às vezes policiais da CRS se fingem casseur para iniciar a confusão e dar matéria para os jornais. Ha um ano atras saiu uma reportagem no Le Monde sobre isso que deu o que falar, pena que não achei pra linkar aqui. Ja vi muita gente falando que viu jovens quebrando tudo, depois indo tranquilamente bater papo com os guardinhas.

E agora não é diferente. A internet ta bombando com denuncias desse tipo e as caixas de comentarios dos jornais estão lotadas com depoimentos de manifestantes que viram policiais disfarçados de casseurs. O problema é que ninguém tem prova. Mas todo mundo sabe que essa é uma pratica comum deles. Os CRS, em sua maior parte, são jovens tão sedentos de baderna quanto os proprios casseurs. Eh facil recolhece-los: eles são bem mais fortinhos que a média dos franceses, são seguros de si e têm um ar muito arrogante. Tem alguns videos circulando na internet que acusam os baderneiros de serem policiais. O primeiro é em Paris, a cena começa pouco depois dos 20":


A gente vê um casseur quebrando o vidro da Opera Bastille, dai vem um senhor manifestante tentar impedi-lo e logo depois chega um outro casseur dando uma voadora no senhorzinho, mas notem que ele tem um cassetete da policia. Quem estava la diz ter certeza de que os dois vândalos eram do CRS, inclusive o proprio coroa também acha, ele deu entrevista logo depois. Esse foi o unico episodio de confusão em Paris. Em Nanterre, cidade vizinha da capital, aconteceu um quebra-quebra perto de uma escola bloqueada e eu vi um depoimento de uma estudante dizendo aos prantos que os casseurs quebravam tudo enquanto a policia ficava olhando.

Tem um outro video, esse em Lyon, onde aparecem dois policiais à paisana com adesivos de sindicatos, protegidos pela policia, enquanto os manifestantes os vaiavam:



Vejam bem, eu não estou de forma alguma dizendo que os vândalos não existem, que eles são todos policiais disfarçados. Quem dera se fosse assim! Mas todo mundo sabe que uma vez a baderna iniciada, a coisa descamba rapidante, e é essa a função dos falsos casseurs: incentivar o quebra-quebra dando o exemplo. Eh muito mais facil vandalizar quando ja tem alguem fazendo isso. E também não estou dizendo que é o governo quem manda  os CRS fazerem isso. Eu não sei como a coisa funciona. Mas é impossivel negar essa pratica, ela existe, e todos os franceses sabem disso.

Update: O jornal Le Monde publicou hoje à tarde uma reportagem muito completa sobre esse assunto. Eh o Porte Dorée pautando a midia francesa, minha gente! ;)

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Classe média brasileira e greve na França

Quarta-feira, 10h15, cheguei na loja que eu precisava ir e ela estava fechada. Na vitrine li que ela so abria dali a 15min e decidi esperar assistindo mais um pedaço de Diamantes de Sangue no aparelhinho que o cheri ganhou dos colegas de trabalho. Daqui a pouco chega um coroa. Ele percebe que a loja so abre 10h30 e fica ali do meu lado, impaciente, olhando pro meu aparelhinho e pra mim, lançando sorrisos. Pensei logo que o cara queria bater-papo enquanto espera e que devia estar amaldiçoando esses jovens de hoje em dia que priorizam as maquinas contra os contatos humanos. Achei que ele tinha razão e desliguei meu filme. Não tinha nem terminado de tirar meu fone quando ele começou num francês perfeito: - Sabe, eu moro no Brasil e la, às 8h30 ja ta tudo aberto! Um absurdo essa loja ainda estar fechada e blablabla. Normalmente eu responderia que no Brasil o salario minimo ainda é ridiculo, então o empregador pode explorar seu funcionario e coloca-lo pra trabalhar a hora que bem entender, ja na França, as lojas so abrem se valer a pena. Mas nem liguei, porque fiquei feliz de encontrar um brasileiro e ja fui logo me apresentando como conterrânea. Ele também ficou feliz e foi logo dizendo como Paris mudou, como nos anos 60, quando ele morou aqui, tudo era diferente, irreconhecivel! Pensei, que legal, o cara deve ter sido exilado durante a ditadura (mal sabia eu...). Dai o papo parou na imigração e em como os pobres se aproveitam dos beneficios do governo, esses imigrantes aproveitadores. Aqui, ele continuava, a pessoa vai no hospital e ninguém pede nem a carteira de identidade, pra ver se o cidadão esta legal, ja sai atendendo. Um absurdo. Eh saude de graça pra todo mundo, é educação de graça pra todo mundo, onde essa França vai parar assim? Logico que retruquei e logico que falei mal do Sarkozy. Ele disse, sim, esse Sarkozy ta afundando a França, ele é igualzinho ao Lula! Tudo farinha do mesmo saco!

Aham, Claudia, senta la.

Foi ai que eu percebi que não dava pra dialogar com o cara. Ele não entende nada de politica francesa, muito menos de brasileira e fala com uma desenvoltura de que quem olha de fora, acredita. E pra mim, ele representa a massa de brasileiros classe média, aquela que viaja pro exterior, aquela que até mora no exterior, aquela que tem plano de saude. Eh um discurso decorado e repetido pelo seu circulo de amigos, mas ele é vazio. Eh um cara que faz de conta que entende e ainda quer explicar pra juventude como as coisas funcionam. Eh um cara que manda emails mentirosos sobre a Dilma, achando que esta cumprindo seu papel de informar seus amigos. Eh triste dizer isso, mas é uma mentalidade de um pais colonizado. Um pais onde escravos tinham escravos. Um pais onde todo mundo é criado pra tirar proveito de qualquer situação, de tirar o melhor pra si e deixar o resto pros outros. A nossa classe média não sabe, não quer saber, so quer viver a vida dela, como se fosse muito inofensiva. Eles acham que viver a vidinha deles inclui ter empregada e que isso não fere ninguém, pelo contrario!, ele esta dando emprego, olha que alma caridosa! Eh essa classe média que vota no Serra, que quer manter seus privilégios la no topo da pirâmide.

Quando essas pessoas entendem um minimo de politica francesa e resolvem dar pitaco, é claro que vão criticar os beneficios sociais do pais. Vão criticar como os franceses são preguiçosos e fazem greve o tempo todo. Vão criticar a imigração. E olha, ta cheio de brasileiro que mora na França que é assim. Porque eles não estão acostumados em viver numa sociedade que tenta ser igualitaria, onde a democracia é para todos. Nos estamos acostumados à regra do cada um por si, então se uma greve me atrapalha a pegar o metrô, nada pode justificar essa barbaridade. Se a greve me faz ficar horas na fila do posto de gasolina, ela não é justificavel. Sinceramente, eu acho isso muita mesquinharia. Eu ja andei do trabalho até em casa durante 45 minutos três vezes desde que a greve começou, e hoje cheguei super atrasada porque um sindicato fechou uma rua perto da Gare de Lyon, mas eu continuo do lado dos grevistas. Pensar so em mim é egoismo demais. Semana passada minha sogra teve que voltar de Paris pra Toulouse de carro (de carona) porque o voo dela foi cancelado. Pergunta pra ela se ela vai deixar de ir na proxima manif. Muitos se esquecem que quem faz greve sacrifica seu proprio salario e que uma greve a longo prazo, como essa, significa muito prejuizo para os grevistas. Se eles acham que vale a pena sacrificar seu ganha-pão para lutar por um bem maior, quem sou eu pra reclamar da falta de metrô?!

Eh como uma velha historia que meu pai me contava. Se tivermos duas opções: a) eu perder 10 para o outro ganhar 100; b) o outro perder 100 para eu ganhar 10. Pois não tenho a menor duvida que o brasileiro classe média tipico escolheria sem hesitar a segunda opção.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Contrato quebrado

A Iara deixou um comentario interessante no ultimo post que acho que reflete bem o que muitos brasileiros estão pensando dessa reforma das aposentadorias na França: que é normal trabalhar mais quando a idade média da população aumenta. E acrescentou que "acho que previdência social é um cálculo bem mais complicado do 'o sarko é do mal e quer fuder a gente'". Eu ia responder nos comentarios, mas achei que valia a pena fazer um post.

Então, sem duvida o buraco é mais embaixo. Mas ele é muito mais embaixo do que qualquer brasileiro pode ir. A gente simplesmente não entende o que a aposentadoria significa para os franceses, então ja estamos na desvantagem de entender problema. Pô, 71% dos franceses são a favor das greves (veja bem, a favor das greves - o numero de franceses contra a medida deve ser ainda maior), eles nunca tiveram tão unidos! Até os conservadores são contra a reforma, até os tipicos eleitores do Sarkozy! Então é pra parar e pensar, poxa, o buraco é mais ambaixo da discussão de "as pessoas morrem mais tarde devem trabalhar mais" que parece tão obvia pra gente.

Eu, pessoalmente, nunca me preocupei com aposentadoria. Não espero receber uma aposentadoria um dia, afinal de contas, tenho 27 anos e nunca trabalhei mais de um ano no mesmo lugar. E mais do que tudo, nunca fui adepta daquele lema de trabalhar agora pra usufruir da vida depois, sempre preferi curtir enquanto é tempo, coisa que ja deixou meus pais muito aflitos e preocupados com meu futuro (sera que ja se conformaram?). Então assumo a pontinha de satisfação pessoal quando vi o mundo das aposentadorias francesas ruir. Meu primeiro pensamento nada altruista foi "A-ha! Eu estava certa e vocês errados! Trabalham feito burros de carga à toa". Porque a verdade é que eu nunca entendi a logica desse sistema de sacrificar os melhores anos de sua vida em nome de um trabalho que você detesta para um dia se livrar dele. O melhor exemplo é o daquele burro movido a uma cenoura amarrada na frente dele, que o pobre nunca consegue abocanhar. Ele passa a vida toda caminhando para se aproximar dela, cada vez mais certo de chegar e.... Adivinha onde a cenoura esta enfiada agora?

Mas depois dos meus primeiros pensamentos egoistas se dissiparem, eu me solidarizei 100% com os franceses. Poxa, se a escolha deles foi trabalhar até os 60 anos para depois curtir a vida, essa escolha deve ser respeitada. Foi um contrato moral que eles assinaram quando começaram a trabalhar e que agora o patrão quer mudar. Se eles soubessem disso antes, quantos teriam feito a mesma escolha? Quantos teriam a vida que têm? Quantos teriam passados seus melhores anos carregando cimento no ombro ou conduzindo tratores? Sim, porque são essas pessoas de trabalho mais humilde que vão sofrer mais. São elas que morrem primeiro, são elas que têm menos expectativa de vida. E lembrem-se que esses dois anos a mais é apenas o inicio de uma longa e ambiciosa reforma. Enquanto isso, um deputado com 20 anos de trabalho se aposenta com mais de 6 mil euros por mês e quem mora na França sabe bem que isso é uma fortuna para pouquissimos.

O que mais me incomoda nessa historia é que a oposição não tem uma contra-proposta clara. Porque uma coisa é certa: A França não tem dinheiro para continuar como esta. Então outras soluções seriam muito bem-vindas. O Partido Socialista francês ha tempos deixou de representar os interesses do povo. Tenho a impressão que ele concorda com a reforma, mas tem vergonha de dizer. A contra-proposta dele é fraca e timida. Nada que mereça destaque na imprensa ou nas manifestações. E os sindicatos, os atuais porta-vozes do povo nesse momento, não têm muita condição de apresentar uma contra-proposta valida, além de pedir mais negociação. Então é aquilo, fica todo mundo gritando que não quer, mas sem saber o que fazer depois. Como uma injeção que vem chegando e a criança diz "espera, espera!".

Por isso eu acho que todas essas manifestações não são apenas contra a reforma das aposentadorias, mas contra toda a politica sarkozista que vem sendo implantada ha 3 anos e que esta fudendo com os cidadãos mais vulneraveis. Porque pode ser que o caminhoneiro não tenha a solução para o problema das aposentadorias, mas ele sabe que tem alguma coisa errada quando o governo diz estar quebrado, mas ao mesmo tempo cria medidas que custam aos cofres publicos para beneficiar os ricos e as empresas. Em sua logica ele se pergunta por que diabos ele tem que perder enquanto os ricos ganham, porque é isso que esta acontecendo no governo Sarkozy. Se fosse so a reforma da aposentadoria, o conflito seria muito menor. O problema é que eles estão tirando dos pobres e dando para os ricos e de uma forma tão complexa que a oposição sequer consegue brigar com as mesmas armas. Mas continuam sabendo que aquilo esta errado, mesmo sem ter a solução. E vão fazer o que sabem fazer melhor: parar o pais pra mostrar que não, eles não vão se deixar engolir assim tão facil. E eu estou com eles.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Pérolas das manifs

A melhor forma de luta é usando o bom humor. Eh uma forma simples e eficaz de passar o recado, chamar atenção para sua mensagem e ainda fazer as pessoas simpatizarem com sua causa. Pois os manifestantes franceses sabem fazer isso como ninguém, afinal de contas, são centenas de anos de pratica regular. Destaco alguns dos cartazes mais engraçados, porém cheios de verdade, das ultimas passeatas da França. As fotos são do site Le Post.

"-Vovo, me conta uma historia?
- Não posso, tenho que ir trabalhar"

"Os velhos no trabalho, os jovens no boteco: NAO
Os jovens no trabalho, os velhos no jardim: SIM"
(finge que rima)

"Sarko, se você se mandar daqui, eu trabalho até os cem anos" 

"Eu fui feito para o trabalho, vocês foram feitos para o amor"
Que meigo!

"Eric, the worst - Eu não minto: o bouclier vale mais que suas aposentadorias!", fazendo referência à Eric Woerth, ministro do trabalho, e ao bouclier fiscal, lei criada pelo atual governo que limita o pagamento de impostos pelos ricos

...

"UMP - União para pisar no povo"
UMP é o partido do Sarkozy

"Sarko, tu ta ferrado. Até os vovôs estão na rua (manifestando)"
Ironizando o fato de que os eleitores do Sarkozy são em sua maioria, idosos

"E a minha aposentadoria?"

"Sarko, tua aposentadoria vai ser em 2012"
Fazendo alusão à provavel tentativa de reeleição do presidente

"Prazeres"

"Despedido aos 55 e aposentado aos 67. O que eu faço nesse meio-tempo?"

"Trabalhar mais, para morrer antes da aposentadoria"
Parodia de 'trabalhar mais para ganhar mais', da campanha Sarkozista

"E se impedissemos os ricos de morrerem depois do pobres?"
brincando com o fato de que os ricos vivem mais e têm uma aposentadoria mais gorda

"Carla, somos como você: o presidente ta tentando nos fuder"

"A aposentadoria foi feita para fuder, não para fuderem com a gente"

E também tem as variações sobre a contagem dos manifestantes, que destoa inacreditavelmente na versão dos sindicatos e na versão da policia, coisa de doido mesmo. Em Paris, por exemplo, os sindicatos dizem que no dia 19 houve 330 mil manifestantes, e a policia, 89 mil. Os habitantes da cidade de Marseille têm a maior fama de exagerados e a contagem dos manifestantes so confirma isso: Marseille é sempre a cidade com a maior diferença. No dia 19 foram contabilizados 230 mil manifestantes pelos sindicatos e 24,500 pela policia.

"Eh duro ser contada por imbecis"

"Quero ser contabilizada pela policia também! Por favor, obrigada"

"Eu não estou manifestando (segundo a policia)"

"Sarko: 1,40m segundo os sindicatos, 1,80m segundo a policia"

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

E as manifestações continuam

E as manifestações continuam a toda na França. Amanhã, terça-feira, tem outra chamada de greve geral, ja que a lei da aposentadoria, ja aprovada pela Assembléia, sera votada no Senado na quarta-feira. Muitos setores continuam paralizados, como o setor petrolifico, onde todas as 12 refinarias francesas estão fechadas. Como uma tentativa de evitar a penuria de combustivel, o governo autorizou a policia a invadir e recuperar parte dos estoques de reserva de petroleo, mas a medida não foi suficiente: falta gasolina nos postos. O combustivel ja aumentou e esta sendo racionado em varias cidades da França e a tendência é piorar.

Hoje, 260 escolas estão bloqueadas, menos do que as 306 de sexta-feira passada, mas os estudantes estão mostrando que não estão dispostos a ceder. Os jovens estão saindo às ruas e muitas escolas exibem faixas onde se pode ler "Vovô, o que é aposentadoria?" ou "Aposentadoria interessa aos jovens sim!". Dois estudantes foram feridos por policiais na semana passada. Um dos caso foi em Montreuil, cidade vizinha de Paris, onde um adolescente de 16 anos foi ferido no olho por um "flash-ball", um tipo de bala de borracha. O estudante foi operado no fim da semana pasada e corre risco de perder o olho. O flash-ball foi uma invenção de Sarkozy quando ele era ministro do interior e ja feriu seriamente varios estudantes.

Ao invés do governo pedir para os estudantes não irem manifestar porque é muito perigoso, como falei no ultimo post, eles deveriam simplesmente parar de atirar na população que supostamente deveria proteger. O perigo é justamente o governo. Se os jovens correm riscos em passeatas nas ruas, é por culpa da policia e de quem manda nela. A maioridade penal de 13 anos na França foi instituida justamente por aqueles que agora dizem que os jovens de 16 anos não devem sair às ruas, que eles são manipulados, que não sabem o que fazem. Ora, decidam-se. Maduros o bastante para serem responsabilizados por seus atos e julgados como adultos e imaturos demais para lutar por seus direitos? Não faz sentido.

Para os franceses, nada faz sentido nesse momento. As greves, manifestações, passeatas e gritos de resistência vão durar até que o governo volte atras na sua decisão ou pelo menos faça algumas modificações no projeto. Mais de 70% da população apoia o movimento contra a reforma, o governo não pode lutar contra o povo. Se a lei for aprovada de vez, não sei o que vai ser da França no dia seguinte.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

12 de outubro, feriado na França?

A politica brasileira pode estar pegando fogo nesse momento, mas a politica francesa não esta muito atras não. Hoje não é feriado na França, mas o pais esta semi-parado por conta da quarta greve geral em pouco mais de um mês, contra a reforma das aposentadorias. Desta vez a greve é recondutiva, ou seja, toda noite havera uma votação nos sindicatos para decidir se a paralização continua ou não, e tudo indica que ela deve durar bastante.

O motivo de tanta insatisfação é a reforma da previdência, que entre outras medidas aumenta de 60 para 62 anos a idade minima para se aposentar (homens e mulheres), isso se o contribuinte trabalhar por pelo menos 40 anos e meio (41 a partir de 2012). Mas o problema é que essa é apenas a ponta do iceberg, ja que com a reforma, os cofres publicos suportarão até 2018, depois disso o sistema quebra outra vez. Ou seja, esse é apenas o inicio de uma reforma gradual. Com certeza ela não para por aqui e especialistas falam em subir a idade minima para 67 anos.

Eh preciso entender que a aposentadoria é uma religião na França. Ja disse aqui algumas vezes que os franceses tipicos vivem pensando no dia em que serão finalmente salvos pela aposentadoria e ai sim, poderão curtir a vida como bem entenderem. Quando eu viajo, todas as vezes que encontro um casal de mais de 60 anos fazendo mochilão, eu ja sei: são franceses. Parece que é so depois de cumprir com todas as obrigações que a sociedade lhes impõe que eles se sentem livres para serem felizes de verdade. Tenho muitos amigos franceses cujos pais se aposentaram, foram morar em algum pais tropical e finalmente descobriram o real prazer de viver. Por isso, antes de entender o peso da reforma da previdência na França, temos que entender o que a aposentadoria significa para os franceses: liberdade.

E quem é o doido querendo brincar com a liberdade dos franceses? O petit Nicolas, claro, que esta vendo sua popularidade despencar a 31%, a pior avaliação desde que chegou ao poder ha três anos. O governo se diz irredutivel e adota uma postura tranquila em relação às greves, dando declarações a torto e a direito de que é claro que eles estavam esperando esse tipo de reação, que manifestar faz parte da tradição francesa, que tudo foi friamente calculado desde o inicio. Mas dizem as mas linguas que o governo esta é se roendo de medo. Eles estão aflitos por dois motivos principais. O primeiro é que, ao contrario do que é de costume, não ha conflitos internos na oposição quanto a esse assunto. Todo mundo é contra e pronto. Não ha brigas, não ha discussões, não ha egos feridos, não ha trotskistas de um lado e marxistas de outro se odiando mortalemente  - parece que a esquerda finalmente achou uma boa razão para se unir. 

A segunda razão é a participação dos jovens nas manifestações, e os Sarkozistas não contavam com isso. Afinal de contas, por que a meninada de 17 anos se preocuparia e pior, se mobilizaria, com algo que so vai acontecer para eles daqui ha 50 anos? Pois eles se preocupam sim, ja aprenderam direitinho com os mais velhos que com aposentadoria não se brinca. E mais: eles estão raciocinando e percebendo que se todo mundo trabalhar dois anos extra, ou mesmo mais, dependendo do rumo que a reforma tomar, vai ficar mais e mais dificil abrirem novos postos de trabalho, o desemprego vai aumentar e são os jovens que vão sofrer mais com isso. Portanto, a reforma da previdência atinge diretamente os jovens sim e eles ja perceberam isso, para desespero do governo. Ontem vi uma ministra apelando na televisão, dizendo que era um absurdo os estudantes faltarem aula pra manifestar, que os adultos que autorizam e incentivam seus filhos a irem às ruas são completos irresponsaveis. Fora que, segundo ela, é um protesto perigosissimo, a integridade fisica dos nossos jovens estão em jogo!

As manifestações estão apenas começando, ja que são 15h, mas o ministério do interior ja admitiu que a mobilização de hoje é maior que as anteriores. Estima-se 500 mil manifestantes em toda a França, de acordo com o governo que, sabe-se, diminui os numeros. E o curioso é que mesmo nas cidades pequenas ha protestos. Em cidadezinhas de 30 mil habitantes, calcula-se 5 mil manifestantes, um sexto de toda a população. Neste mapa do Le Monde podemos acompanhar a evolução dos protestos.

As consequências dessa unânime mobilização (70% das pessoas são a favor) podem ser graves. Oito das doze refinarias francesas estão em greve ha mais de duas semanas e especula-se que até o fim da semana pode faltar gasolina nos postos. Muitas empresas de transporte ja estão impedidas de circular por falta de combustivel e se a crise atingir os consumidores em plena greve de transportes publicos, Sarkozy vai ter o que temer. 

As analises de similaridades da situação presente com maio de 68 ja começaram a pipocar. Em maio de 68 também faltou gasolina. Em maio de 68 o desemprego também estava alto. Em maio de 68 o povo também estava se sentindo traido e roubado. Na TV comparam duas entrevistas de lideres estudantis, uma de hoje de manhã e outra de 68 nas quais os meninos falavam exatamente a mesma coisa. Os mesmos argumentos, a mesma furia, o mesmo sentimento de injustiça, as mesmas frases. Todo mundo sabe bem o que aconteceu naquela época e ha quem diga que atualmente a França reune ainda mais condições para que uma revolta generalizada daquela amplitude aconteça.

Pra quem não sabe, o Sarkozy manifestou contra as manifestações de maio 68 que sacudiram a França e hoje são consideradas um dos patamares da politica social francesa. Uma pena que não encontrei o video.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Videntes motoristas

Ja contei algumas de minhas aventuras nos ônibus de Paris aqui, aqui e aqui. Mas o que vocês não sabem, é que minha prédisposição para acontecimentos estranhos nos ônibus é hereditaria. Hoje conto dois causos na familia.

No auge dos anos 70, quando as calças boca-de-sino reinavam, as camisas de linho eram ultra fashion e os cabelos lisos e compridos do meu pai faziam dele o galã da Penha, o sistema rodoviario urbano ja funcionava mais ou menos como funciona hoje, com a diferença que a roleta ficava na parte de tras. Papi fez sinal para seu ônibus, mas estranhou quando o motorista abriu a porta da frente pra ele, aquela que não paga. Ele ficou olhando pro motorista com cara de ué e o piloto perguntou: - Você não é leão? Papi perplexo disse que sim e o motorista retrucou - Então entra! Muitos anos mais tarde ele descobriu que "leão" era uma giria pra tratar os funcionarios das empresas de ônibus. Mas ele passou muito tempo se perguntando como diabos que aquele motorista sabia seu signo e porque nascer em agosto dava a ele o direito de viajar de graça. Tudo por causa da camisa de linho azul, que apesar de super na moda naquela época, era também o uniforme dos motoristas.

Alguém diz pro meu pai que a leitura de mentes não era ainda uma competência exigida para o cargo de motorista. Ela se desenvolveu apenas algumas décadas mais tarde, como prova a minha mãe. Ela conta que uma vez chegou no ponto bem na hora que seu ônibus estava indo embora. Mas como minha mãe é uma lady e não corre atras de ônibus como sua filha, se conformou sem maiores dramas e sem demonstrar seu descontentamento. Foi ai que o improvavel aconteceu. Ela jura que o ônibus, que ja estava ha varios metros de distância, deu ré pra busca-la. Eu disse:

- Mãe, eu nunca vi um ônibus dar ré na vida, achava até que eles não tinham essa marcha. 
- Pois ele deu.
- Mas o motorista te conhecia?
- Tenho quase certeza que não, mas você sabe como sou com rostos, né?
- Mas como ele sabia que você queria pegar aquele ônibus? Você deu chilique?
- Nada! E eu raramente pego essa linha! Não sei o que aconteceu.

Pensamos, morremos de rir, matutamos muito, mas até agora ainda não temos a solução do mistério. Vou perguntar pro meu pai quanto tempo ele esperou antes de ter seu mistério resolvido. Quem sabe minha mãe ainda tem chances.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Amor materno, esse inominavel

Deixo um pouco de lado as eleições e mudo de assunto, apesar da campanha estar pegando fogo e eu ter milhões de coisas passando pela mente. Mas dessa vez escolho apenas ler e ouvir o que os outros têm a dizer. Falem nos blogs, no twitter, no facebook que estou ouvindo. Mas vou deixar o discurso para quem esta mais preparado que eu, porque agora a coisa ficou feia.

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Foi a Rita que lançou o debate no post dela sobre a Madame Bovary e a questão ficou martelando aqui na minha cabeça. A Rita achou um absurdo como a madame deixou sua filha em segundo plano quando decidiu fugir com o amante. A criança foi tratada como um detalhe chatinho que deveria ser solucionado, e não como um dos personagens fundamentais na vida daquela mãe. Dai a Iara rebateu dizendo que ela tinha que levar em consideração o contexto historico, pois naqueles tempos as relações entre mães, pais e filhos na França eram diferentes. E o assunto coincidiu em aparecer (ou talvez eu tenha prestado atenção nele so por causa da conversa das meninas) no meio de duas leituras que fiz essa semana. Não eram o assunto principal, aparecerem apenas como complemento da historia.

A primeira saiu do livro Historia do Brasil, de Boris Fausto, numa parte em que fala sobre um abolicionista mestiço, Luis Gama. Seu pai era um português rico e sua mãe uma negra africana livre. "Gama foi vendido ilegalmente como escravo pelo pai empobrecido, sendo enviado para o Rio e depois para Santos. Junto com outros cem escravos, descalço e faminto, subiu a Serra do Mar. Fugiu da casa de seu senhor, tornou-se soldado e, mais tarde, poeta, advogado e jornalista em São Paulo". Prestem atenção na primeira frase - o cara foi vendido como escravo pelo proprio pai!

A segunda veio de um livro da estante magica que estava folheando. Ele conta a historia dos filhos e netos de Clovis, um rei francês do ano de 481. Naquela época, todos os filhos homens de um rei, eram automaticamente reis também. E por causa disso os reinos iam diminuindo. E para assumir tal cargo vitalicio, era obrigatorio ter os cabelos compridos, para se diferenciar dos plebeus. Clovis teve quatro filhos e quando um deles morreu, deixou por sua vez, três herdeiros. Os tios (os outros filhos de Clovis) não queriam dividir seus reinos, então sequestraram os sobrinhos e mandaram uma carta para a mãe dos meninos: "O que você prefere, que a gente corte o cabelo deles ou que matemos os três?". A mãe, do alto de seu instinto materno respondeu que se eles não pudessem reinar, era preferivel que morressem.

E fui lembrando de diversos outros casos de "desapego familiar" em épocas e contextos diferentes, como os indios brasileiros, que vendiam a propria mãe ou outros membros da familia como escravos para os portugueses, e assim por diante. Exemplos desse tipo estão documentados em varios registros do passado, seja ele distante ou relativamente recente. A biblia é uma fonte infinita de exemplos, como quando Abraão ia matar o proprio filho porque deus pediu; ou Lo, que ofereceu suas filhas ao estupro em Sodoma, porque o sexo homosexual consentido era pecado.

Na França de antigamente, as familias nobres mandavam suas crianças para serem cuidadas por babas no campo, onde ficavam até crescerem sem ter contato com sua familia. E minha professora de francês ainda acrescentou que muitas vezes as crianças morriam e as babas, para não perderem o salario, as substituiam por outras, que acabavam assumindo o trono e entrando de fininho na familia real. E ninguém percebia a diferença. Cuidar de crianças naquela época era um trabalho indigno, mesmo se as tais crianças fossem seus proprios filhos.

Eh claro que não podemos afirmar que essas historias não eram regra absoluta, mas esta provado que elas estavam longe de ser exceções. E eu me pergunto o por quê desse desapego, menosprezo até, com os familiares e sobretudo com os filhos, ja que dizem que o amor por um filho é maior do que o mundo. Elas amavam menos os filhos antigamente? Claro que não, a cultura de antes que era diferente.

Isso tudo so me da mais certeza de que o tal do instinto materno é uma construção da nossa sociedade. Se antigamente era aceitavel vender o filho como escravo ou sacrifica-lo em nome de um bem maior, não existia o tal do instinto materno ou paterno para colocar a vida e o bem-estar da cria em primeiro lugar, custe o que custar. Hoje consideramos tais praticas como barbaridades e matar um filho é o pior crime que alguém pode cometer. Essa mudança mostra apenas como nossa sociedade evoluiu. Hoje o bem-estar e o desenvolvimento dos filhos é uma prioridade na vida das pessoas. Nos preocupamos cada vez mais em educar os novos habitantes do planeta, nos preocupamos com seu futuro, nos preocupamos em dar as melhores condições para que ele tenha uma vida saudavel, consciente e cidadã. E os amamos profundamente. Isso não é instinto materno, é a evolução da nossa sociedade.

Pensei também que uma outra explicação seria a de que antigamente as crianças eram tão frageis e morriam tão facilmente que as pessoas tentavam não se apegar demais para não sofrer, mas isso não teria nada de instintivo, seria racional, pessimista e tremendamente calculista. 

Ora, chamar de instinto materno o amor consciente, construido e planejado que sentimos pelos nossos filhos é tirar o mérito da nossa humanidade. Talvez as pessoas falam em instinto pra tentar exprimir um amor que ultrapassa o entendimento, um amor tão incondicional, inexplicavel e inominavel que creditamos ingenuamente ao instinto. Mas é so olhar pra nossa historia que essa teoria vai por agua a baixo. Não é instinto, é apenas muito, muito amor. Amor não tem nome mesmo, e a gente não precisa procurar um.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Nota sobre a eleição

Não queria deixar a eleição de ontem passar em branco aqui no blog, mas sabe, nem tenho muito o que dizer. Pensei em postar sobre outra coisa, sobre queijos e baguetes ou sobre como francês toma banho todo dia, mas não da, né? Hoje não.

Fiquei decepcionada em não termos ganho do primeiro turno, mas fiquei mais decepcionada ainda com a alta porcentagem de votos na Marina. Juro que não entendo o que leva uma pessoa a votar nela, que não seja a pedido do pastor. O que ela quer? Quais as propostas dela? Quem iria apoia-la como governo? Quais seriam as alianças? Aposto que poucos eleitores dela sabem as respostas dessas perguntas. Acho incrivel como a maior parte da "onda verde" votou nela assim mesmo, levado pela maré. Votar na Marina é cool, os descolados estão com ela. Os artistas brasileiros nunca foram muito politizados, por que continuamos dando ouvidos pra eles? Acho que um grupo que se auto-denomina "intelectual" não pode ser levado a sério. Quem se diz intelectual com certeza não o é.

Tivemos algumas boas surpresas como alguns coroneis perdendo seus postos, mas também tivemos muita decepção. Tiririca ser o deputado mais votado é so o reflexo de uma população que acha que politico não presta e pensa que esta fazendo um grande protesto votando no palhacinho da vez. Assim é facil demais. Quero ver pesquisar, perguntar, se informar qual o candidato que realmente merece seu voto. Isso sim é protesto.

Ligo a televisão hoje, 13h no canal plus e o que vejo? Um grupo de jornalistas falando do "Tirrirrica", o campeão de votos da nossa eleição, com uma foto dele ao fundo e risos generalizados. Quanto se trata da consciência politica dos brasileiros, não precisa ser um programa humoristico como o Le petit journal pra rir da gente, a piada vem no telejornal mesmo. Prontinha.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Realidade pra uns, piada pra outros, parte II

A semana acabou com uma boa noticia: não teve Tiririca no Le petit journal! Estava meio apreensiva pra hoje, sexta-feira, achando que eles iam fechar com chave de ouro, mas dai lembrei que não tem petit journal às sextas! Acho que é a primeira vez que fico feliz com isso. Desde segunda estive apreensiva com o programa. Levei para o lado pessoal, mesmo, sabe? Parecia que eles estavam falando de mim ali, procurando meus defeitos, mostrando uma foto minha de biquini e rindo das minhas celulites. E eu so pensava "tomara que eles não reparem que meu joelho é meio pra dentro". Não sei porque levei tanto para o lado pessoal, ja que eu não tenho que me responsabilizar pelas palhaçadas que acontecem no nosso pais, muito menos pela edição safada que fizeram dos estereotipos brasileiros. O fato é que me atingiu.

Falaram de mulheres, futebol, plasticas, mulheres, praias, gays, mulheres, sol, calor e travestis. Pouca gente sabe, mas na França se acha que no Brasil tem muito travesti. Isso porque tem muito travesti em Paris e todos eles são brasileiros. E é logico que eles aproveitaram a piada e fingiram que um dos produtores saiu do armario, virou travesti e se integrou perfeitamente no Brasil. O que me deixa meio assim, é que o cara apareceu do lado de um monte de gente, todo mundo sendo simpatico com ele, rindo da brincadeira, sem entender que eles é quem eram o alvo das piadas.

De politica mesmo, falaram pouco, mais no primeiro dia. Preferiram mostrar as garotas de biquini, o topless de um travesti sem noção na praia (alguém aqui ja viu um travesti na praia fazendo topless???), um coroa na praia com trejeitos fortes e um sotaque estrangeiro, que é claro que passou despercebido pois disseram que ele era brasileiro, dizendo que coloca botox não sei quantas vezes por ano.

O que foi dito sobre o Brasil foi exagerado, manipulado, falseado e modificado pra caber nas piadas. Mas na verdade é apenas uma caricatura do pais. Nada daquilo é mentira, as verdades foram apenas exageradas, mas estão ali. Acho que foi isso que me incomodou mais.
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