quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Dores de cabeça


Semana passada cheri e eu tinhamos pela frente inéditos 4 dias de folga. Fui logo procurar passagens de ultima hora e achei varias baratas. Ueba, finalmente vamos fazer um passeiozinho! Mas que nada, cheri achou que ficar doente era mais legal e eu, esperta, copiei. Ficamos os dois gripados em casa imaginando como teria sido nossa incrivel viagem à Veneza, ou Barcelona, ou qualquer outro lugar do mundo que não fosse Paris.

A gripe me pegou de verdade e eu nem pude ir na faculdade. Fiquei em casa de sexta-feira até hoje, quarta, e morri de tédio. Via televisão o dia todo e não tinha forças para fazer o trabalho da faculdade que deveria estar pronto ha uma semana. Esperava o cheri voltar pra casa pra poder explicar pra ele detalhadamente a evolução da minha gripe. Ele nunca parecia muito interessado. Po, era so isso que tinha acontecido comigo o dia todo! Agora sei como os velhinhos se sentem. Eu até prestei atenção quando a minha vizinha recebeu um amigo enquanto o marido estava fora. Hummm.

Quando minha gripe estava indo embora, percebi que algo de pior estava pra acontecer: meu dente siso estava se manifestando de novo e parece que agora ele decidiu sair de vez! Pra começo de conversa, onde ja se viu uma pessoa com quase 27 anos ter siso nascendo? Eu nunca vi. Sera que ele esperou eu ter coragem de arranca-lo pra poder aparecer? Isso me traz à uma nova maratona: como arrancar um dente na França. Deve ter uns 150 formularios me esperando. Primeiro tenho que ver se meu seguro-saude basico de estudante cobre, caso contrario vou ter que ver qual a melhor solução para não gastar muito... Se alguém tiver alguma sugestão, me fale!

sábado, 24 de outubro de 2009

Passagem de ida para Cabul

O governo francês realizou na ultima quarta-feira uma operação conjunta com a Inglaterra para expulsar refugiados afegãos. A França enviou de volta três refugiados e a Inglaterra, 24, em um avião fretado especialmente para esse fim. A medida revoltou boa parte da opinião publica francesa, que considera que a medida desobedece a constituição dos direitos humanos, que proibe a deportação de refugiados que correm riscos em seu pais de origem, especialmente em um pais em guerra. O governo francês alega que eles não foram enviados para suas regiões de origem e que na capital Cabul, por exemplo, estariam seguros. A oposição rebate dizendo que "estar seguro" no Afeganistão é não estar no lugar errado, na hora errada, devido ao grande numero de explosões e ataques suicidas, principalmente na capital.

O governo francês parece se contradizer. Basta acessar o site do ministério de Relações Exteriores e ler o que dizem sobre o Afeganistão: "A situação da segurança é ruim. Os atentados suicidas são cada vez mais frequentes, assim como os atentados com explosivos telecomandados. A criminalidade, ligada principalmente com a produção de opio e com o narcotrafico, aumenta. Sequestros de ocidentais e afegãos para troca de prisioneiros Talibans se multiplicam. Os assassinatos de pessoas sequestradas e as vitimas de atentados não param de aumentar". O discurso se modifica de acordo com os interesses: quando se justifica a presença militar francesa no Afeganistão, o pais esta mergulhado no caos e a violência é constante; quando se explica porquê mandaram de volta refugiados de um pais em guerra, é conveniente dizer que o lugar não esta tão mal assim.

A opinião publica francesa é contra a expulsão. Segundo uma pesquisa publicada no jornal Le Parisien, 44% se dizem contra a medida, 36% se dizem favoraveis e 20% não tem opinião.

Se na França o renvio dos refugiados gera polêmica, na Inglaterra é coisa corriqueira. So no ano passado 3840 afegãos foram expulsos do pais, sem muita balburdia. Neste ultimo caso, os unicos jornais que falaram sobre o assunto, o fizeram por motivos menos humanitarios que os franceses: associações de contribuintes chamaram atenção para o custo da operação: 220 mil euros. A midia mais conservadora ainda deu um puxão de orelha na França por expulsar "apenas" três afegãos. Além disso, os refugiados da França contaram com um maior apoio do que aqueles vindos da Inglaterra. Os três sob responsabilidade francesa receberam 2 mil euros na sua chegada ao Afeganistão para ajudar a recomeçar a vida e contam com o apoio do consulado francês em Cabul. Enquanto não tem lugar para ficar, eles dormem em um hotel. Ja os refugiados vindos da Inglaterra têm que se contentar com 200 euros e um goodbye no aeroporto.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Duas obras na minha rua


Ano passado houve um referendum no meu bairro pra saber se a populaçao concordava ou nao com a construçao de um tramway, tipo um bonde que circularia quase Paris inteira. Houve uma grande mobilizaçao na vizinhança, todo mundo se informando e indo nas reunioes explicativas. No inicio eu adorei a ideia do trem, mas depois de ouvir os argumentos contra, confesso que fiquei na duvida. Mas como eu nao posso votar mesmo, minha opiniao nao valia muita coisa e ninguém se preocupou com o que eu pensava. O pessoal do contra dizia que esse era um meio de transporte antigo e fora de proposito, que existia ha 50 anos, dai tiraram todo o trilho e agora querem por tudo de novo. Falaram que por falta de espaço, o transito iria piorar muito. Mas apesar de todo o esforço desse pessoal, o povo votou a favor do tramway. Imediatamente surgiram painéis explicativos nas ruas informando a populaçao as etapas das obras, os prazos de entrega e os valores investidos. Panfletos de informaçao começaram a surgir nas caixas de correio, cada um mais criativo que o outro. As obras de reforço da estrutura dos pavimentos (eu li os panfletos) começaram rapidamente. Eu ia dormir uma noite, e quando acordava tinha um canteiro de obra na minha janela, todo cercado e devidamente sinalizado. Até a pintura do chao eles mudavam, pra avisar os motoristas sobre a obra. Uma semana depois eles terminavam o trabalho, tiravam toda a cerca, os banheiros quimicos, apagavam o chao e saiam numa rapidez que parecia que nem tinham passado por la. Cada dia tinha obra num ponto da rua. Muda sinal de trânsito do lugar, apaga faixa de pedreste, pinta outra, cerca, bota banheiro quimico, fura o chao, tapa o chao, limpam tudo e começam num lugar diferente. Mas tudo numa agilidade impressionante. E sempre informando o que estavam fazendo, por quê e quanto custava. Dava até pra entrar no site da obra e ganhar um ipod. O trem começa a funcionar so em 2012, mas a gente tem a impressao de que tudo esta indo bem, estamos vendo a rapidez dos trabalhos e ainda temos a impressao de fazer parte disso tudo.


Saibam vocês que na minha rua la no Rio também houve uma obra. As comparaçoes sao inevitaveis, logico. Foi assim: comecei a perceber que tinham uns caras quebrando toda nossa rua. Quebravam de um lado, largavam, quebravam do outro, mudavam de ideia. Cercado ou sinalizacao?? A gente que tinha que se cuidar pra nao cair num buraco, por conta propria. As vezes um morador enfiava um pedaço de madeira pra avisar sobre o perigo. O por quê da obra? Boa pergunta. Fui me informar com a maior autoridade da rua: meu porteiro. Ele disse que era alguma coisa relacionada com o gas, mas nao estava certo. Os buracos aumentavam, a poeira era insuportavel, o transito ficou impossivel. Quase um ano depois a obra ainda estava instalada na rua, sem a menor pressa de sair. Fui pra Australia, onde fiquei um ano e quando voltei, surpresa, ela tinha acabado! Mas perai, ela deixou alguns frutos. Meus olhos incredulos estavam vendo pontos de onibus do outro lado da rua? Do lado que é CONTRA-MAO? E as vagas de estacionamento estavam todas viradas ao contrario! Ao que tudo indica, Cesar Maia, prefeito do Rio naquela época, tinha decidido colocar mao dupla na rua uruguai, mas depois mudou de ideia, assim, do nada. Mas a gente so pode trabalhar com hipoteses, ja que nao teve nenhum painel informativo ou folheto na caixa de correio, ou ipod no site, muito menos referendum pra saber a opiniao da populacao. Mostrar o custo da obra? Piada, ne? Banheiro pros trabalhadores? Nao, eles podem muito bem mijar no muro da sua casa.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Moi, mon papa, il est président

"Na França, o que conta para ter sucesso não é ser bem-nascido, mas estudar e trabalhar duro". Essa declaração do presidente francês Nicolas Sarkozy sobre a reforma da educação não caiu em boa hora, apesar de ter sido proposital. A grande polêmica do momento no pais é a indicação de seu filho, Jean Sarkozy, para a presidência do EPAD, estabelecimento publico que administra a area de negocios mais importante da Europa, o quartier de La Défense.
De acordo com uma pesquisa de opinião publicada do jornal Le Parisien, cerca de dois terços dos franceses são contra a eleição de Jean Sarkozy. Mesmo os apoiadores do presidente não gostaram da idéia: somente 32% dos eleitores da direita afirmaram que a posse do jovem seria uma boa coisa. Os politicos do partido de Sarkozy (o pai) estão passando por maus momentos tentando defender a candidatura de Sarkozy (o filho) e deixam transparecer seu mal-estar e sua falta de motivação para cumprir a tarefa. O argumento mais eficaz, e mesmo assim facilmente debativel, foi feito pelo porta-voz do governo e ministro da Educação, Luc Chatel, que perguntou durante uma entrevista "O que vocês querem? Proibir a eleição de um candidato por causa de sua origem social e do seu nome? Isso é coerente com a Republica?". Essa defesa funcionaria bem se o candidato em questão tivesse os requisitos necessarios para assumir um cargo alta importância. Mas Jean Sarkozy não tem.

Um popular programa satirico francês resumiu bem a situação exibindo o percurso profissional do jovem: "Em 1986 nasceu Jean Sarkozy". Ponto. Com 23 anos, o herdeiro esta no segundo ano da facudade de direito, depois de ter repetido de ano. A falta de experiência também não é um ponto positivo. O que justicaria uma candidatura precoce então? Em entrevista, Jean Sarkozy nega que seu nome tenha aberto portas, muito pelo contrario. O jovem alega que portar seu sobrenome so deixa as coisas mais dificeis, como provam os "violentos ataques pessoais" dos quais tem sido vitima. Para sua rapida ascenção profissional, ele tem uma resposta melhor: sua paixão pela politica.
A noticia vem sendo tratada pela midia mundial como uma piada. Digna de uma république bananière, como os franceses chamam certas nações onde todos os absurdos politicos podem acontecer. O jornal inglês The Guardian evoca um novo caso de nepotismo e fala em "dinastia Sarkozy". Na Italia, o Corriere de la Serra trata o filho do presidente francês de "Sarkozy II, o jovem". Um apresentador de um telejornal alemão não resistiu e riu enquanto transmitia a noticia.

A eleição sera em dezembro e Jean Sarkozy fara prova de determinação se conseguir resistir a toda essa pressão e manter sua candidatura. Até la os franceses vão esgotar seu estoque de criatividade para protestar, especialmente na Internet. Algumas mostras ja foram dadas, como os quatro jovens que tentaram pedir a Nicolas Sarkozy um processo de adoção para serem filhos do presidente. Se Jean Sarkozy resistir a toda essa ridicularização, pelo menos vai provar que esta pronto para entrar na vida politica da França.

Atualizaçao: Jean Sarkozy abandonou sua candidatura.
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**** A partir de agora também vou escrever textos mais jornalisticos no blog. Espero que gostem!

sábado, 17 de outubro de 2009

Reality show à la française

Nas ultimas semanas eu tenho me sentido super integrada com os franceses. Motivo? Estou acompanhando um programa de TV popular por aqui, o Koh Lanta, que é uma versão do nosso No Limite. No dia da estreia, calhou da televisão estar ligada no canal e aos poucos eu fui deixando meu livro de lado pra prestar atenção ao programa. No final eu ja sabia o nome de todos os participantes e ja tinha meus preferidos. Na semana seguinte eu ja estava preparada pra assistir, sem nem cogitar fazer outra coisa. Pronto, depois disso as sextas-feiras ja tinham programa certo.

Dai fui entendendo as piadas dos franceses que faziam referência ao programa. Por exemplo, nos debates da TV alguém comparava um politico à um participante de Koh-Lanta e eu morria de rir junto com todo mundo. Ou se uma pessoa dizia brincando que sexta ela não podia ir no cinema por causa de Koh-Lanta, eu sabia bem do que ela estava falando e fazia um sorrisinho de cumplicidade. Até a Clara me aceitou como uma igual quando eu disse que assistia o programa.

Os franceses gostam tanto desses programas de gosto duvidoso -com excessão do Koh-Lanta que é de otima qualidade ;) - tanto quanto os brasileiros. Aqui não tem mais Big Brother, mas tem Secret Story, (assim em inglês mesmo), que é febre nacional. Todo mundo diz que é uma porcaria, que as pessoas que participam são desinteressantes e burras, que so falam palavrão, enfim, que o programa é péssimo, mas todo mundo sabe o que acontece dentro da casa. A primeira vez que vi achei engraçado, porque la tem umas missões secretas a serem cumpridas pelos participantes. Dai uma vez a missão de uma moça especialmente superficial era de acertar o maior numero possivel de perguntas do jogo de cultura geral. Para isso ela ia receber todas as respostas antes. Eu morri de rir ao ver a cara do pessoal vendo aquela ameba acertar tudo!


Fora isso, não me interessei muito por Secret Story não. Mas deu pra ver que na França existe muito menos falso moralismo na TV do que no Brasil. Alguns participantes tomavam banho pelados, completamente pelados, sem nem ligar que estavam sendo filmados. Homens e mulheres juntos. Ouvi dizer também que no primeiro Big Brother, uma garota transou com dois caras (um de cada vez pessoal) e adivinha so?, ganhou o programa. Arrisco a dizer que no Brasil isso NUNCA aconteceria.

Eu ainda tenho duas semanas pra assistir Koh Lanta e aproveitar meu periodo de intensa integração na sociedade francesa. Quando o proximo reality show começar, talvez eu deixe a televisão ligada assim meio por acaso, sabe, em nome da aceitação francesa.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

No caminho do bem

Não tenho a menor duvida de que a coisa mais dificil de se morar fora é a saudade das pessoas queridas. A internet facilitou muito a vida de quem esta longe (não imagino como eu sobreviveria sem ela), mas é uma ferramenta que diz, "ei, estou aqui, não se esqueçam de mim!" enquanto a gente esta longe, mas não substitui a presença.

Minha familia esta se multiplicando e os novos bebês não vão me reconhecer quando me verem. Meus amigos estão fazendo varias coisas legais juntos e eu não estou la pra participar. Eles estão evoluindo nos seus empregos, conseguindo diplomas incriveis, se tornando as pessoas mais bacanas desse mundo e eu não estou la pra participar disso tudo. Eles estão viajando, saindo, indo pro samba, bebendo cerveja e comendo churrasco e eu estou longe, tentando explicar pra esses franceses o que é uma feijoada.

Dai quando o Brunito me mandou esse video que ele fez, sobre o nosso amigo Rodrigo, eu so pude sentir um puta orgulho dos meus amigos e me perguntar o que diabos estou fazendo longe deles. O que justifica eu estar longe das pessoas que escolhi? Não sei.

Coloco aqui o video, mesmo estando indignada de não estar presente na ultima cena.


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Defesa da dissertação

Achei que não fosse ficar nervosa com a apresentação do meu mémoire. O pior ja tinha passado! Passar um ano pesquisando, fazendo entrevista, lendo, indo até o Paraguay de ônibus, passando horas e horas entre uma cidade e outra, escrevendo em francês, pedindo pra outras pessoas corrigirem, me desesperando em ver que tudo o que escrevi estava errado, organizando capitulos, esperando impacientemente a opinião da professora, bom, eu achava que meu sofrimento ja estava de bom tamanho. Mas é claro que eu estava errada.
Minha professora marcou a data a defesa duas semanas antes. Decidi que não ia me preocupar na primeira semana, ia curtir as férias e so na segunda começaria a me preparar. A segunda semana chegou rapido demais e eu fingi que não vi. Deixei passar um dia, depois o outro, depois so mais um e opa!, a dissertação é amanhã e eu não tenho nada preparado! Tratei de me apressar e fiz uma apresentação bonitinha no power point e ensaiei varias vezes o que ia dizer. Ja conhecia bem assunto, então me sentia preparada pra explicar meu trabalho. Até queria que questões fossem levantadas, pra poder mostrar meu ponto de vista. E depois da radio, perdi muito o medo de falar pra outras pessoas. Então estava tranquila.
No dia seguinte quis chegar bem cedo pra poder preparar o equipamento da apresentação do Power Point. Meu primeiro estresse foi descobrir que a secretaria estava doente e so ela tinha a chave da sala onde estava o projetor. Ou seja, toda a minha apresentação foi por agua à baixo. Me enfiei numa sala vazia e fiquei que nem uma louca falando sozinha, ensaiando a minha nova apresentação, sem imagens, sem mapas, sem graficos. Voltei ao meu departamento e encontrei uma menina do meu curso que também ia defender naquele dia. Começamos a conversar sobre os nossos colegas que ja tinham defendido. Ela estava mais informada que eu. Eu perguntava:
- E fulano?
- Não passou.
- E sicrano?
- Também não.
- E beltrano?
- Ih, esse a professora disse que não dava nem pra ir pra defesa!
Foi nesse momento que a gente ouviu gritos da sala ao lado. Era a defesa de um garoto do nosso curso, que aparentemente, estava indo mal. A professora falava alto e agressivamente: "O trabalho esta muito mal feito, você não foi feito para a geopolitica!". Acho que foi mais ou menos ai que comecei a entrar em pânico. Eu era a proxima.
Minha orientadora chegou e simpaticamente aumentou o meu panico dizendo que tinha um erro de gramatica no titulo do meu trabalho. No ti-tu-lo. A pouca segurança que eu tinha foi pro ralo. Entramos na sala eu e a banca composta de duas professoras e fiquei feliz de não ter pego a diretora, que não mede as palavras e pouco se lixa se você vai se ofender ou não. Ela da a melhor aula do curso, mas é extremamente intimidante. Comecei minha apresentação e foi tudo bem. Depois foi a vez delas de dar o parecer. Olha, 80% dos que elas falaram foram criticas e 20% elogios. Mas a impressão que elas deram foi que não precisavamos perder tempo com o que estava bom, então era melhor nos concentrarmos onde poderiamos melhorar. E isso significava que meu trabalho não estava uma merda completa, so que tinham pontos onde eu poderia ter feito melhor. Depois me perguntaram se eu queria continuar com o mesmo tema no segundo ano. Eu respondi um sonoro e traumatizado "NAO". Não aguento mais esse assunto! Se eu ver um paraguaio na rua eu mato! Nota final: 14/20. Otimo! Passei pro segundo ano.
Agora tudo o que tenho que fazer é repetir tudo o que fiz no primeiro ano e me matar de escrever outro mémoire. Não é otimo?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Quando a lei falha

Um caso me chamou atenção nesses ultimos dias no jornal. Uma mulher de 42 anos foi sequestrada enquanto corria no parque. O surpreendente é que ela conseguiu avisar a policia ligando do seu celular de dentro da mala do carro, onde foi colocada, e ainda conseguiu dar placa do carro do seu agressor! A policia começou as buscas imediatamente e o caso logo apareceu na midia. O dono do carro foi encontrado e informou que seu veiculo era usado pelo caseiro. Algumas horas depois, o caseiro apareceu com a maior cara lavada e negou o sequestro.

Duzentos policiais à pé, à cavalo e em helicoptero foram mobilizados para procurar a vitima, na região onde eles conseguiram captar o sinal do seu celular. Nada, não conseguiram encontra-la. Começaram a fazer pressão no caseiro (que alias se chama Manuel Ribeiro da Cruz, ja viram nome mais francês do que esse?) e logo descobriram que ele havia sido condenado em 2002 pelo estupro de uma criança de 13 anos. Ele havia sido condenado a 11 anos de prisão, mas foi liberado depois de 5 anos, com a condição de participar de reuniões do AA. Diante de sua determinação em negar a culpa, a policia fez um exame de DNA de suas unhas e encontrou o DNA da vitima. Eu juro que ainda tinha esperança de que encontrassem a moça viva, como nas séries policiais, mas não teve jeito, assassino indicou onde tinha deixado o corpo da mulher e ele foi logo encontrado.

A partir dai a discursão tomou um novo rumo aqui na França. Esse é o tipo de caso que pode pressionar uma mudança de lei, ou novas medidas de repressão. Como pode o cara estuprar uma criança de 13 anos e ser solto cinco anos depois? O ministro do interior, Brice Hortefeux, disse que essa morte poderia ter sido evitada, vide o passado do criminoso. Pronto, a polêmica foi oficialmente lançada. E então o porta-voz do UMP, o partido do Sarkozy, trouxe de volta o debate de usar ou não a castração quimica. Ele disse: "Sera que não devemos decidir pela pratica da castração quimica para individuos como esse?". O PS criticou dizendo que a direita esta tão obcecada com a segurança nacional que esta tomando medidas estapafurdias. Acho que essa é a primeira vez que sou obrigada a concordar com a direita. Não tolero crimes sexuais. O argumento de que é uma punição cruel não cola pra mim. E nem acho que seja cruel, afinal de contas não vão cortar o pinto do cara fora, é so um remédio que tira o desejo sexual da pessoa. Tudo bem que tem varios efeitos colaterais, mas se é para evitar estupros e até mortes, eu acho que é muito valido.

Eu coloco os crimes sexuais numa categoria à parte. Em relação aos criminosos comuns, eu acredito no argumento da falta de educação e da desigualdade social, e compreendo suas escolhas. Eu que não ia ficar sentadinha olhando meu irmão passar fome enquanto a madame passeia com seu poodle. Mas estupro não tem nenhum entendimento. E se o desejo sexual é tão forte a ponto de uma pessoa atacar alguém, pôr na mala de um carro, estuprar e depois matar, ora, nada mais natural, com o avanço cientifico que temos, do que tirar o desejo sexual do cara com um remedinho. A Dinamarca, a Bélgica, a Alemanha ja usam esse método. Sera que a França sera a proxima?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Dias de ocio

Tenho um problema sério: não sei o que fazer com tempo livre. Não digo fim de semana, que sempre tem uma coisinha programada, uns amigos pra visitar ou estamos tão cansados que nem pensamos em sair de casa. Estou falando de dias e dias sem nada pra fazer, tipo férias tiradas numa época ruim, quando justamente todo mundo que você conhece esta super ocupado. Nessas ultimas três semanas eu fiquei entediada. Quer dizer, na primeira encontrei um monte de gente, cada uma num dia diferente e tive a impressão de fazer algo legal. Na segunda semana, todos os meus encontros foram cancelados, impressionante. Até alguns trabalhos de baby-sitting. E na terceira eu tinha que me preparar pra defesa da minha dissertação (que alias, apresentei hoje e consegui passar pro segundo ano). Mas dai percebi que não tinha la muita coisa pra preparar (e não usei nada do que preparei porque não pude usar o projetor). Então fiquei entediada a maior parte do tempo.

Nossa, durante o ano, tudo o que eu queria era ficar entediada! Eu tinha tanta coisa pra fazer, tanto trabalho, tanta dissertação, que sonhava com algumas horinhas de ocio total e despreocupado. O cheri acabou a dissertação dele em junho e teve umas boas semanas de férias enquanto eu me descabelava. Eu olhava pra ele com uma inveja, tirando um cochilinho depois do almoço. So que ele, sim, sabe desfrutar do seu tempo livre. Sabe o que ele fez no dia em que apresentou o trabalho final? Voltou pra casa com seis livros sobre economia e geografia, pra ler assim, por lazer.

Eu vim de um lugar onde eu era uma ET por ler literatura como lazer. Pra mim isso sempre foi o cumulo da esquisitice. Mas não, cheri estuda economia por lazer. Sei la, sempre fui acostumada a aprender alguma coisa so em ultima hipotese, quando corria o risco de tirar nota baixa, por exemplo. Desconfio dessa coisa de aprender assim, nas horas de folga. Incredula, mas aberta à novas "culturas", até tentei seguir o exemplo e peguei 3 livros sobre jornalismo, até bem interessantes, mas que ficaram sentadinhos na prateleira durantes essas três semanas.

E o que eu fiz durante esse tempo? Nada! Até pensei que quando eu tivesse mais tempo, iria escrever mais frequentemente no blog, mas nem isso tive forças pra fazer. Acho que até diminui frequência em vez de aumentar. Isso me leva a admitir o meu pior defeito, como bem diz meu pai: a preguiça. Se eu não for obrigada a fazer uma coisa, eu simplesmente não faço, nem que essa coisa seja me divertir. Mas agora o ano começou de novo e eu posso me despreocupar do que fazer do meu tempo livre, ja que esse é um problema que não vou ter o prazer de reclamar de novo.
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