quinta-feira, 11 de junho de 2009

Clara

Ela tinha seis anos e muita energia pra gastar quando comecei a tomar conta dela. Na verdade, eu tomava conta do seu irmão e outra bebê o dia todo, a Clara eu so via depois da escola, a partir de 4h30, três vezes por semana. Mas sem a menor duvida, ela me dava muito mais trabalho do que os dois bebês juntos.

A Clara achava que eu era assim, tipo uma amiga grande, na qual ela podia pular em cima sem cerimônias ou medo de quebrar, e forte, o que era super conveniente na hora de fazer o trabalho sujo nas brincadeiras. Isso porque as brincadeiras da Clara estavam longe de ter a pacificidade de um banal quebra-cabeças ou um jogo de tabuleiro. Geralmente elas terminavam com alguém chorando. Se ela resolvesse brincar de casinha, a coisa rapidamente descambava para o mais puro estado de violência doméstica. Uma brincadeira que ela adorava era interpretar a historia dos três porquinhos, mas com muito mais ação, é claro. E adivinha so quem era o lobo? Ela se metia no berço dobravel com o pobre do irmão e colocava um cobertor por cima e o lobo tinha que urrar e tentar pegar bracinhos desprevenidos para comer. A brincadeira geralmente acabava quando o irmão ficava com medo e pedia pra sair aos berros.

Na primeira vez que jogamos jogo da memoria (o que era dificil, considerando os dois bebês tentando a todo custo pegar as cartas e enfia-las na boca), pensei ingênua: vou deixar a Clara ganhar pra ela não ficar chateada. Hã? Doce ilusão a minha. A menina tem uma memoria de elefante e não é exagero dizer que de todas as nossas partidas, não ganhei uma. Ensinei ela a jogar fedô, e decidi abrir mão dessa regra estupida de deixa-la ganhar quando ela se mostrou uma competidora de alto nivel. O problema é que rapidamente descobri que ela odeia perder e fica com um mau-humor de cão quando isso acontece. Ela faz tudo pra ganhar, inclusive rouba descaradamente.

Quando a gente ia pro parque depois da escola era mais facil, ja que ela tinha mais espaco pra extravasar toda a sua infância e fazia logo amigos pra brincar. Um dia veio me perguntar se podia fazer xixi atras da arvore, porque estava muito apertada e o banheiro era longe. Dada a permissão, ela se colocou não tão atras da arvore assim e agachou. Três minutos depois volta ela, serelepe: "Aproveitei e fiz logo cocô também, estava com vontade". Eu estava comecando a dar o sermão, quando o irmão dela soltou da minha mão, foi conferir a obra da irmã e anunciou gritando bem alto e apontando "Cocô! Cocô!". Pronto, aqueles que ainda não tinham percebido a situação, ficaram cientes nesse momento.

Tenho um milhão de historias da Clara pra contar e não contei o que eu queria quando comecei a escrever esse post: as aulas de francês que ela me dava. Fica pra uma proxima vez.

3 comentários:

Anônimo disse...

Essa história do cocô é ótima!
Então, Amanda, eu fico pensando se as coisas que envolvem esse processo valem a vaidade de ter um filho que pareça com a passoa, se vale esse gosto. Se vale a vida dos outros embriões, congelados e deixados de lado...ou a continuidade do sofrimento de crianças que não têm ninguém por elas...

Rackel disse...

Não acredito q ela fez cocô na rua, na frente de várias outras ciranças, nem tão atrás da árvore assim...

Ai meu deus, o que será de mim quando eu for au pair!!?!

Grazi disse...

Amanda,
Que santa criança !!!

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