terça-feira, 16 de junho de 2009

Machismo na França

Inutil dizer que o machismo esta presente em todos os paises do mundo e na França não é diferente. So que aqui às vezes ele é meio controverso. Se no dia-a-dia eu não vejo discriminação, à noite, quando chego em casa e ligo a tv, ela esta la.

De todos os filmes franceses que vi e que tinha alguma traição no enredo, era SEMPRE o homem que traia a mulher, nunca o contrario. Vi muitos filmes bobinhos quando estava aprendendo francês e em quase todos havia uma mulher traida. E sempre era uma coisa sem importância, parte da comédia onde o cara faz de tudo pra esconder a amante dentro de uma caixa de papelão durante a mudança, enquanto a platéia cai na gargalhada. Juro que às vezes não entendo o humor francês. E a oficial, geralmente uma besta quadrada, não percebe nada ou acaba perdoando tudo.

As vezes assistia uma novelinha para adolescentes chamada “Helene et les garçons“ e ficava impressionada com a quantidade de sexismo por minuto da série. Fora as traições, as meninas eram todas certinhas e queriam perder a virgindade com o principe encantado, enquanto os garotos eram uns bobalhões que babavam em qualquer coisa que vestisse uma saia. E para mim, o programa campeão do sexismo é o 'Un gars, une fille' (um cara, uma garota) que é tão bem apresentado que as pessoas tem dificuldade em identificar onde esta o problema. Pra quem não conhece, são quadrinhos tematicos de uns 5 minutos, tipo, un gars une fille andam de patins ou un gars une fille na cozinha, mas a intenção é pegar os estereotipos de homem e mulher e multiplica-lo por 40, para ficar engraçadinho. O cara é um macho man que nao sabe lavar a propria cueca e a garota é uma ameba.

Mas o que me intriga é que a realidade aqui não tem nada a ver com essa estupida programação de tv. Pra começar, os homens franceses fazem tarefas domésticas. Simples assim. Eles limpam a casa, lavam a roupa, fazem comida, tanto quanto a mulher. Acho que os jovens daqui, por sairem de casa mais cedo do que os brasileiros, aprendem a se virar sozinhos muito bem. E então quando vão morar com alguém ficam felizes que as tarefas serão divididas, ninguém pensa que é o outro que deve fazer tudo sozinho. E bom lembrar que a maioria das pessoas não tem faxineira. E empregada doméstica aqui, no sentido que conhecemos no Brasil, é sinônimo de escravidão. Aqui nao tem essa historia de ‘dupla jornada’ feminina não. E a idéia de as mulheres se aposentarem antes dos homens, como acontece no Brasil, parece absurda para os franceses.

Quando viram pais, os homens cuidam dos seus bebês. E isso eu tenho experiência pra falar! Ja devo ter tomado conta de todas as crianças dessa cidade e digo que os pais tomam conta deles tanto quanto as mães, às vezes até mais! Na rua, acho que vejo mais homens empurrando carrinhos de bebês do que mulheres.

Quando as mulheres andam na rua, elas não ouvem nenhum gracejo desagradavel. Em dois anos de Paris, so ouvi dois comentarios masculinos enquanto passava, e foi por culpa da Foire du Trone. Mesmo assim, o que ouvi foram frases simpaticas de "que linda" ou "como voce é bonita", de pessoas da minha idade, bem diferente de "eu te chupava todinha" que eu costumava ouvir de velhos nojentos (se ja é ruim de ler, imagina de ouvir). Passei a mostrar o dedo no Brasil, mas ai ja é outra historia.

Pra terminar, todos os casos de traições que tenho conhecimento no meu circulo de amigos e conhecidos na França, foram cometidos por parte das mulheres. E não foi pra contar vantagem não, pq aqui trair é uma vergonha, não uma vantagem. Oh!

Acho que os programas da televisão franceses estão meio ultrapassados.

7 comentários:

Unknown disse...

Pelo menos é maio na tv do que na rua, embora continue um absurdo, sexismo é um câncer.

Unknown disse...

Então, existem outras fontes de celulas tronco, a partir do momento em que ocorre a fecundação há vida e o direito natural do humano é viver. Esse lance de células-tronco retiradas de embriões não passa de um artifício pra se ganhar mais $$$, logo mais eu vou colocar um post no blog onde tudo isso estará relacionado; fertilização, células embrionárias e aborto, mostrando que tudo isso faz parte da mesma indústria.
abraço

Anônimo disse...

A dramaturgia popular nãor etrata a realidade (nem sei o que seria isso) mas, pelo contrário, se relaciona com ela de forma colaborativa. Exemplo: Joãozinho Trinta dizia que "pobre gosta de luxo, de alegria". Sim, formas de compensação. Talvez esteja aí uma parte do caminho para entender esse "gap" entre a experi~encia e a tv. Compensação.
Adoro, Amanda.

DanielPaes

Carol Nogueira disse...

Amanda,
Sua análise está assinada embaixo. :) E isso aí que o Daniel falou parece que tem tudo a ver (apesar de eu concordar mais com ele do que com o Joãosinho Trinta, mas isso é outra história). Eles talvez tenham necessidade de rir daquilo, numa identificação ao contrário, quase um alívio, tipo "eu não sou assim".
Vi que você vai pra RFI, eu não estou mais lá (por enquanto pelo menos, paper problems) mas tenho certeza de que você vai amar. Todo mundo é muito legal. :) Boa sorte.
Beijo

Rackel disse...

Pois é, sempre falo pro meu namorado q todos os filmes franceses q vejo, tem sempre um frances fdp q trai a esposa/namorada. Achei q isso fosse um retrato da realidade, mas ele jura de pés juntos que não tem o menor cabimento eu pensar dessa forma... enfim, fico mais tranquila lendo seu texto, sabia?!
Juro, namorar um estrangeiro é dificil, ainda mais se ele mora longe e os filmes da cultura dele só mostram homens traindo. Esse teu texto é uma espécie de alivio pra mim!

bjs

scsc disse...

Adorei o texto, principalmente o final... Sobre as mulheres francesas, a pura verdade!
Ouvi dizer que o franceses (as) como costumam frequentar a mesma turma desde a adolescência; passam por uma "rotatividade" incrivel, é um troca-troca de casal!!!! Colossal!!! Ao menos, fica tudo entre amigos (risos)!!!
Bjo
Carolina Lira

Links disse...

OI Amanda! Conheci a Luci aqui em Lyon e dai ouvi falar do seu blog, pena que nao te conheci quando voce estava na França. Comecei a ler seu blog e estava na parte sobre religiao, burca, coisa e tal, mas como os posts sao de 2009 nao ousei comentar... mas esse texto nao pude me conter.
Eu acho que no dia-a-dia relmente a França é menos machista que o Brasil. Os caras lavam a louça, fazem a janta, mas as maes deles ainda olham pra gente e perguntam se os filhos estao se alimentando bem. Ok, coisa pequena, eu sei. Mas a televisao e sobretudo, a ADMINISTRACAO francesa sao mais machistas que no Brasil, isso sem duvida. Primeiro: sempre tenho que brigar, explicar e mandar carta para os orgaos oficias falando que nao peguei o nome do meu marido, mas eles insitem em me chmar por um nome que nao é meu. Segundo, "chefe de famille" aqui , segundo o INSEE é SEMPRE o homem. Mesmo que a mulher ganhe 10 vezes mais, a regla é clara: se é casal, o homem é chefe. A televisao é uma cretinice so. Esta passando uma proganda que fala "a mulher moderna adora cuidar bem do seu marido, mas por ter um dia duro, ela nao tem tempo de fazer um purê do jeito que ele gosta". AI que raiva, até carta eu mandei pra marca responsavel pela publicidade (sim, adoro mandar cartas relcamando). Ainda tem muuuuitas outras injustiças sexistas aqui na França, como em qualquer lugar. Sugiro que você viste o site "vie de meuf", onde no mesmo estilo do "vida de merda" no Brasil a mulherada conta injustiças que sofrem no dia a dia por serem mulheres...
Beijocas

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