sábado, 26 de dezembro de 2009

Boas festas!

Espero que todos tenham passado um maravilhoso natal! Eu passei otimos momentos: boa comida, boas companhias, bons vinhos, bons chocolates! Até o frio deu uma melhorada e saiu da temperatura negativa para tropicais 3 graus! Uau! Mas eu tenho trabalhado bastante esse fim de ano, entao nao tive muito tempo de escrever aqui no bloguinho. Mas daqui a pouco tudo volta ao normal.

Enquanto isso, convido vocês a ouvirem a reportagem que fiz sobre os circos em Paris. Todo fim de ano a cidade se enche de espetaculos circenses, um mais legal que o outro. No fim do texto tem a reportagem em audio, com entrevistas e musicas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Papo de elevador

Corajosas correndo debaixo de tempestade de neve


O que fazer quando um assunto que sempre foi totalmente secundario, pra nao dizer sem a menor importância, se torna o centro da sua vida, com todas as outras coisas girando em volta dele? Pois foi isso o que aconteceu com a meteorologia para mim. A conversa sobre o tempo foi promovida de quebra-gelo de elevador à discursao de suma importância. So fui perceber a minha obcessao quando me dei conta de que quando algum amigo do Brasil me perguntava como estava indo a vida na França, eu sempre respondia: "Nossa, muito frio" ou mais raramente "Até que agora o tempo esta melhorando". Pô, desde quando eles estao interessados em quantos graus esta fazendo na França?

A Mariana ja falou da mania dos franceses com a previsao do tempo na TV e eu posso dizer que compartilho desse interesse. Virei uma especialista de temperatura e nao devo ter passado um dia sem saber qual foi a maxima. Aqui sempre tem a previsao da manha e a previsao da tarde, que variam muito. No Brasil eu nunca tinha pensado nisso, e no inicio eu estranhava quando as pessoas perguntavam "Mas 10 graus de manha ou à tarde?".

A primeira vez que tive contato com estrangeiros, na Australia, a gente sempre conversava sobre os critérios mais importantes na hora de decidir qual o melhor pais pra morar e esse pessoal do norte do planeta sempre priorizava o clima do lugar. Eu achava curioso todos eles falarem a mesma coisa e dizia que pra mim, o clima nao era importante. Depois de quase três anos na França mudei minhas preferências e coloquei a temperatura como fator essencial na escolha. Nao sei onde li que conhecer o frio é indispensavel para se valorizar ao calor e nao poderia estar mais de acordo. Antes de vir pra França, a temperatura era um mero detalhe, eu nunca dei valor ao calor brasileiro, nunca tinha parado pra pensar de verdade sobre isso. Quer dizer, eu sabia que na Europa era frio e tal, mas nao dava importância. Acho que so sentindo na pele a gente se da conta de certas coisas.

Pois é, tudo isso pra dizer que aqui esta frio pra caramba! E que hoje nevou como nunca tinha visto. A neve é a unica coisa positiva abaixo de zero. Eu e cheri fomos para o parque e brincamos como crianças, fazendo batalha de bola de neve. Boneco nao deu pra fazer, segundo o cheri, o tipo de neve dificultava o trabalho. (sera que ele se aproveitou da minha ingenuidade de iniciante pra me enrolar que nao dava pra fazer quando na verdade ele nao queria ter trabalho?). As fotinhos que ilustram esse post sao da nossa aventura de hoje. Viram o pobre do patinho no lago congelado?

domingo, 13 de dezembro de 2009

O povo de 136 cores

Nos anos 30, Gilberto Freire deu inicio a um mito que carregamos até hoje: o da democracia racial. Era a ideia de que o povo brasileiro é um povo misto, colorido e sem preconceitos, vivendo como se nao houvesse amanhã. Eu fazia coro com os otimistas: não, no Brasil não existe racismo. Achava que minha melhor amiga que não gostava de negros era uma exceção, assim como boa parte das pessoas que eu conhecia. Ex-ce-ções.

E é uma pena que num pais tão multicolorido como o nosso ainda exista racismo. Ou é apenas coicidência que a maior parte dos pobres é negra? Uma das perguntas do censo demografico de 1980 era "Qual a sua cor" e não tinha opções para escolher, tinha que escrever mesmo. O resultado foram as incriveis 136 cores diferentes. Estava numa biblioteca quando li sobre o assunto e tive que me segurar para não rir alto da criatividade desse pessoal. Escaneei a lista, clique nela ai ao lado para aumentar. O que seria "cor-de-cuia", "enxofrada" ou "melada"? Tem também os coloridos: "verde", "lilas", "azul", "roxa" e "laranja". Tem os indecisos: "branca-morena", "meio-amarela", "puxa-para-branca" e "quase-negra". Tem os exibidos: "morenão", "bronzeada", "trigueira", "queimada-de-praia". Tem até burro-quando-foge, pode conferir!
Ja disse que aqui na França não se fala de raças. Para eles so existe uma, a humana. E nem adianta vir com papo de etnia que eles também não engolem. Simplesmente não existe classificação para as cores das pessoas. No senso demografico não tem essa pergunta, o que às vezes dificulta a compreensão de alguns aspectos da vida em sociedade. Mas apesar de detalhes cientificos, acho muito positiva essa premissa de que não existe diferenças etnicas.
Talvez o problema esteja exatamente em nos orgulharmos de sermos raças diferentes convivendo "harmoniosamente no pais mais tolerante do mundo", quando deveriamos ser simplesmente uma raça so.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Post final do amigo-oculto dos blogs

Lembram do pique-nique dos blogs e do amigo-oculto? Então, na reta final a corrente foi quebrada e como eu ja tinha o texto da Bel, que me tirou, resolvi pegar um atalho e publicar o relato dela aqui. A Bel escreve o blog C'est pas vrai e faz mestrado em Paris. Ta aqui o que ela tem pra dizer sobre a cidade-luz:

"E lá se foram dois anos. Dois anos de Paris. Não, não quero parecer rabugenta. Foram dois anos inesquecíveis. Dois anos diferentes. Ruptura mesmo. Fim dos hábitos cariocas, fim do mesmo trabalho levado por sete anos e meio. Fim do mate com biscoito globo, fim dos fins de semana entre amigos numa boa mesa, rindo entre uma garfada e outra. Fim do vento-gosto-de-mar. Fim do Pizza Park salvador das noites sem nada na geladeira.

Ok, fim é definitivamente um exagero. Digamos que é uma pausa, como dizem os franceses.

Pause para Paris me invadir.

Paris é o início de novas tradições.

Paris é 180 graus. Paris é frio, vento e chuva. Paris é cinema, outono-inverno, primavera-verão. Paris é –13. Paris é +32. É verão seco, é praia artificial. Paris é educação. É merci-bonne journée-au revoir. Paris é lavanderia fora de casa. É sair com carrinho e sacola da Ikea à procura da lavanderia menos cara. Paris é solde, é hôtel de ville, é Marais. Paris são gays, judeus e turistas. Paris é turista ! Paris é pressa, corre-corre, empurra-empurra. Paris é navigo. Não, Paris não é mais carte orange. Paris é Pasteur, mãos dadas. Paris é liberdade, sorriso. Paris é tranqüilidade. Paris é mestrado. É sofrimento. Paris é jogo de tabuleiro, é ludoteca, Paris é arte digital, mesmo tendo parado no surrealismo. Paris é préfecture de police, é papelada, carte séjour. Paris é burocracia. Paris é tensão, é alívio. E mais burocracia. É dedicação. É ser estrangeira. Sempre. Paris é Argélia, Tunísia, Marrocos, Estados Unidos. Paris é, Cuiabá, Rio, Sampa. Paris é BH, Recife, Porto Velho. Paris é conhecer o Brasil. Paris é entrar numa farmácia e não pagar pelo remédio. Paris é Assurance Maladie. Paris é língua estranha. Paris é faux-amis. Paris é Saint Denis. É linha 13, metrô lotado, gente fedida. É não tirar o casaco mesmo fazendo 40 graus. Paris é leitura no metrô. É headphone nos ouvidos. Ou na conversa alheia. É descobrir a cada esquina uma nova livraria. Paris não é necessariamente Fnac ou Gilbert Joseph. Paris é piquenique, é queijo, é vinho. É torre Eiffel. Paris é andar. Paris é vélib. Paris é beagle, é buldog francês, é fox. Paris é cocô de cachorro par tout! Paris é gola levantada, é écharpe em homens elegantes, Paris é prêt-à-porter. Paris é Nouvelle Vague, Paris é Carmen Maria Vega. Paris é platéia fria, Paris é platéia participativa. Paris são malas e malas. É a casa cheia com duas pessoas. Paris é aprender a viver em pequenos espaços. É teto de madeira, é parede úmida. É chão de cerâmica de 1900 e lá vai tempo. É chão se decompondo, se desfazendo. Paris são janelas grandes, Paris é pátio interno. Paris é 3ème. Paris é parar e pensar. Pensar no futuro, sobretudo. É rodar e rodar e voltar ao início. Paris é o que eu quero ser quando crescer. É se perguntar onde estarei daqui a um ano. Paris são dúvidas. Muitas dúvidas. Paris é saudade. Paris é novidade. Sempre. Paris é muito mais.

Paris é incrível."

Aproveito para divulgar o terceiro concurso de blogueiras do Escreva Lola Escreva. São 25 textos sobre maternidade. A iniciativa é otima para se conhecer novos blogs. Depois é so ir no blog da Lola e votar no seu texto preferido.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Queridos (ou detestados) mestres

Eu so fui aprender francês depois que cheguei em Paris, e pra ser sincera nem sei como isso aconteceu. Não fiz curso de francês, so falava (ok, falo ainda) português com o cheri e passava 10h por dia com dois bebês que, bom, não sabiam nem dizer maman ainda. Acho que foi por osmose, so pode ser. As vezes me pegava falando alguma coisa e pensava "como diabos eu sei isso?". Mas o método da osmose se mostrou ineficaz para conjugação de verbos, então quando entrei no mestrado e tive um tempinho livre, decidi consertar meus erros de gramatica. E foi assim que cruzei o caminho de criaturas nem sempre amavéis: os professores de francês.

A bipolar
Professora de Francês Lingua Estrangeira na universidade, ela passava a aula inteira sentada e so se levantava por uma razao muito grave. O que nao é nada pratico na hora de corrigir os exercicios, pois ela fazia tudo oralmente e quem ja estudou francês sabe que um som pode ser escrito de mil formas diferentes. Quando alguém pedia pra ela escrever, ela bufava, olhava pra cima e ia pro quadro com uma vontade que ninguém mais se atrevia a pedir que ela fizesse tamanho esforço novamente. Normalmente ela era super grossa e dava patada em todo mundo, mas era so dar um gancho pra ela falar de doença, tipo "Estou com dor de cabeça", que ela se animava toda pra contar como que semana passada ela também teve uma dor de cabeça horrivel, que so passou com blablabla... Uma vez fui no escritorio de linguas pedir uma informaçao e ela falou pro cara, bufando como sempre: "Elle est une emerdeuse". Eu nao respondi nada porque o cara estava sendo super simpatico e na verdade eu nao tinha certeza se ela tinha dito isso mesmo ou se eu tinha entendido errado. Mas depois, a conhecendo melhor, sei que foi isso mesmo o que ela disse. Na aula seguinte a esse incidente, ela abriu o maior sorriso pra mim e perguntou se eu podia pegar um café pra ela. Pode? Claro que nao fui né.

O machista
Visto o fracasso das minhas aulas com a bipolar, fui tentar um intensivo de verao na universidade mesmo, checando bem para nao cair com a madame de novo. Antes tivesse caido com ela. Peguei um primata que nao fui com a cara desde o começo. Depois de 15 minutos de aula ele começou com a historia de como o conceito de familia estava se desintegrando, que as maes estavam trabalhando fora e esquecendo de educar os filhos e cuidar da casa. O homem estava perdido sem saber mais qual era seu papel de macho dominante no ambiente domestico, ja que a mulher passou a competir com ele. Juro que uma universidade francesa era o ultimo lugar que eu pensei que ouviria isso. Dai comecei a discutir com o cara e meu sangue começou a ferver. O que me dava mais raiva era nao conseguir dizer tudo o que eu queria em francês. Uma outra garota decidiu ficar do meu lado, mas timidamente. Quando vi, estava no meio de uma briga contra meu professor, gritando feito uma doida no meio da sala de aula e ele também. Cheguei a mandar ele calar a boca porque ele estava ali para me ensinar francês e suas opinioes pessoais nao me interessavam. Nunca mais voltei no curso.

A francesa tipica
Desisti de vez da universidade e me inscrevi no curso de francês da prefeitura, onde estou até hoje. Quando vi minha professora pensei "caramba, sera que eles escolhem de proposito alguém beeeeem francês pra nos mostrar como é a cultura do pais?". Sabe aquela imagem de professora francesa que temos na cabeça: magra, alta, esbelta, educada, voz calma, etc. Era ela. Minha grande surpresa foi quando ela se apresentou e disse "Sou tunisiana". Seu nome tem até Bin no meio, como o Bin Laden, prova de arabianidade. Bom, nao deixa de ser uma francesa tipica, ja que por aqui a mistura ja é regra. Adoro minhas aulas e o pessoal do curso, a gente ri e se diverte bastante!

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Casamentos coloridos não valem um visto

Da ultima vez que fomos na imigraçao renovar meu visto, o cheri teve uma revelaçao: "Sera que o motivo deles sempre implicarem com a gente é por nao usarmos alianças?". Nunca tinha pensado nisso, mas faz todo sentido! Se eu soubesse que umas argolinhas evitariam tanto desgaste fisico e mental, tinha até arranjado umas pra usar durante o dia. Mas sera que eles nao pensam que quem casa pela nacionalidade vai obrigatoriamente usar alianças e saber direitinho a data do casamento? Acho até que eu desconfiaria mais daqueles que parecem um casal perfeito demais... Acho muito engraçado que o governo te obrigue a casar e depois ainda quer exigir que você aja como se o dia do seu casamento tenha sido o melhor da sua vida. Eles querem o que? Que eu me emocione cada vez que perguntarem quando eu me casei e mostre orgulhosa minha sagrada aliança?

Ontem fiquei sabendo de um brasileiro que esta sendo ameaçado de expulsao porque a imigraçao nao acreditou no casamento dele com uma francesa. Parece que separaram os dois para fazer perguntas e ambos disseram que cada um saia com seus amigos e nao saiam muito juntos. Pronto, a imigracao decidiu que eles nao eram um casal de verdade. Na realidade eu nem sei se eles eram ou nao casados de verdade, nao deu pra perguntar os detalhes no meio da aula, mas acho um absurdo o governo decidir se a sua relaçao vale ou não um visto para a França. Sera que se me separassem do cheri para fazer perguntas a gente também seria considerado como um "casamento branco"? Suspeito que nossas respostas seriam todas diferentes. Quando vocês se conheceram? Eu: Acho que ha uns três anos... Ele: Hum... Talvez ha uns seis anos. Quem tomou a iniciativa? Eu: ele. Ele: ela. Vocês pretendem ficar em Paris quanto tempo? Eu: pretendemos ir embora o mais rapido possivel. Ele: Depende do trabalho que a gente conseguir, o doutorado, etc. Expulsao na certa.

Mas o atual ministro da imigraçao francês, Eric Besson, disse que a nova ameaça não são os casamentos brancos, mas os cinza, que é quando os malvados estrangeiros se aproveitam da ingenuidade romantica dos franceses para ingressar na terra prometida da França. Sim, os estrangeiro fingem amar os franceses so para conseguir um visto, minha gente. Coitados desse pobres gauleses, que sao usados sem do nem piedade e sequer percebem que sao alvo de uma grande fraude sentimental. So que agora o senhor ministro esta pensando em processar um radialista que ousou sugerir que sua namorada tunisiana de 22 anos não esteja com ele pelo seu charme irresistivel de senhor de meia idade e nem pelo seu fisico invejavel de politico barrigudo.

Assim como eu acho que politica e religião devem andar separados, acredito que a politica não tem o direito de se meter na vida sentimental dos outros. Como julgar se um casal é de verdade ou não? Se seguirem ao pé da letra tudo o que um casal "normal" faz, como usar aliança, sair juntos o tempo todo, ter conta conjunta no banco, ter filho? Po, tem um monte de casais que prefere morar em casas separadas, o que é a prova maior de um casamento branco. Para mim, ditar o que devo ou não fazer na minha vida a dois é tão ruim quanto me obrigar a ir na missa todo domingo.

domingo, 29 de novembro de 2009

Top 10 - Frases que provavelmente você não vai ouvir de um francês

10- "Esse ano vamos passar as férias em Paris"
Nas férias, a maior prioridade dos franceses é se afastar o maximo possivel de Paris, sempre em direçao ao sul. Nem que isso custe dezenas de horas em engarrafamentos interminaveis e que uma vez que cheguem no eldorado da Côte d'Azur, tenha-se que disputar um espacinho de areia da praia. Tudo menos Paris. A unica possibilidade de um francês desperdiçar suas férias na capital é se ele mora la e um impedimento extremamente grave nao o deixa seguir o fluxo migratorio em direçao ao sul, como a crise econômica, por exemplo.

9- "Ops, acho que coloquei muita manteiga"
Aprenda: na França, manteiga nunca é demais. Nunca vi povo pra gostar tanto de manteiga, e atençao, nao estou falando que margarina, praticamente em extinçao por aqui. Eles nao passam uma fina camada no pao, ele colocam um pedaço mesmo. E pra cozinhar, usam mais manteiga do que oléo, em porçoes bem generosas. Pra se ter uma idéia, os franceses sao os maiores consumidores de manteiga do mundo, com 8kg consumidos por ano, por cada habitante.

8- "Adoro o sotaque de Quebec"
Se um francês disser isso, ou tem algum canadense por perto, ou ele é muito exotico. Os franceses tiram o maior sarro do sotaque dos seus primos do Quebec, mas sempre quando nao tem nenhum deles à proximidade. Quando passa algum programa canadense na televisao, eles até colocam uma legenda, pois às vezes é dificil entender. Acho que é mais ou menos a mesma relaçao que temos com o português de Portugal.

7- "Hum, como os ingleses cozinham bem!"
O climax supremo da rivalidade entre os franceses e os ingleses é a critica à cozinha britânica. O fish and chips é tao ridicularizado por aqui, que da até peninha dos ingleses. Poxa, ele nao têm terras férteis, nunca tiveram uma tradiçao gastronomica por causa disso. Os franceses dizem que seus vizinhos so sabem comer batata e os ingleses se vingam os chamando de froggy (comedores de ra).

6- "Vão desrespeitar nossos direitos trabalhistas, vamos ter que nos conformar"
Ponham uma coisa na cabeça: os franceses nunca se conformam quando o assunto sao direitos trabalhistas e sociais. Jamé. Eles sempre encontram um jeito de mostrar sua indignaçao e tentar reverter o caso. O método mais mais usado, é a greve. Simples e eficaz. Mas às vezes, quando a situaçao pede, eles encontram formas inovadoras de contestaçao. Uma das mais extremas é o sequestro dos donos e presidentes das empresas. Eles mantêm o cara preso até conseguirem o que querem e o mais incrivel é que os "reféns" nunca querem dar continuidade à acusaçao do crime de sequestro, com medo de arranjarem mais confusao.

5- "Meu sonho é morar no norte da França"
A nao ser que o francês tenha nascido no norte da França, ele jamais vai querer viver la por toda sua vida. A razao principal é o clima, que é terrivel por essas bandas, um frio permanente quase sempre acompanhado de chuva, o que da uma atmosfera bem triste. No filme Bienvenu chez les ch'tis o chefe diz pro funcionario que tem uma péssima noticia: ele vai ser transferido para um lugar horrivel. O cara diz "Naaaao! Paris?" e o chefe responde "Pior, o norte".

4- "Detesto os imigrantes"
Certamente nao sao todos os franceses que amam os imigrantes e lutam pelos seus direitos na França, mas duvido que você encontre alguém que diga abertamente que nao gosta de imigrantes, a nao ser que a pessoa esteja certa de estar entre iguais. Ser taxado de preconceituoso e racista na França é o pior xingamento que alguém pode sofrer. Entao mesmo os reacionarios fazem esforço para manter a boca fechada, ao contrario de muitos brasileiros que cegos à sua propria incoerência, criticam a presença de imigrantes sem perceber que, ops, eles fazem parte desse grupo.

3- "Bebi vinho até cair!"
Para os franceses, vinho nada mais é que uma bebida para acompanhar a comida. A nao ser que a pessoa seja um adolescente ou um alcoolatra, ela nao vai encher a cara de vinho. Existem outras bebidas que cumprem esse papel, como a cerveja, a vodka, a tequila... Vinho nao. Meu sogro achou super engraçado uma turista que pediu uma taça de vinho num bar, assim, como se pede uma cerveja.


2- "Nao me interesso por politica"
Nao importa se você esta na igreja, numa festa, num enterro: é inevitavel que o rumo da conversa pegue um atalho para a politica. Todo mundo tem uma opiniao sobre o cenario politico do pais, é impressionante. O problema é que às vezes as conversas civilizadas descambam para um inicio de discursao, mas a polidez francesa logo se impoe e rapidamente as pessoas procuram algo para concordar, como a cozinha inglesa, por exemplo.


1- "Meu avô foi um colaboracionista"
E dai que as estatisticas dizem que cerca de 20% dos franceses colaboravam com a Alemanha nazista? Você simplesmente nao vai encontrar ninguém. Todas as historias familiares sobre a segunda guerra que ouvi até hoje estao repletas de atos heroicos como esconder judeus em casa, lutar frente a frente com os nazistas, traficar informaçoes pelas costas dos alemaes, mas nunca uma em que se assumia uma simpatia com os invasores. Dizem que 20% dos franceses eram colaboracionistas, 20% eram resistentes e 60% nao queriam se meter na historia. Acho que a guerra ainda é um passado doloroso demais para se assumir os erros. Ninguém quer ser o vilao da historia, mesmo se na época significou sua propria sobrevivência.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Amigos imaginarios?

Ao contrario do que pareceu no ultimo post, eu nao sou contra as religioes. Respeito a opiniao religiosa de todas as pessoas e acho que enquanto nao tivermos respostas concretas para nossas perguntas existenciais, as religioes vao existir.

O que eu nao gosto é a mania que as pessoas tem de usar a religiao para justificar seus preconceitos e impor às outras pessoas papéis menos importantes na existência. Assuma que nao é deus que pensa assim, cara-palida, é você. Nao foi deus quem disse que os negros nao tem alma, foram os homens brancos. Nao é Ala quem desumaniza a mulher através da burca, sao os homens. Nao venha tentar justificar a fome dos pobres pelo que eles fizeram em vidas passadas, porque eu vou negar e dizer que a fome deles é culpa nossa.

Fui batizada e fiz catecismo, minha familia toda é religiosa. Alias, eles simpatizam com todas as religioes, como boa parte dos brasileiros. Minha avo é catolica, mas às vezes vai em cultos evangélicos, ja foi muito em sessoes espiritas e de vez em quando poe até uma macumbinha na esquina. O negocio é acreditar em deus. Parte da minha familia é crente e quando eu era criança, adorava passar as férias na casa deles e assim ia pra igreja também. Achava divertido, bem mais que as missas catolicas, pois eles separavam as crianças e contavam historias. Sempre lembrei de uma historia na qual deus queria destruir uma cidade inteira, mas tinha uma familia muito boa e ele resolveu salva-la. Disse que era pra eles irem embora sem levar nada e sem olhar pra tras. No momento da fuga, a mae deu uma espiadinha pra tras e pimba!, virou uma estatua de sal. O pai e as duas filhas conseguiram escapar. Adorava a historia, principalmente com a musiquinha que a gente cantava sobre ela, imitando a estatua.

Foi entao que semana passada descobri que a historia nao foi me contada inteira. Estava lendo o livro "Tirs Croisés" e descobri que a tal cidade era Sodoma (que deu origem à palavra sodomia, imagino). Dois anjos foram ver se as suspeitas de homossexualidade eram verdadeiras e um homem os acolheu em sua casa. Logo uma multidao de homens excitados bateu na porta da casa para estuprar os visitantes. O dono da casa, bom anfitriao que era, respondeu: "Nao! Tenho aqui duas filhas que nunca conheceram homem e as ofereço. Vocês podem fazer o que quiser com elas, mas deixem os visitantes em paz". Que grandeza de espirito! A multidao, porém, nao aceitou a oferta, eles queriam mesmo era os homenzinhos. Estuprar as meninas, tudo bem, mas os homens?! Pior, anjos do sexo masculino! A ira de deus nao aguentou tamanha blasfêmia e resolveu reduzir a cidade inteira a po, com uma terrivel chuva de fogo e enxofre. Antes salvou a familia tao hospitaleira.

A mae, como vocês ja sabem, foi transformada em estatua de sal e o pai e as duas meninas se refugiaram numa caverna. Na primeira noite, surprise!, o pai transa com uma delas. O livro sagrado diz que ele estava confuso, nao sabia que era sua propria filha, apesar de so haver os três na caverna. Na segunda noite, ele transa com a outra. Coitado, ainda tava meio perdido. Engravida as duas. Incesto, estupro e pedofilia? Cadê a chuva de fogo e enxofre? Ah, nao tem. Nao é à toa que eles nao contam a historia verdadeira para as crianças.

Eu tenho um pouco de raiva sim das religioes, principalmente da minha, porque tenho a impressao de que elas querem me fazer de boba, sabe? Elas querem me oprimir e querem que eu aceite isso. Elas querem que eu seja submissa ao homem sem contestar. No casamento da minha prima eu devia ter uns 13 anos, fiquei chocada ao ouvir o pastor falar com todas as letras que o homem é o provedor da familia e a mulher é a encarregada do lar; que ele manda e ela obedece, que ele é o chefe. Fiquei me remoendo na cadeira, olhando de um lado pro outro e ninguém parecia discordar.

Passei uma parte da minha adolescência com um "vazio existencial", fazia muitas perguntas e nao tinha respostas. Passei a invejar aqueles que conseguiam crer, que conseguiam ter certezas absolutas. Acho que o processo em virar atéia é mais doloroso pra quem foi criado com uma religiao. Mas agora que o tempo passou, acho que existem coisas bem mais importantes do que respostas nao dadas e consigo muito bem viver sem deus. Nao sinto mais um vazio, nao sinto que me falta nada para ser feliz.

Quando disse pra minha mae que nao sabia se acreditava em deus, ela perguntou: "Mas se você nao acredita em deus, vai acreditar em quê?". Hoje eu sei a resposta: nas pessoas. E digo isso sem a menor crise existencial.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Quando deus é o chefe do homem e o homem é o chefe da mulher

O livro "Tirs Croisés", de Caroline Fourest e Fiammetta Venner fala sobre como os principios do integrismo e do extremismo é praticamente o mesmo nas religioes catolica, judia e muçulmana. O primeiro capitulo aborda a situaçao das mulheres nessas três religioes (na sua forma mais fundamentalista) e como todas elas sao usadas para oprimir o sexo feminino.

Os judeus ultra-ortodoxos começam o dia com a oraçao: "louvado seja deus que nao me criou mulher". Ele acreditam que por causa do pecado original de Eva, todas as mulheres foram condenadas a sofrer. No livro sagrado esta escrito que as mulheres sao castigadas de nove formas: o sangue da mestruaçao e da virgindade; o fardo da gravidez; o sofrimento do parto; a responsabilidade de criar os filhos; sua cabeça coberta; os furos nas orelhas como escravas por toda a vida, que serve seu mestre; e finalmente, nao ser credivel como testemunha. O interessante é que a maior parte desses "castigos" sao inflingidos pelos homens, nao pelos céus. Até mesmo por nao permitir a mulher a escolha do aborto e de outros métodos para nao passar pelo fardo da gravidez se ela nao quiser. A judia ultra-ortodoxa so serve para ser mae e se nao consegue cumprir a tarefa é excluida da comunidade. O homem pode facilmente se separar, mas a mulher precisa da autorizaçao do marido para conseguir.

No catolicismo radical a situaçao das mulheres é a mesma. Sao Paulo era um dos que mais pregava a dominaçao masculina. Ele disse: "O chefe de todo homem, é deus; o chefe da mulher, é o homem". Os militantes integristas cristaos dizem que a funçao da mulher é ser portadora de homens (a Maria Mariana aprendeu bem a liçao e saiu repetindo isso por ai). O interessante é que eles descobriram que era muito mais eficaz quando as proprias mulheres pregavam isso, nao os homens. O que aconteceu foi uma situaçao curiosa: as mulheres ultra-conservadoras deixaram seus lares para militar pelo dever das mulheres de ficar em casa. Ah ta.

Os militantes cristao prolife (nome altamente contestavel) lutam essencialmente contra o aborto. Um caso que me chocou no livro foi o de uma menina americana de treze anos que foi morta pelo pai porque ia fazer um aborto. Ela tinha sido vitima de estupro. Quem estuprou foi o pai dela.

O islamismo com certeza é o mais famoso pelas atrocidades que faz com suas mulheres. Poligamia, burcas, mutilaçao genital, apedrejamento, a lista é longa e violenta. Mas o que as autoras argumentam é que a maior parte dessas coisas todas simplesmente nao estao no Corao. Maomé era muito menos sexista do que os profetas das duas religioes precedentes, até porque muito tempo ja tinha se passado. Mas os integristas muçulmanos, nao satisfeitos com o status que o Corao da a mulher, que ja nao é nada bom, inventa, reinterpreta, pega idéias emprestadas de outras religioes para oprir as mulheres bem do jeitinho que eles querem. Em nenhum momento o livro sagrado diz que as mulheres devem usar véu, por exemplo. Existem algumas passagens onde ele descreve que algumas mulheres usam, mas é so uma descriçao, nao uma recomendaçao.

O livro fala muito da Arabia Saudita e eu fiquei surpresa de saber que um pais tao rico é tao reacionario, juro que pensei que eles fossem mais democraticos. Elas contam que em 2002 houve um incêndio na escola das meninas e que as alunas se precipitaram para a unica porta entre os muros altos (para protegê-las, claro) que o colégio tinha. A diretora so podia ligar para os bombeiros depois de pedir autorizaçao à presidência da educaçao feminina. A porta era trancada por fora e o guardiao nao abriu porque as meninas nao tinham autorizaçao para sair. Quando os bombeiros chegaram, a policia religiosa nao as deixou sair porque elas estavam sem véu. Resultado, quinze meninas morreram. E nao deixaram os transeuntes ajudar as sobreviventes para evitar o contato misto.

A diferença entre essas três religioes é que o judaismo e o catolicismo sao restritos à esfera pessoal, enquanto o islamismo é legitimado por muitos Estados. Uma adultera pode se defender da ira do marido judeu ultra-ortodoxo pedindo ajuda ao governo, mas o que fazer quando a barbarie é justificada pelo Estado? O pai assassino e estuprador esta preso, mas onde guardar a raiva quando, na Arabia Saudita, um estuprador sai livre enquanto sua vitima é apedrejada até a morte por adultério?

Parece surreal no mundo em que vivemos, com toda a ciência que temos, que tem gente que ainda acredite em religiao. Mas tudo bem, cada um pode acreditar no que quiser, mas o Estado tem a obrigaçao de saber separar as coisas. A laicidade é um passo fundamental no avanço da humanidade. O governo tem a obrigaçao de dar os mesmos direitos para todos os individuos, sejam eles homens ou mulheres e nao justificar a dominaçao masculina por livros escritos ha milhares de anos. Enquanto a violência contra a mulher for apoiada oficialmente, é metade da força intelectual e fisica de um pais que esta sendo prejudicada. Como evoluir assim?

sábado, 21 de novembro de 2009

A mao da discordia

Os irlandeses têm estado um pouco rabugentos esses dias e imagino que vocês saibam o motivo. No jogo decisivo da qualificaçao para a Copa do Mundo do ano que vem, a França ganhou da Irlanda injustamente. Atençao, injustamente, nao ilegalmente como estao dizendo por ai. Segundo o cheri, que estava quase tendo um ataque cardiaco diante da tv, a Irlanda dominou o jogo inteiro e fez um gol. Como a França ganhou o ultimo jogo, eles foram pra prorrogaçao e foi entao que o Thierry Henry se serviu de uma ajudinha extra da sua mao pra marcar um gol e o juiz, ao contrario de todo mundo, nao viu.

A Irlanda ficou super frustrada e logo pediu a anulaçao do jogo. O surpreendente foi que a proposta foi considerada justa para muitos franceses, inclusive para alguns politicos e para o proprio Henry. Houve pressao para um pedido de desculpas oficial por parte do tecnico da França e ele respondeu que nao tem que pedir desculpas por nada, ora bolas, isso é futebol. Erros acontecem, às vezes a nosso favor, às vezes contra. Eu estou completamente de acordo com ele. Sempre me lembro do que um antigo chefe disse sobre a polêmica de utilizar as câmeras de tv como instrumento de apoio para o juiz. Ele disse que a beleza do futebol esta justamente ai, na imperfeiçao. Se tirar esse lado humanista do julgamento do esporte, falivel, vamos perder muito. Essas coisas acontecem, faz parte do jogo. A sorte conta muito dependendo do ângulo do juiz.

A FIFA negou o pedido para refazer o jogo, claro. Se essa porta fosse aberta, sabe-se la quantos outros jogos teriam que ser repetidos a partir de agora. Qualquer penalti nao dado, qualquer falso impedimento, qualquer nao-falta seria contestada. Apoio a idéia de que o juiz é a autoridade suprema do jogo, é ele quem manda e pronto. Afinal de contas, o que seria de um jogo de futebol se a gente nao tiver mais razao para xingar o juiz?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A revolta da vacina

Enquanto a populaçao de alguns paises se desespera pela falta de vacina contra a gripe A, os franceses esnobam e declaram que nao vao toma-la. Parece que a culpa é sempre do governo: ou ele é incompetente porque nao se preocupa com a saude do povo e nao compra vacina ou ele é tirano e quer obrigar todo mundo a se vacinar sem necessidade.

A vacinaçao na França começou na ultima quinta-feira, sem grande sucesso. A campanha se faz progressivamente e nessa primeira etapa so as pessoas mais suscetiveis sao convocadas, como diabéticos, asmaticos, aidéticos, pais de recém nascidos. Na segunda etapa serao convidadas as gravidas e os bebês. E assim por diante. As pessoas recebem em casa a convocaçao para apresentar no posto. No primeiro dia um telejornal mandou um reporter em um local de vacinaçao e quando ele apareceu ao vivo nao tinha ninguém por la. Ele explicou que os médicos estavam esperando cerca de 700 pessoas naquele dia e até às 13h tinha aparecido..... 1.

A hesitaçao da populaçao nao é sem razao. Somente 10% dos profissionais de saude pretendem se vacinar, o que nao é exatamente estimulante. Além do mais, existe duas vacinas diferentes, uma feita para as pessoas importantes e indispensaveis e outra para a plebe, com mais riscos de efeitos colaterais. Como eles acham que uma ideia dessas pode funcionar? A Angela Merkel declarou que vai tomar a vacina do povao, duvido que o Petit Nicolas faça o mesmo.

Apesar dos esforços da ministra da saude, Roselyne Bachelot, em alarmar a populaçao para os enormes perigos fatais  dessa terrivel gripe assassina (tentando causar panico? Imagina), os franceses nao se convenceram e acham que ela nao passa de outro resfriadinho qualquer. Cerca de 76% da populaçao afirma que nao vai tomar a tal da vacina.

Ca pra nos, acho que essa campanha esta sendo feita um pouco tarde, ja que esta fazendo frio ha uns dois meses e muita gente ja ficou doente. Pelo menos eu nao vou precisar decidir de tomar ou nao a vacina, pois desconfio que o grupo dos imigrantes vai ser o ultimo a ser convocado e até la o inverno ja acabou.

sábado, 14 de novembro de 2009

Quem quer dinheeeeeiro?

Adoro pegadinhas na televisao. Nao aquelas de susto, mas as que colocam a pessoa numa situaçao estranha que pede uma reaçao. Eu gosto de ver como respondem a uma situaçao que normalmente nao aconteceria. Por exemplo, o que você faria se um desconhecido desse um gole no seu café? Uma das minhas preferidas foi quando colocaram cinco atores e uma vitima um do lado da outro e fizeram perguntas do tipo: qual a velocidade do som? Os cinco atores davam respostas iguais e precisas, tipo "quatrocentos e cinquenta e três km/h" e quando chegava na vitima, que era a ultima, repetia bestamente "quatrocentos e cinquenta e três km/h". Como o ser humano é bobo! Uma outra que eu adoro é quando um cara mal vestido parava alguém na rua e dizia "Por favor, posso te dar um dolar?", e a pessoa dizia "desculpe, nao tenho um dolar" e ele insistia, "nao, eu nao quero um dolar, eu quero te dar um dolar". A cara de interrogaçao que as pessoas faziam eram impagaveis!

Mas o que eu quero falar é que esse sonho de alguém te dar dinheiro na rua foi a noticia da semana em Paris. Uma empresa decidiu distribuir hoje sacolinhas com uma nota dentro de cada uma, de cinco à quinhentos euros, embaixo da torre Eiffel. A açao faz parte de uma campanha de marketing, que em vez de pagar publicidade, acha que distribuindo o dinheiro pra populaçao vai atrair mais publicidade ainda por causa do interesse da midia. Ja fizeram isso em NY, mas a pessoa tinha que explicar porque queria o dinheiro, dai o cara decidia quanto o candidato merecia.

Eu até queria ir ver como seria (e tentar minha sorte, é claro), mas o cheri disse que era melhor nao, que com certeza ia dar confusao. Nao deu outra: a distribuiçao foi cancelada. Tinham mais de cinco mil pessoas esperando sua sacolinha, mas pelo que pude entender, na paz. Mas os organizadores e a policia acharam que tinha gente demais e que talvez viraria bagunça, entao preferiram nao arriscar. O povo, que até ali estava contido, se revoltou (com razao) e quebrou vitrines, fez baderna e até virou uma viatura policial. Po, que ideia! Se assumiram o risco a semana toda, mesmo contra a pressao da prefeitura, desistir na hora, quando todos ja estavam reunidos depois de vir de longe, com certeza nao foi uma boa ideia.

Distribuir dinheiro na rua é proibido na França. Mas o que é uma multa de 150 euros para quem quer distribuir 100 mil? Parece que agora o dinheiro sera doado para instituiçoes de caridade. E a empresa teve sua tao desejada propaganda. Todo mundo ficou feliz, menos o povo que ficou esperando o dinheiro que nao veio.
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