domingo, 4 de setembro de 2011

Leitura de férias: La vie devant soi, Romain Gary

Não, minhas férias ainda não acabaram. Mas depois de rodar todos os campings imagináveis do sul da França (algo entre 10 e 15) voltamos pra Argelès pra poder passar uma semaninha tranquila antes de voltar à babilônia.

Desisti de postar durante a viagem por vários motivos. Primeiro porque nem sempre tinha uma conexão boa, depois porque postar fotos era algo muito, muito complicado. Carregar a tablete nos campings também nem sempre era possível. E eu não queria perder meu precioso tempo de férias lutando contra todos esses empecilhos e provavelmente me irritando muito. Sem contar o cheri que reclama que eu passo tempo demais na internet. Não faço ideia de onde ele tira tamanha calúnia. :D

Mas tenho tanta coisa pra contar que nem sei como vou fazer pra organizar. Provavelmente vou virar blog monotemático por um tempinho. Mas antes de começar a maratona, aproveito para indicar um livro maravilhoso que li esses dias, presente de despedida das mães das crianças que tomei conta até julho - La vie devant soi, de Romain Gary.

Ja tinha ouvido falar do autor, pois ele conseguiu um fato inédito: ganhou o prêmio Goncourt, o mais importante da língua francesa, duas vezes. Normalmente, um escritor só pode ganhar uma vez na vida, mas Gary driblou as regras do jogo com um artifício simples - um pseudônimo. Na verdade, La vie devant soi, de 1975, é assinado por Émile Ajar, personagem que seu sobrinho aceitou encarnar por oito anos (alias, o falso escritor morava em Caniac, aquela cidadezinha do avô do cheri que falei no post do Lot). O primeiro Goncourt, Gary ganhou com Racines du ciel, de 1956. Quer prova maior de que o cara é bom?

Fui procurar o título do livro em português e vocês podem imaginar o tamanho da minha surpresa ao descobrir que a primeira tradução saiu em... 2011! A má notícia é que acho que é em português de Portugal. Mas não tenho certeza, não dá pra pesquisar muito aqui. Então procurem aí: Uma vida a sua frente, Romain Gary (Émile Ajar). Se não me engano tem um filme também. Hoje eu tô que tô pra dar informações, heim? Quando voltar pra Paris procuro tudo direitinho.

O livro conta a história de Momo, um orfão de mãe que mora na pensão da madame Rosa, uma judia idosa, mas do ponto de vista do próprio Momo. Como ele é uma criança não-escolarizada, a linguagem é limitada, assim como seu entendimento do mundo. A gente entra na cabeça de Momo e é capaz de entender toda a confusão mental dele. Por exemplo, mais pro fim do livro tem um diálogo incrível dele com um médico, e se eu copiar as falas de Momo aqui ninguém vai entender uma palavra dos absurdos non-senses que ele está falando. Mas depois de acompanhar toda sua vida, aquelas frases têm um sentido, a gente entende! E entendemos também o médico, que fica ali parado com cara de ué, sem entender nada. Genial.

Parece que Momo é uma pessoa em seu estado mais puro, uma criança que ainda não aprendeu a domar seus instintos. Inocência misturada com uma maturidade forçada. O livro é de um humor trágico, uma amargura necessária, mas sobretudo uma linda história de um amor atípico. Uma verdadeira obra de arte, não sei porque ele não é mais famoso fora da França. Virou um dos meus preferidos de todos os tempos junto com Cem anos de solidão e Metaphisyque des tubes, da Nothomb.

O primeiro parágrafo mal traduzido por mim:
"A primeira coisa que posso dizer é que a gente morava no sexto andar a pé e que para madame Rosa, com todos aqueles quilos que ela tinha e apenas duas pernas, era uma verdadeira fonte de vida cotidiana, com todas as suas penas e preocupações. (...) Sua saúde também não era boa e eu posso afirmar desde o começo que ela era uma mulher que merecia um elevador".

12 comentários:

caso.me.esquecam disse...

meninaaaaa! eu tava ontem (ONTEM) com camilo discutindo sobre um livro que ele ta lendo, que ele ta adorando. ele disse que com certeza leria outros livros do autor. eu comentei que tu tbm tava lendo um livro massa, mas que eu na lembrava qual era. vi agora teu post, algo me pareceu familiar. perguntei a camilo o autor do livro dele e... eh um tal de romain gary. :)

ah, as nossas coincidencias!

mas o livro eh o cachorro branco. ou alguma coisa do tipo. ele ta gostando muito do livro.

ok, voces me convenceram. proximo autor, RG! ;)

Anônimo disse...

gente, que coincidencia...meu chérie me deu de aniversario ha 15 dias o "racines du ciel" e me contou a mesma historia do goncourt! q coisa!!!

beijos e boa volta de férias,
Carol

Rita disse...

Gente, outra coincidência: ... não, não tenho nenhuma coincidência... :-(

Mas fiquei feliz de ver post novo aqui. Tá faltando você no meme dos livros, amandita!

beijocas
Rita

disse...

Ja ouvi falar desse autor, mas nao conhecia a historia dos 2 goncourts, genial mesmo! O livro está anotadinho aqui na minha lista de "have to read", assim como os livros do meme da Rita e da Tina Lopes.

Helena disse...

Gente, outra coincidência! Sim, é vero! Eu tinha ouvido um programa na France Inter ano passado sobre o Gary e fiquei com ele na minha cabeça exatamente por causa desses dois prêmios. Nessas últimas férias na França, aproveitei para comprar o "La vie devant soit" e "La promesse de l'aube". Daí, ainda aí na França, li o "La vie devant soit" e o maridón leu o outro. Muita coincidência! Nós dois adoramos os dois livros e é bem isso que tu falou, Amanda. A confusão mental do Momo passa a ser compreensível pela gente, que tá acompanhando como ele vê o mundo. Durante o livro eu lia uns trechos pro maridón e ele não entendia nada... Bom, agora vou ler o "Promesse de l'aube". Tentei comprar o "Les racines du ciel" mas não achei. Beijos!!

Helena disse...

Quando a gente se encontrou no pique-nique eu tava lendo esse livro, taí a coincidência :P

Vanessa Peres disse...

Esse livro é demaaaaaaaaaaaaaaaais!

Guilherme Reed disse...

Na Livraria Cultura, aqui em São Paulo, dá pra achar La vie devant soi. Mas não em português. Pra quem se liga em sebo, no site Estante Virtual, têm opções para comprá-lo em várias cidades do Brasil, mais barato e mais detonadinho tb...mas às vezes vale a pena.
Valeu pela dica, Amanda!

Beatriz disse...

Que ótima dica Amanda!!!
Estava aqui pesquisando livros na internet, pois estou numa fase "viciada" em leitura! Pena que hoje é feriado por aqui, então amanhã lá vou eu, direto a uma livraria!
beijinhos
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com

Flávia disse...

Oi, Amanda. Existe uma tradução de 1986 da Ed. Rocco, mas já está esgotada... as bibliotecas daqui do Brasil devem ter... ou não! Obrigada pela dica!

Anônimo disse...

Que massa!

Poooooois se aveche, viu?! :)
Quero saber de TOUT! AUSHAUHSUAHUSHAHSUHS o/

E ah: Tô lendo Cem anos de solidão, Mandita! hihi*-*

Anônimo disse...

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