sexta-feira, 13 de maio de 2011

O melhor amigo do casal

Achei tão lindo quando alguém disse nos comentarios que gostava especialmente dos meus posts sobre amizade... Pois é, não sei se sou uma pessoa sortuda por ter cruzado com tanta gente bacana ou se sou apenas sensivel a esse tipo de encontro e transformo uma situação banal em algo bem mais importante o que realmente é. O curioso é que não sou absolutamente uma pessoa dramatica ou romântica, que fica suspirando pelos cantos e lendo poemas. Não sou. Mas quando falo sobre amizade e tudo o que vem com ela, me da sim um friozinho na barriga.

A historia de hoje aconteceu ha pouco mais de quatro anos, quando eu e o cheri fomos viajar pelo sul da América do Sul. Fizemos tudo de ônibus, saindo do Rio de Janeiro. Quando cruzamos a fronteira da Argentina, ficamos um tempinho na cidade de Puerto Iguazu, acampados. Costumavamos comer perto do campping num lugarzinho (não da pra chamar de restaurante) que servia "1/4 de pollo con papas fritas". A espelunca era tão suja e sombria, que a gente tinha que escolher entre comer dentro e respirar aquele cheiro estranho e trocar sorrisos sem-graça com a familia que morava/trabalhava ali ou comer do lado de fora e ser assediado pelos cachorros de rua que achavam que se eles olhassem fixamente para um pedaço de frango, ele cairia magicamente no chão. Geralmente escolhiamos o lado de fora. Dai um dia tinha apenas um cachorro la, um pastor alemão, e todos os outros cães ficavam afastados e olhavam de longe. Cheri falou pra eu não dar comida pra ele, mas é claro que eu dei.

Terminamos de comer, pagamos a conta, nos levantamos e saimos andando. Adivinha quem veio junto? Atravessamos ruas, cruzamos esquinas, andamos e andamos e ele com a gente. Achei o maximo, nunca tive cachorro (nem gato, o unico animal que tive foi um papagaio/maritaca que ficou com a gente quase 20 anos, o Lula) e o meu sonho de criança era um cachorro me seguir na rua pra eu chegar em casa e dizer "mas mãe, ele me seguiu até aqui! Posso ficar com ele?". Por mais que eu tentasse atrair os cães, eles nunca me seguiam. Então nesse dia fiquei super satisfeita. So que tinha um problema: eu não ia voltar pra casa e não podia pedir minha mãe pra ficar com ele, pois dali a dois dias continuariamos nossa viagem que incluia 30h de ônibus até Salta. No campping, ja à noite, decidimos que o melhor seria despistar o cachorro (decidimos não, cheri decidiu e eu, muito contrariada, aceitei). Antes de irmos pra nossa barraca, fomos no banheiro. O cão parou na porta e ficou nos esperando, educado que era. O banheiro tinha duas saidas, então entramos por uma e saimos pela outra. Ainda dei uma espiada e o vi la, atento, esperando pela gente. MORRI DE PENA, mas o que poderiamos fazer? Cinco minutos depois de entrarmos na barraca, ouvimos um barulho do lado de fora: era ele, o esperto. Dessa vez, morri foi de orgulho. Pois ele passou a noite toda dormindo ao lado da nossa barraca. Latiu algumas vezes, certamente nos protegendo de terriveis malfeitores.

No dia seguinte ele perambulou com a gente mais um pouco. Não lembro exatamente o que fizemos, mas acho que o roteiro incluiu uma parada no supermercado, onde mais uma vez o gentleman nos esperou o tempo todo do lado de fora. A gente andava na rua e as pessoas paravam pra olhar: que cachorro educado! Os donos nem precisam pôr coleira! Cheri disse que ele nos seguia porque eu dei comida pra ele. Mas poxa, eu ja dei comida pra milhares de cães e isso nunca aconteceu.

Ele nos adotou realmente. Parece que estava pensando "Hum, tô a fim de ter dois humanos... Olha esses dois ai, eles cheiram a frango, por que não?". Uma coisa é certa: se estivessemos em casa, ele viraria integrante da familia. Agora imaginem a minha dor no coração em não poder ficar com esse cachorro que nos escolheu. Não tinha jeito mesmo. Aquele era apenas o inicio de uma viagem de dois meses de ônibus, seguida da nossa ida definitiva pra Paris. Não voltamos pro Rio, pegamos o avião em Buenos Aires. Fiquei muito triste. Iriamos embora de Puerto Iguazu no dia seguinte bem cedinho, então não queriamos simplesmente abandona-lo. Pensei, pensei e cheguei a conclusão de que ele so poderia ter fugido da policia, ja que era um pastor alemão muito educado e tinha um comissariado bem perto do lugar onde o encontramos (ou melhor, onde ele nos encontrou). Pronto, fomos na policia perguntar se eles tinham perdido um cachorro e todo mundo super estranhou a pergunta. Não, eles não têm cães ali. Então explicamos que tinhamos que ir embora, mas que o cachorro nos seguia o tempo todo e tal. Eles ouviam com total ceticismo, aquela cara de "aham, sei". Disseram pra deixa-lo la que iam encontrar uma solução e ja foram levando ele pro quintal atras do prédio. Ja estavamos na rua quando ouvimos uns gritos e barulhos estranhos - era nosso cão correndo atras da gente com corrente pendurada e oficiais atras dele. Os policiais pareciam incrédulos: "Ele se soltou e fugiu pra ir com vocês mesmo! Tem certeza de que estão com ele ha apenas um dia? Como é possivel?".

So deu tempo de dar mais um tchau até os policiais o levarem de volta pra delegacia. O que me confortava é que eu sabia que ele não seria mal-tratado, pois era de raça e bem treinado. Se não encontrassem seu dono original (não tinha coleira nem nada), pelo menos alguém ficaria com ele. O que não impede nenhum pouco a minha tristeza toda vez que lembro dessa historia e sinto tê-lo abandonado. Acho que esse cachorro era o unico cachorro do mundo que o cheri aceitaria levar pra casa. Pena que não tinhamos casa naquele momento.

14 comentários:

Helena disse...

Cachorros são tão amigões mesmo, eu tive uma cadela durante quase toda a minha infância que se chamava Nova, mesmo sendo bem velhinha :)

Puxa, pelo menos o teu desejo de que um cachorro te seguisse se realizou, só faltou você estar em casa. Quem sabe na próxima vez dá certo? Só que aí em Paris não tem cachorro na rua, né? :S

Bárbara disse...

Acho que fui eu que falei isso, né? :-)

Pois é, não sei se é porque essas histórias de amizade só acontecem com você ou se é porque quando a gente escreve as histórias, elas parecem ser mais bonitas do que quando só pensamos nelas; só sei que os seus posts sobre o assunto sempre me animam (até os mais tristinhos, como esse), hihi.

Beijão!

Rita disse...

Sério candidato a post mais fofo ever. o/

A cena dele em frente ao banheiro me partiu o coração, chuif.

Bj
Rita

caso.me.esqueçam disse...

"Pois é, não sei se sou uma pessoa sortuda por ter cruzado com tanta gente bacana ou se sou apenas sensivel a esse tipo de encontro e transformo uma situação banal em algo bem mais importante o que realmente é"

por isso que eu gosto de tu, amandao! uh!

::

oa, que horror a parte em que voces entram por uma porta e saem por outra, no banheiro. fico imaginando o bichinho pensando "po, cade eles? por que eles tao demorando tanto?" ate se dar conta que voces foram embora! coitado! uehuehueheueh

Aline Mariane disse...

yes, o comentário funciona!!

acredita que aconteceu algo parecido comigo e Loic em Corrientes, na Argentina? Um cachorrão lindo nos seguiu por 2 dias... batizamos de "Amigo" (palavra difícil para o Loic que nem "tudo bem?" falava ainda). A viagem de ônibus também continuava e ele foi com a gente até a rodoviária. Fiquei imaginando que depois ele seguiria alguém que acabava de chegar e ganharia uma casa...
será que é mania de cachorro argentino?! Acho que sei o que fazer quando eu puder ter um cachorro grande, oh sonho...

também adoro seus posts sobre amizade!! =)
Bjss!

Anônimo disse...

Ai Mandiiiiiita!:~ Que fofinho. Isso de "ele nos escolheu" é tão fantástico.
Eu apenas imagino a dor que você sentiu ao ter que deixar esse gentleman au au. =|
Eu, uma vez, ganhei um filhote de pastor alemão, mas não fiquei com ele um dia todo sequer, porque ele era muito brabinho. kkkkk Ficava arranhando a porta e tudo mais. Daí, como eu sempre tive medo de cachorro, o dei, mesmo caindo por terra meus planos de superar esse medo criando um cachorrinho. hihi
Mas, sabe, eu depois me arrependi um pouquinho... AUHSAUHSUAHUSHAHS
Lá em casa, em Ara, tem um poodle. Mas eu não gosto muito dele. Faz raiva que só a boba! UAHUHSUAHSUHAUSHUAHSH

Luciana Nepomuceno disse...

Putz, quando você anunciou no twitter que ia escrever sobre amizade eu me animei, lembra? mas nunca pensei que ia ser tão tocante (e olha que eu nem sou da turma que curte animais e talz)
Sua sensibilidade encanta...bjs!

disse...

Que do'... qdo eu era pequena o meu sonho era ter um canil com cachorros de rua. So' nao sei com que dinheiro eu ia alimentar os cachorros. Mas enfim, sonhos de criança.

Nunca fui na sua casa mas conhecendo os apErtamentos de Paris, faço uma idéia do tamanho do seu apê. O que vc faria se cruzasse com o pastor alemao em Paris?

(ja' tive 3 pastores, eles sao sempre uns fofos!)

Beatriz disse...

Que amor Amanda!
Já tive alguns cachorros(teve uma época que eram sete de uma vez lá em casa!)Mas agora moro em apartamento e sinto uma falta desses amigos incondicionais!
Belo Post, parabéns!!!
Beijos
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com

Fernanda disse...

Lindo post, Amanda!
Eu adoro gatos, na casa dos meus pais sempre tive, mas agora morando em apartamento tenho do'... o bichinho ficaria muito preso! Quem sabe quando eu "crescer" e tiver uma casa de verdade :-)

mãe disse...

Não consigo escrever

mãe disse...

Agora sim. Pois é, nunca tivemos o tal cachorrinho devido a nossa vida tão atribulada: trabalho, escola, natação, passeios, viagens... mas tivemos um grande companheiro: o "Lula", este nos acompanhou por vários anos, participando ativamente das refeições, lanches e tomando conta de tudo que se passava, inclusive da porta e das visitas. Ele era mais fácil de deixar quando viajávamos. Sinto sua falta até hoje e me lembro com saudades. Amizade não se esquece nunca.
Hoje "uso" o labrador da minha irmã, que está sempre a minha espera. Quando chego, ele se transforma já sabendo que vou levá-lo à rua e deixá-lo cheirar, cheirar, tudo tudo que vê pela frente. Ele também me acompanha. Onde eu estou, ele está juntinho, pelo tempo que eu permanecer por lá.
Ele também é meu amigo.

Anônimo disse...

sei que parece dificil, no meio de uma viagem parar a programacao e tentar encontrar internet pra tentar se comunicar com o mundo para tentar salvar um cachorro.tentar... Mas o mais adequado seria tentar entrar em contato com um grupo de protecao animal da cidade ou uma ONG pois eles alem de tentarem achar os possieis donos, se encarregariam de achar um lar adequado para o cachorro, alem de fazer uma visita no veterinario. Bom, de qq forma, deixar na policia foi melhor do que nao fazer nada.

Ana disse...

Amanda, encontrei seu blog há pouco tempo e adoro ler suas histórias! Tive que comentar esse post meio antigo pq estou numa situação parecida. Adotei(fui adotada por)uma gata de rua e me apaixonei, mas to de mudança pra França. Até pensava levar ela comigo, mas tb gosto muito de viajar, às vezes por mais de um mês, não dá pra deixar ela sozinha, ne...Que aperto no coração...

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