No ultimo post, a Lola, perguntou por quê as candidatas francesas estão perdendo espaço nas eleções presidenciais do ano que vem. Ela citou a Ségolène Royal e a Martine Aubry e lembrou que a França nunca teve uma presidente mulher.
Engraçado como nem sequer tinha passado na minha cabeça essa luta de gêneros na politica francesa. Mas é porque acho que ela não tem espaço. O fato de ser mulher não é uma desvantagem, nem uma vantagem na vida publica, acho realmente que não tem a menor diferenciação. Sim, parece meio incoerente dizer isso sabendo que nunca uma mulher foi presidente, mas eu acho mesmo que é so uma questão de tempo. Se o PS se decidir pela Aubry, na proxima eleição teremos três candidatas de peso: a propria Aubry, a Le Pen e a Eva Joly. Menção honrosa para a Arlette Laguiler, candidata de extrema-esquerda que detém o recorde de candidaturas em eleições presidenciais: seis, com a sétima a caminho. Ela não tem chances não por ser mulher, mas porque os partidos comunistas geralmente não têm muitos votos.
Então o problema não é representatividade. Elas estão no poder, da extrema-direita à extrema-esquerda. Elas são ativas e militantes, cada qual com sua luta, como expliquei em detalhes neste post convidado no blog da Luciana. O unico partido grande que não tem uma possivel candidata mulher é justamente a UMP, o partido do governo, que parece insistir num Sarkozy completamente rejeitado pela população.
No caso especifico do Partido Socialista e a diminuição da popularidade das duas candidatas (Royal e Aubry) em favorecimento de Dominique Strauss-Kahn é simples. Strauss-Kahn pertence ao PS, mas na verdade ele segue uma linha mais de direita - o cara é diretor geral do FMI, oras! - então ele rouba votos do Sarkozy, coisa que as duas canditatas, mais de esquerda, não conseguem. Os eleitores do Sarkozy estão decepcionados e procurando alternativas. Então entre um candidato classico do PS e a extrema-direita, eles preferem a extrema-direita da Marine Le Pen. Mas se eles tiverem a opção de votar numa esquerda mais endireitada, que é justamente a proposta de Strauss-Kahn, muitos iriam com o PS. Isso faz com que a preferência geral dos franceses caia sobre o diretor geral do FMI, mas não quer dizer que a preferência do PS seja ele. Os filiados socialistas não querem Strauss-Kahn, porque simplesmente ele não os representa. Então o PS vai ter que tomar uma decisão estratégica importante: ou seguir firme aos principios do partido e indicar Martine Aubry ou correr menos riscos de perder a eleição com Dominique Strauss-Kahn.
Ségolène Royal ja saiu da corrida porque não tem as qualidades necessarias para ser presidente. Pessoalmente acho que foi um erro apresenta-la da ultima vez. Ela não tem carisma, não tem jogo de cintura, não é durona, não sabe falar em publico (seus discursos dão vergolha alheia, são piores do que minhas apesentações orais no mestrado quando eu não falava francês direito). Parece que ela esta sempre meio perdidona, insegura. Muita gente tem verdadeira antipatia por ela.
Então o fato delas serem mulheres não interfere em nada nesse caso. Justamente como deveria ser, né? E pensando bem, ha chances de irem duas mulheres para o segundo-turno: se o PS escolher Aubry e a UMP insistir em Sarkozy, é bem provavel que Marine Le Pen (extrema-direita) e Martine Aubry disputem a presidência. E claro que o PS ganha. Não seria nada mal, heim?
3 comentários:
Puxa, Amanda, muitíssimo obrigada por ter respondido! É aquele negócio: eu não quero qualquer mulher (tipo: totalmente dispensável que a filha do Le Pen seja a 1a mulher presidente na França ou a Sarah Palin nos States), mas já passou da hora desses países ditos de primeiro mundo e igualitários terem uma presidente mulher, não? É só ver quantas vezes tiveram uma CANDIDATA mulher. Acho que na França não foi muitas vezes. Nos States, nunca houve uma candidata mulher nos partidos com chance (Democrata e Republicano). Só candidata a vice. E ainda assim, pouquíssimas (acho que a Palin em 08 foi a segunda na história dos EUA). Isso não é coincidência. É retrato de uma falta de representatividade.
Mas pô, fiquei muito decepcionada com o que vc disse da Segolene. Nunca a ouvi falar, nunca vi nenhum discurso dela, e não imaginava que fosse tão ruim assim. É mesmo, mesmo? Porque ela chegou pertinho de ser presidenta, não foi?
Sua análise faz total sentido. Torço então pra que a Aubry seja a indicada pelo PS!
Abração e super obrigada.
Nossa o Europe Ecologie vai sair mesmo com a Eva Joly? Mas que tiro no pé! Achei que a Cécile Duflot tava no pareo das primaires! Ah, e o Hollande no ps? Sera ele tão insignificante assim na briga?
Sabe por que quase não tem comentário sobre esse post? Porque você esgotou o assunto. Foi de cabo a rabo, de proa a popa, de leste a oeste. Parabéns.
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