Quem acompanha o blog ha um tempinho sabe que eu sou assumidamente feminista. Sempre fui, desde criancinha, apesar de não saber um nome para o que eu sentia. E embora eu sempre tenha me sentido assim, cai muitas vezes nas armadilhas anti-feministas quando era mais nova: ja achei que feministas eram bigodudas mal-amadas, ja achei de verdade que era minha obrigação de mulher usar salto alto e fazer as unhas (o que so me deixava frustrada, porque eu detestava fazer essas coisas), ja soltei pérolas como "não sou feminista, sou feminina", so porque achei a frase um pequeno ato de rebeldia.

Impressionante como a sociedade me fez desviar tanto de um movimento que claramente sempre foi o meu. Quando você é adolescente, você quer apenas agradar todo mundo, ser aceita. E nada mais "cool" que renegar movimentos politicamente corretos, não é? Eh uma tatica muito eficaz, ridicularizar coisas importantes. So que ai uma coisa acontece: a gente cresce. A opinião do outro deixa de pesar tanto e então nos damos a chance de ser um pouquinho menos "cool" e mais espertos.
Hoje eu sou feminista. Faço meu trabalho de formiguinha como todas nos, mas não ouso ir além disso, no sentido de estudar teorias do feminismo e tal. Respeito muito todos que se dedicam a isso, mas não quero que o feminismo tome conta da minha vida. Eh uma luta muito ingrata e eu sofro muito com as injustiças. Acho que a igualdade é resultado de uma evolução muito lenta, feita ao longo de gerações, quase naturalmente. Sim, algumas brigas precisam ser compradas, especialmente no que diz respeito às leis, mas acho que as juizas, médicas e presidentas fazem tanto ou mais pelo feminismo mesmo sem levantar a bandeira, do que as feministas acadêmicas.
Acontece que apesar de feminista, eu não gosto do termo feminista e acho realmente que deveriamos encontrar outra palavra pra nos definir. Primeiro porque esta um pouco ultrapassado. Feminismo lembra o século passado, outras lutas, outro perfil. Sera que não ta na hora de se modernizar? Depois, porque o termo é passivel de erros - muita gente boa acha que feminismo é a versão feminina do machismo. Piadinhas sobre homens, homem-objeto, superioridade da mulher,
HTP, comercial da
Bom-Bril: tudo isso é feminismo para o senso-comum. E adivinha so:
não é. Mas não é por maldade não, as pessoas simplesmente acumulam informações que a sociedade passa pra elas. So que, como a gente sabe, a sociedade é machista e não tem o menor interesse em esclarecer as coisas. Então temos ai um problema estratégico.

Sim, a gente tenta explicar pra todo mundo o que é feminismo. Gastamos um tempão lecionando nossos amigos que podemos ser feminista e largar o emprego pra tomar conta dos filhos; que podemos gostar de moda; que não odiamos os homens. Mas e ai? A maioria das pessoas simplesmente não liga. Não faz parte da realidade delas. Whatever. A maioria não tem o menor interesse em aprender o que é feminismo. Então não da pra ficar batendo na mesma tecla.
Eh natural que elas achem que feminismo e machismo são equivalentes, afinal de contas, as palavras são gramaticalmente equivalentes. E então nos nos desdobramos mais uma vez pra explicar todo o abismo que existe entre os dois termos. Colocamos o feminismo no pedestal e rebaixamos o machismo como o grande vilão da humanidade (e não é?). Mas ca pra nos, sera que não soa um tantinho arrogante tratar o termo feminino como positivo e o mesmo termo masculino como negativo? Não é o melhor exemplo de igualdade que gostariamos de passar. Tudo bem que existe milhares de casos assim na nossa lingua, sempre em desvantagem para as mulheres (aventureiro e aventureira, por exemplo), mas deveriamos dar um bom exemplo para não dar margem à contradições.
Quando eu estava lendo as criticas do livro
Baise-moi na internet, descobri que tem também um filme (dizem que é um sick-movie, realmente perturbador) cuja diretora se define não como feminista, mas como
antisexista. Fiquei pensando nesse termo por dias. Ele diz muito mais para o senso-comum que o feminismo e acho que nos define melhor atualmente. A nossa luta de agora não é mais pela antecipação feminina, isso ja aconteceu. Nossa luta é pela total igualdade. Lutamos agora tanto pelo direito de sairmos às ruas sem sermos importunadas, tanto quanto lutamos contra a pressão social sobre os meninos que diz que ele tem que importunar meninas na rua para ser homem. Lutamos pelo direito das meninas demostrarem agressividade tanto quanto lutamos pelo direito dos meninos se mostrarem sensiveis.
A verdade é que não lutamos mais apenas pelos direitos das mulheres, mas dos homens também. Então porque continuar insistindo em um termo que repele simpatizantes e não nos define mais como movimento?