terça-feira, 7 de julho de 2009

Burcas: diferentes pontos de vista

Volto ao assunto das burcas porque queria dividir o que li no Courrier International. Para quem não conhece, essa revista reune algumas das melhores reportagens publicadas em diversos paises durante a semana, traduzidas para o francês. Vou copiar alguns trechos que achei mais interessantes. A tradução para o português é minha.

Opressão do lado de la, opressão do lado de ca: "Onde vai?", "A Paris, claro! Na França, a burca vai ser proibida", "Você esta longe de estar pronta para um vestidinho de verão, olha essas pernas!", "Merda!",
‘Em Paris, ser contra a burca é ser de esquerda. Em Londres, é defender a extrema-direita. (…) Os principios republicanos de igualdade e de laicidade são tão profundamente enraizados no espirito francês que eles pertencem tanto a esquerda quanto a direita. (…) O discurso de Sarkozy significa que a França vai proibir seus cidadãos de usar a burca? Provavelmente não. Seu discurso deve ser antes de tudo considerado como como uma manobra politica. Ele quer reafirmar frente ao seu partido sua fidelidade aos ideais da Republica francesa e de lucro ainda ganhar a posição incerta da esquerda. (…) Visto da Grã-Betanha, os ideais franceses de igualdade e laicidade, muitas vezes mal-interpretados, parecem principios autoritarios e preconceituosos’, The Times, Londres.

‘A Franca aboliu a escravidão em 1848. E esta fora de questão hoje deixa-la se reinstalar sob a forma da burca’, ABC, Madri.

‘Diferentemente dos gurus do multiculturalismo, que inundam os escritorios europeus com iniciativas paternalistas sobre o Islã, Sarkozy não tem meias palavras: preservar a pluraridade de crenças de uma democracia é uma coisa, mais dai a permitir a segregação da mulher sob pretextos religiosos, esta fora de questão’, La Vanguardia, Barcelona.

‘Na sua luta pela igualdade, a França ao invés de encorajar o multiculturalismo, como fazemos na Inglaterra, se esforça em diminuir as diferenças e prega a integração. Essa vontade de abolir uma representação exterior do fundamentalismo muçulmano é uma prova da dificuldade do Estado francês de absorver um grupo de imigrantes que não quer ceder à sua laicidade. (…) Não sei quantas mulheres "escolheram" usar a burca, mas pensar que elas escolheram de boa vontade se cobrir com essa roupa triste é não entender o conceito de livre escolha pelo qual as feministas lutaram’, The Independent, Londres.

‘Quando passeamos voluntariamente pelo mundo como um espectro preto, impomos ao outro nossa necessidade egoista de nos taparmos. Eh um ato de agressão. Eh a liberdade que zomba da igualdade e da fraternidade’, De Volkskrant, Amsterdã.

‘Os arabes adoram lutar em batalhas previamente perdidas e adoram falar sobre os outros para chamar atenção sobre seus proprios problemas. E agora alguns se fazem mais democratas que os franceses e querem dar lições sobre os direitos das mulheres – sendo que em seus proprios paises as mulheres são privadas dos direitos mais elementares. (…) Seria mais util aceitar os direitos dos outros e entender que a unica forma de abordar as diferenças é tendo um debate construtivo. Isso provaria que procuramos nosso lugar (o lugar dos arabes) entre as nações e que não somos simples massas cegas pela colera’, Emarat Al-Youm, Dubai.

‘Quando Obama foi na Normandia para a comemoração do Desembarque e perguntaram o que ele achava da proibição do véu na França (note que a informaçao é falsa), ele reafirmou o que ja tinha dito no Cairo, "nos EUA, temos por principio não dizer às pessoas o que elas devem vestir". Uma atitude na qual os franceses fariam bem em se inspirar’, The Christian Science Monitor, Boston.

‘Uma vitima da moda ocidental é tão prisioneira de suas roupas do que uma mulher em burca. A liberdade real, para Hegel, não significa fazermos tudo o que queremos, mas nos liberarmos do condionamento social usando a razão. (…) Vão argumentar que as mulheres de burca são mais oprimidas que aquelas que se dobram à ditadura das revistas de moda. Efetivamente, eu sempre fico triste quando vejo uma mulher de burca – mas isso é problema meu’, The Sydney Morning Herald, Sydney.

‘Primeiro, Sarkozy não crê no Islã, senão ele saberia a alta estima que esta religião da as mulheres. Segundo, ele pertence a uma cultura que é injusta com as mulheres’, Gulf News, Dubai.

‘A partir do momento que as mulheres participam da vida da comunidade, usando essa roupa por escolha pessoal e não ameaçando a seguranca nacional do pais, qual o direito que temos de lhes dizer que tal roupa é mais libertaria que outra? Mais que tudo, a proibição da burca é um atentado aos direitos das mulheres’, The National, Abou Dhabi.

‘ A invasão do véu na Europa nos traz somente vitorias superficiais. Não ha nada do que se vangloriar de ter ter metido um pedaço de pano nas cabeças das mulheres na Champs-Elysées parisiene ou na Trafalgar londrina. Ja que nossas cabeças estão vazias e não são capazes nem de melhorar nossa situação deploravel, nem de oferecer ao mundo nada de positivo’, Al-Jarida, Koweit.

‘Algumas pessoas vão evocar a "liberdade pessoal" para refutar qualquer proibição. Esse argumento solido em si mesmo, perde muito de sua pertinência quando é posto à prova do contexto. (…) Esta na hora de parar com essas atitudes negativas que não somente desrespeitam a mulher, mas sobretudo desfiguram uma religião que como todas as outras é direcionada a encaminhar o homem à etica, ao amor e à espiritualidade. (…) Não estariam eles se excluindo eles mesmos de uma sociedade na qual deveriam se integrar para depois se dizerem vitimas de injustiça e de excusão?’, Courrier International, Paris.

Voila, tirem suas proprias conclusões.

5 comentários:

Rackel disse...

Depois dessa bandeira francesa em formato de burca, nem sei o que dizer...

Anônimo disse...

Complicado, né? A burca me assusta, mas a mulher melância também! O perigo mora na proibição, existem muçulmanas que usam a burca por opção. Mesmo o motivo dessa opção ser uma alienação doutrinista, uma deturpação de conceitos religiosos. Mas será que essa alienação é de menor peso que a sofrida no mundo ocidental-cristão? Será que a mulher europeia, ou a americana não sofrem tanto preconceito quando a que usa burca? Cabe um trabalho de emancipação da mulher, não uma proibição, e isso cabe no mundo inteiro.
Eu entendo usar algo como símbolo, faço questão de usar um mala no pulso pra mostrar que não sou cristão, não sei o porquê, mas acho isso importante. Mesmo eu não frequentando templo nenhum.

luci disse...

porra, muito bom! acho que cada vez mais tou convencida da proibição à proibição! :P

eu não acho lindo que uma mulher se cubra inteiramente e passe os dias nessa claustrofobia dos infernos, maaas se é pra PROIBIR, pra mim é pior ainda. proibir uma vestimenta, uma pratica que, como falaram, não provoca nenhum perigo à sociedade, não parece certo. ainda mais quando a proibição vem de fora, e não de quem vive e cresceu nessa propria cultura.
o conceito de democracia é meio perigoso, afinal, os que são a favor da proibição podem ver essa tal democracia de livre escolha como uma lastima que vai (continuar a) conduzir a mulher à prisão da burca.

querem ser liberais, mas a HIPOCRISIA reina. tu quer frase mais certa que esta: "Uma vitima da moda ocidental é tão prisioneira de suas roupas do que uma mulher em burca"???

quem vai dizer que aquela mulher que coloca o dedo na garganta e vomita qualquer caloria ingerida não é tão "vitima" da sua cultura quanto a mulher que usa a burca?

que deixem as mulheres então escolherem o que querem usar ou não!

luci disse...

ah! e claaaaaaaro que tu pode adicionar meu blog à tua lista. que honra pra mim! :D

Amanda Lourenço disse...

Rackel, aquela bandeira francesa em forma de véu diz tudo, né?

Marito, O que é esse mala que vc usa no pulso? Não sei o que é...

Luci, acho que tô pendendo pro seu lado. Somos todas oprimidas e em vez de nos unirmos para nos libertarmos, acabamos ficando umas contras as outras, nos acusando mutuamente. Como a minha mãe diz, o torto falando do aleijado!

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