sexta-feira, 15 de abril de 2011

A liberdade zombando da igualdade e da fraternidade

Somos obrigados a ter uma opinião sobre tudo, principalmente sobre os assuntos polêmicos. Contra ou favor ao desarmamento? Contra ou a favor à pena de morte? Eu geralmente tenho uma opinião sobre tudo e adoro dar meus palpites. Mas tem certos assuntos que quanto mais eu me informo, mais indecisa eu fico. Por exemplo, até agora eu não sei dizer se acho a intervenção do ocidente na Libia uma coisa boa. Ao mesmo tempo que eu quero muito que aquele palhaço do Kadafi saia de la, eu sei que uma invasão dessas é super perigosa pra população.

O outro assunto do momento que eu definitivamente não consigo formar uma opinião é a proibição da burca na França. Ja falei muito sobre o assunto aqui, e aqui, e até agora não tenho uma posição. Se por um lado proibir uma pessoa de se vestir como ela quer é uma afronta à liberdade pessoal, por outro lado temos que levar em consideração o contexto de opressão das mulheres de burca. Essa é uma velha batalha das feministas francesas. Eu queria muito que as mulheres que usam burca percebessem que elas não são resistentes ou provocadoras, como gostam de pensar. Elas não levantam um debate util. Queria que elas entendessem que jogam anos de luta feminista no lixo, que assumem que são seres inferiores, que se subordinam aos homens. Usar burca não é rebeldia: é burrice. Se é uma escolha completamente pessoal, por que não tem homens que usam a burca? E o pior: se é uma escolha de cada mulher, por que são os homens que organizam protestos contra a lei e ameaçam com ataques terroristas se o governo não voltar atras?


Até hoje eu so vi duas burcas na França, as duas em Saint-Denis, suburbio norte de Paris com grande concentração de muçulmanos. Da ultima vez o vulto preto estava atravessando a rua com um carrinho de bebê e eu, que estava no ponto de ônibus, fiquei olhando pra tentar observar melhor. Levantei de onde eu estava e fiquei encarando mesmo, até porque eu não sabia se ela tinha me visto ou não. Achei estranho que ela parou de repente e ficou imovel. Depois colocou a mão na cintura (acho) e continuou parada. E eu olhando tentando entender o que tava acontecendo. Dai ela retomou o passo e foi embora. So alguns minutos depois é que me veio na cabeça que ela poderia estar me encarando, do tipo "ta olhando o que minha filha?". E eu senti muita pena dela. Porque ela nem foi capaz de demonstrar seu descontetamento com meu olhar fixo, ela sequer pôde protestar contra a minha insistência. Quer dizer, acho que ela até tentou, mas eu não fazia ideia se ela tava olhando pra mim ou pro céu, se ela estava fazendo cara de brava ou não, se a postura dela era de alguém que se sentia agredida ou agressiva. Uma forma de protesto não muito eficaz, convenhamos.

A questão é: sera que uma lei é a melhor forma de combater a burca? Com certeza é a solução mais pratica, não veremos mais vultos pretos andando por ai e assustando as criancinhas, mas a mentalidade continua la. Acho que é a mesma coisa de bater nos filhos pra educar - vai funcionar superficialmente, mas a lição que fica é que ele pode fazer merda se os pais não estiverem olhando. Ja com a conversa, a criança entende porque não deve fazer merda e não vai fazer mesmo se os pais não estiverem por perto.


Os defensores da burca sabem jogar com as armas que o ocidente fornece. Eles não perdem tempo em bradar aos quatro ventos aquele discurso de que não podemos dizer às mulheres o que elas devem vestir, mas são os primeiros a ditar o que elas não devem vestir e fazer e dizer e agir e comprar e comer e pensar. Eles debocham da cara dos humanistas que defendem a liberdade de escolha, cobram coerência, jogam na cara as contradições. E são argumentos dificeis de rebater, porque a linha é tênue e tudo o que você diz pode ser usado contra você. Como se a liberdade tivesse se tornado de repente a bandeira mais preciosa do Islã.

Apenas em casos especificos previamente determinados pelos homens, é claro.

11 comentários:

Luciana Nepomuceno disse...

Claro, claríssimo. Amandita, eu já disse I lov you? Pois é, I love. E amo imensamente sua inteligência e capacidade de exprimir-se com coerência e rigor. Bjs!

disse...

Assunto dificil... ja' conversei a respeito com uma amiga muçulmana (aquela que casou com o francês) e ela diz de que nao adianta proibir. O que vai acontecer é que essas mulheres não sairão mais de casa. Simples assim. O problema vai continuar sem solução. Alias, não sei existe uma solução contra esses extremistas.

Mudou a sua fotinho no blog? Gostei!

"um teto todo seu" disse...

é necessário avaliar questoes mais gerais. é comum usarem as lutas democráticas para fins que nada tem a ver com essas lutas, inclusive a feminina.
esse texto debate um pouco esse problema:
Opressão em nome da “democracia”
http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=28272

Luna Gandra disse...

Estou contigo na questão de não saber o que opinar. Afinal, são questões culturais. Na verdade seria bom saber a opinião dessas mulheres, o que elas querem. Apesar de que uma vez que a ideologia foi implantada na cabeça de alguém é muito difícil tirar.

Rita disse...

Quanto mais penso no assunto, mais tenho a impressão de que se trata de abuso de poder e arrogância. Eu odeio a burca e tudo que ela representa, mas nao consigo concordar com a proibição. Mas preciso articular melhor meus argumentos e agora nao posso, damn it, quem sabe volto aqui depois ou faço um post-papo.

Bj
Rita

Helena disse...

Assunto complicado mesmo de ter uma posição... mas concordo que isso deve estar muito incrustado na cultura, não vai ser uma lei que mudará isso. As próprias mulheres que usam a burca defendem isso... mas ao mesmo tempo, como disse a Rita, não suporto ver alguém de burca, não consigo aceitar que essa pessoa ali atrás é feliz... complicado mesmo. Mas proibir, definitivamente, não vai mudar em nada a situação delas...

Isabela Mena disse...

Aqui em Londres é ultra comum encontrar mulheres cobertas. Seja com burca ou outros véus islâmicos que cobrem menos, e tanto em mulheres mais velhas como em meninas. E me desperta os mais variados sentimentos. Porque já vi meninas adolescentes que pareciam felizes como qualquer adolescente em bando depois de fazer compras. Ontem, por exemplo, eu tava na lavanderia e ouvi um pedaço de conversa de uma mulher muito amargurada. Ela não usava burca ou véu mas dizia que, por ser muçulmana, não podia casar de novo e tinha sido largada pelo marido, estava sozinha e tal. Nossa, tristíssimo.

José Fernando disse...

É um paradoxo e tanto. Para evitar que as mulheres sejam submetidas pelos seus homens, o Estado as submete com uma lei. Se a pessoa usar essa vestimenta por vontade própria, o Estado estará praticando um ato de ingerência na vida dela, horrível. Imagine se o governo da França decidir que decotes não são apropriados para a sociedade francesa considerando que as mulheres não devem ser – nem parecer ser – objetos dos valores masculinistas. As feministas francesas se equivocaram feio nessa questão.

Vanessa Peres disse...

Amanda, tu parece não ter opinião, mas acho que pra mim ficou muito claro o teu lado: tu é contra a burqa e até a favor da lei. Eu sou absolutamente a favor da proibição, visto que essa roupa NÃO é apenas uma roupa. Tem que ser inocente, e às vezes burro, pra achar que niqab, burqas e lenços são apenas um pedaço de pano que as mulheres querem usar pq acham bonito. Oi?
Tu ja vi uma mulher de niqab comendo? E' a coisa mais imbecil da vida na terra. Eu tava num café um dia e tinha uma mulher de niqab comendo um sorvete enquanto conversava com uma mulher sem lenço nem nada (o que ja ta errado, ela ta andando com uma infiel, ou prostituta, no linguajar dessa religião, né). Ai ta, ela pega e começa a comer o sorvete: ela levanta a parte que cobre a boca, deixando EXPOSTA essa parte do rosto que mostra o nariz, boca, queixo... Um ABSURDO! Tem coisa mais de prostituta que isso? Os caras do bar viram o rosto dela, assim como eu. Isso é ridiculo! Ela nao pode fazer isso!! Lembrando que to aqui no discurso dos extremistas, obviamente nao acho que mostrar a boca seja coisa de puta. Mas né, coerência não é uma coisa que anda muito com as religiões, né...

Gabi disse...

Uma comédia isso !
Os dirigentes islâmicos, que tem de lidar com o fato de seus paises serem arrasados pelos Estados Unidos e OTAN (provocando a morte de famílias e condenando povos à extinção), ampliam ainda mais a desgraça da população e colaboram com o imperialismo ao "emmerder" a vida de suas próprias mulheres. #fato
Os paises do ocidente não são melhores do que os outros, até porque todos os povos devem ser iguais. Mas estes saem ganhando no quesito liberdade, pois conseguiram se desvencilhar - ainda que parcialmente - da tirania TEOLOGICA.
Isso inclui liberdade de escolha para mulheres livres, como eu e você.
E eu vou continuar lutando pra que minha filha possa continuar usufruindo desse direito, o de ser senhora de suas proprias decisões.

Gabi disse...

Ficou confuso ? :-(

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