quarta-feira, 13 de julho de 2011

A criança n°1

A criança n°1 foi a forma que Paris encontrou de dizer "Ei, Amanda, você é bem-vinda aqui!". Todo mundo dizia que era super dificil de encontrar trabalho na cidade, sem falar francês então - era impossivel. E eu, menos de uma semana depois de ter chegado, ja estava cuidando dela. Ja falei da criança n°1 aqui, quando era mais descuidada.

Na verdade, foi a criança n°1 que me ensinou a ser baba. Não a trocar fraldas (ela ja não precisava mais delas), nem a por pra dormir (ela era uma das duas unicas crianças que tomei conta que precisava de companhia pra dormir. As duas eram.... hã.... brasileiras), muito menos a brincar (isso ja eu sabia muito bem). Mas foi com ela que aconteceu a experiência mais aterrorizante que tive com os pequenos e com certeza foi isso que me tornou uma boa baba.

Nos iamos sempre numa piscininha de areia que ficava lotada de piticos. Eram mães, pais, babas e bebês pra todo canto. Dai um dia, depois de fazer mil castelinhos, decidi sentar no banco pra descansar enquanto a criança n°1 brincava com seus amigos do dia. Abri a bolsa pra pegar um jornal e nem cheguei a abri-lo, foi quando uma mãe louca levantou e começou a falar alto e rapido. Eu, que tinha acabado de chegar e não falava nem bonjour, tentei prestar atenção e ouvi:

- Rnkfvrrrrrrrrrrkjfbvk! lkefvnrrrrrrrrrrrrjenvje! Njen ejffklern oegrrrrrrrrjen lenvef ejnn!!!!!!

E a moça ia ficando cada vez mais histérica e ninguém respondia pra ela. E eu olhando, intrigada, querendo saber o que ia acontecer naquela cena sem legendas. Todas as mães/babas/pais começaram a olhar entre si. Dai eu vi a mulher apontando pra fora do cercadinho e gritando mais alto, esperando alguma reação. Então passou pela minha cabeça que alguma criança devia ter fugido e seu responsavel incompetente ainda não tinha se dado conta. A mulher se deu por vencida e saiu correndo ela mesma. Como pode, minha gente, uma criança sair e a pessoa não notar? Ainda bem que a minha criança n°1 esta aqui quietinha e....

CADÊ A CRIANCA NUMERO 1?

Pânico.

Levantei e sai correndo com todos os olhos das mães/pais/babas mirados na minha nuca. Eu pude sentir cada um deles, juro. E ainda pude ler seus pensamentos, o que é ainda pior. Mas o pior mesmo, minha gente, era que a criança n°1 estava correndo em direção à rua e se não fosse a mãe louca, sabe la onde ela teria ido. Quando as alcancei, a mãe começou a brigar comigo e dizer um monte de coisa que eu não entendia num tom bem agressivo. E eu so pude ficar murmurando "je suis desolée", na falta de argumentos melhores. A melhor parte foi que eu ainda tive que voltar na piscininha de areia buscar os brinquedos da criança n°1. Foi a marcha da vergonha, parecia que aquele parquinho tinha uns 5km.

Juro que não tirei os olhos da criança n°1 por mais de 20 segundos. Eu pisquei e ela simplesmente se teletransportou de um lugar pro outro! Como era possivel? Foi a mãe dela mesmo que havia me dito que eu podia ler enquanto ela brincava (e eu sequer tive tempo de ler)! O pior foi eu não entender francês e não poder ter tomado uma atitude a tempo. Fiquei me sentindo a pior das criaturas. Fiquei tão mal, mas tão mal, que pensei que aquele trabalho não era pra mim, que eu devia procurar outra coisa. Contei pra mãe dela o ocorrido e ela disse que ah, essas coisas acontecem mesmo, criança é fogo. Fiquei mais tranquila. Mas a partir desse dia eu fiquei neurotica em ter os pequenos sempre à vista. Passei a triplicar, quadruplicar a segurança deles e escolher passear em lugares que não sejam tão cheios.

Hoje acho que foi um aprendizado. Tudo bem que eu podia ter aprendido de uma maneira menos humilhante, mas ta valendo. Por causa disso eu atingi a incrivel marca de zero crianças perdidas em 4 anos de baba! Sou muito boa mesmo, podem falar.

19 comentários:

Mari disse...

Pois é Amanda, acontece mesmo, mas a gente não se sente menos apavorada ou tola por isso! Eu ja passei segundos de terror pensando ter perdido a Sofia mas era so impressão minha... mas varias vezes eu tive que correr atras dela que por sua vez corria rumo à saida do parquinho! Agora que ela ta aprendendo a andar à pé na rua eu passo muito sufoco... por isso que eu adoro fazer picnic no bois de vincennes...a gente sempre pega uma area cercadinha que facilita muito a nossa vida! E os parquinhos também são escolhidos com esse critério. [Alias obrigada pela dica da TRousseau - adorei e virei habituée!]
So não entendi uma coisa: ela não te ensinou a pôr para dormir porque precisava de companhia para dormir?
Como assim? não ensinou o método francês de pôr pra dormir é isso?
bjus!!!

Amanda disse...

Então, ela ja chegou aqui na França (morou até os dois anos no Br) acostumada a dormir sempre com alguém do lado! Eu tinha que deitar com ela na cama e ficar la até ela pegar no sono. Nem preciso dizer qual das duas dormia primeiro, né?

E da proxima vez que vier fazer picnic no bois não esquece de avisar, né!! Beijo!!

luci disse...

"Ainda bem que a minha criança n°1 esta aqui quietinha e.... CADÊ A CRIANCA NUMERO 1?"

hahahahahahahahahhaha coitada! alias, coitadas! velho, eu perdi o guri por alguns segundos dia desses, bem antes da avoh dizer que ele andava fujao. tenho certeza que foram menos de dez segundos, mas meu coracao soh faltou sair pela boca soh de imaginar a possibilidade de ter que voltar pra casa sem o menino. deus-me-livre.

Fernanda disse...

Criança é assim mesmo!
Minha mãe disse q um dia me encontrou lá em cima escalando a escada da caixa d'água. Ela só ouvia minha voz e quando olhou pra cima quase teve um treco!

Nossa eu imagino a vergonha mesmo!
Mas é bom pq deixa a gente mais cara de pau e no seu caso, deixa mais esperta pra cuidar das crianças!

Como vc mesma disse, foi um aprendizado! :-)

bjs

Rita disse...

Então, antes de ontem eu perdi o Ulisses que saiu caminhando sem rumo enquanto eu tirava fotografia. Ele, as crianças e a sogra, perdi todo mundo! Criança é fogo... hehe.

Falando sério, perder crianças é uma das minhas 200 neuras com eles. Não gosto nem de pensar muito nesse assunto. Ui.

Bjs
Rita

Amanda disse...

Luci, acho que prefiro perder meu filho do que chegar pra mãe de alguém e dizer, poxa, perdi seu filho!

Fernanda, por isso eu acho que sorte é um fator mt importante na criação de filhos!

Rita, mas então não foi vc que perdeu todo mundo, foi vc que se perdeu! :)

Marissa Rangel-Biddle disse...

Oi, Amandita, vc leva o prêmio de melhor babá ever com essa marca maravilhosa de só ter perdido uma criança. Nem te conto como, quando e onde eu já perdi meu menino.

bjs

Gabi disse...

Eu tenho uma francesinha de 4 anos e NUNCA consegui ler sequer uma pagina de um livro enquanto estamos no parque ... e olha que a minha é das mais calmas.
Tenho pavor so em pensar que alguém possa pega-la, que um outro pirralhinho possa bater nela, sei la. Sou mère poule mesmo.
Uma situação que me deixa sempre em pânico é quando eu tento encontra-la entre os amiguinhos, em plena hora do goûter (apos a escola) e não acho.
Dica: na medida do possivel, coloco uma blusinha vermelha ou rosa pra ela se destacar no meio da "multidão", assim fica mais tranquilo pra identificar. ;-)

Mari disse...

Pode deixar Amanda, chamo sim! E vc me chama qdo passar no 66 de novo??? ;°)

Cissa Romeu disse...

Oi Amanda!
Adorei teu blog. Pelo que entendi você mora aí na França, é isso?
Fui duas vezes e adorei, mas como turista, morando... não faço a mínima ideia se ia gostar. Acho que ia sentir muita falta do Brasil e do Rio Grande do Sul!
Mas que post interessante. Ri muito na hora do "teletransporte" da criança n.1, se fosse eu... nossa! Que medo!

Estou seguindo teu blog e convido para visitar e seguir o meu também.
Parabéns! Gostei das "viagens" no teu blog! rsrsrs

Humoremconto
http://anaceciliaromeu.blogspot.com

Flávio Assum disse...

Ahahahaha! Muito bom! Muito bom!

Fernanda disse...

Nossa, Amanda, apenas imagino o seu desespero, ainda mais não falando francês direito... não entender o que esta acontecendo acho que so piora qualquer situação!

Eu tive minhas primeiras "experiências" como baba cuidando da minha sobrinha de 1 ano, ha algumas semanas... No parque não tirava o olho dela um minuto, e olha que ela nem estava andando ainda... mas engatinha rapido pra burro! hahaha

mãe disse...

Bem, em minhas estadas em Paris pude presenciar o fato da minha filha ser baba´com enorme surpresa. Mas como ela aprendeu isso, se sequer teve contato com crianças pequenas durante sua vida de filha única, mimada e só com crianças da sua idade? Fiquei pasma ao ver o carinho, o cuidado e a calma com que os acariciava e falava tão baixinho com tanta ternura. Será que já nasceu sabendo? Vou contar que achei o máximo tanto carinho e fiquei pensando: essas mães são muito sortudas de poder entregar seus filhos a uma pessoa que gosta tanto deles e cuida desta forma.
Este ano tentei por em prática, aqui no Brasil, o que vi vc fazendo quando as crianças iam andando e vc só dizia "atention" e eles imediatamente obedeciam. Faalei pra Mayara como deveria proceder: é só falar bem baixinho "Atention!". Mayara disse que se ela falasse isso, o que poderia ocorrer é que Sophia ia logo estirar a língua pra ela e gritar:não! Esqueci que aqui são brasileiras!
Dequalquer forma nos rendeu boas risadas. Mas devo contar que tentei com o cachorro: Atention BB! Acho que ele não entendeu...

Anônimo disse...

Ô Mandita. Acontece mesmo, viu!? Hoje por ex: Enqnt eu penteava o cabelo, olhei pra trás e lá estava a minha pequena Mari de 2 aninhos. (Esclarecendo que estou longe de ser mãe. UASHAUHSUAHSUHA É minha prima!)
Coisa de segundos, sabe?! Quando olho novamente, ela tinha sumido. Adivinha onde estava? Em cima da cisterna bem na tampa mesmo. Pulando... QUASE TIVE UM PIREPAQUE. ASUHAUHSAUHSUAHUSHHSH

CRIANÇA É FOGO... MESMO!

Anônimo disse...

Por favor, como se diz amizade verdadeira em frances?

Anônimo disse...

If DI YOUNG is with the ZETAS and AMI MANN is TOO...IRA is in NICE?

Aline Moraes disse...

Pode contar como começou a trabalhar de babá? Como pensou nisso e se foste a alguma agência.
Bisous

Luciana Nepomuceno disse...

eu fui perdida e eu já perdi. acontece, mas dói, assusta. e que babá fodona que cê é, hein? bjs

Carol Nogueira disse...

Hahahahaha! :o) Amandita, eu perco um por ida ao parquinho. É normal! Dá uma peninha danada quando é o João, que ele fica muito chateado e chora muito. O Pedro acho que nem percebe que tá perdido. :o) Beijo, beibe!

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