Passei dois anos pensando que quando terminasse o mestrado sobraria tempo livre pra fazer todas as coisas que gostaria de fazer e não dava. Minha motivação pra terminar as dissertações foi pensar em tudo o que eu faria depois do trabalho acabado: nos passeios desapressados, nos longos banhos de banheira, nas visitas aos amigos, nos varios posts que escreveria tranquilamente para o blog. Mas cadê o tempo? Quanta propaganda enganosa contei para mim mesma! Meu dia não tem 30h, como achei que teria depois do mestrado! Ainda mais com minha mãe em Paris.

Então vou começar contando como foi a defesa da dissertação, antes que passe tempo demais. Não posso dizer que havia me preparado bastante, escrevi apenas um texto de uma pagina pra ir me guiando, enquanto fazia observações espontâneas (trabalhar na radio realmente esta me ajudando a perder o medo de falar em publico e improvisar).
Ano passado fiz power point, decorei cada linha do que ia dizer, fiquei nervosa à toa e no fim não adiantou nada, então esse ano fui bem relax. Quer dizer, quase, porque minha mãe estava pra chegar na minha casa e eu estava preocupada se o esquema da chave tinha dado certo, mas nada dela ligar pra me tranquilizar.

Esse ano não tinha ninguém na faculdade, ja que a maior parte da turma vai defender so a partir de setembro, então não pude bater-papo e trocar dicas pra passar o tempo. Ao invés disso fiquei 40 minutos (20 de atraso e 20 de antecedência) olhando para meu telefone esperando minha mãe ligar e xingando mentalmente os professores que não me chamavam pra acabar com aquilo de uma vez.
Confesso que não estava esperando uma nota excelente, ja que eu achei meu trabalho do ano passado melhor (e feito com mais vontade, diga-se de passagem) do que o desse ano. Estava consciente que não haveria grandes elogios, mas eu nunca tive intenção de fazer um doutorado ou seguir carreira acadêmica, eu so queria mesmo aprender e essa parte da dissertação era so um detalhe chato e sem importância pessoal. A nota minima para passar é 10, ja que na França a nota maxima é 20 e uma nota excelente é 17. Ninguém nunca tira a nota maxima. Ano passado eu tinha que tirar no minimo 14 pra poder passar pro segundo ano do mestrado, mas esse ano não tinha essa preocupação.

As professoras chamaram e eu comecei minha apresentação. Fui interrompida no meio e uma delas delas disse "Isso tudo a gente ja sabe, conte alguma coisa nova. O que você mudaria no seu trabalho?". Acho que se eu tivesse uma terceira dissertação pra defender na França (bate na madeira) não prepararia nada, porque é perda de tempo. Pô, a gente perde o maior tempão preparando a apresentação e acaba sempre improvisando tudo. Mas até que foi legal desse jeito, pois a coisa descambou mais pra uma conversa informal e não teve aquele climão. Mas isso é na minha faculdade, viu gente? Não sei se nas outras universidades os professores também fazem isso. La eles não gostam muito de formalidades não, para minha sorte.
A primeira coisa que falaram, era que tinha um erro de francês (na verdade de digitação) no titulo. De novo. Duas dissetações, dois erros no titulo. Que coisa! Olha que otima primeira impressão que me esforço em passar para os professores! Pensei que minha média ja tinha caido pra uns 7.
Criticas, muitas criticas. Alguns elogios. A critica que me tocou mais foi uma parte em que eu escrevi algo como "esse trabalho vai tentar analisar se as razões do conflito são de origem historica, cultural, economica ou simplesmente ideologica" e ela rebateu: "Como você estudou aqui dois anos e ainda fala em 'simplesmente ideologica'? As maiores guerras do mundo foram feitas por ideologia!". Ops. Eu não quis dizer que era simples, foi so um vicio de linguagem, sabe? Mas fiquei super sem jeito.
Alias, elas analisaram mais o meu francês esse ano do que no ano passado. Pegavam cada palavra, cada frase pra discutir como se eu tivesse deliberadamente escolhido cada uma delas, mas que na verdade, em muitos casos era apenas fruto da correção. Isso rendeu o climax da minha defesa, ja que uma das professoras disse em determinado momento:

- Achei muito interessante a escolha dessa palavra aqui. Eh verdade que ela cabe nessa situação, mas pode ser extremamente controversa. Foi uma decisão bem particular de ter falado em 'tal palavra' nessa situação. Quais razões que te levaram a escolhe-la?
A essa altura eu achei que ja estava tarde demais pra dizer que eu não sabia sequer o significado da tal palavra, que provavelmente ela foi trocada na correção e me passou completamente despercebida. Eu que não ia admitir isso e então comecei, confiante por fora, gelatina por dentro:
- Bom, eu acho que essa palavra traduz exatamente o contexto desse caso particular. Eu hesitei um pouco, mas acabei tendo certeza de que ela cabia bem nesse caso especifico, apesar de extrema. Você não acha? Ela fez um "hum-hum" e continuou. Ufa!

No final das contas, tive uma nota bem maior do que a esperada: 14, a mesma do ano passado. Ueba! Com um porém: tenho que corrigir umas coisinhas até setembro, mas é coisa basica que não vai dar muito trabalho. Na verdade posso escolher entre ficar com 13 com o trabalho atual, ou passar pra 14 com as correções. Mas como são mudanças simples, vou fazer. Resultado final: feliz, uma tonelada a menos das costas, com menção bien, livre e pronta para a proxima etapa!