sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ainda sobre o islamismo na França

Sobre o meu post anterior e seus comentarios, não devemos confundir imigração com o aumento do islamismo na França. Apesar de os dois estarem de certa forma relacionados, são completamente diferentes. Vocês não vão me ouvir nunca falar mal de imigração, até porque eu acho o fim da picada imigrantes falarem mal de imigração. Acho sim, que a França, assim como todos os colonizadores, vacilaram muito com os paises subdesenvolvidos e eles deveriam ter todo o direito de vir pra Europa recuperar o que foi tirado deles. Em vez de reclamar do fluxo migratorio ilegal, os paises desenvolvidos deveriam ser obrigados a ajudar o desenvolvimento dos paises pobres, assim ninguém mais iria querer vir. Acho essa coisa de preservar a pureza dos franceses ou de qualquer outro "povo" uma tremenda besteira, eu queria mesmo era que todo mundo se misturasse de vez pra acabar com qualquer tipo de racismo.

O negocio é que não são apenas os imigrantes que estão trazendo o Islã pra Europa. Como eu ja disse, os imigrantes da geração passada chegaram na França com o desejo de ter uma vida melhor, então eles não estavam preocupados em rezar cinco vezes por dias ou em saber qual direção exatamente ficava Meca, eles estavam ocupados trabalhando, ganhando seu dinheirinho, não tinham tempo a perder e foram se desligando da religião. Mas dai que seus filhos e netos, que apesar de não serem mais magrebinos, viraram alvo de preconceito na França: não conseguem emprego por causa do sobrenome, são acusados de gentalha pelo governo francês, etc etc, então eles fazem o que ha de mais humano - se mostram exageradamente orgulhosos de suas raizes. E se usar veu incomoda esses franceses estupidos, vamos la comprar um veu bem bonito. Quem sabe eu não faria a mesma coisa?

E tem a conversão de alguns franceses ao islã. Não chega a ser um fenômeno, mas existe. Eu conheço uma francesa de 20 anos que passou a usar o veu por causa do namorado. Então o assunto não é imigração, mas o aumento da religião muçulmana na França.

Como disse o José Fernando, cujo comentario alias, foi melhor que meu post, o problema é o fundamentalismo religioso, seja ele islâmico, catolico, evangélico, budista. Talvez eu não tenha sido clara no ultipo post, ja que não usei palavras como radical ou fundamentalista, mas é que eu acho que toda religião pura é radical e fundamentalista. O catolico de verdade é tão radical quanto o muçulmano, a diferença é que quase não existe mais catolicos de verdade nos paises ocidentais. As pessoas se dizem catolicas por convenção, mas ninguém deixa de ir à praia domingo pra ir à missa. Agora, os muçulmanos são diferentes, eles realmente seguem a religião, eles não comem porco, eles fazem o Ramadã e ficam 40 dias sem comer durante o dia! A gente não come carne na semana santa e ja acha que esta fazendo um grande sacrificio.

Acho sim, que quando religião toma espaço demais na vida publica é um retrocesso no desenvolvimento humano. Sobre religião e mulheres, ja falei no texto "Quando deus é o chefe do homem e o homem é o chefe da mulher" (acho que esse foi o post mais popular do blog, inclusive uns retardatarios islâmicos que descobriram o texto meses depois dele ser publicado e se manisfestaram com toda a educação e o respeito que as religiões ensinam #ironia). Então me preocupa essa onda de conservadorismo, como disse a Aline nos comentarios, que nesse momento esta vindo na forma de islamismo. Meu problema não é com o islã, nunca vou dizer que os muçulmanos são o problema da França. O problema é o retrocesso, que seria exatamente o mesmo se todos os franceses decidissem voltar às suas raizes catolicas. Seria resgatar o espirito francês? Não, seria simplesmente um retrocesso tão grave quanto o que estamos discutindo agora.

4 comentários:

disse...

Amanda, eu não tenho a mesma impressao que a sua. Parece que moramos em 2 cidades diferentes!

Nao vejo nenhuma onda de conservadorismo em forma de islamismo. Vejo o contrario: o conservadorismo vindo dos franceses, que talvez ja' estejam de saco de cheio de tantos imigrantes.

Também conheço uma francesa que se converteu ao islamismo e usa até véu, depois que começou a namorar um tunisiano bem radical (os 2 trabalham com o meu marido), mas a menina ja' nao batia bem da cabeça antes, entao vejo isso como um caso isolado.

O que vejo é muitos muçulmanos adotando costumes ocidentais. De todos os muçulmanos com quem trabalhei, nenhum deles era radical. Nenhuma das meninas usava véu. Nenhuma casou virgem. Duas amigas minhas moraram com o namorado antes de casar. Claro, que muitas coisas sao feitas às escondidas da familia no Magreb, que em geral, é bem tradicional. Mas ao mesmo tempo elas respeitam algumas regras como nao beber alcool, fazer o Ramadan, nao comer porco. Eles me ensinaram muita coisa sobre o islamismo, que nao é apenas uma religiao machista cheia de regras estranhas. Claro que tem uma porcao de coisas com as quais nao concordo, mas tem um lado muito bonito dessa religiao. Um amigo meu até brincou que ele é um muçulmano 2.0 pq ele é bem moderninho (esse comia até carne de porco!).

Amanda disse...

Oi Dé, mas então, esses muçulmanos ja estão integrados! Eles têm um bom emprego, têm dinheiro e tal, então não sentem aquela necessidade de "desafiar" a sociedade. Então se vc se basear nos islâmicos que têm uma vida confortavel, com certeza vai chegar a essa conclusão. Eu tbm conheço pessoalmente mais aqueles que não usam veu e comem carne, do que os radicais, mas eu sei que eles existem em grande numero. Eu estudava em Saint-Denis e ia pra la de ônibus, então ja presenciei muito absurdo.

Quanto aos franceses conservadores, isso sempre existiu, né? E depende muito do meio em que se vive. Eu não conheço uma so pessoa que vote no FN, por exemplo.

Rita disse...

Oi, Amanda. Já falei pra vc lá no twitter que achei este post bem esclarecedor e que outras interpretações podem ter achado espaço no finalzinho do post anterior. Seja como for, crystal clear now. Bj
rita

Aline Mariane disse...

ufa! agora sim ficou claro - já suspeitava que era essa a sua opinião ;)

Como a Dé, também só conheço muçulmanos tranquilos. Gente bem religiosa no sentido espiritual e bem mente aberta. Véu, ramadã e carne de porco são como depilação, greve de chocolate ou carne de coelho pra mim, um mero detalhe que tem sim suas origens sociais-repressoras mas hoje são parte duma crença (hábito?) pessoal, que não interfere na vida de ninguém outro que si próprio!

Bjss!

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