terça-feira, 29 de março de 2011

Recolhendo as expectativas

Adoro expectativas quebradas. Tanto quanto eu quebro, tanto quanto os outros quebram. Não tem nada melhor do que descobrir que o que parece não é, que o que eu tinha certeza é falso. Adorava a cara que as pessoas faziam quando eu (aquela menina doce e desengonçada, que demorava três horas pra comer) dizia que era a terceira melhor nadadora do Rio de Janeiro. Ou a expressão dos desconhecidos quando me viam com o cabelo raspado na rua. Ou o espanto dos amigos de rave: "Como assim você NÃO TEM tatuagem?".

As pessoas te conhecem e traçam uma linha que define o que você é e o que você não é capaz de fazer. Lembro quando eu era criança, colocava mentalmente meus amigos em situações imaginarias e tentava adivinhar suas atitudes, coisas bobas: sentar no chão da rua pra comer um sanduiche - a Camila não faz, nem a Fabi. A Elaine faz. A Soraia? Se eu fizer, ela faz também. E provavelmente eu acertava quase todas as respostas baseadas no conhecimento que eu tinha sobre meus amigos. Dai quando alguém fazia algo fora dos seus padrões, era tão legal! Olha la, fulana esta jogando futebol com os meninos! Eu sempre quis quebrar expectativas quando criança, mas so fui capaz de fazer isso na adolescência.

No fim do ano passado conheci uma brasileira, como dizer?, que cumpria todos e cada um dos estereotipos da brasileira gostosona. Mulata, altissima, corpão, cabelo afro ao natural, cheirosa, vaidosa, simpatica, sorridente. Um amor de pessoa. Super animada. A beleza dela era tão desconcertante que a gente até esquecia o que estava dizendo no meio da frase. Tipo assim, o sonho de qualquer carnavalesco. E o que a moçoila faz da vida? Modelo? Rainha da bateria? Cantora-atriz-manequim? Nada disso, ela é cientista. Simples assim. E eu daria tudo pra ver a cara dos gringos babões quando ela abrisse a boca pra dizer, de pernas cruzadas com uma taça de vinho na mão: "Sou cientista e estou concluindo minha tese sobre...". Recolhe o queixo, por favor.

Nada mais monotono do que pessoas que fazem exatamente aquilo que você acha que elas vão fazer. E o pior: ainda acham que é surpresa.

11 comentários:

Helô Righetto disse...

post perfeito pra hj amandita!! adorei! como sempre, fico babando nos seus posts!

luci disse...

a senhora ja me surpreendeu muito naqueles emails trocados ahhahahahaha soh nao vou espalhar aqui que voce tem um penis porque eu prometi segredo. e tbm porque eu ja espalhei que voce tem uma micro-vagininha, chega de fofocar. :)

Elaine Cris disse...

rsrs... Também adoro. Quebra de expectativa é ótima porque é uma prova de como preconceito é uma coisa idiota.
Acho que também quebro algumas.

Abçs

José Fernando disse...

Pois eu estava na maior expectativa de que seu próximo post fosse uma tremenda análise geo-política-sócio-afetiva-econômica-emocional da Líbia e arredores. Quebrei a cara, né? Quem manda criar expectativas!

Rita disse...

Puta que pariu (choquei?), como eu adorei esse post. Não consigo dizer o quanto, você nunca vai saber.

:-)

Beijos
Rita

Anônimo disse...

Nossa, Manda! É o que tem me irritado ultimamente. Essa coisa de "prever" o que vou fazer tá me deixando "incucada", sabe?! Eu sei que todo mundo não é só aquilo que se pode ver, mas as pessoas têm sido previsíveis demais quando falam sobre mim...

:~ Um dia, eu as surpreenderei. #hihi


/poste delicioso, viu?!

Anônimo disse...

E quando o povo se decepciona se vc rompe a linha que eles inventaram e magoam?
Dá um cansaço.
Bj

Trança *Nagô* disse...

TEXTO MUITO BOM!!!
tomei a liberdade de publica-lo em nosso blog !!

Att.
Fabio Alves
trancanago.blogspot.com/

Luciana Nepomuceno disse...

Perfeito. Perfeito. Perfeito. Ah, o seu texto já está na Graúna, viu. Bjs agradecidos

Marissa Rangel-Biddle disse...

Ai, Amanda, que texto MARA!

Pessoalmente, eu nunca tinha me tocado desse negocio de quebrar expectativas. Dei uma olhada no passado e comecei a ver os lances acontecendo aqui e ali tal. Tenho uma amiga negra que é bailarina clássica ( acho que quando usamos um exemplo no contexto racial, tudo fica mais delineado) enquanto todos esperam que ela só pudesse - soubesse - sambar.

Beijinhos,

M

Flávio Assum disse...

Eu que estou de queixo caído aqui, mas também não é novidade. sempre fico depois de te ler... beju!

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