segunda-feira, 27 de julho de 2009

Contadores de historias

Existe um abismo entre a qualidade do jornalismo no Brasil e na França. Pra começar, é muito dificil ser jornalista na França. Não existe um curso de graduação, qualquer pessoa com um curso superior pode tentar seguir a profissão. Tentar... Mas conseguir é bem dificil. Conheço varias pessoas que não passaram. Para se ter mais chances, ha as escolas de jornalismo, so que elas são super caras (Sarkozy esta conseguindo elitizar a educação) e muito dificeis de entrar também. Uma amiga disse que desistiu de tentar, porque além do preço, o candidato tem que estar hiper bem preparado, saber de TUDO o que acontece no mundo. Alguma semelhança com o Brasil? Não, nenhuma.

Os cursos de jornalismo no Brasil pipocam em cada esquina. O meu, que dos particulares é um dos melhorezinhos, foi uma tremenda porcaria pra quem quer ser jornalista na pratica. Sim, aprendi muito sobre a teoria da comunicação, sobre as técnicas de escritura, sobre as cinco perguntas basicas, sobre a sociedade do espetaculo, sobre os fenômenos de massa. A gente aprendeu bem como dizer, mas nada sobre o que dizer. Somos tecnicos de comunicação. Vai pedir pros estudantes apontarem Nova York no mapa, nem metade acerta.

E dizer que tem gente que ainda ficou revoltada com a não-obrigatoriedade do diploma aprovada nesse ano no Brasil.

O resultado disso tudo? Jornais de baixa qualidade, matérias superficiais, e titulos inacreditaveis. Matéria destacada do Globo online de maio: "Bebê leva 20 mordidas na cheche" e continuava: "O agressor, apenas 2 anos...". So uma pergunta: COMO ASSIM? Desde quando crianças mordidas na escola é noticia? Sera que num mundo tão grande, nada mais interessante acontecia? O mais incrivel eram os 100 comentarios de leitores revoltados e um deles disse que 'deviam eliminar fisicamente o agressor'. Ah ta. Cada povo tem o jornalismo que merece, é isso?

Na França o jornalismo é bem mais sério. A maioria das matérias são profundas e explicam o conflito, não te jogam o basico 'duas pessoas morreram e três ficaram feridas num ataque terrorista na capital do Iraque no final da tarde de ontem'. Blablabla. Cadê o contexto? Aqui na França eles explicam a situação, o porquê, o que levou àquilo. Aqui as pessoas conhecem politica internacional, sabem o que acontece no mundo. Se o povo brasileiro não tem interesse, talvez seja porque o jornalismo não tenta explicar nada na linguagem dele. Se quando o cara tenta fazer algum esforço e da de cara com um texto que não entende nada, desiste facil. Sou a favor de um jornalismo de forma mais simples e de conteudo mais aprofundado. Tipo, explicar por cara de forma tão facil de ler, que ele vai acabar entendendo sem ter que se esforçar muito. Afinal de contas, tudo o que acontece por ai, seja um bebê mordido ou a crise nuclear, é são historias a serem contadas. Pra que complicar a narração?

19 comentários:

disse...

Oi Amanda,

Realmente é flagrante a diferença de qualidade do jornalismo entre a França e o Brasil. Uma coisa que brasileiro ADORA é sensacionalismo.

Algo que me marcou recentemente foi o acidente da Air France. Enquanto aqui na França os jornais se concentravam mais nos fatos, no Brasil eles fizeram um imenso sensacionalismo (e invasao de privavidade) com as vitimas do acidente. Descobriram tudo da vida de cada vitima, foram atras dos familiares para entrevistas lacrimejantes, nao respeitaram a dor das pessoas proximas. E o pior de tudo é que é isso que o povo gosta.

Mas como vc mesma disse, cada povo tem o jornalismo que merece.

luci disse...

mas perai, nao entendi. o que tu acha dessa de nao se exigir mais diploma de jornalista no brasil?

Unknown disse...

Hoje eu gostei do seu post. O jornalismo do Brasil e a cara da Sonia Abrao da Redetv. A imprensa gosta de ser urubu. Fica em cima das vitimas/algozes que nem carniça. Sensacionalismo aqui no Brasil vende e dá audiencia. Essa medida do STF pouco vai adiantar pra melhorar a qualidade do nosso jornalismo. Realmente a questão da educação é mais profunda. A reforma deve ser geral.

Nilson disse...

Concordo inteiramente contigo, dos jornais daqui só consigo ver a capa e olhe lá.
Mas vou deixar a pergunta, se não houvesse essa obrigação do diploma, será que as faculdades de jornalismo seriam tão procuradas e existiria uma em cada esquina? ou realmente só iam ficar nas aulas a maioria dos alunos que realmente quer estudar?

Amanda Lourenço disse...

Pessoal, mas sera que se a gente empurrasse um pouquinho de conhecimento de melhor qualidade para os brasileiros eles não se acostumariam, não? Talvez se interessariam um pouquinho mais. Eh a velha historia do Tostines. Pq tipo, apesar de aqui na França o jornalismo seja de maior qualidade, tem tbm algumas revistas sensacionalistas, fora as de fofoca!

Nilson, então, não existe mais essa obrigação do diploma e eu acho que as faculdades vão esvaziar sim. Na verdade eu acho uma bobagem se exigir um diploma de jornalista. Acho que vale muito mais a pena fazer uma outra faculdade, tipo historia, sociologia, ciências politicas, relações internacionais, do que gastar 4 anos num curso de jornalismo onde metade é teoria da comunicação e metade é técnica de redação, sem ensinar nenhum conteudo, tipo geopolitica mesmo! O que adianta saber como dizer se vc não tem nada para dizer? Dai o pessoal so fica copiando as idéias dos outros e acaba que a mesma matéria sai em todos os jornais, com palavras diferentes. Mas depois, acho valido cobrar um curso de 1 ano para aprender sobre a pratica do jornalismo mesmo, que é tempo mais que suficiente.

Anônimo disse...

Eu só ñ entendi dos argumentos pra eliminarem o curso, parece q dessa forma toda a área de humanas vai ter o mesmo fim!

Anônimo disse...

Ai Amanda! esqueci de dizer eu tenho uma teoria pra explicar esse vacuo no jornalismo brasileiro!!!É copia do modelo americano, não mangue de mim pelo lugar comum da coisa. Aqui amiguinha se vc não for atrás de notícias de jornais europeus, q estão no canal público, mas q ninguém vê por serem longos (chatos mesmos)etc e tal, tá isolado do mundo, fechadinho como a maioria do povo aqui é...
Lembra do texto q fiquei c/ vontade de escrever sobre as manias americanas, quando li o seu sobre o parisience, desisti...Ia ser todo negativo, com uma coisinha ou outra sobre as facilidades de consumo e espaços físicos, somente, fiquei deprimida e desisti...Sem perguntas do tipo "o q vc's estão fazendo aí então?", por favor, ok?

Amanda Lourenço disse...

Ah Rosa, faz sua listinha tbm! Da um toque de humor, dai as criticas parecem menos severas! Eu nunca fui nos EUA, mas as impressões positivas que tenho dai é a grande variedade de lazer, tipo hollywood, as séries (sou viciada em muitas) e tbm a possibilidade de viajar de carro pelo pais todo. Vc mora na Florida, né? Desde que vi aquele filme 'Meeting the Fockers', morro de vontade de ir morar num lugar como aquele.

Sobre o modelo de jornalismo americano, eu não conheço muito, mas o que vc disse faz todo o sentido mesmo. Mas tem a CNN que, se não é mt imparcial, pelo menos vai buscar as noticias na fonte, não?

Anônimo disse...

Eu tive a sorte de viajar assim, comendo poeira e vou te dizer, é muita terra... fizemos o triângulo; saímos de Houston/Tx, onde vivemos por dois anos, até Oregon onde paramos por 7 meses, Nadir nasceu lá, seguimos pra NYC q ñ me pareceu nada com Sexy end City e voltamos pra o Sul, parando na Florida pra construir o barco [$] e voltar pra Europa pq a metalidade social daqui não me entra!Qd se tem filhos a coisa muda. Quero viajar por aí q falta outro pedação de terra pra conhecer, kkkk

Depois da tv digital pegamos o sinal da DW em inglês e tem a Wpbt (http://www.channel2.org/)q se pode respeitar, o problema é q esse exemplo não se copia.
O reto é como se fosse o Jornal da Globo em inglês (ou espanhol)sem tirar nem por...Por isso q tendo dinheiro um dia, eu vou fazer uma fundação pra apoiar esses canais (incluindo a Cultura/Br)
Abç!!

Aline Mariane disse...

Oi, Amanda
Comentario pra dizer que sou fã do seu blog, apesar de nao deixar comentarios! hehe
Bjss!

Unknown disse...

Eu acredito que o que vai salvar o jornalismo tupiniquim é justamente essa valorização do texto, das informações, esse aprofundamento. Existem estudos que indica esse como único caminho para assegurar o futuro do jornalismo impresso, principalmente os jornais. A partir do momento em que a imprensa abandonar essas fórmulas jornalísticas que não cabem em todos os contextos, LEAD, nivelar por baixo etc., vamos pra frente! hahahaahha O povo se apega a umas coisas e esquecem outras muito mais importantes no jornalismo, como transparencia ética! Po, mas existe bom jornalismo aqui, poucos exemplos, mas existem. A Piauí é um exemplo, ótima leitura.
Bom, concordo com vc, esse resgate do jornalismo com características literárias salva mais que ctrl+s!
Se eu tivesse uma publicação, te contratava, muito bom texto!

Anônimo disse...

Por aqui as coisas andam somente caminhando para o que vende, que é a desgraça alheia: doença, pobreza, morte. Isso tudo sendo "contextualizado" longe da classe média - que é a vítima - e perto dos pobres - na maioria, os culpados.

É muito difícil de ler jornal e assistir televisão. A gripe suína, por exemplo. Já deu o que tinha que ter dado, morre muito mais gente de gripe comum e de dengue, mas o que é "in" é andar de máscara e o jornal Hoje ensinar a lavar as mãos...

Assim ninguém mais pensa na merda do Sarney, nas escolas públicas sem professor, nos bairros sem saneamento básico. Enfim, desculpa o termo, mas está FODA.

Amanda Lourenço disse...

Rosa, eu entendo sua sede por uma cultura mais 'velho mundo' pros seus filhos.

Oi Aline! Eu adoro suas aventuras em Dakar tbm! Legal vc por aqui!!

Marito, adorei saber que vc me contratava! Hehehe! Eu tbm te contratava, viu? O problema é que os grandes não contratam a gente, so se a gente disfarçar muito! E entrar na onda deles.

Eh, Paula, acho que o lado bom é que não tem como ficar pior! Acho que falta um novo jornalismo no Brasil, pq publico tem! Vejo todo mundo reclamando! Quando aparecer um pessoal com novas idéias, acho que esse quadro muda.

Cris Chagas disse...

O Globo on line é péeeeeeeeessimo! Acho q consegue ser pior q o dia kkk

Além das pautas serem ruins, as matéria são mal escritas. Aliás, nem sei como aquilo passa...

Agora, eu posso garantir q existem jornalistas melhores q esses por aí, sem emprego, mal empregados ou fora da área.

E nem estou falando de mim hahaha Sou formada em jornalismo, mas só digo que sou jornalista em último caso e pra simplificar kkk (minha 1a formação foi é em rádio e tv...) Vc se formou por qual universidade?

Carol Nogueira disse...

Amanda,
Concordo com tudo. E acho ainda que a imprensa francesa é tão madura que sabe fazer jornalismo corporativo - sobre o lançamento de um produto, por exemplo - sem ser jabá ou matéria preguiçosa. Eles sabem escrever pensando no leitor.
A única coisa que eu acho é que talvez você tenha se esquecido do jornalismo investigativo brasileiro, que é reconhecidamente um dos melhores do mundo (até porque a gente precisa, com a quantidade de maracutaias esperando serem descobertas!). Nisso, sinceramente, nos acho melhores que os franceses, que praticamente não investigam o poder. Talvez porque precisem menos que a gente mas eu, sinceramente, não acredito na limpeza total de governo nenhum no mundo.

destinoparis disse...

olá amanda,
tudo bem?

fuçando pela "blogsfera", encontrei o seu blog. li e gostei. vou adicionar um link para saber sobre suas atualizações.
estou estudando a língua françesa e pretendo ir a paris para estudar oque ainda não sei.

au revoir
felippe


www.estouindopraparis.blogspot.com

Diogo Ottoni disse...

Tô estudando francês e achei seu blog por acaso. E como sou bem adepto da filosofia de elogiar sempre que algo/alguém merecer, resolvi vir aqui pra dizer que seu blog é delicioso. É, essa é a melhor palavra que achei pra descrever a sua escrita("O francês e a arte de não usar pronomes" é fantástico!). Li todos os posts de uma vez, e fiquei com uma leve crise de abstinência quando percebi que não tinha mais o que ler.Droga! Bem, era isso.=)

Amanda Lourenço disse...

Poxa Diogo, depois de um elogio desses, ganhei meu dia! Brigadão!!

Amanda Lourenço disse...

Carol, é verdade que nem pensei em jornalismo investigativo. Minha base de comparação é sempre inter, que eu tenho mais interesse. Olha, pra dizer a verdade me desanimo a ler politica brasileira, é tão frustrante! Parece que a gente não evolui, sabe?

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