sábado, 4 de julho de 2009

Petits boulots d'été

Por causa de uma maior igualdade social, a França tem um fenômeno que não temos no Brasil: os trabalhos temporarios de verão.

Durante as férias, muitos estudantes procuram um jeito de ganhar uma graninha extra e encontram a solução nos empregos de férias, que começa a partir de agora e vai até setembro, dependendo do curso. Vale tudo: lavador de louça, garçon, caixa de supermercado, estoquista, baba, arrumadeiro de quarto de hotel, animador em colônia de férias, o negocio é conseguir levantar um pouco de argent de poche, ‘dinheiro de bolso’ como eles chamam aqui.

Acho interessante porque praticamente todos os estudantes fazem esse tipo de ‘subemprego’ nem que seja pelo menos uma vez na vida. E isso é super importante para a classe média dar valor ao trabalho não intelectual, o trabalho pesado mesmo. Até o Sarko ja fez! Parece que não o suficiente, mas fez. Imagina so no Brasil se um estudante de segundo grau de uma escola particular ou de uma faculdade viraria caixa de supermercado no verão?! Primeiro que ele ia ter vergonha dos amigos o verem trabalhando la, e segundo, que o salario de um caixa de supermercado não vale nada para a classe média. Imagina trabalhar 9 horas por dia, provavelmente fins de semana, e ganhar 400 reais? Isso a mamãe da de mesada, oras! Por isso as classes sociais não se misturam no Brasil. Elas vivem em mundo diferentes. E o adolescente que acha que não vale a pena trabalhar por 400 reais, nunca vai descobrir por conta propria que a maioria da população ganha isso pra sustentar a familia inteira. Ele so vai ler essa noticia no jornal e ignorar, pois essa realidade esta muito longe dele. No maximo ele vai se solidarizar com a empregada da familia, mas nunca vai se comparar à ela.

Faz parte da formação do carater de uma pessoa compreender a situação dos menos favorecidos e no Brasil essa tarefa fica muito mais dificil se existir um abismo entre as classes por causa dos salarios desiguais. O unico contato que os ricos tem com os pobres sao seus porteiros, suas empregadas/escravas do lar, sempre em uma relação de superioridade.


10 comentários:

Cris Chagas disse...

Adorei seu post. Estava falando disso outro dia. Muito importante para a formação cívica de uma pessoa esse "trabalhinho de verão" que parece coisa de adolescente, mas no fundo faz o jovem, por experiência própria, saber o que aquelas pessoas passam no seu dia-a-dia.

Além de dar mais valor ao dinheiro, acredito também que gere um maior respeito ao trabalho e ao trabalhador.

Portugal, como vc deve ter notado, é um meio de caminho entre o Brasil e os demais países da Europa. Aqui, a população ainda é um bocado elitista, mesmo assim está muuuuuuuito longe do se vive (e de como se pensa) no Brasil.

luci disse...

perfeito! é mesmo curioso isso aqui na frança! camilo ja foi pedreiro, entregador de lista telefonica, vendedor de peixe e trabalhou num matadouro de porcos. ele dizia que se sentia um pouco envergonhado no matadouro de porcos porque pra ele era soh um empreguinho de verao pra ele juntar uma grana e viajar, mas pra muita gente ali era o emprego pra sustentar a familia.

mas você falou uma coisa engraçada da classe media: "Primeiro que ele ia ter vergonha dos amigos o verem trabalhando la..." pois é, no brasil é sinonimo de vergonha trabalho entre os jovens de classe média. parece a coisa mais estranha do mundo: trabalho.

e vai parecer um pouco de perseguição, mas eu tava falando com camilo sobre essa questao de ter uma empregada domestica em casa essa semana. a gente tocou no assunto por causa de uma ex-baba de um amigo brasileiro que tah morando na casa dele e que fica se metendo na vida do cara, chamando as amigas dele de puta, galinha (eu, inclusive) e que ele nao gosta disso, mas que nao pode fazer muita coisa porque ela foi baba por muitos anos. empregada domestica é aquela figura que nao é bem um empregado qq, mas tbm nunca chegara a ser "da familia", eh uma situacao muita chata. por isso minha mae aboliu o servico em casa ha muitos anos. fora a exploracao!

como sempre, otimo post, amanda!

Unknown disse...

Quer dizer que se eu nao arrumar um empreguinho de verao eu serei considerado elitista? O que tem de errado em ser elitista? Prefiro ser elitista do que ficar fazendo essa droga de trabalho, humilhacoes e receber quase nada... Isso é problema do Governo, do Estado. Somos obrigados a eleger políticos para ele pensarem e dar emprego e condicoes pros outros e nao a classe media...
Esse negocio que os jvoend franceses fazem nao passa de excentricidade...

Bel Butcher disse...

Não é só na França essa atitude. Em boa parte dos países europeus e da América do NOrte. Tentem despistar, mas fica difícil não dizer "ricos" ou "desenvolvidos".

No Brasil, o único problema é que o "filhinho de papai" que quer virar caixa de supermercado para ganhar um troco extra "roubará" um emprego de quem realmente precisa. E aí, o preconceito pode ter um efeito inverso...

Patrick disse...

Outro aspecto importante é a educação pública universal. Dos 11 aos 14 anos eu estudei na Espanha e na minha turma havia o filho de gari, de pedreiro, de caixa de supermercado, de físico presidente do conselho nuclear nacional, de vizinho do ministro da educação, etc.

Patrick disse...

Apenas para deixar uma nota otimista: dos 15 aos 17 anos, fiz o nível médio numa escola pública aqui no Brasil, a Escola Técnica Federal do RN, com o mesmo mix de alunos que havia na escola pública da Espanha. Nos últimos 6 anos, essa escola ampliou sua presença de 2 para 12 unidades no meu estado (Rio Grande do Norte). Por outro lado, quem vem regredindo é a Espanha, onde governos conservadores vem tentando criar condições para a saída da classe média das escolas públicas:

- Modelo neocon para la educación en Madrid

- La educación segregada ni molesta ni alarma. Entrevista. Lucía Figar es consejera de Educación de la Comunidad de Madrid

Amanda Lourenço disse...

Cris, ai em Portugal tbm tem esses trabalhos de verão?

Luci, o exemplo do Camilo é perfeito pro assunto. Viu, até em matadouro ele ja trabalhou! Tem que ter estômago, né? E é verdade sim que os brasileiro têm vergonha de trabalhar! Eu lembro no meu primeiro emprego (17 anos) numa casa de festas infantil onde eu era monitora e uma vez achei que um ex-namorado era um dos convidados. Implorei pra me liberarem do trabalho aquele dia pq fiquei com vergonha que ele me visse trabalhando la! Eh mole? E essa historia da baba é fogo. Pq acho que baba, quando se precisa não tem jeito, se não tem lugar na creche, ou avos pra tomar conta, mas empregada acho completamente desnecessario.

Asnalfa, você não entendeu mesmo o espirito da coisa. Que pena.

Eh verdade Bel, tem essa historia de roubar emprego dos outros no Brasil tbm. Mas acho que a maioria dos colegas ia reconhecer o esforço da pessoa sim, ia dar uma força. Eu ja trabalhei de garçonete num hotel de luxo e o pessoal sustentava familia com o mesmo salario que eu. E eles diziam que era legal ver alguém tão jovem dar valor ao trabalho!

Poxa, to vendo que dei tanto valor aos 'subempregos' que não largo deles nunca mais! Tbm ja trabalhei em plantações durante 6 meses, ja limpei banheiro, escritorios e agora, baba. Quando vai chegar a hora de ter um 'super emprego'?? :)

Patrick, vou ler os textos que vc recomendou. Mas olha, aqui na França o Sarko ta indo na mesma onda da Espanha. Ano que vem, metade dos professores aposentados não serão substituidos. Ele vai aos pouquinhos, mas no fim vai fazer um grande estrago!

Rackel disse...

Olha, vou te falar que caixa de supermercado nunca fui não, mas já trabalhei em emprego de verão - o famoso extra natal. Fui vendedora de loja num shopping e nem adianta dizer q isso não é subemprego pq é sim. O salário base é o mesmo de um caixa de supermercado, só aumenta com a tal comissão, q nem é lá grande coisa...

Ah, outra coisa: tenho algumas amigas bem filinhas de papai que fazem ou já fizeram o mesmo pra ganhar um dindim extra pra viajar. No natal é mole arrumar um trampo desse tipo, pelo menos aqui no RJ.

Vocês têm q parar de generalizar as coisas... não é só pq vcs não conhecem filhinho de papai q trabalha q eles não existem...

Amanda Lourenço disse...

Po, Rackel, não coloquei trabalho de loja no natal na minha lista de 'subemprego', pq não é um! Ja fiz tbm e não se compara aos outros. Primeiro pq o salario é bem maior, no natal a gente sabe que as vendedoras ganham super bem! E não é nem um pouco constrangedor esbarrar com um amigo seu. Eh um trabalho temporario sim, mas de um nivel social mais alto. Olha o exemplo do namorado da Luci, que trabalhou num matadouro!
Mas que bom que vc voltou, senti sua falta!! Beijos!

Anônimo disse...

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