sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Suicidios no trabalho

O suicidio faz parte da realidade dos franceses e dos europeus em geral. Um em cada quatrocentos franceses ja tentaram se matar, um numero pra la de impressionante. A média é de 19 suicidos por 100 mil habitantes, o quarto lugar entre os paises desenvolvidos. O Brasil não chega nem a 5/100 000, um dos mais baixos do mundo, e isso porque o RS tem os maiores indices, sem esse estado o numero baixa ainda mais (olha eu fazendo coro aos separatistas! Nem pensar, viu?). Na França eu conheço gente que ja tentou se matar e no Brasil não conheço ninguém, e moro aqui so ha dois anos e meio. Ja ouvi dizer que tem um suicidio por dia nos metrôs de Paris.

O que assusta é ver a relação direta que os suicidios têm com as condições de trabalho. O que dizer da empresa France Telecom, que so na sua filial em Bensançon, houveram 20 casos de suicidios desde fevereiro do ano passado? Algumas dessas pessoas, em suas cartas de despedida, disseram claramente que não aguentavam mais seu emprego. Eh claro que provavelmente todos eles deviam ter problemas pessoais também, mas uma vida de trabalho infeliz provoca efeitos colaterais em qualquer relação sadia.

Pra mim é estranho pensar que alguém se mata por causa do trabalho. Se não esta bom, muda ué. Mas os franceses tem uma relação muito peculiar com seus empregos. Antigamente ninguém pensava em mudar de trabalho. A ordem natural das coisas era conseguir um emprego aos 18 anos e ficar nele até se aposentar. Agora que as coisas estão mudando. Mas imagina pra esses caras que moram em cidades pequenas, sem muitas oportunidades e ter que viver um inferno por dia, sem expectativas de mudanças?
O especialista em saude do trabalho do Conservatorio Nacional das Artes e do Trabalho, Christophe Dejours, disse em entrevista ao Le Monde que o estimulo à competição entre os colegas diminuiu muito a qualidade de vida no emprego. Por causa de avaliações individuais, uma concorrência se instalou nas empresas e o companheirismo e a solidariedade entre os funcionarios foi diminuindo.

O fato é que os sindicalistas estão caindo de pau nessas empresas e fazendo pressão para que algo seja feito. Pequenas mudanças ja foram conseguidas, mas ainda esta longe de ser o ideal. Enquanto isso, bastante cuidado no metrô de Paris.

9 comentários:

Helena disse...

Olá, gosto muito do teu blog, também sou jornalista e acho tuas reflexões muito interessantes :)
Sobre o tema desse post: é incrível como apesar de todos nossos problemas, o brasileiro consegue levar a vida de uma maneira mais positiva. Não é à toa que no imaginário europeu viajar ou viver no Brasil é sinal de despreocupação. Mas por aqui também acho que a competição no mundo do trabalho é muito estimulada, tanto que muita gente trabalha além das suas horas semanais, "para mostrar serviço". Acho, no entanto, que é a maneira como isso é levado que faz com que as pessoas se sintam bem: as pessoas aqui fazem amizade muito facilmente com os colegas de trabalho (ao contrário da França, onde a relação se resume ao "bonjour" diário), as pessoas brincam no ambiente de trabalho, participam de atividades realizadas pelos RHs, e por aí vai. Além de ter uma vida produtiva fora do trabalho. Bom, isso tudo é só o que eu acho e que vejo por aqui.
Um grande abraço de uma gaúcha que também não conhece ninguém que tentou cometer suicídio :)

Bel Butcher disse...

Amanda,

esses dados são realmente impressionantes. Ainda mais se repararmos nas maluquices. Eu já ouvi várias vezes a palavra suicídio na mídia francesa. Aqui é comum. No Brasil, suicídio, só se for de celebridade. É tabu. E sempre desconfio quando ouço ou leio informações sobre incidant (grave) passager nos metrôs parisienses. sempre acho que é algum suicído.

mas o que mais me impressiona é que esses dados - altos! - são de um país que valoriza as férias, o feriado, o lazer, o direito ao domingo sem trabalhar, o direito ao ócio. Nem no Brasil temos isso. E digo isso porque sempre ouço que brasileiro não gosta de trabalhar, que no Brasil tem muitos feriados, aquela ladainha jogada pelos próprios brasileiros.

Acho que devo concluir que os franceses odeiam seus trabalhos. E odeiam com todas as forças. só pode ser. amam o feriado, as férias (que são 35 dias NÃO corridos! e que podem chegar a 48 dias!!!!!) e reclamam das suas 7 horas trabalhadas diariamente. E, se isso tudo não basta, se matam...

putz, deve ter outra coisa por trás disso tudo...

Unknown disse...

"putz, deve ter outra coisa por trás disso tudo..."

Tb acho! Franceses devem ser ruins de cama!
Mas nesse caso o capitalismo é legal, bem melhor que o comunismo. Veja so essa sua frase Amanda: " que o estimulo à competição entre os colegas diminuiu muito a qualidade de vida no emprego. "
Ora essa, vamos nos tornar ao maximo capitalistas! Muito mais digno pra saude humana.

Unknown disse...

Mandita,

Realmente é muito interessante esse post. Só que devo corrigir você numa coisinha: temos, pelo menos, 1 amiguinha em comum que já tentou suicídio. Tudo bem que foi um xilique básico, mas não deixou de ser tentativa.

Aliás, acho que esses números do metrô da França não são tão inacreditáveis, até porque, já que a média de suicídios na França é maior que a do Brasil é natural que tenham mais suicídios no metrô de Paris do que no do Rio, por exemplo. E aqui, a média é 1 por mês.

O inacreditável é pensar que as pessoas escolhem essa forma estupidamente dolorosa e arriscada de morrer. Eu digo arriscada, porque existe um risco grande da pessoa sobreviver e ficar aleijada, ou seja, a vida que já era uma merda piora consideravelmete. Tosco total, ne?!

Mas quem sou eu pra julgar? Uma reles mortal que reza pra não encontrar uma bala pertida por ai ou um bandido que acordou com instinto assassino.

Bjus e xaudades!

Leonardo disse...

Fiquei curioso pra saber os motivos que fazem do Rio Grande do Sul campeão de suicídios. Conheço várias pessoas q tentaram suicídio (consegui lembrar de 6 até agora). A região onde moro foi colonizada por gaúchos e 90% das pessoas que moram aqui nasceram no Rio Grande do Sul. A região também é conhecida pelos altos índices de suicídio. Conheço teorias biológicas (uso de agroquímicos) e espirituais (almas das pessoas que foram assassinadas na Guerra do Contestado). Agora você me fez pensar no quanto o fator cultural teria força nisso tudo.

Aline Mariane disse...

Cuidado no metro! O pior é que a unica vez que (acho) que isso me aconteceu foi no metro de Sao Paulo - nao tenho certeza, pois nao olhei e nao perguntei, de tanto medo, aaff... Em Paris, observo pra ver se nao tem ninguém com cara de suicida!

Numa pesquisa rapida, nao achei dados sobre suicidios aqui no Senegal, acredito que nao deve existir um registro. Também nao achei de nenhum outro pais muçulmano, mas sei que essa religiao condena fortemente o suicidio.

Amanda Lourenço disse...

Oi Helena! Fico feliz que vc goste do meu bloguinho! Obrigada! No Brasil as pessoas não levam a vida tão à sério mesmo, né? Por pior que ela esteje, sempre tem um churrasquinho no fds pra levantar a moral!

Bel, os franceses odeiam seus trabalhos mesmo! Hehehe! Não disse que eles vivem pra se aposentar?! Eles passam a vida toda sonhando em como vão aproveitar o tempo livre depois que os anos obrigatorios de trabalho finalmete acabarem. Pelo jeito tem uns que não aguentam nem esperar.

Asnalfa, não entendi o que vc quis dizer. Se você concorda que o capitalismo diminui a qualidade de vida, como o apoia?

Tati, vc acha mesmo que o metrô não é eficaz? Eu sempre pensei que fosse tiro e queda! Nunca ouvi falar de sobreviventes, sera que tem? Bom, depois que eu vi num programa de tv sobre transplantes de face uma pessoa que meteu uma bala na propria cabeça, pela boca, e ainda assim sobreviveu, acredito em qualquer coisa! Pior é que essa pessoa disse que estava muito feliz em não ter morrido, pois tinha encontrado m novo sentido para a vida: voltar a ter um rosto não-deformado de novo. Bizarro!

Amanda Lourenço disse...

Leo, tbm ouvi essa de agroquimicos, mas não entendi nada! O que isso quer dizer exatamente? Agora, essa da guerra do contestado foi otima! Se tiver que apostar numa explicação cientifica, fico com essa dai! Hehehe!

Aline, eu fico pensando o que eu faria se percebesse que uma pessoa perto de mim na plataforma estaria se preparando pra pular. O que fazer? Falar com a pessoa, chamar um funcionario? E se não der tempo? Acho que me sentiria até culpada se não conseguisse fazer nada!

Cris Chagas disse...

Oi Amanda,
lembrei de um história... Aqui em PT eles tb odeiam o trabalho, seja qual for hehe Uma vez uma conhecida brasileira chega a uma lavanderia e diz "bom dia" a funcionaria portuguesa responde "bom, pq? bom se eu não estivesse trabalhando!" Bem típico.

Ah, vc pergunta, "como foio fds?" eles respondem "passou". hahaha

Queria aproveitar pra perguntar tb se aí eles são pessimista, mal humorados e um bocado deprê até como aqui? (não a nova geração, os q têm menos de 20 vão mudar esse país, acredito eu)

Aqui, até eles comentam "nós somos assim", "nossa música é o fado, a de vcs é o samba." Parece até deprê por opção ou sina, sei lá.

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