quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Duas obras na minha rua


Ano passado houve um referendum no meu bairro pra saber se a populaçao concordava ou nao com a construçao de um tramway, tipo um bonde que circularia quase Paris inteira. Houve uma grande mobilizaçao na vizinhança, todo mundo se informando e indo nas reunioes explicativas. No inicio eu adorei a ideia do trem, mas depois de ouvir os argumentos contra, confesso que fiquei na duvida. Mas como eu nao posso votar mesmo, minha opiniao nao valia muita coisa e ninguém se preocupou com o que eu pensava. O pessoal do contra dizia que esse era um meio de transporte antigo e fora de proposito, que existia ha 50 anos, dai tiraram todo o trilho e agora querem por tudo de novo. Falaram que por falta de espaço, o transito iria piorar muito. Mas apesar de todo o esforço desse pessoal, o povo votou a favor do tramway. Imediatamente surgiram painéis explicativos nas ruas informando a populaçao as etapas das obras, os prazos de entrega e os valores investidos. Panfletos de informaçao começaram a surgir nas caixas de correio, cada um mais criativo que o outro. As obras de reforço da estrutura dos pavimentos (eu li os panfletos) começaram rapidamente. Eu ia dormir uma noite, e quando acordava tinha um canteiro de obra na minha janela, todo cercado e devidamente sinalizado. Até a pintura do chao eles mudavam, pra avisar os motoristas sobre a obra. Uma semana depois eles terminavam o trabalho, tiravam toda a cerca, os banheiros quimicos, apagavam o chao e saiam numa rapidez que parecia que nem tinham passado por la. Cada dia tinha obra num ponto da rua. Muda sinal de trânsito do lugar, apaga faixa de pedreste, pinta outra, cerca, bota banheiro quimico, fura o chao, tapa o chao, limpam tudo e começam num lugar diferente. Mas tudo numa agilidade impressionante. E sempre informando o que estavam fazendo, por quê e quanto custava. Dava até pra entrar no site da obra e ganhar um ipod. O trem começa a funcionar so em 2012, mas a gente tem a impressao de que tudo esta indo bem, estamos vendo a rapidez dos trabalhos e ainda temos a impressao de fazer parte disso tudo.


Saibam vocês que na minha rua la no Rio também houve uma obra. As comparaçoes sao inevitaveis, logico. Foi assim: comecei a perceber que tinham uns caras quebrando toda nossa rua. Quebravam de um lado, largavam, quebravam do outro, mudavam de ideia. Cercado ou sinalizacao?? A gente que tinha que se cuidar pra nao cair num buraco, por conta propria. As vezes um morador enfiava um pedaço de madeira pra avisar sobre o perigo. O por quê da obra? Boa pergunta. Fui me informar com a maior autoridade da rua: meu porteiro. Ele disse que era alguma coisa relacionada com o gas, mas nao estava certo. Os buracos aumentavam, a poeira era insuportavel, o transito ficou impossivel. Quase um ano depois a obra ainda estava instalada na rua, sem a menor pressa de sair. Fui pra Australia, onde fiquei um ano e quando voltei, surpresa, ela tinha acabado! Mas perai, ela deixou alguns frutos. Meus olhos incredulos estavam vendo pontos de onibus do outro lado da rua? Do lado que é CONTRA-MAO? E as vagas de estacionamento estavam todas viradas ao contrario! Ao que tudo indica, Cesar Maia, prefeito do Rio naquela época, tinha decidido colocar mao dupla na rua uruguai, mas depois mudou de ideia, assim, do nada. Mas a gente so pode trabalhar com hipoteses, ja que nao teve nenhum painel informativo ou folheto na caixa de correio, ou ipod no site, muito menos referendum pra saber a opiniao da populacao. Mostrar o custo da obra? Piada, ne? Banheiro pros trabalhadores? Nao, eles podem muito bem mijar no muro da sua casa.

7 comentários:

Patrick disse...

Ótimo texto, mas é curioso ver que, apesar de todo o cuidado que você descreveu, ainda há adoradores do Deus Carro contrários ao transporte coletivo.

Raiza disse...

Essa obra na rua Uruguai me lembra muito a obra do metrô aqui perto de casa.Mas até que nem tá tão ruim.Mandaram um folhetinho informando sobre a obra (não disseram quanto custou,mas pelo menos disseram pra que que serve),e puseram uma cerquinha (que impede de a gente andar pela rua,mas pelo menos não caímos no buraco).Mas o resto é bem parecido,barulho poeira,falta de banheiro químico.Queria obras à francesa.

luci disse...

começo muitas das minhas frases nas conversas com camilo com: "se fosse no brasil..."

ontem mesmo, ao entrar na farmacia e me deparar com cinco sombrinhas na entrada (tava caindo uma chuva danada), pensei isso. " se fosse no brasil, nenhuma dessas sombrinhas estariam aqui". é chato, mas eh verdade...

Unknown disse...

Estou amando esses seus textos jornalisticos! realemnte é a mais pura verdade da diferenca entre país corrupto e país menors corrupto.
Sore o tal de "há adoradores do Deus Carro contrários ao transporte coletivo" o que eu posso falar é o seguinte: é correto sim no Brasil a gente andar de carro do que de busao. Busao tem tiro, violencia, roubo, traficante que bota fogo em mulher. Alem de um monte de gente fedida que vai e volta do trabalho. Um horror. Ainda continuo sendo a favor do carro.

Carol Nogueira disse...

Amanda, eu fiz uma matéria sobre o tramway uma vez e o pessoal da RATP leva MUITO a sério essa fase de informação da população. A construção do Tramway leva anos pra ficar pronta e, ao contrário do metrô, acontece em cima da terra, atrapalha o trânsito e a vida das pessoas. Então eles têm a consciência de que precisam envolver as pessoas na coisa pra não gerar uma contra-reação enorme durante a obra. E pelo jeito estão fazendo um excelente trabalho - tanto na obra quanto na informação!

Mari disse...

EU ADORO O TRAMWAY!!! é a forma de transporte coletivo em Paris que eu mais gosto: tem a acessibilidade do ônibus (quem anda com carrinho de bebê o tempo todo sempre pensa nisso), é agradavel e arejado como o ônibus e não sofre com o trâsito como o metrô. Pena que é so na périphérique. Bem que podia cortar Paris no meio também! Alias, a ratp pode vir fazer obras na minha rua que eu dou todo o apoio!!!
bjuus!

Anônimo disse...

Ainda bem que ele teve a descência de desistir da candidatura. Tá parecendo nepotismo do Brasil, poxa.
Ele tem a minha idade e ia assumir uma parada sinistra como essa. Fora que ainda está no segundo ano de faculdade, cadê a experiência de vida do moleque?


beijos

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