quinta-feira, 31 de março de 2011

Livro: Baise-moi


Comprei o livro da Virginie Despentes sem saber muito bem da grande polêmica sobre ele. Imaginei pelo titulo que fosse provocador e ja nas primeiras paginas vi que a autora tentava passar vulgaridade usando muitas, mas muitas girias pesadas. Mas não tinha ideia do que viria pela frente. Baise-moi em português significa... errr... "me fode". Se você é adepto da norma culta (enfim...) pode preferir "foda-me". Mas realmente acho que a primeira tradução combina melhor com o livro - fica até melhor que em francês com um erro de gramatica desses.

Eu definiria o livro como um Telma e Louise versão hard porn. Bem hard. E bem porn. Escrito por uma feminista. Eh o tipo de obra feita com a intenção de chocar e que é extremamente bem sucedida na sua proposta: choca. Não espere momentos de delicadeza, compaixão, reflexão, graça - eles certamente não virão. Baise-moi é uma historia violenta e crua, sem a menor intenção de poupar os leitores. As duas personagens principais são tão duras, que são poucos os momentos que simpatizamos com elas. Elas são frutos de um ambiente hostil e de uma sociedade falha, sem esperanças de virar o jogo por meios convencionais. São totalmente sem escrupulos e decidem se afundar de vez, não sem antes levar o maximo de pessoas com elas.

O grande mérito do livro é nos sensibilizar para a historia de amizade que nasce entre elas duas, porque se nos leitores não conseguimos nos identificar com elas, conseguimos perceber que as duas são feitas uma para a outra. O trecho do livro que melhor traduz essa amizade é mais ou menos assim (tradução minha):

"Quando elas riem é sempre igual e seus corpos muitas vezes se aproximam. Quando uma acende um cigarro, da um outro à sua comparsa, sem parar de fazer o que esta fazendo, naturalmente. Elas se interrompem o tempo todo, ou melhor, elas falam a duas bocas. Elas enchem sempre os dois copos, sem sequer notar. Elas usam as mesmas palavras, as mesmas expressões. Convivência quase tangivel. Elas parecem um animal de duas cabeças, sedutor afinal de contas. Fatima não consegue acreditar que elas se conhecem ha apenas uma semana. Ela não conseguiria lhes dissociar, imaginar uma sem a outra".
 
Uma outra faceta do livro é o espaço que a historia dedica ao sexo. As personagens são predadoras. Mas não aquele tipo de predadora que transa com um desconhecido e não liga no dia seguinte, a coisa é muito mais pesada que isso. A violência e o sexo são os elementos-chaves da historia inteira e eles são tão profundos que o resultado não é bonito de se ver. A narração incomoda. Com certeza tem um quê de vingança de gênero, quando por exemplo elas estão procurando um parceiro sexual e uma delas diz "eu prefiro que ele seja condescentente".
 
Baise-moi é uma historia feminina. As personagens principais não podem de forma alguma serem substituidas por homens. A historia fica na cabeça por dias. Não recomendado para almas sensiveis demais.

6 comentários:

disse...

E'... parece que o Baise-moi é mais forte que o Apocalypse. Mas sinto que vou gostar desse livro! Guarda pra mim!

Desde o Apocalyse Bébé estou doida com essa autora, gostei demais da forma como ela escreve e do choque que ela nos provoca durante a leitura.

Adoro terminar um livro e ficar varios dias de boca aberta pensando nele. Fazia tempo que eu não me sentia assim com um livro.

Helô Righetto disse...

amanda, sabe se tem em ingles ou portugues???

Mari disse...

Amanda, vc ja leu La Vie Sexuelle de Catherine M.? Eu comecei a ler em português no Brasil, vim pra França e jurei que terminaria em francês, mas acabei nunca comprando o livro. Essa coisa da linguagem crua e chocante me lembrou a Catherine M.

Amanda disse...

Dé, não sei se vc vai gostar mt desse livro não... Até agora eu ainda não decidi se gosto ou não dele! :)

Helô, que pena, acho que ele não foi traduzido. Tem um filme (que parece bem mediocre) baseado no livro e dirigido pela propria autora que foi proibido mesmo França de tão "sick" que era. Acho que vou falar sobre isso mais tarde.

Mari, não li não! Mas olha, depois desse eu tô querendo um descanso do gênero, viu?

Anônimo disse...

Louquinha pra lê-lo, Mandita. Apesar da sua recomendação no final, eu me atrevo a me horrorizar. AUSHAUHSUAHSUHAUHAUH

lola aronovich disse...

Amanda querida, desculpe não aparecer no seu blog tanto quanto eu deveria, estou muito sem tempo. Mas sei que perco muito ao não vir aqui. Só dando uma lida rápida nos posts desta página já aprendi um monte sobre como anda a política francesa, por exemplo. Então, eu queria te fazer uma pergunta (e desculpe se vc já escreveu um post sobre isso e eu não vi): vc acha que candidatas mulheres do PS, como Martine Aubry e Segolene Royal, não têm chance nenhuma mesmo nas eleições presidenciais? O que aconteceu pra elas ficarem impopulares? A França nunca teve uma presidenta, certo? E pelo jeito ainda vai demorar mais um tempão pra ter?... Por quê? Abração, minha correspondente em Paris!

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