terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Utopias e liberdades

Tenho a impressao de que na França existe bem mais comunistas do que no Brasil. Digo, comunistas de verdade. Eu ja fui em algumas reunioes aqui em Paris e fiquei impressionada com a seriedade do pessoal. Eles nao sao jovens rebeldes que lutam contra o sistema ou qualquer forma de opressao; eles sao pessoas de meia-idade, que vivenciaram guerras (a da Argélia, por exemplo) e que acreditam de verdade, a partir de muito estudo, leitura e reflexao, que o comunismo é a melhor forma de conduzir um pais.

Bom, eu tenho minhas duvidas. Acho que o ponto mais fraco do comunismo é, sem duvida, a perda da democracia. O principio teorico é otimo, mas ele atropela um dos direitos mais importantes: o da liberdade de escolha. Até aceito que todos tenham as mesmas roupas, porque nao ligo para moda e acho que ter 10 pares de sapatos é um exagero inutil. Mas nao me conformaria em ter que abrir mao de outras coisas, como poder ir embora se eu quiser, de largar tudo e ir viajar, de sair do sistema se me der na telha (no nosso capitalismo a prisao é mais psicologica, mas é possivel de sair). Também  nao gostaria de ter a comida racionada.

Acho também que a igualdade total entre as pessoas é impossivel. Digo isso por experiência propria. Eu e cheri passamos duas ou três semanas em uma comunidade no meio do nada, no Chile. Eles eram um grupo de jovens que plantavam, construiam suas casas, faziam banheiros respeitando o meio ambiente e recebiam outras pessoas por algumas semanas. A ideia era todo mundo ajudar um pouco, cada um fazendo um trabalho. Foi bem interessante, mas logo nos sentimos injustiçados. Tinha um cara que ficava tocando violao o tempo todo e quando a gente perguntava se ele nao ia trabalhar, ele respondia com um sorriso enorme no rosto que ja estava trabalhando, que a musica era um trabalho nobre, uma arte a ser respeitada, alimento da alma, bla bla bla. E eu me perguntei: por que eu tinha que catar bosta de vaca (sério!), enquanto ele ficava tocando violao? E rapidamente esse cara, que era um dos locais, foi se transformando em um ditadorzinho, distribuindo ordens. So nao foi mais longe porque a gente nao deixou. Ai é que esta a falha: todos os homens sao iguais, mas alguns sao mais iguais do que os outros.

O comunismo confia demais no lado bom das pessoas. Por outro lado, o capitalismo entrega tudo pro lado ruim delas, sem hesitaçao.

7 comentários:

Anônimo disse...

O mal desse "comunismo" é que é condudista, é aprisionador, não permite um comunismo, entende? É doutrina e visa o poder, o "meu" comunismo, o libertário (anarquismo), que o não-poder, a não existência dele, o fim da exploração do homem. Acretido na anarquia como um fim inevitável, pós caos gerado pelo consumo e conflitos no mundo, mas gostaria que viesse antes por meio de levantes populares. Não quero esperar o fim para um recomeço.
O Estado representa a maior de todas as prisões e é invisível, é um conceito.
Assumo que nós contamos com a boa vontade do ser humano, eu acredito na bondade natural, que somos propício ao coletivismo. Porém os inimigos estão fortes e o poder de alienação é muito eficiente, ao absurdo de conseguir resignar explorados em sua condição, bem quietos.
Não será sempre assim, vejo luz, vejo uma periferia cada vez mais descrente no poder público e inquieta, fazendo sem esperar acontecer. Logo tudo explode e vai explodir aqui, Amanda.
Já ví muito disso que vc viu no chile, desse "anarco-fascismo", fulano querendo ser o manda-chuva, impondo opinião e tal.
"De cada um de acordo com sua capacidade, para cada um de acordo com sua necessidade." - Acho lindo isso! :)

Unknown disse...

Eu prefiro o capitalismo. É importante sim ter mais de 10 pares de sapato! Um para cada tio de roupa e situação. E duvido mutio que o Brasil deixe de ser capitalista pra virar comuna! EUA nao deixariam jamé!!!
Esse negocio de todos serem iguais no comunismo é balela. Vai provocar mais preconceito ainda! Nossa sociedade é heterogenea: negros, gays, mulheres, ateus. E tornar todos iguais iria ressaltar mais diferenças e nao resolveria o problema. Sempre existiria alguem na escala superior, que nem esse músico. Esse negocio que existe fome no Brasil é tudo mentira!! Vou pagar mais de 200 reais de IPVA nesse ano! E tb pago uma fortuna de agua e energia. Quase 30% de ICMA.

Anônimo disse...

Realmente, enquanto miseráveis continuarem comendo rango azedo do lixo de gente rica não existirá fome no Brasil, né? É, o capitalismo é muito justo mesmo...

Marina disse...

Esse comentario não tem nada a ver com o seu post, mas eu precisava dizer que eu adorei o seu blog, vc escreve mto bem!

Leonardo disse...

Também acho 10 pares de sapato um exagero, mas se todos tivessem as mesmas roupas seria estranho, muitas pessoas gostam de se expressar através roupas que usam. Já acreditei que o Comunismo seria a solução para os nossos problemas sociais, mas a verdade é que eu gosto muito do Capitalismo. O problema está justamente no lado ruim das pessoas, afinal, se as pessoas que mais concentram renda aceitassem dividi-la ou usá-la para ajudar as de menor renda, muitos problemas poderiam ser solucionados...
Aproveitando, sei que já tá meio tarde, mas não tive oportunidade antes: tenha um excelente 2010!

luci disse...

os unicos comunistas que conheci no brasil foi no curso de historia. eh gente que leu uma biografia de algum revolucionario cubano, sabe, e dai acha que pegar em arma e fazer revolucao eh como comprar pao na esquina. *vomito

ah, e eh facil dizer que se gosta do capitalismo quando se estah no topo :)

Anônimo disse...

Pra mim, continuamos a ser animais, porém, confusos com a capacidade de ir além dos instintos, com a capacidade de raciocinar. Continuamos a viver em grupos, onde uns poucos se destacam como verdadeiros líderes da matilha. Afinal, em toda a história, só mudamos a carcaça da caça, se para um leão ser o líder é comer a maior parte da caça, para um “líder” capitalista é comer caviar, tem um Mercedes, e dar moedas como ossos a hienas. Talvez sim, a racionalidade trouxe ao homem um poder de aumentar as espécies de desigualdades coletivas. Ao mesmo tempo, a racionalidade fez a força bruta perder o campo para a inteligência, a astúcia. Mas, no frigir dos ovos, há sempre dominantes e dominados. Nunca um sentido de vida. Apesar de toda a capacidade de raciocínio advinda da evolução humana, continuamos a viver como animais quaisquer. O sentido da existência ainda é algo distante, apesar da ética, das crenças, das religiões. Dê ao ser humano qualquer tipo de sociedade que, assim como os porcos, ele irá se lambuzar na lama. Os diversos tipos e formas do Estado ou do não Estado não servirão de nada enquanto pairar a dúvida do porquê da existência.

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