quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Dia do armisticio e indicação de BD

Hoje é feriado de Armisticio na França, dia que marca o fim da primeira guerra mundial ou a Grande Guerra, como ficou conhecida na época (coitados, mal sabiam que ainda tinha mais vindo pela frente). Estar na França me deu mais consciência sobre as duas guerras mundiais, porque na escola quando eu as estudava parecia uma coisa muito distante, quase irreal. Acho que eu colocava a mitologia grega no mesmo patamar da historia mundial - acontecimentos tão surreais que eu não me identificava. Primeiro que tudo acontecia numa terra distante, que eu nem sonhava em pisar um dia. E depois porque o passado pra mim entrava tudo na mesma categoria: ido. Não importava muito se era na idade média ou ha 20 anos antes de eu nascer, era tudo velho. Não é à toa que eu sempre fui péssima para decorar datas historicas, errava facilmente de século e não tinha muita noção da sequencia dos acontecimentos (aqui jogo parcialmente a culpa nas escolas: como elas conseguem fazer um assunto interessante como historia ficar chato?).

Vir para a França me aproximou da historia mundial no tempo e no espaço. Eh so dar uma voltinha em qualquer bairro de Paris para rapidamente achar um monumento em homenagem aos herois das duas guerras mudiais. Em muitos prédios têm placas com inscrições do tipo "Homenagem à fulano de tal, morto pelas tropas nazistas em frente à esse prédio no dia tal". Eu sempre leio todas, fico pasma, olho em volta e penso como cada rua aqui tem historias pra contar. Eh estupido, eu sei, mas so me dei conta de como a segunda guerra mundial é recente ao ouvir pessoas me contando como era a vida sob a ocupação alemã. Tipo, aquela pessoa ali na minha frente viveu o nazismo! Ela é uma testemunha viva de uma das maiores catastrofes humanas! Poxa, a 2GM acabou apenas 10 anos antes dos meus pais nascerem! E o que são 10 anos? Nada! (acho que a gente so se da conta que 10 anos são nada quando fica um pouco mais velha, por isso não conseguia entender as coisas antes).

Hoje, infelizmente não existe mais nenhum soldado sobrevivente da 1GM na França. Quando cheguei ha 3 anos haviam apenas dois, mas morreram nesse tempo. O ultimo pediu que não fizessem nenhuma cerimonia especial, que ja estavam planejando, por respeito aos seus companheiros que morreram nas trincheiras e não tiveram a oportunidade de ter sequer um enterro. Essa guerra matou 13 milhões de pessoas, entre civis e militares. Eh muita gente. Eh muito triste.



Aproveito esse dia para indicar uma BD (historia em quadrinho) sobre a primeira guerra mundial- C'était la guerre des tranchées, de Jacques Tardi. Gostei muito porque não tem um personagem so, são varias historias de varios soldados, todas tragicas (o que não é tragico numa guerra?) uma mais tocante que a outra. A sorte - ou o azar - levou cada soldado pra uma situação diferente e eles fizeram seu melhor para sair dela da melhor forma possivel. Mérito para como o autor conseguiu passar a mensagem de que a guerra é uma guerra entre os grandes, que ficam atras de seus mapas tomando café, enquanto os pequenos se fodem no front. Soldados inimigos que em um contexto diferente poderiam ser melhores amigos. Gente simples que mata com remorso, sem saber porque esta matando, mas sentindo que tem alguma coisa de muito errada naquilo tudo.

O autor é filho de um militar e claramente pacifista. Ele critica a imbecilidade das guerras: "Apenas na França ha 930 hectares de cemitérios militares, boa terra pra beterraba, mas somente cruzes brotam à superficie! Se todos os mortos franceses desfilassem em filas de quatro no 14 de julho (comemoração da Revolução Francesa), seriam necessarios 6 dias e 5 noites antes do ultimo nos mostrar sua face livida".

Que tenham sempre flores frescas nos monumetos aos soldados.

5 comentários:

Mariana disse...

Nossa, exatamente o que eu senti quando fui na Holanda pela segunda vez esse ano! É um tal de praças com placas de "aqui existia um hospital que foi bombardeado pelos nazistas no dia xx/xx/194x"... II Guerra também sempre povoou um mundo da fantasia pra mim, sempre foi algo meio distante, essa mesma sensação de fatos longínquos lidos em livros de história e que não temos qualquer dimensão pq aconteceu LONGE daqui. Mas, na Holanda, se vê que é algo presente na memória da população, mesmo dos que não eram vivos durante a Guerra

Unknown disse...

Vá assistir um filme do Kubrick chamado "Gloria feita de sangue" pra vc adquirir mais cultura.
Afinal, ate hoje vc nao assisitiu nenhuma nouvelle vague francesa!!
Fala sobre a acusação de deserção de tres soldados franceses na Primeira G.M. sob os motivos mais fúteis, onde eles recebem pena de morte. Esse filme foi proibido pela França e acabou a censura sobre ele apenas na década de 80.

Iara disse...

Oi,

Resolvi vir comentar pra você ficar mais contente. Mas aí vc tem que ir lá no meu e comentar o último que eu até te citei, beleza?

Eu sei exatamente do q vc tá falando. Estar na França aproxima demais esses eventos da gente. na família com quem eu vivia, a avó da criança era alemã, e o pai nascido em 46. Um dia, num contexto de bate-papo mais confidencial, não resisti e perguntei pra mãe da crianaç como era isso. E ela contou que o sogro foi "colabo" (pra quem passar aqui não souber, colaboracionista era o francês que apoiava a ocupação nazista á França nos anos 40). Pois bem, o avô da Lola, a pequena que eu cuidava, foi voluntariamente para a Alemanha trabalhar na indústria bélica nazista. Se casou com uma alemã e, ao fim da guerra, voltou pra França com ela. Ficou um tempo na cadeia. Imagino q o pai da Lola deve ter sofrido horrores na escola, e ele não fala alemão, apesar de ter crescido ouvindo os pais falarem em casa, provavelmente por bloqueio emocional.
A mãe da menina contou sobre sua família que o avô dela enriqueceu com mercado negro durante a guerra , e que isso é um tabu em casa (ela era muito bem resolvida, falava disso numa boa). E contou q uma vez o casamento dela quase acabou pq, num bate papo informal sobre a guerra, ela falou ao marido q a família dele era mais "colabo".
Enfim, a guerra é uma ferida na França. E o tipo de ferida e de sofrimento difícil de cicatrizar pra alguns, e a gent sente isso qdo está aí. Uma aula de história mesmo.

Pronto, vc só pediu um comentário, e eu quase fiz um post dentro do seu.

Bjo!

Luciana Nepomuceno disse...

Eu sempre vejo uma certa glamourização das guerras nos filmes e isso - acho - nos afasta um pouco das perdas e dores tão reais de quem as viveu ou foi por elas diretamente privados de pai, avó, amigo...

Que haja sempre flores frescas e uma memória viva...

Luciana Nepomuceno disse...

Oi, totalmente off-post, estava assistindo o documentário sobre o Vinícius (talvez pela milésima vez) e me lembrei de você, justamente aqui: http://www.youtube.com/watch?v=wAu1Z8t0kfg

Beijo

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