quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Patriota ou nacionalista?

Quando postei o texto de ontem, confesso que fiquei com medo dos comentarios que viriam. Porque não é obvio defender os separatistas nesse momento em que racistas estão usando das mesmas armas para sustentar preconceitos. Mesmo em tempos normais defender separatistas não é muito bem visto. A Lola, por exemlo, sempre faz referências negativas a eles. Mas vocês foram otimas! Ninguém me cruxificou!

Eu pensei na razão pela qual uma fragmentação do Brasil não me incomoda e cheguei a uma conclusão simples: eu não amo o Brasil. Digo, a nação. Não sou uma patriota. Pode parecer contrasenso depois de toda a campanha pela Dilma que fiz, mas eu explico. Amo as pessoas e acho que a Dilma é a mulher certa pra cuidar delas. Eh dificil explicar a diferença entre as duas coisas, porque dizer que a Dilma é boa para o Brasil é quase a mesma coisa que dizer que a Dilma é boa para a população, ja que uma esta interligada à outra. Mas por exemplo, eu não dou a minima para a soberania brasileira. Se o Brasil decide entrar em guerra contra seus vizinhos para expandir seus territorios eu ia achar que era piada, tamanho o absurdo. Eu nunca aceitaria fazer parte de uma guerra, caso o RS pegasse em armas para fazer sua independência. Po, se o povo acha que viveria melhor assim, dou meu apoio.

Não sou patriota, acho que o patriotismo so atrapalha o desenvolvimento humano. Fico torcendo para que um dia todas as fronteiras acabem e vivamos num mundo sem muros, mas acho que ainda falta muito pra isso acontecer. A unica diferença entre o patriota e o nacionalista é que o primeiro é de esquerda e o segundo, de direita. Mas o pensamento é praticamente o mesmo. Lembro que na minha fase patriota, quando achava um absurdo as pessoas so comprarem bandeiras brasileiras na época da copa e não saber cantar o hino nacional de tras pra frente, comecei a ver nas ruas cartazes que diziam "Halloween é o cacete, viva a cultura nacional" e coisas desse tipo. Achei o maximo, finalmente alguém estava tomando iniciativa contra essa invasão estadunidense no nosso pais. Entrei no site e tive uma tremenda surpresa ao descobrir que era uma organização de extrema direita, com viés militar, inclusive. Fiquei besta e percebi como os extremos se encontram, como num circulo. O comunismo tem mais em comum com a extrema-direita do que gostaria de admitir. E foi assim que essa ideia de patriotismo foi saindo da minha cabeça.

Hoje eu acho engraçado como os brasileiros no exterior exibem suas bandeiras tupiniquins com o maior orgulho. Hoje eu também acho que os hinos nacionais deveriam ser extintos ou pelo menos atualizados -estão super ultrapassados falando de guerras, sangue e inimigos com palavras que ninguém entende. Quando acontece um acidente de avião, minha primeira preocupação não é saber quantos brasileiros estavam viajando, porque sinceramente, isso não é importante. A vida de um brasileiro pra mim não vale mais do que a vida de um senegalês ou de um americano. Estava lendo um quadrinho sobre a 1°GM (outro dia falo sobre ele) e tinha uma parte onde os alemães chegaram por uma estrada com mulheres e crianças belgas como escudo e os franceses receberam ordem de atirar mesmo assim, porque as mulheres e crianças não eram "dos nossos".

Eu não ligo para nacionalidades, naturalidades e essas coisas que não escolhemos ao nascer. Porém ligo para outras caracteristicas que a gente vai adquirindo ao longo da vida, que é o respeito pelo proximo, a educação, a gentileza, o interesse em fazer do nosso mundo um lugar melhor para se viver. Isso é importante. Todo mundo sabe que idiotas e gênios existem em todo lugar, mas todo mundo também insiste em generalizar, eu inclusive. Eh um exercicio diario que precisa de bastante esforço, mas que no fim das contas, vale a pena.

17 comentários:

Luciana Nepomuceno disse...

Gosto muito de vir aqui, sempre me faz pensar. Não tenho opinião segura, também me coloco ao lado do valor da vida, independente da nacionalidade. Mas não sei se estou pronta pra abolir todas as fronteiras...Matéria em processamento. Beijos

Rita disse...

Olha, Amanda, eu também não tenho uma posição muito clara na minha cabeça em relação a isso. Acostumei-me a pensar o Brasil como unificado, mas tenho consciência de que é algo perfeitamente mutável, lógico. A ideia de nação tem implicações enormes em nossas relações sociais e não é possível simplesmente ignorá-las. Não sei como enfrentaríamos um processo de divisão a essas alturas do campeonato, sinceramente. O discurso separatista, para mim, sempre se mistura com um quê de superioridade que me incomoda, sim, mas que às vezes, confesso, leva a pensamentos como "ah, quer saber, separa, separa, sim!" - simplesmente porque detesto a imagem que se cria de um nordeste torcendo pela união como se dela dependesse - e as coisas estão mudando, people... No fim das contas, é simples assim: I don't know how I feel about it. Mas de uma coisa eu sei: se separar, quero saber que país a Dilma vai governar, porque é lá que quero morar, hahahaha!!

Beijos!
Rita

Cris Chagas disse...

Cara, Amanda, muito bom o seu tx kkkk Assim, gosto de coisas q me fazem pensar. Na verdade, nunca pensei o patriotismo dessa maneira. Aliás, acho q nunca pensei muito sobre meu posicionamento com relação a palavra “patriota”, fazendo uma reflexão rápida, acho q a palavra em si sempre me causou uma certa antipatia pela proximidade com a extrema direita (como o exemplo que vc citou acima).

E depois, se por um lado eu acredito na valorização cultural (território, natureza...) através do conhecimento e do entendimento por parte da população, preservando as raízes, os movimentos, etc. Por outro, adoro a mistura cultural (q afinal nos deu origem), a aceitação das diferenças, a desconstrução e reconstrução das diferentes realidades e crenças.

A primeira vez que parei para pensar num mundo pertencente a todos, sem fronteiras (falando especificamente das fronteiras que constituem os países). Foi através de uma portuguesa, ex-expatriada. E me soou tão simpático e ao mesmo tempo utópico, infelizmente.

Longo papo e muito gostoso, mas vou parar por aqui...

Sobre os separatistas do Sul, só tive conhecimento dos preconceituosos que queriam se separar por se acharem superiores. Por isso, era contra.

Fernando disse...

Enfim uma voz lúcida. Passei minha juventude lendo e ouvindo “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Como se uma nação só pudesse sobreviver sob a unanimidade patriótica. Nelson Rodrigues (que eu detestava pelo direitismo dele) dizia que o patriotismo era o último refúgio do canalha. Esse patriota que se acredita melhor que um paraguaio ou superior aos africanos é que gera gente como essa moça do Twiter e seus seguidores. Por mim, também não teríamos fronteiras que não fossem estabelecidas pela cultura e pela língua. Não faz sentido haver diferença entre povos porque o Estado delimitou os espaços. Parabéns. Fernando

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Eu sinceramente não parei ainda pra pensar se sou PATRIOTA, mas tenho amor pelo Brasil, pelo meu povo. Fico arrepiada quando canto o hino em momentos especiais e tal... Bom, Manda, preciso pensar, pensar! (...)

Agora eu concordo com a Rita em tudo que ela diz. Porque isso de se separar, soa meio "soberbo" mesmo. E depois eu tbm mudaria de "país" dependendo de qual a Dilma fosse governar. UHUAHSHUHASAHSHU

E sim amor, respeito, gentileza e etc pelo próximo são imprescindíveis independente de origem, né?!

disse...

Também não sei se estaria preparada para um lugar sem fronteiras... claro que seria maravilhoso viver num mundo onde todos se respeitassem independente de raça, cor, religião, origem, mas ao mesmo tempo é tão bonito a cultura de um povo, os costumes, a historia. Mesmo que a gente se sinta cidadã do mundo, a gente leva sempre essa referencia dentro da gente, do lugar de onde viemos.

A letra do nosso hino realmente não faz muito sentido nos dias de hoje, mas assim como a Gloria tb sempre fico arrepiada e com lagrima nos olhos. Pra mim, é sempre o hino mais bonito!

legião 1143 disse...

onde deixaram a nave ?

caso.me.esqueçam disse...

nao da pra saber quais seriam as consequencias de uma separacao do sul na minha vida cotidiana (quer dizer, se eu morasse no brasil, claro, porque daqui eu acho que realmente nao serei a grande afetada). mas minha posicao tende a ser mais pro lado do "querem se separar, estejam a vontade". eu que nao ia querer ver no pais a loucura que acontece na espanha. no mais, eu realmente nao penso no brasil como "oh, meu lindo pais, minha casa, meu lar". ppff... eu sou nordestina, eh assim que eu sinto a coisa. quando tenho saudade de casa, quando penso numa comida, quando penso num povo, eu penso no nordeste/nordestino. eh essa minha identidade: nordestina, nao brasileira. entao, se o povo do sul quer independencia, brother, go!

caso.me.esqueçam disse...

por essas e outras que eu nao trouxe nenhuma bandeirinha do brasil pra frança, camisa de selecao etc. nao rola, velho...

Beatriz disse...

Olá Amanda,
Adorei conhecer aqui! Também não sou patriota, acho hipocrisia muitas vezes. Legal você comentar, pois estava falando sobre isso outro dia!
Já estou seguindo para voltar aqui mais vezes!!!
Bjs
Bia
www.biaviagemambiental.blogspot.com

Daniel Nascimento disse...

Talvez o comment saia um pouco longo porque vou emendar com o do post anterior.
Eu achei ambos os posts de uma honestidade intelectual soberba e gostei muito porque embora já tenha lido muito a respeito de geografia, formação de identidade nacional, história, patriotismo, ufanismo, etc. nunca me deparei com algo tão simples e elucidativo.
Lembro-me de que a primeira vez que tive contato com gaúchos separatistas foi num camping em Bombinhas-SC. Eu sempre achei que eles queriam se separar mais por preconceito do que por identidade própria. Mas fiquei surpreso de encontrar duas pessoas que usaram exatamente o tema da identificação cultural como lema. Ok, o resto era preconceituoso mesmo e achava que o S sustenta o NE. Porém o discurso daqueles dois me chamou a atenção. Eram inclusive muito simpáticos a todos os outros estados brasileiros mas simplesmente não se sentiam parte. Aí vem a questão da formação da identidade regional, cultural, que se identifica mais com esse segundo post e que a "Caso em esqueçam" explicitou bem no caso dos nordestinos. E conheci amazonenses que também se sentiam estranhos ao S/SE e mais próximos da Venezuela e Colômbia que do Brasil.
Eu pessoalmente gosto de me sentir brasileiro. Gosto de me sentir filho de um país tão grande e diverso. Como estudante de letras gosto de saber que sou do país onde mais se fala português - e de forma tão linda e variada - no mundo.
Porém isso não molda minhas fronteiras pessoais. Depois de viver dois anos fora, me dei conta que o único local que sempre sinto falta é minha região natal - o Vale do Paraíba, em SP; meu shire. No mais, passei a me ver capaz de viver em quase toda região do globo desde que haja o respeito e a tolerância. Isso que identificou-me com o texto.
No mais, acho que de forma pragmática a pergunta deve ser: que vantagem real teriam os estados em, numa federação, separarem-se? Fica a proposta de reflexão.
O comment já se estendeu demais. Se não se importas, vou procurar expandir mais a ideia no meu blog. Fica o convite da visita. Parabéns pelo espaço.

Daniel Nascimento disse...

PS: quando escrevi "Ok, o resto era preconceituoso mesmo e achava que o S sustenta o NE", me refiro aos outros gaúchos separatistas; não aos dois citados. Mania de não ler direito depois de escrever!

Túlio disse...

Concordo muito com seu post. O conceito de patriotismo anda junto com o de soberania, o que me incomoda. Assim como todos, identifico-me com o país onde nasci, com o Estado onde nasci, com o local onde nasci. Mas, essa identificação não pode ser confundida com o amor cego. Pra mim, as fronteiras existem muito mais por questões econômicas do que culturais. Por mais que separatistas ergam bandeiras culturais, o objetivo da separação sempre esbarra em questões financeiras e superioridade. Como já disse alguma vez em outro post seu, a idéia de território, país soberano, nação, só existe porque nem todos evoluíram o bastante para identificar que o mundo é um só, que todas as pessoas são parte de uma mesma espécie, dividem o mesmo espaço na natureza. Eu posso ter minha própria língua (o minerês), minha própria cultura, mas isso não me leva a querer constituir um novo país. Às vezes, penso ser meio estúpido, porque qualquer discussão como essa pra mim não faz sentido algum. Lutar por religião, por separação, nada faz sentido. Queria ver o dia em que os povos lutariam pelo simples fato de um mundo mais justo, mais feliz. É osso!

Carol Nogueira disse...

Amanda, te amo. Caraca, você manda muito bem. Fui me dando conta disso muito aos poucos e hoje vivo em conflito com o patriotismo que eu herdei. Mais um conflito pra minha pequena lista. :o) Muitos beijos, querida.

Um Amor, Uma Saudade disse...

Nossa! Estou impressionadíssima com que acabei de ler, pois descobri que não sou a única a pensar dessa forma. Há tempos venho comentando isso em família e admiro a sua coragem de ter publicado isso de uma forma tão clara e bem escrita! Só não concordo com uma coisa: quanto à Dilma! Pois para cuidar das necessidades de um povo, acho que ela seria a menos indicada quando se apresentam candidatos do nível de Marina Silva e Cristóvam Buarque... Candidatos que sempre fizeram valer os direitos à moralidade, à educação e aos valores.. pena que muita gente ainda não tenha criado o interesse pela política e votam sem ao menos conhecer o plano de governo de seu candidato! Pessoas que votam pela maioria e não por um mundo melhor!
Ps.: Não sou filiada a nenhum partido político não, só expus a minha preferência.

Parabéns!

Abraços,
Kalli Horn

Mercuryo disse...

Gostei muito do visual do blog e com o tempo lerei outros posts que imagino ser tão interessantes quanto esse.

Quanto ao tema, estou surpreso com o pouco (ou nenhum) nacionalismo e patriotismo aqui. É tão ruim ser patriota e nacionalista? será que o Brasil se tornou um lugar tão ruim de morar que é vergonhoso defender a República?

É muito bonito um mundo unido em uma grande nação mas todas as tentativas disso falharam. Essa era a idéia Alexandre, de Genghis Khan, Cesar e outros. Pra criar um mundo unido nós precisamos primeiro de Brasil unido. Quando cada nação tiver isso, há uma possibilidade de criar um mundo único. Ah, mas Alexandre era um conquistador e isso não é um bom exemplo de utopia. É verdade, o problema é que uma nação só aceita o governo distante quando é conquistada e isso é parte da história da humanidade. A Grécia foi formada assim e só se tornou a Grécia de hoje devido a essa união forçada.

Amanda, todo mundo quer um mundo de paz e união eu não acho que o homem seja capaz de sustentar um mundo assim. Um mundo desses seria um mundo de monges e eu não sei se a civilização realmente teria maior progresso em um mundo assim. Em todas as nações do mundo, a tecnologia avança quando a "massa" é explorada e esse tipo de coisa se reflete na política internacional. Nações são exploradas mesmo que não tenham sido militarmente conquistadas. A maior parte das pessoas não trabalha nas fábricas montando peças pq quer, são obrigadas pelo sistema.

E deixando o romantismo patriótico de lado, a Patria, a Nação é muito mais que a terra, são as pessoas como você bem sabe. É a forma de pensar e a cultura que fomos criados. Quando eu defendo o Brasil eu defendo o teu direito de escrever nesse blog a tua opinião, o teu direito de usar ou não uma burca e eu defendo tudo aqui que você e eu acreditamos pois quando o mundo for uma só não, o governante pode ser a Dilma mas também pode ser o Gaddafi.

Amanda, eu realmente entendo o teu ponto de vista e seria muito bom se as coisas fossem assim mas não são, não ainda, e até que o mundo se torne uma única estrutura, é preciso defender a única estrutura que se tem.

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