Espero que todos tenham passado um maravilhoso natal! Eu passei otimos momentos: boa comida, boas companhias, bons vinhos, bons chocolates! Até o frio deu uma melhorada e saiu da temperatura negativa para tropicais 3 graus! Uau! Mas eu tenho trabalhado bastante esse fim de ano, entao nao tive muito tempo de escrever aqui no bloguinho. Mas daqui a pouco tudo volta ao normal.
Enquanto isso, convido vocês a ouvirem a reportagem que fiz sobre os circos em Paris. Todo fim de ano a cidade se enche de espetaculos circenses, um mais legal que o outro. No fim do texto tem a reportagem em audio, com entrevistas e musicas.
sábado, 26 de dezembro de 2009
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Papo de elevador
O que fazer quando um assunto que sempre foi totalmente secundario, pra nao dizer sem a menor importância, se torna o centro da sua vida, com todas as outras coisas girando em volta dele? Pois foi isso o que aconteceu com a meteorologia para mim. A conversa sobre o te
mpo foi promovida de quebra-gelo de elevador à discursao de suma importância. So fui perceber a minha obcessao quando me dei conta de que quando algum amigo do Brasil me perguntava como estava indo a vida na França, eu sempre respondia: "Nossa, muito frio" ou mais raramente "Até que agora o tempo esta melhorando". Pô, desde quando eles estao interessados em quantos graus esta fazendo na França?
A Mariana ja falou da mania dos franceses com a previsao do tempo na TV e eu posso dizer que compartilho desse interesse. Virei uma especialista de temperatura e nao devo ter passado um dia sem saber qual foi a maxima. Aqui sempre tem a previsao da manha e a previsao da tarde, que variam muito. No Brasil eu nunca tinha pensado
nisso, e no inicio eu estranhava quando as pessoas perguntavam "Mas 10 graus de manha ou à tarde?".
A primeira vez que tive contato com estrangeiros, na Australia, a gente sempre conversava sobre os critérios mais importantes na hora de decidir qual o melhor pais pra morar e esse pessoal do norte do planeta sempre priorizava o clima do lugar. Eu achava curioso todos eles falarem a mesma coisa e dizia que pra mim, o clima nao era importante. Depois de quase três anos na França mudei minhas preferências e coloquei a temperatura como fator essencial na escolha. Nao sei onde li que conhecer o frio é indispensavel para se valorizar ao calor e nao poderia estar mais de acordo. Antes de vir pra França, a temperatura era um mero detalhe, eu nunca dei valor ao calor brasileiro, nunca tinha parado pra pensar de verdade sobre isso. Quer dizer, eu sabia que na Europa era frio e tal, mas nao dava importância. Acho que so sentindo na pele a gente se da conta de certas coisas.

Pois é, tudo isso pra dizer que aqui esta frio pra caramba! E que hoje nevou como nunca tinha visto. A neve é a unica coisa positiva abaixo de zero. Eu e cheri fomos para o parque e brincamos como crianças, fazendo batalha de bola de neve. Boneco nao deu pra fazer, segundo o cheri, o tipo de neve dificultava o trabalho. (sera que ele se aproveitou da minha ingenuidade de iniciante pra me enrolar que nao dava pra fazer quando na verdade ele nao queria ter trabalho?). As fotinhos que ilustram esse post sao da nossa aventura de hoje. Viram o pobre do patinho no lago congelado?
A Mariana ja falou da mania dos franceses com a previsao do tempo na TV e eu posso dizer que compartilho desse interesse. Virei uma especialista de temperatura e nao devo ter passado um dia sem saber qual foi a maxima. Aqui sempre tem a previsao da manha e a previsao da tarde, que variam muito. No Brasil eu nunca tinha pensado
A primeira vez que tive contato com estrangeiros, na Australia, a gente sempre conversava sobre os critérios mais importantes na hora de decidir qual o melhor pais pra morar e esse pessoal do norte do planeta sempre priorizava o clima do lugar. Eu achava curioso todos eles falarem a mesma coisa e dizia que pra mim, o clima nao era importante. Depois de quase três anos na França mudei minhas preferências e coloquei a temperatura como fator essencial na escolha. Nao sei onde li que conhecer o frio é indispensavel para se valorizar ao calor e nao poderia estar mais de acordo. Antes de vir pra França, a temperatura era um mero detalhe, eu nunca dei valor ao calor brasileiro, nunca tinha parado pra pensar de verdade sobre isso. Quer dizer, eu sabia que na Europa era frio e tal, mas nao dava importância. Acho que so sentindo na pele a gente se da conta de certas coisas.
Pois é, tudo isso pra dizer que aqui esta frio pra caramba! E que hoje nevou como nunca tinha visto. A neve é a unica coisa positiva abaixo de zero. Eu e cheri fomos para o parque e brincamos como crianças, fazendo batalha de bola de neve. Boneco nao deu pra fazer, segundo o cheri, o tipo de neve dificultava o trabalho. (sera que ele se aproveitou da minha ingenuidade de iniciante pra me enrolar que nao dava pra fazer quando na verdade ele nao queria ter trabalho?). As fotinhos que ilustram esse post sao da nossa aventura de hoje. Viram o pobre do patinho no lago congelado?
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domingo, 13 de dezembro de 2009
O povo de 136 cores

E é uma pena que num pais tão multicolorido como o nosso ainda exista racismo. Ou é apenas coicidência que a maior parte dos pobres é negra? Uma das perguntas do censo demografico de 1980 era "Qual a sua cor" e não tinh
a opções para escolher, tinha que escrever mesmo. O resultado foram as incriveis 136 cores diferentes. Estava numa biblioteca quando li sobre o assunto e tive que me segurar para não rir alto da criatividade desse pessoal. Escaneei a lista, clique nela ai ao lado para aumentar. O que seria "cor-de-cuia", "enxofrada" ou "melada"? Tem também os coloridos: "verde", "lilas", "azul", "roxa" e "laranja". Tem os indecisos: "branca-morena", "meio-amarela", "puxa-para-branca" e "quase-negra". Tem os exibidos: "morenão", "bronzeada", "trigueira", "queimada-de-praia". Tem até burro-quando-foge, pode conferir!

Ja disse que aqui na França não se fala de raças. Para eles so existe uma, a humana. E nem adianta vir com papo de etnia que eles também não
engolem. Simplesmente não existe classificação para as cores das pessoas. No senso demografico não tem essa pergunta, o que às vezes dificulta a compreensão de alguns aspectos da vida em sociedade. Mas apesar de detalhes cientificos, acho muito positiva essa premissa de que não existe diferenças etnicas.

Talvez o problema esteja exatamente em nos orgulharmos de sermos raças diferentes convivendo "harmoniosamente no pais mais tolerante do mundo", quando deveriamos ser simplesmente uma raça so.
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Post final do amigo-oculto dos blogs
Lembram do pique-nique dos blogs e do amigo-oculto? Então, na reta final a corrente foi quebrada e como eu ja tinha o texto da Bel, que me tirou, resolvi pegar um atalho e publicar o relato dela aqui. A Bel escreve o blog C'est pas vrai e faz mestrado em Paris. Ta aqui o que ela tem pra dizer sobre a cidade-luz:
"E lá se foram dois anos. Dois anos de Paris. Não, não quero parecer rabugenta. Foram dois anos inesquecíveis. Dois anos diferentes. Ruptura mesmo. Fim dos hábitos cariocas, fim do mesmo trabalho levado por sete anos e meio. Fim do mate com biscoito globo, fim dos fins de semana entre amigos numa boa mesa, rindo entre uma garfada e outra. Fim do vento-gosto-de-mar. Fim do Pizza Park salvador das noites sem nada na geladeira.
"E lá se foram dois anos. Dois anos de Paris. Não, não quero parecer rabugenta. Foram dois anos inesquecíveis. Dois anos diferentes. Ruptura mesmo. Fim dos hábitos cariocas, fim do mesmo trabalho levado por sete anos e meio. Fim do mate com biscoito globo, fim dos fins de semana entre amigos numa boa mesa, rindo entre uma garfada e outra. Fim do vento-gosto-de-mar. Fim do Pizza Park salvador das noites sem nada na geladeira.
Ok, fim é definitivamente um exagero. Digamos que é uma pausa, como dizem os franceses.

Paris é o início de novas tradições.
Paris é 180 graus. Paris é frio, vento e chuva. Paris é cinema, outono-inverno, primavera-verão. Paris é –13. Paris é +32. É verão seco, é praia artificial. Paris é educação. É merci-bonne journée-au revoir. Paris é lavanderia fora de casa. É sair com carrinho e sacola da Ikea à procura da lavanderia menos cara. Paris é solde, é hôtel de ville, é Marais. Paris são gays, judeus e turistas. Paris é turista ! Paris é pressa, corre-corre, empurra-empurra. Paris é navigo. Não, Paris não é mais carte orange. Paris é Pasteur, mãos dadas. Paris é liberdade, sorriso. Paris é tranqüilidade. Paris é mestrado. É sofrimento. Paris é jogo de tabuleiro, é ludoteca, Paris é arte digital, mesmo tendo parado no surrealismo. Paris é préfecture de police, é papelada, carte séjour. Paris é burocracia. Paris é tensão, é alívio. E mais burocracia. É dedicação. É ser estrangeira. Sempre. Paris é Argélia, Tunísia, Marrocos, Estados Unidos. Paris é, Cuiabá, Rio, Sampa. Paris é BH, Recife, Porto Velho. Paris é conhecer o Brasil. Paris é entrar numa farmácia e não pagar pelo remédio. Paris é Assurance Maladie.
Paris é língua estranha. Paris é faux-amis. Paris é Saint Denis. É linha 13, metrô lotado, gente fedida. É não tirar o casaco mesmo fazendo 40 graus. Paris é leitura no metrô. É headphone nos ouvidos. Ou na conversa alheia. É descobrir a cada esquina uma nova livraria. Paris não é necessariamente Fnac ou Gilbert Joseph. Paris é piquenique, é queijo, é vinho. É torre Eiffel. Paris é andar. Paris é vélib. Paris é beagle, é buldog francês, é fox. Paris é cocô de cachorro par tout! Paris é gola levantada, é écharpe em homens elegantes, Paris é prêt-à-porter. Paris é Nouvelle Vague, Paris é Carmen Maria Vega. Paris é platéia fria, Paris é platéia participativa. Paris são malas e malas. É a casa cheia com duas pessoas. Paris é aprender a viver em pequenos espaços. É teto de madeira, é parede úmida. É chão de cerâmica de 1900 e lá vai tempo. É chão se decompondo, se desfazendo. Paris são janelas grandes, Paris é pátio interno. Paris é 3ème. Paris é parar e pensar. Pensar no futuro, sobretudo. É rodar e rodar e voltar ao início. Paris é o que eu quero ser quando crescer. É se perguntar onde estarei daqui a um ano. Paris são dúvidas. Muitas dúvidas. Paris é saudade. Paris é novidade. Sempre. Paris é muito mais.

Aproveito para divulgar o terceiro concurso de blogueiras do Escreva Lola Escreva. São 25 textos sobre maternidade. A iniciativa é otima para se conhecer novos blogs. Depois é so ir no blog da Lola e votar no seu texto preferido.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
Queridos (ou detestados) mestres

Professora de Francês Lingua Estrangeira na universidade, ela passava a aula inteira sentada e so se levantava por uma razao muito grave. O que nao é nada pratico na hora de corrigir os exercicios, pois ela fazia tudo oralmente e quem ja estudou francês sabe que um som pode ser escrito de mil formas diferentes. Quando alguém pedia pra ela escrever, ela bufava, olhava pra cima e ia pro quadro com uma vontade que ninguém mais se atrevia a pedir que ela fizesse tamanho esforço novamente. Normalmente ela era super grossa e dava patada em todo mundo, mas era so dar um gancho pra ela falar de doença, tipo "Estou com dor de cabeça", que ela se animava toda pra contar como que semana passada ela também teve uma dor de cabeça horrivel, que so passou com blablabla... Uma vez fui no escritorio de linguas pedir uma informaçao e ela falou pro cara, bufando como sempre: "Elle est une emerdeuse". Eu nao respondi nada porque o cara estava sendo super simpatico e na verdade eu nao tinha certeza se ela tinha dito isso mesmo ou se eu tinha entendido errado. Mas depois, a conhecendo melhor, sei que foi isso mesmo o que ela disse. Na aula seguinte a esse incidente, ela abriu o maior sorriso pra mim e perguntou se eu podia pegar um café pra ela. Pode? Claro que nao fui né.
Visto o fracasso das minhas aulas com a bipolar, fui tentar um intensivo de verao na universidade mesmo, checando bem para nao cair com a madame de novo. Antes tivesse caido com ela. Peguei um primata que nao fui com a cara desde o começo. Depois de 15 minutos de aula ele começou com a historia de como o conceito de familia estava se desintegrando, que as maes estavam trabalhando fora e esquecendo de educar os filhos e cuidar da casa. O homem estava perdido sem saber mais qual era seu papel de macho dominante no ambiente domestico, ja que a mulher passou a competir com ele. Juro que uma universidade francesa era o ultimo lugar que eu pensei que ouviria isso. Dai comecei a discutir com o cara e meu sangue começou a ferver. O que me dava mais raiva era nao conseguir dizer tudo o que eu queria em francês. Uma outra garota decidiu ficar do meu lado, mas timidamente. Quando vi, estava no meio de uma briga contra meu professor, gritando feito uma doida no meio da sala de aula e ele também. Cheguei a mandar ele calar a boca porque ele estava ali para me ensinar francês e suas opinioes pessoais nao me interessavam. Nunca mais voltei no curso.
Desisti de vez da universidade e me inscrevi no curso de francês da prefeitura, onde estou até hoje. Quando vi minha professora pensei "caramba, sera que eles escolhem de proposito alguém beeeeem francês pra nos mostrar como é a cultura do pais?". Sabe aquela imagem de professora francesa que temos na cabeça: magra, alta, esbelta, educada, voz calma, etc. Era ela. Minha grande surpresa foi quando ela se apresentou e disse "Sou tunisiana". Seu nome tem até Bin no meio, como o Bin Laden, prova de arabianidade. Bom, nao deixa de ser uma francesa tipica, ja que por aqui a mistura ja é regra. Adoro minhas aulas e o pessoal do curso, a gente ri e se diverte bastante!
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
Casamentos coloridos não valem um visto




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domingo, 29 de novembro de 2009
Top 10 - Frases que provavelmente você não vai ouvir de um francês

Nas férias, a maior prioridade dos franceses é se afastar o maximo possivel de Paris, sempre em direçao ao sul. Nem que isso custe dezenas de horas em engarrafamentos interminaveis e que uma vez que cheguem no eldorado da Côte d'Azur, tenha-se que disputar um espacinho de areia da praia. Tudo menos Paris. A unica possibilidade de um francês desperdiçar suas férias na capital é se ele mora la e um impedimento extremamente grave nao o deixa seguir o fluxo migratorio em direçao ao sul, como a crise econômica, por exemplo.

Aprenda: na França, manteiga nunca é demais. Nunca vi povo pra gostar tanto de manteiga, e atençao, nao estou falando que margarina, praticamente em extinçao por aqui. Eles nao passam uma fina camada no pao, ele colocam um pedaço mesmo. E pra cozinhar, usam mais manteiga do que oléo, em porçoes bem generosas. Pra se ter uma idéia, os franceses sao os maiores consumidores de manteiga do mundo, com 8kg consumidos por ano, por cada habitante.

Se um francês disser isso, ou tem algum canadense por perto, ou ele é muito exotico. Os franceses tiram o maior sarro do sotaque dos seus primos do Quebec, mas sempre quando nao tem nenhum deles à proximidade. Quando passa algum programa canadense na televisao, eles até colocam uma legenda, pois às vezes é dificil entender. Acho que é mais ou menos a mesma relaçao que temos com o português de Portugal.

O climax supremo da rivalidade entre os franceses e os ingleses é a critica à cozinha britânica. O fish and chips é tao ridicularizado por aqui, que da até peninha dos ingleses. Poxa, ele nao têm terras férteis, nunca tiveram uma tradiçao gastronomica por causa disso. Os franceses dizem que seus vizinhos so sabem comer batata e os ingleses se vingam os chamando de froggy (comedores de ra).
Ponham uma coisa na cabeça: os franceses nunca se conformam quando o assunto sao direitos trabalhistas e sociais. Jamé. Eles sempre encontram um jeito de mostrar sua indignaçao e tentar reverter o caso. O método mais mais usado, é a greve. Simples e eficaz. Mas às vezes, quando a situaçao pede, eles encontram formas inovadoras de contestaçao. Uma das mais extremas é o sequestro dos donos e presidentes das empresas. Eles mantêm o cara preso até conseguirem o que querem e o mais incrivel é que os "reféns" nunca querem dar continuidade à acusaçao do crime de sequestro, com medo de arranjarem mais confusao.
A nao ser que o francês tenha nascido no norte da França, ele jamais vai querer viver la por toda sua vida. A razao principal é o clima, que é terrivel por essas bandas, um frio permanente quase sempre acompanhado de chuva, o que da uma atmosfera bem triste. No filme Bienvenu chez les ch'tis o chefe diz pro funcionario que tem uma péssima noticia: ele vai ser transferido para um lugar horrivel. O cara diz "Naaaao! Paris?" e o chefe responde "Pior, o norte".
Certamente nao sao todos os franceses que amam os imigrantes e lutam pelos seus direitos na França, mas duvido que você encontre alguém que diga abertamente que nao gosta de imigrantes, a nao ser que a pessoa esteja certa de estar entre iguais. Ser taxado de preconceituoso e racista na França é o pior xingamento que alguém pode sofrer. Entao mesmo os reacionarios fazem esforço para manter a boca fechada, ao contrario de muitos brasileiros que cegos à sua propria incoerência, criticam a presença de imigrantes sem perceber que, ops, eles fazem parte desse grupo.

Para os franceses, vinho nada mais é que uma bebida para acompanhar a comida. A nao ser que a pessoa seja um adolescente ou um alcoolatra, ela nao vai encher a cara de vinho. Existem outras bebidas que cumprem esse papel, como a cerveja, a vodka, a tequila... Vinho nao. Meu sogro achou super engraçado uma turista que pediu uma taça de vinho num bar, assim, como se pede uma cerveja.

Nao importa se você esta na igreja, numa festa, num enterro: é inevitavel que o rumo da conversa pegue um atalho para a politica. Todo mundo tem uma opiniao sobre o cenario politico do pais, é impressionante. O problema é que às vezes as conversas civilizadas descambam para um inicio de discursao, mas a polidez francesa logo se impoe e rapidamente as pessoas procuram algo para concordar, como a cozinha inglesa, por exemplo.
E dai que as estatisticas dizem que cerca de 20% dos franceses colaboravam com a Alemanha nazista? Você simplesmente nao vai encontrar ninguém. Todas as historias familiares sobre a segunda guerra que ouvi até hoje estao repletas de atos heroicos como esconder judeus em casa, lutar frente a frente com os nazistas, traficar informaçoes pelas costas dos alemaes, mas nunca uma em que se assumia uma simpatia com os invasores. Dizem que 20% dos franceses eram colaboracionistas, 20% eram resistentes e 60% nao queriam se meter na historia. Acho que a guerra ainda é um passado doloroso demais para se assumir os erros. Ninguém quer ser o vilao da historia, mesmo se na época significou sua propria sobrevivência.
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quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Amigos imaginarios?
O que eu nao gosto é a mania que as pessoas tem de usar a religiao para justificar seus preconceitos e impor às outras pessoas papéis menos importantes na existência. Assuma que nao é deus que pensa assim, cara-palida, é você. Nao foi deus quem disse que os negros nao tem alma, foram os homens brancos. Nao é Ala quem desumaniza a mulher através da burca, sao os homens. Nao venha tentar justificar a fome dos pobres pelo que eles fizeram em vidas passadas, porque eu vou negar e dizer que a fome deles é culpa nossa.



Eu tenho um pouco de raiva sim das religioes, principalmente da minha, porque tenho a impressao de que elas querem me fazer de boba, sabe? Elas querem me oprimir e querem que eu aceite isso. Elas querem que eu seja submissa ao homem sem contestar. No casamento da minha prima eu devia ter uns 13 anos, fiquei chocada ao ouvir o pastor falar com todas as letras que o homem é o provedor da familia e a mulher é a encarregada do lar; que ele manda e ela obedece, que ele é o chefe. Fiquei me remoendo na cadeira, olhando de um lado pro outro e ninguém parecia discordar.
Passei uma parte da minha adolescência com um "vazio existencial", fazia muitas perguntas e nao tinha respostas. Passei a invejar aqueles que conseguiam crer, que conseguiam ter certezas absolutas. Acho que o processo em virar atéia é mais doloroso pra quem foi criado com uma religiao. Mas agora que o tempo passou, acho que existem coisas bem mais importantes do que respostas nao dadas e consigo muito bem viver sem deus. Nao sinto mais um vazio, nao sinto que me falta nada para ser feliz.
Quando disse pra minha mae que nao sabia se acreditava em deus, ela perguntou: "Mas se você nao acredita em deus, vai acreditar em quê?". Hoje eu sei a resposta: nas pessoas. E digo isso sem a menor crise existencial.
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segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Quando deus é o chefe do homem e o homem é o chefe da mulher
O livro "Tirs Croisés", de Caroline Fourest e Fiammetta Venner fala sobre como os principios do integrismo e do extremismo é praticamente o mesmo nas religioes catolica, judia e muçulmana. O primeiro capitulo aborda a situaçao das mulheres nessas três religioes (na sua forma mais fundamentalista) e como todas elas sao usadas para oprimir o sexo feminino.

No catolicismo radical a situaçao das mulheres é a mesma. Sao Paulo era um dos que mais pregava a dominaçao masculina. Ele disse: "O chefe de todo homem, é deus; o chefe da mulher, é o homem". Os militantes integristas cristaos dizem que a funçao da mulher é ser portadora de homens (a Maria Mariana aprendeu bem a liçao e saiu repetindo isso por ai). O interessante é que eles descobriram que era muito mais eficaz quando as proprias mulheres pregavam isso, nao os homens. O que aconteceu foi uma situaçao curiosa: as mulheres ultra-conservadoras deixaram seus lares para militar pelo dever das mulheres de ficar em casa. Ah ta.
Os militantes cristao prolife (nome altamente contestavel) lutam essencialmente contra o aborto. Um caso que me chocou no livro foi o de uma menina americana de treze anos que foi morta pelo pai porque ia fazer um aborto. Ela tinha sido vitima de estupro. Quem estuprou foi o pai dela.

O livro fala muito da Arabia Saudita e eu fiquei surpresa de saber que um pais tao rico é tao reacionario, juro que pensei que eles fossem mais democraticos. Elas contam que em 2002 houve um incêndio na escola das meninas e que as alunas se precipitaram para a unica porta entre os muros altos (para protegê-las, claro) que o colégio tinha. A diretora so podia ligar para os bombeiros depois de pedir autorizaçao à presidência da educaçao feminina. A porta era trancada por fora e o guardiao nao abriu porque as meninas nao tinham autorizaçao para sair. Quando os bombeiros chegaram, a policia religiosa nao as deixou sair porque elas estavam sem véu. Resultado, quinze meninas morreram. E nao deixaram os transeuntes ajudar as sobreviventes para evitar o contato misto.
A diferença entre essas três religioes é que o judaismo e o catolicismo sao restritos à esfera pessoal, enquanto o islamismo é legitimado por muitos Estados. Uma adultera pode se defender da ira do marido judeu ultra-ortodoxo pedindo ajuda ao governo, mas o que fazer quando a barbarie é justificada pelo Estado? O pai assassino e estuprador esta preso, mas onde guardar a raiva quando, na Arabia Saudita, um estuprador sai livre enquanto sua vitima é apedrejada até a morte por adultério?
Parece surreal no mundo em que vivemos, com toda a ciência que temos, que tem gente que ainda acredite em religiao. Mas tudo bem, cada um pode acreditar no que quiser, mas o Estado tem a obrigaçao de saber separar as coisas. A laicidade é um passo fundamental no avanço da humanidade. O governo tem a obrigaçao de dar os mesmos direitos para todos os individuos, sejam eles homens ou mulheres e nao justificar a dominaçao masculina por livros escritos ha milhares de anos. Enquanto a violência contra a mulher for apoiada oficialmente, é metade da força intelectual e fisica de um pais que esta sendo prejudicada. Como evoluir assim?
sábado, 21 de novembro de 2009
A mao da discordia
Os irlandeses têm estado um pouco rabugentos esses dias e imagino que vocês saibam o motivo. No jogo decisivo da qualificaçao para a Copa do Mundo do ano que vem, a França ganhou da Irlanda injustamente. Atençao, injustamente, nao ilegalmente como estao dizendo por ai. Segundo o cheri, que estava quase tendo um ataque cardiaco diante da tv, a Irlanda dominou o jogo inteiro e fez um gol. Como a França ganhou o ultimo jogo, eles foram pra prorrogaçao e foi entao que o Thierry Henry se serviu de uma ajudinha extra da sua mao pra marcar um gol e o juiz, ao contrario de todo mundo, nao viu.

A FIFA negou o pedido para refazer o jogo, claro. Se essa porta fosse aberta, sabe-se la quantos outros jogos teriam que ser repetidos a partir de agora. Qualquer penalti nao dado, qualquer falso impedimento, qualquer nao-falta seria contestada. Apoio a idéia de que o juiz é a autoridade suprema do jogo, é ele quem manda e pronto. Afinal de contas, o que seria de um jogo de futebol se a gente nao tiver mais razao para xingar o juiz?
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segunda-feira, 16 de novembro de 2009
A revolta da vacina

A vacinaçao na França começou na ultima quinta-feira, sem grande sucesso. A campanha se faz progressivamente e nessa primeira etapa so as pessoas mais suscetiveis sao convocadas, como diabéticos, asmaticos, aidéticos, pais de recém nascidos. Na segunda etapa serao convidadas as gravidas e os bebês. E assim por diante. As pessoas recebem em casa a convocaçao para apresentar no posto. No primeiro dia um telejornal mandou um reporter em um local de vacinaçao e quando ele apareceu ao vivo nao tinha ninguém por la. Ele explicou que os médicos estavam esperando cerca de 700 pessoas naquele dia e até às 13h tinha aparecido..... 1.

Apesar dos esforços da ministra da saude, Roselyne Bachelot, em alarmar a populaçao para os enormes perigos fatais dessa terrivel gripe assassina (tentando causar panico? Imagina), os franceses nao se convenceram e acham que ela nao passa de outro resfriadinho qualquer. Cerca de 76% da populaçao afirma que nao vai tomar a tal da vacina.
Ca pra nos, acho que essa campanha esta sendo feita um pouco tarde, ja que esta fazendo frio ha uns dois meses e muita gente ja ficou doente. Pelo menos eu nao vou precisar decidir de tomar ou nao a vacina, pois desconfio que o grupo dos imigrantes vai ser o ultimo a ser convocado e até la o inverno ja acabou.
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sábado, 14 de novembro de 2009
Quem quer dinheeeeeiro?


Eu até queria ir ver como seria (e tentar minha sorte, é claro), mas o cheri disse que era melhor nao, que com certeza ia dar confusao. Nao deu outra: a distribuiçao foi cancelada. Tinham mais de cinco mil pessoas esperando sua sacolinha, mas pelo que pude entender, na paz. Mas os organizadores e a policia acharam que tinha gente demais e que talvez viraria bagunça, entao preferiram nao arriscar. O povo, que até ali estava contido, se revoltou (com razao) e quebrou vitrines, fez baderna e até virou uma viatura policial. Po, que ideia! Se assumiram o risco a semana toda, mesmo contra a pressao da prefeitura, desistir na hora, quando todos ja estavam reunidos depois de vir de longe, com certeza nao foi uma boa ideia.
Distribuir dinheiro na rua é proibido na França. Mas o que é uma multa de 150 euros para quem quer distribuir 100 mil? Parece que agora o dinheiro sera doado para instituiçoes de caridade. E a empresa teve sua tao desejada propaganda. Todo mundo ficou feliz, menos o povo que ficou esperando o dinheiro que nao veio.
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